terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Reminiscências de um Papa



Diante da pessoa de Josef Ratzinger sempre houve um grupo de apreciadores que reconheciam seus dotes, quase únicos, de inteligência, de retidão, de fé e de coragem. Entre estes, “cum granu salis” eu me incluo. Mas também sempre teve, a certa distância, um grupo poderoso, de adversários ( alguns até inimigos)  figadais.  Tais organizações em tudo encontravam motivos para discordar, repreender e mostrar outras direções a serem palmilhadas. “Levantou-se grande perseguição à Igreja” (At 8,1) continua em pleno vigor hoje. Mas uma vez que a mudança de manejo do leme, da nau de Pedro, é fato consumado, quero dar alguns traços, que ficarão para sempre em mim, sobre essa rica personalidade. 

De tantas vezes que com ele me encontrei (antes de ele ser Papa e depois), uma característica evidente era a sua bondade, a atenção plena e a sua conversa agradável. A descrição de homem de briga, de pessoa impositiva, é completamente imerecida.  Os seus escritos (mais de 600), são de uma clareza ofuscante, para quem os sabe ler. Atualmente é o maior teólogo cristão vivo. E o que é mais importante, seus ensinamentos são confiáveis, por ser um grande conhecedor de toda a Teologia, e ser plenamente ortodoxo e afinado com a tradição católica. Impediu, com seu profundo conhecimento, que as orientações do Concílio Vaticano II fossem desviadas de seus verdadeiros objetivos. Uma intervenção sua, de radical clareza, e repetindo apenas os ensinamentos do Concílio, foi a exortação Dominus Iesus que impediu a Igreja de entrar num caminho de relativismo e de esquecimento dos ensinamentos milenares da Igreja. O seu diálogo com o mundo moderno, especialmente com a classe pensante, foi de um brilho nunca visto. A aproximação com os judeus foi a melhor da História. Como homem de larga visão tentou resolver o grande problema dos católicos, manipulados pelo governo comunista da China. Tentou, talvez de maneira frustrante, reaproximar os católicos lefebrianos, facilitando-lhes a liturgia de João XXIII. O Brasil lembra com saudades a sua visita ao país, e por ter escolhido a nossa pátria para ser sede da Jornada Mundial da Juventude. “No meio da Igreja o Senhor o fez  falar” ( Eclo 15,5). 

Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)

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