sexta-feira, 21 de junho de 2013

Os crimes da Igreja Católica





“Para entender a Inquisição” é uma das obras de envergadura com que o professor Felipe Aquino nos presenteia sempre que lhe “sobra tempo” para colocar por escrito as aulas que transmite pela TV. Vale a pena conferir, inclusive porque – como afirmava o escritor e bispo norte-americano Fulton Sheen (1895/1979), por ele citado – «talvez não haja nos Estados Unidos uma centena de pessoas que odeiem a Igreja Católica, mas há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõem que seja a Igreja Católica».

Felipe Aquino não pretende esconder o sol com uma peneira. Pelo contrário, por mais vezes cita o pensamento e as atitudes do Papa João Paulo II que o levaram a pedir perdão pelos pecados cometidos pelos cristãos ao longo da história: «Como calar diante das muitas formas de violência perpetradas em nome da fé? Guerras de religião, tribunais da Inquisição e outras formas de violação dos direitos humanos? É preciso que a Igreja, à luz de quanto ensinou o Concílio Vaticano II, reveja, por sua própria iniciativa, os aspectos obscuros da história, avaliando-os à luz do Evangelho. É justo que ela assuma, com uma consciência mais viva, o pecado de seus filhos, recordando todas as circunstâncias em que eles, ao longo da história, se afastaram do espírito de Cristo e de seu Evangelho».


Contudo, não se pode avaliar o passado com a mentalidade atual. O mundo caminha e, com ele, também a cultura. É o que afirmam dois historiadores nada benévolos com a Igreja, Richard Leigh e Michael Baigent: «Não podemos ter a presunção de emitir julgamentos sobre o passado segundo critérios do que é politicamente correto em nosso tempo. Se tentarmos fazer isso, descobriremos que todo o passado é culpado. Então ficaremos apenas com o presente como base para nossas hierarquias de valor; e quaisquer que sejam os valores que abracemos, poucos de nós serão tolos o bastante para louvar o presente como algum tipo de ideal último. Muitos dos piores excessos do passado foram causados por indivíduos que agiam com o que, segundo a moral da época, julgavam as melhores e mais dignas das intenções».

Não se pode negar: a Inquisição, as Cruzadas, as fogueiras, as torturas, a caça às bruxas, etc., tudo isso manchou a história da Igreja Católica. Inúmeros foram os abusos cometidos. Em grande parte, eles se devem ao conluio existente, ao longo da Idade Média e Moderna, entre o poder político e eclesiástico. Exemplo é a própria Inquisição. Foi ela que condenou, em 1314, a Ordem dos Templários, por imposição do rei Filipe IV. Foi ainda ela que mandou queimar Joana d’Arc, em 1431, por determinação das autoridades inglesas. É nessa perspectiva que deve ser visto o fim do poder temporal da Igreja em 1870: o que, naquela época, parecia um cataclismo, se demonstrou, pelo contrário, como mais um ato de amor de Deus por sua Igreja.

Os historiadores são facilmente levados a usar dois pesos e duas medidas em seus juízos sobre a história. É o que verificou Felipe Aquino na avaliação de eventos que marcaram a sociedade: «Em um só ano, de meados de 1793 a meados de 1794, a Revolução Francesa executou mais gente do que a Inquisição da Idade Média havia feito em seis séculos. No entanto, ela é comemorada como um dos acontecimentos mais beneméritos da humanidade».

Ele confirma suas palavras com o testemunho de Michael Baigent e de Richard Leigh, que, como já dissemos, não deixam de criticar severamente a Igreja: «No fim do século XVIII, a Revolução Francesa exterminara cerca de 17.000 padres e duas vezes esse número de freiras, destruíra ou confiscara prédios e terras da Igreja». Outro historiador é Mons. Cauly, para quem «a Revolução Francesa, segundo estatísticas sérias, em Paris e nas grandes cidades, em seis anos, executou acima de 30.000 pessoas, muito mais do que fez a Inquisição na Espanha em seis séculos».

Por tudo isso, conclui o professor Aquino: «Os erros cometidos pelos filhos da Igreja não anulam a beleza da sua história, da qual todo católico deve se orgulhar. A Igreja é santa, embora formada de santos e pecadores, e sempre pura na sua doutrina e na sua moral. Sempre encaminhou os seus filhos para a prática das belas e heroicas virtudes, mesmo com a fraqueza humana deles. Cada ser humano é filho do seu tempo e marcado pela sua cultura e mentalidade».



Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)


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