domingo, 18 de outubro de 2015

O mundo só mudará com “familias santas”, como a de Santa Teresinha



Os olhos de todos os cristãos e não cristãos estão nestes dias fixos em Roma, onde se realiza a segunda etapa do Sínodo da Família. Centenas de bispos, de especialistas da pastoral familiar, reunidos buscam dar uma resposta  para “reconstruir a família humana” como lugar de alegria, de amor, de esperança,  onde se constrói o futuro de amanhã. A família “está doente”, de uma enfermidade que foi provocada um pouco intencionalmente, pelos meios de comunicação,  que colocam na mesa  das famílias de tudo: coisas boas e ruins, alimentos que saciam e que contaminam e nem sempre os comensais  têm a capacidade de reconhecer  os alimentos contaminados. A família tem também  se fragilizado  por outras causas ideológicas; em vista de solucionar os problemas de desentendimentos  e de conflitos  se tem visto  pessoas da família “fazerem as próprias malas” e irem para outros lugares,  na esperança de criar uma nova família, que não raramente, depois de um pouco de tempo,  também  começa  a  viver em tensões.

A igreja, mãe, mestra e companheira de caminho, está  tomando uma atitude muito séria, acertada: colocar-se na escuta de todos. O Sínodo é o grande espaço da escuta  de todas as vozes do mundo contemporâneo. Questionários preparados corajosamente foram enviados pelo mundo inteiro, seja  a pessoas de fé  e a pessoas sem fé.  A todos a Igreja pediu humildemente uma palavra de luz. Agora, juntos, se reflete sobre as repostas, para depois  dar uma “resposta” oficial do caminho a seguir, para “reconstruir a família”, oferecer remédios  que curam, cirurgia dolorosa, terapias longas,  caminhos  que não serão fáceis. Escutaremos gritos que chegam de todos os lados, de pessoas  que cantam a vitória  e de pessoas  que choram por  derrotas. Mas no amor não existe nem vitória e nem derrota, existe só o amor que ama, perdoa, é misericordioso e caminha  de mãos dadas para  abrir novos caminhos de luz e de esperança. Sem dúvida soam importantíssimas as vozes da  sociologia, da psicologia, da pastoral,  de todas as ciências humanas. A missão da Igreja é buscar caminhos e luz,  venham de onde vierem. Não é condenar, é amar, compreender e anunciar corajosamente a Verdade que liberta. Não a verdade anônima, obscura, ambígua, de superficialidade; a verdade que tem um nome e se chama JESUS. Ele é caminho, luz, verdade e vida.

Em  todo este vai e vem de idéias, de confrontos, de discórdias e quem sabe  de desuniões, a Igreja durante este Sínodo, tomou uma das decisões mais acertadas, mais luminosas para dar uma reposta que não pode ser contestada sobre o caminho a seguir, para reconstruir a família: a canonização dos pais de santa Teresa do Menino Jesus.

Que significa isto? Que mensagem a Igreja quer dar com este gesto profético e testemunhal de um casal  santo e de uma família santa?

Diante da canonização, isto é, da proclamação pela Igreja  como santos os pais de santa Teresinha, Luiz Martin e Zélia Guerin, surge uma pergunta que nos angustia a todos nós, especialmente aos casais   do mundo inteiro: mas como eles fizeram para chegar à santidade? A resposta simples é a mesma, que vale para todas as épocas e tempos: VIVENDO O EVANGELHO NA VIDA DE CADA DIA.  Hoje se recorre,  para “desculpar” a nossa mediocridade, a tantas desculpas que  servem só para nos confundir e não nos dão  uma clareza de vida: os tempos são diferentes, o mundo não é o mesmo,  os filhos não são iguais, a sociedade  é culpada e por aí vai... jamais porém poderá existir em todos os tempos e lugares, alguém que seja proclamado santo  que não tenha vivido o Evangelho. 

Lendo a vida da família  Martin  nos deparamos com dificuldades que têm o sabor e a cor de toda história, dificuldades materiais. Houve momentos materialmente difíceis para a família Martin, em que o trabalho de “relojoeiro” de Luiz não era suficiente  e o peso das despesas  caía sobre as costas de Zélia, que administrava com competência  a pequena fábrica de  bordado. Dificuldades de caráter, Zélia era dinâmica,  pronta, ágil, de  grande intuição; já Luiz  era um homem  pacato, tranqüilo,  que gostava mais de viajar e de ficar em casa, preferia ficar lendo os seus livros e pensando que trabalhar na relojoaria. Dificuldades  na orientação educativa das filhas: Zélia era mais determinada e amorosa, mas mais dura;  Luiz era bondoso, gostava de brincar com as filhas,  contar histórias  ou levar as filhas à igreja. Mas havia pontos em comum: solidez da fé, o amor à Igreja, a participação aos sacramentos, uma educação cristã de verdade. O Evangelho e a doutrina da Igreja  eram seguidos “à risca”;  a família era uma pequena igreja, havia o amor aos pobres, se ensinava não com as palavras, mas sim com a vida. Uma família onde a chama do testemunho ardia sem se apagar. Teresinha define seus pais com uma pincelada que é  magistral: “Deus me deu pais mais dignos do Céu que da Terra”.

O gesto da Igreja de proclamar santos, durante o Sínodo da Família, os pais de Santa Teresinha será sem dúvida a mais bela intervenção pública de que  só famílias santas poderão transformar o mundo, a sociedade  e a Igreja. Sem as famílias santas  encontraremos  “paliativos”, mas a família irá continuar “enferma”,   incapaz de superar  as dificuldades   que são inevitáveis.Só o amor nos dá possibilidade, que embora as dificuldades, os caracteres  diferentes, os conflitos, podemos nos amar, perdoar e viver a alegria de estar juntos. Penso de continuar a escrever ainda sobre  os pais de Santa Teresinha proximamente.


Frei Patrício Sciadini, ocd,
superior carmelita no Egito 
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ZENIT

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