sexta-feira, 1 de março de 2013

Todo cuidado é pouco!



A renúncia do Papa Bento XVI foi explorada por alguns para lançar confusão nas mentes incautas numa manipulação diabólica de textos bíblicos e de fatos históricos.

O primado espiritual de Pedro e de seus sucessores está claro no Evangelho (Mateus 16,16-19; João 21,15). Pedro exerceu este primado (Atos dos Apóstolos 1,15 s; 2,14; 3,6; 10,1 s; 9,32; 15,7-12). Foi bispo de Roma, fato que diante das pesquisas arqueológicas realizadas na Basílica de São Pedro, está inteiramente comprovado.

Uma vez que o primeiro papa se estabeleceu em Roma há uma perfeita identidade entre a sede romana e o papado. É uma afirmação inverídica apresentar o bispo de Roma exercendo jurisdição na Igreja apenas a partir da Idade Média. Com efeito, a história eclesiástica antiga mostra os pontífices romanos no exercício de suas funções de chefes de toda a Igreja e, na verdade, cônscios deste poder espiritual. Assim, no ano 96 São Clemente Romano, terceiro sucessor de São Pedro, dirigiu uma carta à Igreja de Corinto e pela linguagem que usa, se pode claramente perceber que tinha total consciência de que era ele quem dirigia a Igreja. Sua admoestação foi acatada e produziu admiráveis efeitos. Neste tempo ainda vivia o apóstolo São João e, no entanto, quem tinha ampla atuação era o bispo de Roma. 

Santo Inácio de Antioquia, discípulo dos apóstolos, chama a Igreja de Roma de “cabeça da caridade”, revelando a posição primacial, da sede romana e, portanto, também a de seu chefe. Santo Ireneu, assim se expressou no ano de 180: “A esta Igreja (romana) por sua preeminência mais poderosa, é necessário que se unam todas as Igrejas, isto é, os fiéis de todas as partes, pois nela se conservou sempre a tradição recebida dos apóstolos pelos cristãos de todas as partes” (Adv. Haer. 3,3. cf. Conradus Kirch S.J. Enchiridion totius historiae ecclesiasticae antiquae. Barcelona, Editorial Herder. p. 75).

São muitos os Pontífices romanos que aparecem no pleno exercício de sua autoridade. Assim Vitor II no ano 190 na questão da Páscoa. Depois será Calixto I quem publica para a Igreja universal o célebre edito admitindo à penitência os adultos, condenando com isto o rigorismo exagerado de Hipólito e Tertuliano. Em 260 é o papa Dionísio quem condena para toda Igreja os erros do subordinacionismo e o sabelianismo. É sintomático constatar como os hereges e cismáticos se esforçavam por obter o reconhecimento do bispo de Roma, o que revela como Roma era o centro da Igreja verdadeira de Cristo. Os sínodos diocesanos enviam ao papa suas decisões para aprovação e os concílios só se realizavam com a presença dos representantes do papa.

O primado espiritual do papa, verdadeiro chefe da Igreja, sempre foi exercido conscientemente pelo bispo de Roma e isto não se deve nem à ambição, uma vez que todos eles só intentavam servir; nem à influência de Roma, dado que desde 11 de maio de 330 Constantino havia transferido a capital para Bizâncio; nem à subserviência dos demais bispos, pois, muitas vezes, houve quem se rebelasse, mas a autoridade do Pontífice romano acabava por ser reconhecida. Única é a razão: Roma é a “Igreja mãe que tem em suas mãos o governo de todas as outras igrejas; o chefe do episcopado, donde parte a direção do governo; a cátedra principal, a cátedra única na qual, somente, todos conservam a unidade”, como bem se expressou Bossuet. Os Papas, como sucessores de São Pedro sempre exerceram e exercerão o seu múnus como Chefes da Igreja instituída por Cristo e a esta Igreja foi dada a promessa de seu Fundador: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).


Côn. José Geraldo Vidigal*
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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