quarta-feira, 9 de julho de 2014

Homilia do Papa Francisco na viagem a Molise, Itália


HOMILIA
Viagem do Papa Francisco à Molise
Antigo Estádio Romagnoli em Campobasso
Sábado, 5 de julho de 2014

 “A sabedoria, porém, libertou dos sofrimentos os seus fiéis” (Sab. 10,9)

A primeira leitura nos lembrou das características da sabedoria divina, que liberta do mal e da opressão àqueles que se colocam a serviço do Senhor. Na verdade, Ele não é neutro, mas sua sabedoria está do lado das pessoas frágeis, das pessoas discriminadas e oprimidas que se abandonam confiantes a Ele.

Esta experiência de Jacó e José, narrada no Antigo Testamento revela dois aspectos essenciais na vida da Igreja: a Igreja é um povo que serve a Deus; A Igreja é um povo que vive na liberdade que nos foi dada por Ele.

Antes de tudo nós somos um povo que serve a Deus. O serviço a Deus se realiza de várias maneiras, especialmente em oração e adoração, no anúncio do Evangelho e no testemunho da caridade. Maria é sempre o ícone da Igreja, a “serva do Senhor” (cf. Lc 1,38). Logo após receber o anúncio do anjo e ter concebido Jesus, Maria vai às pressas ajudar sua prima Isabel, de idade avançada. Assim, mostra que a melhor maneira de servir a Deus é servir os nossos irmãos e irmãs que precisam de ajuda.

Na escola da Mãe, a Igreja aprende a tornar-se cada dia “serva do Senhor”, para estar pronta a sair para atender às situações de maior necessidade, para ser atenta aos pequenos e excluídos. Mas o serviço da caridade, todos nós somos chamados a viver na realidade comum, ou seja, na família, na paróquia, no trabalho, com os vizinhos… É a caridade comum de todos os dias.

O testemunho da caridade é a via principal da evangelização. Nisto, a Igreja está sempre “em linha de frente”, presença materna e fraterna que compartilha as dificuldades e fragilidades das pessoas. Desta forma, a comunidade cristã busca propagar na sociedade aquele “suplemento da alma” que permite olhar além e ter esperança.

É o que também vós, queridos irmãos e irmãs desta Diocese, estão fazendo generosamente, apoiado no zelo pastoral de seu Bispo. Vos encorajo a todos vocês, sacerdotes, pessoas consagradas e fiéis leigos, a perseverarem neste caminho, servindo a Deus no serviço aos irmãos e difundindo a cultura da solidariedade em todos os lugares. Há tanta necessidade desse compromisso, diante das situações de precariedade material e espiritual, especialmente a do desemprego, uma praga que requer esforço e muita coragem por parte de todos. A falta de trabalho é um desafio que questiona de modo particular às responsabilidades das instituições, empresas e setores financeiros.


É necessário colocar a dignidade da pessoa humana no centro de todas as perspectivas e de todas as ações. Os outros interesses, mesmo que legítimos, são secundários. No centro está a dignidade da pessoa humana! Por que? Porque a pessoa humana é a imagem de Deus, foi criada à imagem de Deus e nós somos todos imagem de Deus!

Portanto a Igreja é o povo que serve o Senhor. Por isto, é o povo que experimenta a sua liberdade e vive nesta liberdade que Ele dá. A verdadeira liberdade o Senhor a dá sempre. A liberdade do pecado, do egoísmo e todas as suas formas: a liberdade de doar-se e de realizar com alegria, como a Virgem de Nazaré que é livre de si mesma, não se entrega à sua condição – e tinha motivo para fazer!- mas pensa em quem naquele momento tem mais necessidade. É livre na liberdade de Deus, que se realiza no amor. E esta é a liberdade que Deus nos dá, e nós não podemos perdê-la: a liberdade de adorar a Deus, de servir a Deus e servi-lo também nos nossos irmãos.

Esta liberdade que, com a graça de Deus, experimentamos na comunidade cristã, quando nos colocamos ao serviço uns dos outros. Sem ciúmes, sem partidos, sem conversas. Servir-nos uns aos outros, servir-nos! Então o Senhor nos liberta das ambições e rivalidades, que minam a unidade da comunhão. Nos liberta da desconfiança, da tristeza – esta tristeza é perigosa, porque nos joga pra baixo, é perigosa, fiquem atentos! Nos liberta do medo, do vazio interior, do isolamento, das lágrimas, dos lamentos.

Também em nossas comunidades, de fato, não faltam atitudes negativas, que fazem as pessoas autorreferenciais, preocupadas mais em defender-se que doar-se. Mas Cristo nos liberta deste soturno existencial, como proclamamos no Salmo: “O Senhor é o meu auxilio e a minha libertação”.

Por isso, os discípulos, nós os discípulos do Senhor, somos fracos e pecadores – todos nós somos! – mas enquanto permanecemos fracos e pecadores, somos chamados a viver com alegria e coragem a nossa fé, a comunhão com Deus e com os outros, a adoração a Deus e a enfrentar com força as dificuldades e provas da vida.

Caríssimos irmãos e irmãs, a Virgem Santa, que vocês a veneram com o título de “Senhora da Liberdade”, vos sustenta na alegria de servir o Senhor e de caminhar na liberdade que Ele nos deu: na liberdade da adoração, da oração e do serviço aos outros.

Maria vos ajude a serem Igreja materna, Igreja acolhedora e carinhosa para com todos. Que Ela esteja sempre ao vosso lado, com doentes, com vossos anciãos, que são a sabedoria do povo, com vossos jovens. Por tudo, o vosso povo seja sinal de consolação e de segura esperança. Que a “Senhora da Liberdade” nos acompanhe, nos ajude, nos console, nos dê a paz e nos dê a alegria!



Boletim da Santa Sé
Tradução: Paula Dizaró

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