sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Fazer Guerra



O instinto de destruição e de querer desclassificar os outros, por inveja,  por orgulho, ou  por não querer aceitar a verdade, faz a parte atacada ou ofendida sofrer muito. E quem faz o ataque injusto às vezes não percebe o mal que realiza, seja por falta de referência moral ou ética, ou por se deixar levar pela ira ou sentimento de vingança.

O profeta Jeremias encontra a força de Deus para suportar os ataques dos opositores à sua missão e à verdade proferida em nome do Senhor: “Eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te” (Jeremias 1,19). O próprio Jesus foi constantemente perseguido pelos que se opunham à sua pregação, principalmente em sua  terra: “Todos na sinagoga ficaram furiosos.  Levantaram-se e o expulsaram da cidade”.  (Lucas 4,28). O Mestre havia falado que o profeta não é bem recebido em sua pátria.

Quando a pessoa humana é bem formada em seu caráter, para a convivência respeitosa com o semelhante, não usa de meios antiéticos para tirar a fama do outro ou mesmo para diminuir a verdade de seus valores e de sua missão.  Se tem algo a objetar do comportamento do próximo, usa da boa educação, do diálogo, da manifestação de boa vontade em querer o bem do outro. Seu método não é usar de artimanhas para diminuir esse  valor. Antes, sabe até conter sua agressividade para buscar o bem maior para todos. Se percebe seu lapso quanto a isso, revê o próprio comportamento e sabe pedir desculpa.

Quem é atacado injustamente defende-se com meios lícitos legal e eticamente. Mas não usa do método que inimigos utilizam. Não paga o mal com o mal. Sabe conservar a própria grandeza de personalidade, que tem valores maiores a usar e promover.


Paulo apresenta as coordenadas de Jesus para nos estimular à prática da convivência no amor. Não adianta termos fama de pessoas importantes, que até realizam prodígios e fazem grandes obras, se não praticarmos o amor ou a caridade. Ele lembra que tudo passa na vida. Só permanece a caridade. Esta só leva a pessoa a fazer o bem ao outro, mesmo suportando agressões: “A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é  vaidosa, não se ensoberbece; não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor; não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade. Suporta tudo...” (1 Coríntios 12,4-7).

O “não levar desaforo para casa”, ou o “escreveu e não leu, o pau comeu” é muito praticado por quem não doma seus instintos, fazendo o semelhante sofrer e também com consequências até graves para si mesmo. A formação para a convivência justa e fraterna requer exercitação desde a tenra idade, com o modelo exemplar dos adultos que se comportam com respeito e valorização da pessoa do semelhante. A educação para a convivência cidadã é um dever de todos: pais, agentes escolares e de trabalho, bem como os programas da mídia.

“Fazer guerra” contra o próximo é perda de “munição”, enquanto a pessoa que o realiza sai perdendo em dignidade.



Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

Nenhum comentário:

Postar um comentário