segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Virgindade sempre se dá bem no casamento


Mc 1,21-28: "Entraram em Cafarnauu e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali ele ensinava. Estavam espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Na ocasião, estava na sinagoga deles um homem possuído de um espírito impuro, que gritava, dizendo, "Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu ès: o Santo de Deus". Então o espírito impuro, sacudindo-o violentamente e soltando grande grito, deixou-o. Todos então se admiraram, perguntando uns aos outros: "Que é isto? Um novo ensinamento com autoridade! Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles lhe obedecem!" Imediatamente a sua fama se espalhou por todo lugar, em toda a redondeza da Galiléia"

Na sua "Introdução à vida devota," São Francisco de Sales, doutor da Igreja (1567-1623), diz que colocar em prática o Evangelho (o que entendemos por "devoção") é possível e necessário em todas as esferas da vida do batizado, sem exceção: "É um erro, ainda mais, uma heresia, pretender excluir o exercício da devoção do ambiente militar, da oficina dos artesãos, da corte dos príncipes, das casas das pessoas casadas."

O santo Bispo de Genebra, depois de ter exemplificado alguns estados particulares de vida que corresponde a um modo próprio e legítimo de seguir ao Senhor, conclui: "a devoção não destrói nada quando é sincera, mas antes aperfeiçoa tudo e, quando incompatível com os compromissos de alguém, é definitivamente falsa. "

A mensagem é clara: em todas as condições humanas pode-se e deve-se testemunhar Jesus Cristo.Estas palavras nos ajudam a entender a segunda leitura.


Paulo, respondendo às perguntas do Corintios, havia declarado abertamente uma preferência pela virgindade mais do que pelo casamento: "Estás livre de mulher? Não vá buscá-la"(1 Cor 7, 27). Ele começou a falar dos dois estados de vida com uma declaração surpreendente, e que certamente não deve ser tomada literalmente: "É bom para o homem não tocar em mulher" (1 Cor 7,1).

O apóstolo aqui assume a questão de se é ou não é lícito a um cristão ter relações sexuais ("tocar uma mulher "), ou seja, é preferível para Deus: se casar ou não se casar? Ele já descartou categoricamente a "porneia" (relações pré-matrimoniais), e agora compara a condição das pessoas casadas com aquela das pessoas virgens.

A afirmação: "Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido" (1 Coríntios 7 ,32-34), não tem a intenção de mortificar o estado conjugal em comparação com a virgindade consagrada.

Para Paulo, todos os crentes, homens e mulheres, casados ​​ou não, devem se comprometer a viver o próprio estado de vida como um dom universal de santidade, em Cristo.

Claro, aos esposos não faltará as suas específicas "preocupações", com algum esforço para viver em plenitude o relacionamento com o Senhor; mas as relações sexuais são legítimas e santificadoras, desde que nenhum dos cônjuges faça delas um uso egoísta.
Neste sentido, a preocupação fundamental dos cônjuges não deve ser aquela de "sim/não" à relação sexual, mas do "sim" à verdade desta diante de Deus. E a verdade do relacionamento conjugal é esta: Deus quer que os dois sejam "uma só carne" (Mt 19,4-6), e que o sejam de modo "virginal", isto é, com pureza de coração e com pureza de amor.

Puro é o coração que no dom de si deseja em primeiro lugar, a felicidade do outro, sem instrumentalizar a relação sexual para o próprio prazer; puro é o amor, doado e recebido, que reconhece em Deus a sua Fonte e obedece cada dia a sua vontade e verdade.

É "o espírito dos cônjuges que não deve nunca ficar "impuro", sugere Paulo, sabendo bem que a concupiscência da carne, mesmo no casamento, é um pecado grave e tentação do diabo, porque contradiz radicalmente o significado esponsal inscrito pelo Criador no corpo.

Voltando agora ao Evangelho, compreendemos que o egoísmo sexual conjugal, mesmo se partilhado, é para o matrimônio uma ruína essencialmente "diabólica" ("diabo" é o outro nome de Satanás, que 'divide'), causa de profunda e dolorosa separação da alma do marido da alma da esposa, até mesmo na união dos seus corpos.

Em conclusão, sirvo-me aqui ainda de São Francisco de Sales: seja a devoção daqueles que não são casados, seja daqueles que são casados, são verdadeiras e justas diante de Deus, ainda que, nos dois diferentes estados de vida, igualmente chamados à santidade, cada um, também "nas coisas do mundo" antes de mais nada se preocupe "das coisas do Senhor" (1 Cor 7,32-33), ou seja, é o mesmo que dizer: buscar estar fazendo a Vontade de Deus em todas as suas ações.
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* Padre Angelo del Favero, cardiólogo, em 1978 co-fundou um dos primeiros centros de apoio à vida perto da Catedral de Trento. Tornou-se um carmelita em 1987. Foi ordenado sacerdote em 1991 e foi conselheiro espiritual no santuário de Tombetta, perto de Verona, Itália. Atualmente dedica-se à espiritualidade da vida no convento carmelita de Bolzano, na paróquia de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
[Tradução Thácio Siqueira]

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