Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta quem sou eu para julgar. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta quem sou eu para julgar. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Parada Gay de Maringá terá como tema a frase do Papa.


A quarta edição da Parada LGBT de Maringá, no norte do Paraná, tem como tema a frase “Quem sou eu para julgar?”, dita pelo Papa Francisco após a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013.

Na ocasião, o Papa Francisco afirmou para jornalistas que os gays não devem ser marginalizados, e sim integrados à sociedade. O pontífice citou o Catecismo da Igreja Católica para reafirmar a posição de que a orientação homossexual não é pecado, mas os atos são. “Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?”, afirmou o Papa.

Margot Jung, vice-presidente da Associação Maringaense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (AMLGBT) explicou ao Portal G1 como a frase do Papa foi acolhida no meio Gay.

“A fala do Papa Francisco serve de reflexão para várias circunstâncias e é um grande sinal de que é preciso quebrar qualquer tipo de preconceito. Essa discriminação que ainda está presente em vários locais, até mesmo no nosso Congresso, onde vários políticos insistem em ter uma postura fundamentalista, esquecendo que os direitos humanos são para todos, independente da religião”, diz Margot Jung.

A parte esquecida:

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Jesus também é Yahveh?


"Yahveh" é o nome próprio de Deus no Antigo Testamento, pois foi assim que Ele se identificou para Moisés na teofania da sarça ardente: 

- “Respondeu Moisés a Deus: "Se eu vou aos israelitas e lhes digo: 'O Deus de vossos pais me enviou a vós', quando me perguntarem: 'Qual é o seu nome?', o que lhes responderei?" Disse Deus a Moisés: "Eu sou aquele que sou". E acrescentou: "Assim dirás aos israelitas: 'Eu sou me enviou a vós'"” (Êxodo 3,13-14). 

Nesse momento Deus deu ao homem o único nome que poderia defini-lo de alguma maneira: "Yahveh", que em língua hebraica pode traduzir-se por “Eu sou o que sou”, “Eu sou aquele que é” ou “Eu sou o existente”, tal como o traduziram os tradutores da Septuaginta: "ego eimi ho on". Deus, por ser quem é, é o único verdadeiramente existente no sentido de que não é contingente, o que quer dizer que não precisa de nada nem de ninguém para existir, ao contrário do que ocorre com as criaturas. Ao não ser contingente Deus não foi criado por ninguém, mas é o Criador, princípio e fim de todas as coisas. 

Sobre isto o Catecismo da Igreja Católica ensina: 

- “Ao revelar seu nome misterioso de Yahveh, "Eu sou aquele que é" ou "Eu sou aquele que sou" ou também "Eu sou quem sou", Deus declara quem Ele é e com que nome se deve chamá-lo. Este nome divino é misterioso como Deus é mistério. Ele é ao mesmo tempo um nome revelado e como que a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime, da melhor forma, a realidade de Deus como Ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: Ele é o "Deus escondido" (Isaías 45,15), seu nome é inefável, e Ele é o Deus que se faz próximo dos homens. Ao revelar seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida tanto para o passado ("Eu sou o Deus de teu pai", Êxodo 3,6) como para o futuro ("Eu estarei contigo", Êxodo 3,12). Deus que revela seu nome como "Eu sou" revela-se como o Deus que está sempre presente junto ao seu povo para salvá-lo” (CIC 206-207).

Como se pode observar, já aqui está implicitamente respondida a pergunta, pois o Catecismo ensina que Yahveh é o nome próprio de Deus, não só de Deus Pai. E se como católicos professamos a doutrina da Trindade - que existe um só Deus em Três Pessoas Divinas: Pai, Filho e Espírito Santo - é natural que cada uma delas possa ser identificada com o nome de Yahveh. 

Negar isto conduz inequivocamente a duas opções: 

a) ao Arianismo; ou 
b) a uma contradição com o que as Sagradas Escrituras ensinam.

Cai em Arianismo quem pensa que só o Pai é Yahveh, pensando que só Yahveh é Deus, porém nem o Filho nem o Espírito Santo o são. Esta posição foi rejeitada unanimemente desde a Igreja primitiva e igualmente por todos os Padres da Igreja; é isso o que professam hoje seitas como os Testemunhas de Jeová. Veja-se acerca disto: 

- A doutrina da Trindade na Igreja primitiva e os Padres da Igreja. 

Contradiz as Sagradas Escrituras quem sustenta que só o Pai pode ser identificado com Yahveh e ao mesmo tempo afirma professar a doutrina da
Santíssima Trindade. Vejamos o porquê: 
 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A Prisão de Jesus


Mt 26, 47-56: “47 E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. 48 O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: ‘É aquele que eu beijar; prendei-o’. 49 E logo, aproximando-se de Jesus, disse: ‘Salve, Rabi!’ e o beijou. 50 Jesus respondeu-lhe: ‘Amigo, para que estás aqui?’ Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam. 51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, desembainhou a espada e, ferindo o servo do Sumo Sacerdote, decepou-lhe a orelha.  52 Mas Jesus lhe disse: ‘Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. 53 Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? 54 E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?’ 55 E naquela hora, disse Jesus às multidões: ‘Como a um ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu me sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes’. 56 Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram” (conferir também: Mc 14, 43-52; Lc 22, 47-53 e Jo 18, 2-11).

