terça-feira, 7 de maio de 2013

Pronunciamento do CLAI Região Brasil em relação à Seca no Nordeste



A Glória do Senhor se manifestará (Is 40: 5)

Declaração do Clai-Brasil sobre a seca de 2013



Baseados no Evangelho de Jesus Cristo, que nos compromete com a defesa da causa dos empobrecidos, vimos a público nos pronunciar contra a omissão política que tem provocado a situação calamitosa em que se encontram mais de 10 milhões de pessoas no Nordeste brasileiro, neste momento onde se vive a maior seca dos últimos 50 anos.

A seca é um fenômeno climático. Mas, a miséria das populações atingidas por ela é resultado da omissão política, que nasce na hora da construção dos orçamentos públicos, quando se decide investir mais em ações que favoreçam o grande capital e menos naquilo que promova a justiça social.

A sociedade civil nordestina plasmou, por meio da Articulação do Semiárido, muitas medidas para fazer avançar formas criativas de convivência com o semiárido. Infelizmente, uma das medidas do governo federal, por meio do Ministério da Integração, foi substituir a implantação de cisternas de placa para captação da água de chuva, com o uso do saber local, por cisternas de PVC, não adaptadas ao clima do semiárido. O semiárido é um ecossistema, com o bioma caatinga, que exige uma postura apropriada à essa condição. 25 milhões de brasileiros vivem nesse bioma, são filhas e filhos de Deus que exigem respeito à sua dignidade.


A atual estiagem prolongada, para além da insegurança hídrica, gerou severas situações para o povo do semiárido: êxodo rural, migrações forçadas, exposição à penúria e agravamento da miséria, perda da produção agrícola e muitas mortes de animais. Nas cidades do sertão, a água virou ouro. A frota oficial de carros pipa não atende à população da caatinga, e o custo do serviço de abastecimento de águas por meio de carros pipa atinge preços proibitivos. Há formação de cartéis, que usurpam os recursos parcos da população local. O que indica a ineficiência da Operação Carros Pipa, executada pelo Exército, sob a coordenação do Ministério da Integração Social, que já custou meio bilhão aos cofres públicos. Lastimamos o renascimento da velha “indústria da seca”, gerando dependência da população pobre do semiárido às artimanhas políticas.

Conquanto várias ações governamentais tenham sido realizadas, as Igrejas-membros e os organismos fraternos-membros do Conselho Latino-Americano de Igrejas, em atitude solidária às irmãs e irmãos do Nordeste e do semiárido, exigem:

1. A elaboração e implementação de programas e políticas públicas permanentes para o combate à insegurança hídrica;

2. Ações estruturantes de cuidado com o bioma caatinga, com a revitalização das fontes d’água e com a promoção de sistemas simplificados e democráticos de abastecimento hídrico potável humano e para dessedentação animal;

3. O recadastramento dos perímetros irrigados, para evitar que haja concentração dos reservatórios de grande porte em posse da iniciativa privada – como ocorre no CE, no qual 35% desses reservatórios estão nessa condição;

4. Que se promova e incentive as novas tecnologias de captação de água da chuva, de barragem subterrânea, de cisterna e de irrigação de salvação – sem o uso de energia elétrica.

Com este pronunciamento, nos afirmamos contra os entraves burocráticos e a ineficácia de financiamento e execução que atingem os programas e políticas públicas para o semiárido nordestino. As populações do semiárido brasileiro já estão há séculos envergonhadas pelas “esmolas”, cansadas de tanto sofrer e esperar promessas que teimam em não se cumprir.

Nós, do CLAI, nos juntamos a esses homens, mulheres, jovens e crianças exigindo respeito e justiça.

Como voz que clama no deserto, queremos, em nome do Deus que dá força ao cansado (Is 40: 3-28), exigir de nossos governantes a devida atenção ao povo da caatinga!


Assembleia do CLAI.
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Fonte: Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC

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