terça-feira, 28 de maio de 2013

Merece confiança o Evangelho de Barnabé?


Os muçulmanos citam frequentemente o Evangelho de Barnabé para defender os ensinos islâmicos. Na verdade, ele é um campeão de vendas em muitos países islâmicos. Suzane Hausseff o recomenda em sua bibliografia anotada sobre o islamismo, dizendo:

Nele se encontra o Jesus vivo retratado mais vividamente e mais identificado com a missão que lhe foi confiada do que qualquer outro dos quatro evangelhos o NT pode retratá-lo.

É chamado “leitura essencial para qualquer um que busque a verdade” (Haneef, 186). Uma afirmação islâmica típica é a de Muhammad Ata ur-Rahim:

O Evangelho de Barnabé é o único evangelho ainda existente escrito por um discípulo de Jesus... [Ele] foi aceito como evangelho canônico nas igrejas de Alegandria até 325 d.C (Ata ur-Rahim, p. 41).

Outro autor muçulmano, M. A. Yusseff, argumenta confiadamente que “em antiguidade e autenticidade, nenhum outro evangelho pode chegar perto do Evangelho de Barnabé” (Yusseff, p. 3)

Não é de surpreender que os apologistas muçulmanos recorram ao Evangelho de Barnabé, pois ele apóia um ensinamento islâmico básico contrário ao NT. Afirma que Jesus não morreu na cruz (cf. surata 4.157). Mas argumenta que Judas Iscariotes morreu no lugar de Jesus (seç. 217), tendo-o substituído na última hora. Essa posição é adotada por muitos muçulmanos, já que a grande maioria deles acredita que outra pessoa tomou o lugar de Jesus sobre a cruz.


Eruditos conhecidos que examinaram cuidadosamente o Evangelho de Barnabé consideram que não há absolutamente nenhuma base para a autenticação dessa obra. Depois de examinar a evidência num artigo acadêmico em Islamochristiana, J. Slomp concluiu: “Na minha opinião a pesquisa acadêmica provou cabalmente que esse evangelho é falso. Essa opinião também é compartilhada por vários eruditos muçulmanos” (Slomp, 28). Na introdução à edição de Oxford do Evangelho de Barnabé, Longsdale e Ragg concluem que “a verdadeira data fica [...] mais próxima de século XVI que do século I” (Longsdale, p. 37).

As evidências de que esse não é um evangelho do século I, escrito por um discípulo de Cristo, são esmagadoras:

A referência mais antiga a ele vem de uma obra do século V, o Decreto gelasiano, pelo papa Gelásio, 492-495 d.C.) Mas até essa referência é questionada (Slomp, p. 74). Além disso, não há evidência manuscritológica na língua original para sua existência. Slomp diz diretamente: “Não há tradição textual do VEB [manuscrito de Viena do Evangelho de Barnabé]” (IBID). Em contraste, os livros do NT são comprovados por mais de 5.300 manuscritos gregos que começaram a ser produzidos durante os três primeiros séculos.
Em segundo lugar, L. Bevan Jones observa que sua primeira forma conhecida é um manuscrito italiano. Esse manuscrito foi analisado cuidadosamente por eruditos e é considerado pertencente ao século XV ou XVI, isto é, 1400 após o tempo de Barnabé (Jones, 79).

Até seus defensores muçulmanos, Muhamad ur-Rahim, admitem não existem manuscritos anteriores ao século XVI. Esse evangelho é muito usado por apologistas muçulmanos hoje, mas não há referência a ele por parte de nenhum escritor muçulmano antes do século XV ou XVI. Certamente eles o teriam usado, se de fato existisse. Mas nenhum deles, nem qualquer outra pessoa, jamais o mencionou entre os séculos VII e XV, quando houve intenso debate entre cristãos e muçulmanos.

Nenhum pai ou mestre da igreja cristã jamais o citou entre os séculos I e XV, apesar do fato de haverem citado todos os versículos de todos os livros do NT, com exceção de onze (Introdução Bíblica). Se o Evangelho de Barnabé fosse considerado autêntico, certamente teria sido citado muitas vezes, como todos os outros livros canônicos das Escrituras. Se esse evangelho existisse, autêntico ou não, certamente teria sido citado por alguém. Mas nenhum autor antigo o citou, nem contra nem a favor, por mais de 1500 anos.

Às vezes ele é confundido com a Epístola de [pseudo] Barnabé do século I (c. 70-90 dC), que é um livro completamente diferente (Slomp, p. 37-8). Por causa das referências a essa obra, eruditos muçulmanos alegam falsamente haver apoio para uma data anterior. Muhammad Ata ur-Rahim confunde os dois livros e, assim, afirma equivocadamente que o evangelho estava em circulação nos séculos II e III d.C. Esse é um erro estranho, já que ele admite que ambos são descritos como livros diferentes nos “Sessenta Livros”, atribuindo o número de série 18 à Epístola de Barnabé e o número serial 24 ao Evangelho de Barnabé pelo nome como evidência da existência do Evangelho de Barnabé (Ata ur-Rahim, p. 42-43).

