terça-feira, 5 de abril de 2016

Absurdo: Lúficer na TV, só que inofensivo

 
E se Lúcifer também tivesse um lado bonzinho? Na nova série da Fox, que estreou no dia 25 de janeiro de 2016, o telespectador é levado a acreditar em um diabo que tirou férias do inferno. Sem os tradicionais chifres e caudas, em Lúcifer, o inimigo de Deus é apresentado como um galã sedutor e inteligente – os ingredientes necessários para atrair audiência, principalmente a feminina.

Lúcifer repete uma fórmula aparentemente já consagrada na dramaturgia americana: a exaltação dos vilões. Com uma dose de ironia e sagacidade, os pilantras da vez têm agradado mais ao público que os mocinhos, habitualmente apresentados como figuras ingênuas e frágeis. Até a Disney cedeu à tentação do mal. Na nova versão de A Bela Adormecida, por exemplo, a bruxa Malévola (que dá nome ao filme) é retratada como heroína e as três fadas não passam de velhas atrapalhadas e burras.

Mas não é só nos Estados Unidos que as coisas estão assim. No Brasil, as redes sociais vibram a cada nova maldade ou frase impiedosa dita pelos antagonistas das principais novelas do país. Apesar do sucesso, há quem enxergue nisso tudo um problema grave. “O universo que as novelas abordam no meu modo de ver é um tanto quanto doentio demais, há muita glamourização do vilão, da maldade”, criticou recentemente José Mayer, ele mesmo um conhecido ator global.

De fato, a dramaturgia tem o poder de ditar pensamentos, hábitos, maneiras de se vestir e de se comportar. É assim desde as tragédias gregas. E embora muitos insistam na chamada separação entre o “real e o fictício”, a verdade é que essa distinção nem sempre acontece. Mais: o número de pessoas que tende a reproduzir o que vê na televisão é muito maior que o das que dizem fazer o tal discernimento. Prova disso é o mercado publicitário. As grandes marcas não hesitam em pagar cachês milionários para terem os artistas desses seriados em suas propagandas.
Quando o primeiro trailer da série Lúcifer foi divulgado, em meados de 2015, alguns entusiastas saudaram o lançamento com a frase “Viva o diabo”. Com tom de brincadeira, o público deixou-se levar pela nova versão do maligno, que agora promete ajudar a prender criminosos. O enredo da série parte de um anjo decaído que, entediado com o determinismo de Deus, decide tirar férias em Los Angeles após demitir-se do cargo de “chefão do inferno”. Em seu novo posto, ele se alia a uma policial para desvendar os crimes que afetam a famosa cidade dos anjos.

Imaginem uma adaptação moderna de Hitler, em que o nazista empedernido aparecesse mais politicamente correto e amiguinho dos judeus. A simples hipótese já nos causa asco. Por isso mesmo a nova série da Fox é de um profundo mau gosto. Em que pese a conversa de que esta versão nada tem que ver com o cristianismo, mas com um personagem de quadrinhos, seríamos profundamente ingênuos se negássemos a sua malícia.

Sigam o raciocínio: Lúcifer não é uma adaptação moderna de um personagem fictício qualquer, como em outros casos recentes; o demônio é uma entidade que, além de ser real para muitas confissões religiosas, está ligada ao que há de pior e mais perverso na humanidade: o pecado. E nesta série, esse personagem odioso é apresentado como uma figura redimida ou, ao menos, simpática. É preciso dar razão ao abaixo assinado que já circula no Estados Unidos, pedindo o cancelamento do programa.

Infelizmente, existem muitas pessoas que não creem na existência do diabo — mesmo teólogos e gente de dentro da Igreja. Por essa razão, o tema é frequentemente motivo de piada e zombarias (até Marchas para Satanás já fizeram). Ocorre que essa atitude imprudente é a mais desejada pelo inimigo, como fica claro no famoso livro de C. S. Lewis, Cartas de um diabo a seu aprendiz. Por brincadeira e desdém, uma porção de incautos consagra-se ao diabo sem se dar conta do que está fazendo. E os grandes promotores dessa onda de ocultismo são, em grande parte, os filmes, as músicas e outras formas de entretenimento, a princípio, inocentes.
_____________________________________________
Diário Católico / Catholicus

Nenhum comentário:

Postar um comentário