terça-feira, 6 de outubro de 2015

Conflitos e desafios que a Família enfrenta na modernidade.


Infidelidade

Entre tantos outros fatores que geram conflitos e desafios na Família atual, destaca-se com muita intensidade a infidelidade conjugal.

Em uma sociedade enaltecedora do hedonismo, do consumismo e sobretudo da auto-realização prazerosa, a fidelidade e muitos outros valores que durante muitos séculos foram basilares no que diz respeito ao processo de realização humana, hoje perdem gradativamente seu valor por conta de ideologias fomentadoras de pseudo-liberdades que visam principalmente a realização e a felicidade subjetiva.

Neste contexto, os meios de comunicação orientados por um sensacionalismo capitalista, acentuam com muita relevância o erotismo e destacam as anomalias, as crise conjugais, a infidelidade e o divorcio como algo muito natural e de acordo com as circunstancias  até mesmo convenientes e necessário.

Por isso, a Família vem sofrendo serias conseqüências por conta de uma crescente difusão da idéia que propaga a fidelidade ilimitada do matrimonio como uma responsabilidade imposta ao homem extremamente pesada e ao mesmo tempo corre o grande risco de tirar-lhe a própria liberdade.

Diante deste cenário, se tem a impressão que o ideal da realização familiar e conseqüentemente a construção de uma sociedade mais justa fraterna e humana, está desmoronando, pois hoje se corre o grande perigo de mergulharmos na infeliz pretensão egoísta do próprio prazer, da auto realização.

Em nossos dias a televisão assim como muitos outros meios de comunicação apresenta constantemente esse desejo egocêntrico como a única possibilidade ou paradigma de realização e felicidade existente.

Dessa forma o compromisso com a fidelidade matrimonial é transformada em uma proposta que inibe e ao mesmo tempo assusta as pessoas, daí vem a preferência pelas desastrosas uniões descompromissadas que buscam a satisfação afetiva e sexual que geralmente tornam-se transitórias e ao mesmo tempo frustrantes.

Hoje mais do que nunca se precisa de homens e mulheres corajosos que proclamem através dos seus exemplos a riqueza e a preciosidade de viver em uma Família feliz e consciente de que a felicidade foi e sempre será proveniente da fidelidade, como enfatiza veementemente o Santo Padre João Paulo II, às famílias em 1999 no Rio de Janeiro:

Pais e famílias do mundo inteiro, deixai que volo diga: Deus vos chama à   santidade! Ele mesmo escolheu-nos por Jesus Cristo, antes da criação do mundo, nos diz São Paulo, para que sejamos santos na sua presença. Ele vos ama loucamente, deseja a vossa felicidade, mas quer que saibais conjugar sempre a fidelidade com a felicidade, pois não pode haver uma sem a outra.( ).

Estas duas palavras Felicidade e Fidelidade estão intimamente ligas e são tão parecidas que não podem ser dissociadas tanto ao serem focalizadas como na realidade da vida, assim afirma Cifuentes:

Fidelidade. Felicidade. Pode-se começar por qualquer uma dessas duas palavras, que se terminará na outra. Não apenas as palavras, mas os conceitos, as realidade, as vivencias: entrelaçam-se e completam-se. Não podem viver uma sem a outra. Casam-se, confundem-se foneticamente, comprometem-se poeticamente. Fidelidade, Felicidade; Felicidade, Fidelidade; compõem o poema da vida. (CIFUENTES, 1995).

Atrelado à infidelidade está o que o jurista italiano Béria di Argentine conceituou como Síndrome da Subjetividade, nela o principal interesse em um matrimonio não consiste na busca da objetividade, mas única e exclusivamente o resultado subjetivo, ou seja, um perseguir excessivo do seu próprio beneficio. 

O Divórcio

A essência do amor conjugal converge naturalmente para a realização do bem do outro cônjuge, existe entre eles um esforço continuo para que haja em sua relação cotidiana um autentico crescimento mútuo como pessoa humana, isso leva-nos a afirmar que ontologicamente todos os homens e mulheres, aspiram a um amor que os unam, e não morra jamais.

Contrariamente ao que citamos a cima o divorcio se manifesta como um dos principais conflitos ou desafios que ameaça profundamente o matrimônio e consequentemente a harmonia familiar.

Ao permitir facilmente a mudança de esposo ou esposa o divórcio fomenta e estimula a superficialidade matrimonial, ou seja, casamentos de ocasiões, experiências matrimonias desprovidas de compromisso, ou o que podemos chamar de “se der certo eu permaneço”.

