quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Milhões de pessoas fizeram marcha histórica em Paris contra o terrorismo islâmico. Mas... e agora?


Um milhão e meio de parisienses, acompanhados por quarenta líderes mundiais, prestaram seu tributo no último domingo às dezessete vítimas dos três ataques cometidos na semana passada em Paris. A unidade demonstrada pelos manifestantes foi certamente a melhor resposta ao terrorismo.

Mas será que era mesmo necessário esperar que dezessete pessoas fossem mortas a tiros para se poderem ver milhões de cidadãos de todas as origens, religiões e orientações políticas marchando pacificamente pelas ruas de Paris e de outras cidades europeias, cantando o hino nacional e demonstrando o seu orgulho de ser franceses sem ser acusados de radicalismo? Nem a polícia escondeu a sua surpresa ao ser aplaudida pela multidão.

Sim, tivemos que tocar o fundo do poço de forma sangrenta para enxergar que existe sobre nós uma espécie de página em branco, na qual podemos escrever... escrever o quê? Ninguém sabe ainda, mas milhares de pessoas inocentes continuam sendo abatidas diariamente pelo Boko Haram na Nigéria e pelo Estado Islâmico no Iraque e na Síria; milhares de jihadistas aprendizes, além disso, continuam entre nós, talvez prontos para agir do mesmo jeito que os três terroristas mortos na última semana.

A história da França recordará o dia 11 de janeiro de 2015 como a data de uma manifestação sem precedentes contra o terrorismo; uma imagem rara de solidariedade, fraternidade e unidade em meio à adversidade. O acontecimento também mostrou que, apesar da imagem dos quarenta líderes de braços fechados, os franceses não esperaram o convite dos políticos para expressar as suas emoções na rua, misturando lágrimas e solenidade.

Para que o dia 11 de janeiro se tornasse histórico, porém, a França teve, antes, de viver três dias de derramamento de sangue. A França está em guerra. A homenagem nacional não silencia os temores nem da comunidade judaica (cujo número de membros que foram embora da França para Israel dobrou de 2013 para 2014) nem a população em geral. Afinal, a luta contra aquilo que chamamos elegantemente de “combatentes estrangeiros”, graças ao senso de “sofisticação” dos nossos políticos, nos obriga a destacar um verdadeiro fiasco francês. 

Em poucos meses, a França se tornou, de longe, o principal fornecedor europeu de combatentes para o Oriente Médio: jovens em busca de um ideal, fanatizados, usados, dispostos a massacrar civis e soldados e a combater até mesmo as próprias tropas francesas no Iraque. Jovens que voltaram para a França tão facilmente quanto a tinham deixado. Como podemos nos esquecer da ridícula cena dos jovens voltando da jihad, surpresos por não terem sido presos ao chegarem a Marselha (supostamente por causa de um sistema de computador desatualizado) e se entregando à polícia? Os “ex-combatentes estrangeiros”... Quantas divisões existem? Eles são tão numerosos que os recursos e o pessoal das forças francesas de inteligência, que identificaram cerca de 1.000 (mas quantos serão, realmente?), não seriam capazes de controlar ou monitorar todos eles. Vamos apenas esperar que, ao contrário do caso dos terroristas que agiram nos últimos dias, agora estejam sendo monitoradas as pessoas certas...

Quase um ano atrás, o mundo se comoveu com o sequestro de cerca de duzentas meninas pelo grupo nigeriano Boko Haram. Uma hashtag deu a volta ao mundo: #BringBackOurGirls. Mas elas nunca mais voltaram. Agora é a vez do #JeSuisCharlie de comover o mundo e nos unir numa onda de solidariedade típica da emoção imediata e passageira, agitada pelas redes sociais. Mas reconstruir o orgulho nacional, restaurar a convivência que foi fragmentada e educar uma geração que não tem parâmetros de comportamento vai exigir muito mais que uma passeata multitudinária e uma hashtag.


Agora que o amanhã chegou, que futuro vamos desenhar, cada um à sua maneira, nesta página em branco?
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Aleteia

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