terça-feira, 13 de março de 2012

Homofobia ou Hamartemofobia?


Em 05 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal do Brasil aprovou a união homossexual no país, ou seja, que pessoas do mesmo sexo – homem com homem, mulher com mulher – têm os mesmos direitos perante a sociedade brasileira tanto quanto os casais heterossexuais – homem e mulher.

Dado que uma coisa puxa a outra, eis o motivo por que se ouve muito em nossos dias a palavra de origem grega homofobia, cujo sentido etimológico é “medo do igual”. No caso em questão, quer-se indicar o “medo do homossexual”. É exatamente sobre isto que quero discorrer aqui.


Partindo do gesto de Jesus Cristo que amou e acolheu com muita ternura e compaixão a mulher adúltera e não o pecado dela, quando a Lei judaica contrariamente determinava radicalmente o seu apedrejamento, afirmo: a Igreja, a exemplo do Mestre, também ama e acolhe com muito amor, compaixão e ternura cada homossexual em particular, porque sabe que como filhos amados de Deus merecem todo respeito, toda atenção. Porque sabe que cada um deles tem uma dignidade humana pelo simples fato de ser pessoa. O que ela não ama nem acolhe é, como Jesus, o pecado do homossexual. Porque o pecado escraviza o homem. Maltrata-o. Não o liberta. Não o eleva.

Ora, se Jesus não discriminou a pecadora, mas rejeitou radicalmente o pecado dela, quando lhe disse: “Vá e não peques mais”[1], do mesmo modo também a Igreja o faz: não discrimina nenhum homossexual, mas rejeita radicalmente o pecado dele, como qualquer pecado de quem quer que seja. Por causa disto, eu alcunho – ao lado da homofobia – outra palavra também de origem grega para que se torne conhecida e possa esclarecer a verdade cristã: hamartemofobia, cujo sentido etimológico é “medo do pecado”.

De posse desta palavra, convém, então, dizer que para a Igreja, o problema não é a homofobia, isto é, o medo do homossexual, a pessoa dele. Afinal, ela sabe que Jesus veio ao mundo para curar os pecadores, o errante na estrada da vida. Para ela, o problema é a hamartemofobia, isto é, o medo do pecado (dele). Afinal, o pecado obscurece “a razão, a verdade, a consciência reta”[2].

Deste modo, deve-se entender que a missão da Igreja não é compactuar com nenhum tipo de fraqueza moral do homem, mas, sim, ajudá-lo a se libertar dela para seu bem.

Estando, pois, a Igreja a serviço da verdade que liberta, ela ensina: “Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendência homossexuais inatas. Não são eles que escolhem sua condição homossexual; para a maioria, pois, esta constitui uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta.

Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida e, se forem cristãos, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa da sua condição”[3]. Ademais, os atos homossexuais “impedem que do ato sexual surja o dom da vida. Não são frutos de uma verdadeira complementariedade afetiva e sexual. De modo algum podem ser aprovados”[4].

O que se percebe aqui neste ensinamento da Igreja? Uma Igreja que, de um lado, é consciente dos limites existenciais de seus filhos e, por isto mesmo, os acolhe; e, do outro lado, esta mesma Igreja consciente de que o pecado não é exemplo de vida para ninguém e, por isto mesmo, o rejeita terminantemente.

Sendo assim, não há espaço para preconceito na Igreja, já que este está para a pessoa. Para ela o que há é tão somente a formação de bons conceitos capazes de educar bem o homem na sua correta relação com o mundo, enquanto dimensão corporal; na sua relação com o outro, enquanto dimensão psíquica; e na sua relação com Deus, enquanto dimensão espiritual. E conceitos estes que implicam, inclusive, uma linguagem.

Falando de linguagem, vale dizer: quando se chega à casa de uma família e se pergunta aos pais, quantos filhos vocês têm? Se for um menino e uma menina, respondem: um casal. Se forem dois meninos ou duas meninas, respondem: dois meninos ou duas meninas. Nunca dizem um casal. Isto nos faz notar que casal é sinônimo de multiplicação, de fecundidade. De fato, quando se vai à feira e se pede ao feirante um casal de pássaros para comprar, ele nos mostra um macho e uma fêmea. Eis a razão por que no início, referindo-se aos homossexuais, digo homem com homem e mulher com mulher; aos heterossexuais, homem e mulher. O “e” em português é uma conjunção aditiva. Homem e mulher, portanto, se completam adicionando naturalmente sexo com nexo. O “com” não joga no time da conjunção aditiva. Logo, pode-se dizer que na relação do homem com homem e da mulher com mulher há “sexo” sem nexo.

Em nome da verdade é preciso dizer que nenhuma decisão moral vai ser autêntica e libertadora quando se parte do mau exemplo, do erro, do gosto, do prazer, do interesse.

Que os santos da Corte celestial sejam para nós exemplos de superação na busca da retidão!
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[1] Jo 8,11.

[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1849.

[3] Ibid., n. 2358.

[4] Ibid., n. 2357.
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Frei Luis Leitão pertence a Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo. Atualmente reside no Pós-Noviciado de Filosofia e também é o vice-diretor geral do IESMA(Instituto de Estudos Superiores do Maranhão).

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