Com o divorcio, o senso de responsabilidade entra em uma profunda crise, enfraquece e aos pouco desaparece ou morre, daí surge a crescente quantidade de casamentos levianos, que por sua vez, transformam o amor sexual em um simples prazer erótico-carnal, quando este prazer chega ao fim decreta automaticamente também o fim do matrimonio. A concepção divorcista legitima o fim do matrimonio e ao mesmo tempo possibilita novas emoções, prazeres a serem desfrutados em um novo ambiente matrimonial.

Na concepção divorcista não há lugar para alguns elementos que são considerados basilares na estrutura de um verdadeiro matrimonio tais como: o espírito de doação, de serviço, de sacrifício e o  espírito do verdadeiro amor. Ao contrario, o amor que os direciona é um amor egocêntrico, narcisista e interesseiro, daí o desinteresse por gerar filhos como afirma Mario G. Reis:

Por isso, o amor  aos filhos quase sempre gerados sem serem   desejados, não tem a força suficiente para impedir o divorcio, o que provoca na prole trauma psicológicos e emocionais, e consequentemente deformação de suas personalidades” (REIS, 1975, p.14).

Ao debilitar o amor sexual o divorcio leva conseqüentemente os cônjuges a um profundo repudio ao desejo de ter filhos, ou seja, não se ter filhos significa estar mais livre e disponíveis, para uma suposta separação, por isso o divorcio antes mesmo de acontecer já causa conseqüências drásticas em um matrimonio. Assim enfatiza o Diretório da Pastoral Familiar:

A simples perspectiva do divorcio tende a diminuir o numero de filhos. Evidentemente, o que percebemos aqui é que o divorcio, antes mesmo de se dissolver, já esteriliza os lares. Igualmente, essa causa originadoras da baixa natalidade, as encontra presentes em confronto com o problema do aborto. (DIRETÓRIO DA PASTORAL FAMILIAR, 2005, p. 82).

Por outro lado, se tem consciência de que o problema do divorcio não se restringe unicamente ao âmbito religioso, e muito menos ao catolicismo, mas é um problema que atinge profundamente a raiz do matrimonio enquanto instituição básica da sociedade, portanto esta é uma questão tanto religiosa quanto social, ou seja as conseqüências oriundas do divorcio na família repercute diretamente na sociedade, como afirma Mario G. Reis:

Também revelam as estatísticas, nos paises onde há divorcio, que a maior percentagem de pessoas que vão à loucura, ou ao suicídio são divorciadas. Tudo isto era e é perfeitamente previsível, porquanto o amor egoísta só pode gerar famílias desorganizadas, infelizes, que por sua vez, desorganizam  e infelicitam a sociedade. (REIS, 1975, p. 18).

O divorcio por natureza gera uma mentalidade essencialmente oposta ao plano de Deus, este por sua vez, possibilita um amor profundamente egoísta que ao mesmo tempo tende a uma infecundidade, criando dessa forma um ambiente familiar sem vida, desumanizante e degradante socialmente falando.

A simples possibilidade do divorcio muitas vezes se torna mais danosa à família do que o próprio ato real do divorcio, como afirma Luiz José de Mesquita, “o divórcio não é somente efeito como querem os divorcistas, mas, e principalmente causa da desunião entre os cônjuges e desarmonia familiar”.

Na concepção divorcista também se abre a possibilidade para um regime que por sua vez adequa a subversão das leis reguladoras do prazer sexual no casamento. Portanto, pode-se afirmar que a legalização do divorcio abre um grande e perigoso espaço para o que podemos conceituar como reinado das conquistas do comercio no amor conjugal, ou seja, o império das mudanças e das liberdades no amor, assim afirma Luis José de Mesquita: “é o regime do amor conjugal livre, em que o mais hábio   conquistador ou conquistadora pode tomar para si aquela ou aquele que lhe não pertence e mais lhe apetece”.

A lei divorcista, por sua vez, fomenta exacerbadamente a concupiscência, elimina gradativamente o desejo de ter filhos, enaltece o amor subjetivo e gradativamente vai decretando a morte do matrimonio e conseqüentemente da própria instituição familiar.

Pistas do Aconselhamento Pastoral 
frente aos Conflitos e Desafios Familiar.

Diante de uma grande variedade de conflitos  e desafios existentes na pratica cotidiana da família contemporânea, o Aconselhamento Pastoral busca orientar ou apontar luzes que venham favorecer o processo de reabilitação e crescimento  familiar que se encontra num contexto social profundamente fragmentado.

