quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Je suis Charlie aussi, mas...


Repugna ao senso comum a chacina perpetrada contra os jornalistas do Charlie Hebdo. Todo homicídio é um pecado gravíssimo e jamais justificável.  As religiões têm um papel insubstituível na manutenção da paz.

O cartunismo, contudo, não há de pactuar com a ofensa  à religiosidade. Qual é o católico que não se sente visceralmente vituperado com a charge do papa Bento XVI, no ato da consagração eucarística, envergando uma camisinha (preservativo) no lugar da hóstia santa?

É inequívoco que o cartunismo supõe certa complacência, uma boa dose de espírito esportivo e a capacidade de o leitor rir de si próprio. Isto é saudável! Sem embargo, os países ditos democráticos precisam normatizar a tão propalada e exaltada liberdade de expressão ou de imprensa, salvaguardando, destarte, os valores religiosos, sobretudo dos grupos cuja suscetibilidade encontra-se à flor da pele. Para determinados crentes, a “brincadeira” da charge consiste em autêntico vitupério à fé; algo comparável a xingar a mãe. 

Se quisermos edificar um mundo harmonioso, onde coexistam as diversas religiões, é mister impormo-nos limites razoáveis, principalmente na temática das crenças, pois neste setor o melindre conta bastante e amiúde degenera em comportamentos antissociais ou criminosos.

No Brasil, quem engendrar uma caricatura detrimentosa de qualquer religião ou escrever um artigo aleivoso estará sujeito a cominações cíveis e criminais. Lembremo-nos, por exemplo, que anos atrás a justiça brasileira proibiu que uma escola de samba levasse à avenida uma imagem do Cristo Redentor.

O episódio dantesco na redação do Charlie Hebdo, reprovável sob todos os aspectos, decerto questiona-nos acerca de dois problemas momentosos: o  fanatismo religioso e a conveniência de eventuais lindes democráticos para a famigerada liberdade de manifestação do pensamento.


Edson Sampel
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ZENIT

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