Alguns até pensaram erroneamente que a referência a um evangelho usado por Barnabé mencionado no livro apócrifo Atos de Barnabé (antes de 478) fosse o Evangelho de Barnabé. Mas, isso é claramente falso, como a citação revela: “Barnabé, depois de desenrolar o evangelho, que recebemos de Mateus, seu cooperador, começou a ensinar os judeus” (Slomp, p. 110). Ao omitir deliberadamente essa frase enfatizada, dá-se a impressão de que há um evangelho de Barnabé.

A mensagem do Evangelho de Barnabé é refutada completamente por documentos de testemunhas oculares do século I, encontrados no NT. Por exemplo, seus ensinamentos de que Jesus não afirmou ser o Messias e que ele não morreu na cruz são absolutamente refutados por documentos de testemunhas oculares do século I. Na verdade, nenhum muçulmano deveria aceitar a autenticidade do Evangelho de Barnabé, já que ele contradiz claramente a afirmação do Alcorão de que Jesus era o Messias. O livro afirma: “Jesus confessou e disse a verdade: ‘Eu não sou o messias [...] Na verdade fui enviado à casa de Israel como um profeta de salvação, mas depois de mim virá o Messias’” (seç. 42,48). O Alcorão chama Jesus de “Messias” [o “Cristo”] várias vezes (cf. surata 5.19,75).

Até os promotores muçulmanos do livro,tais como Haneef, têm de admitir que “a autenticidade desse livro ainda não foi estabelecida incontestavelmente [...] É considerado um registro apócrifo da vida de Jesus”. Haneef afirma que o livro “ficou perdido do mundo durante séculos por causa da sua repressão como documento herético”, mas não há nenhuma evidência documentada disso. Conforme indicado acima, ele sequer foi mencionado por alguém anterior a ele no século VI. Outros teólogos muçulmanos também duvidam da sua autenticidade (v. Slomp, p. 68). O fato é que o livro contém anacronismos e descrições da vida medieval na Europa ocidental que revelam que não foi escrito antes do século XVI. Por exemplo, refere-se ao ano do jubileu a cada cem anos, em vez de cinqüenta. A declaração papal de mudá-lo para cada cem anos foi feita pela Igreja em 1343. John Gilchrist, na obra intitulada Origins and sources of the Gospel of Barnabas [Origens e fontes do Evangelho de Barnabé], conclui que apenas uma solução pode explicar essa coincidência surpreendente. O autor do Evangelho de Barnabé só citou as supostas palavras de Jesus sobre o ano do jubileu acontecer ‘a cada cem anos’ porque sabia do decreto do papa Bonifácio.

Gilchrist acrescentou:

Mas como saberia sobre esse decreto a não ser que vivesse na mesma época que o papa ou algum tempo depois? É um anacronismo óbvio que nos compele a concluir que o Evangelho de Barnabé não poderia ser escrito antes do século XVI d.C” (Gilchrist, p. 16-7).

Um anacronismo importante é que o Evangelho de Barnabé usa o texto da Vulgada do século VI. Outros exemplos de anacronismos incluem um vassalo que deve uma parte da sua colheita para o seu senhor, uma ilustração do feudalismo medieval, uma referência a barris de madeira para vinho, em vez dos odres de vinho usados na Palestina, e um procedimento na corte medieval.

J. Jomier dá uma lista de erros e exageros:

A obra diz que Jesus nasceu quando Pilatos era governador, mas ele não se tornou governador até 26 ou 27 d.C. Jesus velejou para Nazaré, que não fica à beira-mar. Da mesma forma, o evangelho de Barnabé contem exageros, como a menção de 144 mil profetas e 10 mil profetas mortos “por Jizebel” (v. Slomp).

O estudo de Jomier mostra quatorze elementos islâmicos em todo o texto que provam que um autor muçulmano, provavelmente convertido, escreveu o livro. O pináculo do templo, onde se diz que Jesus pregou – um péssimo lugar para pregação – foi traduzido para o árabe como dikka, uma plataforma usado nas mesquitas. Além disso, Jesus é apresentado como alguém que veio apenas para Israel, mas Maomé para a salvação do mundo inteiro. Finalmente, a negação de Jesus como Filho de Deus é islâmica, assim como o fato de que o sermão de Jesus é baseado num [hutba] muçulmano que começa com louvor a Deus e a seu santo Profeta.

Conclusão.

O uso islâmico do Evangelho de Barnabé para apoiar seus ensinamentos é desprovido de comprovação. Seus ensinamentos até contradizem o Alcorão. Essa obra, longe de ser um registro autêntico dos fatos sobre Jesus compilados no século I, é evidentemente uma invenção do fim da era medieval. Os melhores registros do século I que temos da vida de Cristo são encontrados no NT, e categoricamente contradizem o ensinamento do Evangelho de Barnabé. Até referências antigas pagãs contradizem o Evangelho de Barnabé em pontos cruciais.

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Referências:

M. Ata ur-Rahim, Jesus: prophet of Islam.
N. L. Geisler, Introdução Geral à Bíblia.
_ e A. Saleer, Answering Islam.
S. Haneef, Wat everyone should know about Islam and Muslims.
J. Jomier, Egypt: reflexions sur la Recontre al-Azhar.
L. B. Jones, Christianity explained to muslims.
J. Slomp, The gospel dispute, Islamochristiana.
D. Sox, O Evangelho de Barnabé.
M. A. Yusseff, The Dead Sea scrolls, the Gospel of Barnabas, and the New Testament.
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Autor: Norman Geisler.
Fonte: Porque Creio

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