Segundo Nathan Ackerman, “a família é um organismo ou um sistema social”. A família como organismo conseqüentemente terá uma identificação psicológica exclusiva, ou seja, a identidade do casal será estendida como paradigma para a família inteira, na medida em que vão surgindo os filhos, por isso ele afirma:

É a interação, a fusão e a rediferenciação das individualidades dos parceiros desse par conjugal que moldam a identidade da nova família. tal como a personalidade de uma criança interioriza algo de cada pai / mãe e igualmente evolui para algo novo, assim também a identidade de uma nova família incorpora algo da auto-imagem de cada parceiro conjugal e da imagem de suas respectivas famílias de origem para igualmente desenvolver algo exclusivo e nono. (ACKERMAN apud CLINEBELL, 1987, p.274)

Por outro lado, o aconselhamento propõe à Igreja algumas medidas que podem contribuir no trabalho em torno de toda essa problemática familiar. Como por exemplo: constituir um ministério familiar que por sua vez venha possibilitar um verdadeiro vinculo de apoio às outras famílias em crise.

 Em seu objetivo também se contempla a busca profunda pela unidade familiar, pois em uma sociedade da natureza da que fazemos parte, a qual processualmente caminha para uma profunda decadência e fragmentação aumenta constantemente a necessidade de investir-se em programas que viabilize as famílias sentimentos de pertença e de verdadeiras comunidades.

A busca incessante pelo fortalecimento recíproco da auto-estima em todos os membros da família.

Uma outra proposta do Aconselhamento consiste na Terapia Familiar Conjunta ou  em Grupo. Este método, ao longo de alguns anos vem se tornando um dos mais eficazes no que diz respeito aos sérios e profundos  problemas familiares, pois este ao perceber um problema individualmente de uma pessoa busca sua resolução a partir das relações entre todos os outros da família, como afirma Jay Haley:

A psicopatologia no individuo é produto da maneira pela qual ele lida com realaçoes íntimas, da maneira pela qual estas lidam com ele e da maneira pela qual outros membros da família o envolvem em suas relações mutuas. Alese exercite estudos e trabalhos em grupos e comunitariamente valores tanto humano quanttuas. Além disso, o aparecimento de conduta sintomática num individuo é necessária para que determinado sistema familiar continuo funcionanado. Por isso mudança no individuo somente pode ocorrer caso mude o sistema familiar. (HALEY, 1987 apud CLINEBELL, 1987 p.284).

Na verdade a Terapia Familiar parte do seguinte pressuposto: a forma mais efetiva e eficaz no processo de ajuda ou orientação à uma determinada pessoa que por ventura esteja passando por um dado problema é proporcionar ajudar à família como um todo.

A família inteira é convidada a mudar sua relação e sua comunicação, pois o grande objetivo da Terapia Familiar é sempre melhorar o relacionamento e a vida dentro da família, de forma que esta seja transformada em lugar de crescimento e cura para todos os membros da família.

A Terapia Familiar por sua vez, busca ajudar toda família a aprender estabelecer uma comunicação, clara, aberta e autêntica independentemente de qualquer que sejam as circunstâncias, seja elas positivas ou negativas na vida da Família.

Procura proporcionar também meios através dos quais se fala de forma congruente sobre desejos, esperanças e valores comuns.

Por outro lado, nesta terapia, o membro que de antemão era identificado como o problemático não pode ser visto como o principal focalizado, pois aqui toda a família torna-se o centro desta focalização, ou seja, procura-se em todos os membros da mesma Família os fatores que causam bloqueio no desenvolvimento das relações entre eles e a pessoa portadora do problema acima citada.

Busca-se também, alargar o espaço do sistema Familiar, que por sua vez, procura proporcionar um desenvolvimento de relações que mantenham apoio com outras pessoas, grupos, outras famílias e instituições.

Entre outros pressupostos propostos pelo Aconselhamento pastoral para uma vida familiar equilibrada se encontra o empenho por uma estruturação autêntica e eficaz no período pre-matrimonial destacando os verdadeiros valores da vida conjugal,como suporte, ou apoio no percurso da toda a vida do casal, nesta fase os futuro casais precisam de incentivo, não só do ponto de vista teórico, mas sobretudo da prática do cotidiano dos das famílias que constituem aquela comunidade.

Os cursos de preparação de noivos deve despertar nos mesmos a sensibilidade para o papel de educadores, transmissores dos valores tanto humanos quanto evangélicos, pois a responsabilidade com a tarefa educativa será sempre uma missão sagrada e insubstituível.

Por outro lado, o Aconselhamento busca exortar a Igreja a responsabilizar-se na promoção do processo formativo continuo no que diz respeito à vida conjugal, familiar e comunitário. Aqui pode-se pensar em  organização de eventos festivos, cursos que possibilite uma maior compreensão das coordenadas do mundo contemporâneo e suas implicações na vida da família, proporcionar encontros nos quais se exercite estudos e trabalhos em grupos e comunitariamente.

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