quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Dom Leonardo escreve aos bispos sobre os Xavante e dom Casaldáliga



Caro irmão no episcopado,

paz e bem!

A todos os irmãos votos de abençoado Natal. Deus criança, nossa esperança, ilumina nossa vida e ministério!

Recebi mensagens e telefonemas buscando informações sobre os acontecimentos que obrigaram o nosso irmão Dom Pedro Casaldáliga Plá a deixar São Félix do Araguaia.

Envio a todos os irmãos algumas informações que podem ajudar a compreender o que está acontecendo na Prelazia de São Félix e nos sentirmos unidos ao Povo Xavante, às famílias dos pequenos agricultores e aos nossos irmãos Dom Pedro Casaldáliga e Dom Adriano Ciocca Vasino.

Dom Adriano, por telefone, comunicou-me que a Polícia Federal diante das ameaças de morte havia aconselhado Dom Pedro a deixar temporariamente São Félix. Apesar da idade e do estado de saúde, ele viajou no mesmo dia com Pe. Paulo, agostiniano, que o assiste diariamente, tendo sido fraternalmente acolhido por irmãos nossos em outra diocese. Dom Pedro está sereno e acompanhando todo o processo de devolução da terra aos índios.


A decisão de Dom Pedro de deixar São Félix foi motivada pela reação dos ocupantes não índios diante decisão judicial de retirar os não índios da terra do Povo Xavante localizada nos municípios de São Félix e Alto Boa Vista. Como a Prelazia sempre defendeu a devolução da terra aos índios, sempre houve uma certa tensão e ameaça. Com a desintrusão elas aumentaram. A saída de Dom Pedro mostra mais uma vez que a violência não vem dos índios, como também não vem dos pequenos agricultores.

A situação de conflito da terra Xavante não é de hoje. É uma longa história de êxodo e sofrimento de um povo. A terra indígena, após a retirada forçada dos Xavante nos anos 60, foi sendo dividida em grandes fazendas. Para assegurarem essas terras invadidas, incentivaram a vinda de famílias que adquiriram lotes na terra Xavante.

Após anos de disputa judicial, houve a determinação da desintrusão da terra indígena. A Prelazia sempre insistiu com os diversos órgãos do executivo e do judiciário para que houvesse justiça com o Povo Xavante e com as famílias dos pequenos agricultores.

Foram envolvidos cinco ministérios na preparação e execução do plano de retirada dos não índios, para cumprir o que a justiça havia determinado, seguindo o que reza a Constituição Brasileira. O plano elaborado pelo Governo atende a insistência da Prelazia.

Todos nós sabíamos da tensão e da dor que chegariam. Especialmente às famílias de pequenos agricultores que venderam a propriedade em outros Estados para adquirir terra indígena de pessoas que a negociavam ilegalmente.

A Prelazia, na pessoa de seus Bispos e Agentes de pastoral, acompanhou durante todos esses anos a luta do Povo Xavante em todos os momentos, bem como das famílias dos pequenos agricultores.

Os Padres salesianos cuidam pastoralmente da aldeia, e a Prelazia está presente com a Pastoral da Criança e outras iniciativas. Estive muitas vezes entre os Xavante, como também visitei a comunidade católica na região.
Acompanhemos com nossas preces e nossa solidariedade fraterna a Dom Pedro, a Dom Adriano, a toda a Prelazia nesse momento de sofrimento.

Maria, Mãe de Deus e nossa, nos acompanhe nesse tempo de Advento e nos ajude a encontrar a Deus envolto nas faixas de nossa fragilidade e humanidade.

Com estima e consideração em Cristo,

Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília (DF)
Secretário Geral da CNBB



Brasília, 18 de dezembro de 2012

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