domingo, 6 de dezembro de 2015

Um pecado esquecido na Confissão – e lembrado depois – está perdoado?


Há uma dúvida que, de tempos em tempos, sempre aparece entre os fiéis católicos, – às vezes até entre aqueles mais experientes. – A pergunta é a seguinte: se alguém, ao se confessar, esquece de um pecado grave que cometeu, e se lembra dele somente após a confissão, este pecado foi mesmo assim perdoado e deve ser definitivamente esquecido? Ou este pecado não é perdoado por não ter sido confessado, e o fiel só receberá o perdão e só poderá novamente comungar quando confessá-lo?

Nenhuma das duas opções acima é verdadeira. De fato, o pecado verdadeiramente esquecido é perdoado, mas o fiel precisa confessá-lo na próxima confissão, que deve então ser feita o mais breve possível.

A resposta está dada, mas é interessante aprofundarmos um pouco a questão: devemos saber, por exemplo, que uma coisa é um pecado que honestamente e de toda boa vontade se esqueceu, e que, portanto, não pôde ser confessado. Outra coisa é alguém, ao fazer bem e honestamente seu exame de consciência, lembrar-se deste pecado, e depois, durante a confissão, ter-se esquecido de contá-lo ao sacerdote.

Em ambos os casos, se a pessoa estiver sinceramente arrependida daquele pecado, – de modo que não o cometeria novamente se a mesma ocasião surgisse e, caso tivesse se lembrado de contá-lo, assim o teria feito, – então ele é perdoado (para ser confessado na próxima confissão, como já dito).

Outra questão importante que deve ser analisada, aqui, é o desleixo no exame de consciência. Antes de se confessar é preciso que a pessoa examine com seriedade e sinceridade sua própria consciência, – sem preguiça, sem receios, sem se preocupar com a vergonha de se acusar de algum ato, omissão ou pensamento vexatório.

É natural que muita coisa escape, por exemplo, de alguém que não se confessa há um tempo prolongado e não anota seus pecados. Imaginemos alguém que tenha mais de dez pecados para contar: é bem possível que, diante do padre, acabe por esquecer algum deles. Assim, o ideal é que se faça uso de algum meio auxiliar para favorecer a memória: poderíamos dizer que, em certos casos, anotar os pecados num papel, mais do que uma boa dica, é praticamente imprescindível. 

Evidentemente, ainda assim, é possível que um fiel, sem culpa, se esqueça de contar um pecado. Aqui, abro parênteses para compartilhar meu testemunho pessoal com meus leitores: certa vez, apenas poucas horas após ter me confessado, lembrei-me de um pecado que considero grave, cometido já há um bom tempo, mas que nunca tinha confessado (exatamente por ter me esquecido dele quase que completamente). É uma sensação desagradável, mas não perdi minha paz de espírito: sabendo que deveria confessar este pecado em minha próxima confissão, anotei-o num papel e guardei-o em minha carteira, para não correr o risco de esquecê-lo novamente. Dito e feito: a cada vez que eu abria a carteira para pagar alguma coisa ou mesmo usar um documento de identificação, via lá o papelzinho acusador: poucos dias depois, pude confessar aquela falta antiga.

Concluindo as orientações a respeito desta questão específica, importa dizer que, quando o fiel for confessar seu(s) pecado(s) esquecido(s), deve acusar somente este(s), e não todos os outros já confessados. Os que já foram ditos não devem ser ditos novamente (a não ser, é claro, se foram cometidos de novo).

Ao final desta, reproduzimos os tópicos do Catecismo de São Pio X a respeito destas questões, que, em formato de perguntas e respostas, traz esclarecimentos precisos e bastante claros1.


As qualidades necessárias para a confissão válida

As qualidades principais que deve ter a acusação dos pecados são cinco: deve ser humilde, íntegra, sincera, prudente e breve. Destas, analisaremos agora a questão da prudência, já que as demais nos parecem razoavelmente fáceis de entender.

A confissão deve ser prudente. Isto significa que, ao confessar os pecados, devemos servir-nos dos termos mais modestos e diretos possíveis, e que devemos nos guardar de descobrir os pecados alheios. É claro que, dentro desta obrigação, detalhes irrelevantes devem ser omitidos, assim como certas minúcias cuja gravidade possa ser dita de outras formas, as mais genéricas possíveis, desde que não se deixe de confessar o principal, isto é, o que faz com que aquele ato, palavra, pensamento ou omissão seja pecado.

Neste sentido, talvez o melhor exemplo seja o da confissão dos pecados relacionados à imoralidade e impureza. Não é preciso esmiuçar todos os detalhes referentes ao ato sexual ilícito e/ou imoral. Bastaria dizer, por exemplo: "Pequei contra o 6° mandamento, com uma mulher solteira, ferindo a dignidade do ato sexual". Pronto, o padre já teria a medida da gravidade do ato, sem ter que se escandalizar com detalhes sórdidos.

A confissão verbal dos pecados deve ser praticada de modo a despertar no penitente o arrependimento e a consciência do mal cometido, bastando para isso o senso da medida e da natureza do ato pecaminoso. Querer se lembrar de todas as minúcias pode até afastá-lo da essência do mal cometido.

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1. O Catecismo de São Pio X, do n. 740 ao 792, trata do Sacramento da Confissão. Reproduzimos abaixo alguns trechos mais diretamente relacionados ao tema deste artigo:

749) Se uma pessoa não tiver a certeza de ter come tido um pecado, deve confessá-lo?

Se uma pessoa não tiver a certeza de ter cometido um pecado, não é obrigada a confessá-lo; se porém o quiser acusar, deverá acrescentar que não tem a certeza de o ter cometido

751) Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão?

Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão, contanto que tenha empregado a devida diligência no exame de consciência.

752) Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados a acusá-lo noutra confissão?

Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados,sem dúvida, a acusá-lo na primeira vez que de novo nos confessarmos.

753) Quem, por vergonha ou por outro motivo culpável, cala voluntariamente na confissão algum pecado mortal, que comete?

Quem, por vergonha, ou por qualquer outro motivo culpável, cala voluntariamente algum pecado mortal na confissão, profana o Sacramento e por isso torna-se réu de gravíssimo sacrilégio.

1460. Se o padre não dá a penitência no final da confissão, o que acontece? Como fica?

A penitência que o confessor impõe deve ter em conta a situação pessoal do penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve corresponder, quanto possível, à gravidade e natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de levar. Tais penitências ajudam-nos a configurar-nos com Cristo, que, por Si só, expiou os nossos pecados uma vez por todas. Tais penitências fazem que nos tornemos co-herdeiros de Cristo Ressuscitado, «uma vez que também sofremos com Ele».
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O Fiel Católico

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