domingo, 2 de março de 2014

Ucrânia e Venezuela: da necessidade de Deus na era digital


Não passou despercebido um traço aparentemente periférico que nas manifestações da Ucrânia e Venezuela acabou por ser característica importante: a dimensão cristã que tem acompanhado os acontecimentos. Com isso não nos referimos à motivações religiosas como motor das reivindicações ou das denúncias ante governos totalitários; nos referimos antes de mais nada ao aspecto religioso cristão como elemento de coesão tanto das multidões que enchem as ruas como daqueles que se juntam a elas por meio das redes sociais.

No Facebook, Twitter e Google+ o hashtag (etiqueta comum que facilita acompanhar conversas em torno de um tema específico) #prayforUcrania e #prayforVenezuela acabou por se tornar um ponto de encontro para aqueles que querem conhecer em tempo real o que está acontecendo em ambos países ou para aqueles que desejam solidarizar-se com a causa. Tanto usaram o hashtag milhões de usuários comuns como estrelas do espetáculo e do esporte: de Paulina Rubio a Juanes, passando por Paris Hilton, Ricardo Montaner, Ricky Martin, Alejandro Sanz ou Rihanna.

Obviamente, o “pray” ao qual se refere (“reza”, em espanhol) supõe pelo menos uma remota valorização da oração e, nesse sentido, está relacionado com Deus que é o destinatário final das orações. Mas o que acontece nas redes sociais não é um mero fenômeno que se reduz às fronteiras do digital.


As numerosas fotografias de sacerdotes ortodoxos e católicos entre a polícia e manifestantes, tentando oferecer a ambos atenção espiritual, foi uma constante nas manifestações da Ucrânia. Não poucas dessas fotos se transformaram em verdadeiros conteúdos virais que possibilitaram conhecer esse rosto, muitas vezes oculto, de entrega, do clero, em tantas ocasiões maltratado pela imprensa no geral. Alguns correspondentes da mídia internacional comentavam desde o Twitter a surpresa que era ver tantos elementos de fé nas manifestações dos cidadãos comuns (imagens da Virgem Maria nos estrados, crucifixos e ícones como bandeira que clama justiça, etc.) até chegar a dizer: “isso parece mais uma vigília de oração do que uma manifestação política”.

Na Venezuela os eventos não foram muito diferentes: jovens estudantes nas ruas carregam terços e pedem para a Igreja católica mediar o conflito entre cidadãos e governo. O assassinato e os espancamentos por soldados e policiais pró-chavistas a alguns sacerdotes tiveram como efeito a maior união do povo com a Igreja que é também atacada em seus ministros de culto.

É verdade que esses elementos também podem ser usados para interesses mesquinhos e até mesmo prostituí-los em seu sentido. Mas, mantendo-os em um plano meramente fenomenológico-sociológico não parece apressado ver em tudo isso a capacidade unificadora e de identidade que o cristianismo favorece ainda hoje, em meio a sociedades tão divididas ideologicamente. E isso leva a colocar os olhos no aspecto de transcendência que está por detrás: depois de tudo, apelar a simbologias como as referidas e amparar-se no poder da oração supõem uma perspectiva horizontal, da terra ao céu, que, em definitiva, traz consigo reconhecer a necessidade de Deus, da sua capacidade de intervenção para o bem no mundo e assim como porta de esperança... Também na era das redes sociais.


Jorge Henrique Mújica*
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* O autor é analista da Agência de Notícias ZENIT para questões relacionadas a internet e fé, comunicação institucional e jornalismo religioso.
(Trad.TS)

(27 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
Fonte: ZENIT

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