sábado, 5 de outubro de 2013

Missa inculturada ou Missa avacalhada? (Parte 1)


De umas décadas para cá, vem se perdendo a noção de que a missa é feita para exaltar e agradar a Deus, e não aos homens. Fazem missa para celebrar a negritude, a cultura gauchesca, a vida sertaneja, o amor ao time de futebol… E Jesus, que pediu “Fazei isto em memória de mim”, vai ficando pra escanteio.

A partir do Concílio Vaticano II, a Igreja entendeu que seria benéfico admitir a diversidade na forma de celebrar a liturgia, abraçando o princípio da inculturação do Evangelho, como explica o Padre Paulo Ricardo:

“…é necessário, que para que o Evangelho chegue até o os povos, que a Igreja assuma a forma de falar daquele povo, e assim a mensagem do Evangelho, que é sempre a mesma, a mesma fé de dois mil anos, vai ser compreendida pelos povos neste esforço de adaptação". “Um exemplo extraordinário de inculturação nós tivemos (…) no padre bem-aventurado José de Anchieta, o grande apóstolo do Brasil, que veio ao nosso país e aqui aprendeu a língua indígena, escreveu uma gramática tupi, fez peças de teatro em língua tupi, português e espanhol, (…) e assim ele pôde transmitir a fé.” (1)

Esse é um esforço de inculturação positivo, autêntico. Porém, o que vemos prevalecer em nosso país é avacalhação da santa missa, sob a desculpa de promover a inculturação. O rito romano é desrespeitado pelo uso de paramentos, músicas, gestos e outros elementos mundanos e estranhos à sua sacralidade, ou até mesmo profundamente relacionados a outras religiões (sincretismo). Sobre isso, continua a nos esclarecer o Pe. Paulo Ricardo:

“Nós não estamos lidando com pessoas bem-intencionadas que querem levar o Evangelho para uma cultura diferente. (…) A maior parte das pessoas que fala de inculturação está querendo (…) não levar o Evangelho para os povos, para o mundo, mas trazer o mundo para dentro da Igreja.” (1)

A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR nº 395) deixa claro que qualquer adaptação na liturgia, por menor que seja, não pode ser realizada sem a prévia autorização da Santa Sé. Nem a CNBB possui autonomia para deliberar sobre estas questões. Apesar dessa orientação, muitos sacerdotes violam descaradamente a Constituição Sacrosantcum Concilium (2), que estabelece:

“…jamais algum outro, ainda que sacerdote, acrescente, tire ou mude por própria conta qualquer coisa à Liturgia.” (SC., 22 § 3)

É válido ressaltar que as adaptações na liturgia da missa são admitidas pela IGMR especialmente para os povos recém-cristianizados, o que está longe de ser o caso do Brasil. Falar em missa inculturada aqui, depois de mais de 500 anos de catolicismo na veia é, no mínimo, muito estranho.

Foto de missa afro. Em destaque, ATABAQUES,
intrumentos de percussão típicos da umbanda e do candomblé.
Pra quem curte sincretismo, é um prato cheio... de pipoca!

Mas os padres tupiniquins que promovem missas inculturadas veem os povos das diversas regiões do Brasil como caricaturas étnicas e regionalistas. Suas mentes funcionam mais ou menos assim:

· “Você é negro? Muito axé! Vamos fazer uma missa com muita cor, muito rebolado, muita cocada e atabaques. Sem isso, você não poderá se identificar com o rito, né, meu rei?”

· “Você é do interior? Então o padre tem que usar chapéu de cowboy na missa e cantar que nem o Zezé Di Camargo.”

· “És gaúcho? Bah, tchê, certamente só se sentirá bem em uma missa em que o padre vista bombacha, tenha um lenço no pescoço e use a cuia do chimarrão no lugar do cálice do vinho!”

As missas inculturadas em geral se assemelham mais a festejos folclóricos – que são muito interessantes, mas não diante do altar do Cordeiro Imolado – do que a ritos sagrados. E assim, vai sendo sufocada verdadeira liturgia, aquela que eleva os corações a Deus e faz resplandecer o rosto de Cristo. Sobre isso, foi bem claro o Papa Bento XVI, falando aos bispos do Brasil:

“Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor. (…) “Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa!” (3)
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Fonte: O Catequista

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