Em Mt 26, 47 diz: “E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo”.

Já é alta noite, a lua brilha, Jesus Cristo está no Getsêmani conversando com os sonolentos Apóstolos. Um pouco distante, as oliveiras refletem uma certa claridade provocada por tochas. Galhos secos estalam ao serem pisados pelos inimigos do Senhor que se aproximam como lobos sanguinários. Ouvem-se gritos. Aparecem pontas de lanças. Aproximam-se os inimigos do Manso Cordeiro. À frente, jovial como um amigo, mas com o demônio no coração e a hipocrisia na língua, avança Judas Iscariotes, perigosa e venenosa serpente.

Quem é Judas Iscariotes? Quem é esse monstro ingrato e frio?

Ele é um dos Doze: “Em todas as listas dos Doze é acrescentada ao seu nome a observação de que ele foi o traidor de Jesus (Mt 10, 4; Mc 3, 19; Lc 6, 16). João acrescenta que ele era um diabo – talvez aqui no sentido de ‘adversário’ ou ‘ informador’ (Jo 6, 71, mas cf. Jo 13, 27) – e um ladrão, atribuindo-lhe a infeliz e hipócrita objeção à unção de Jesus em Betânia (Jo 12, 4-6), ao passo que Mt 26, 8 e Mc 14, 4 atribuem a objeção aos ‘discípulos’ (Mt) e a ‘alguns’(Mc). Os evangelhos sinóticos registram a visita de Judas aos grão-sacerdotes e o acordo sobre a traição e o preço a ser pago (Mt 26, 14-16; Mc 14, 10s; Lc 22, 3-6). Entretanto, a soma de trinta moedas de prata só é mencionada por Mt, derivando provavelmente de Zc 11, 12” (Pe. John L. Mackenzie, S.J, Dicionário Bíblico).

O atrevimento e a ingratidão de Judas Iscariotes foram tão grandes, e seu coração já estava tão mergulhado nas trevas, que o mesmo tomou a frente, tornou-se o guia dos inimigos do Salvador: “...eis que chegou uma multidão. À frente estava o chamado Judas, um dos Doze...” (Lc 22, 47), e: “...Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus” (At 1, 16).

Católico, grande foi a estupidez de Judas Iscariotes em trair o Amado Senhor. Ele viveu três anos na companhia do Salvador: andava, comia, rezava, ouviu inúmeras pregações do Mestre, porém, jogou tudo fora e acabou se condenando: “Judas se condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência de Jesus Cristo” (São João Crisóstomo).

Hoje, infelizmente, milhões de pessoas seguem a ingratidão e a estupidez desse infeliz Apóstolo. Quantos católicos batizados e crismados abandonaram a Cristo Jesus para seguir o mundo, o demônio e a própria carne. Esses receberam graças e mais graças de Nosso Senhor, receberam também uma fiel e piedosa formação, mas a exemplo de Judas Iscariotes jogaram tudo fora, vivendo agora na lama do pecado: “Com efeito, se, depois de fugir às imundícies do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu último estado se torna pior do que o primeiro. Assim, melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, após tê-lo conhecido, desviarem-se do santo mandamento que lhes foi confiado. Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O cão voltou ao seu próprio vômito, e: A porca lavada tornou a revolver-se na lama” (2 Pd 2, 20-22).

Infeliz do católico que abandona a amizade com Jesus para viver nas trevas, esse jamais entrará na Pátria Eterna: “O laço com que o demônio arrasta quase todos os cristãos que se condenam é, sem dúvida, esse engano com que os seduz, dizendo-lhes: ‘Pecai livremente, porque, apesar de todos os pecados, haveis de salvar-vos” (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XVII, Ponto I). 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Homilética: 24º Domingo Comum - Ano B: "O Escândalo da Cruz"


A liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum diz-nos que o caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos projetos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do que o mundo pensa, esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena do homem.

A primeira leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Contudo, o profeta está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projeto, triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Jahwéh” a figura de Jesus.

A segunda leitura lembra aos crentes que o seguimento de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos.

A primeira parte do Evangelho tem como objetivo fundamental levar à descoberta de Jesus, como o Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso que é mais catequético do que geográfico, os leitores do Evangelho são convidados a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar as suas palavras e o seu anúncio, a fazerem-se discípulos que aderem à sua proposta de salvação. Este percurso de descoberta do Messias termina com a confissão messiânica de Pedro, em Cesaréia de Filipe, uma cidade situada no Norte da Galiléia, perto das nascentes do rio Jordão.

Na segunda parte do Evangelho, o objetivo do Evangelista São Marcos é explicar que Jesus, além de ser o Messias, é também o “Filho de Deus”. No entanto, Jesus não veio ao mundo para cumprir um futuro de triunfos e glórias, mas para oferecer a sua vida como um dom de amor aos homens. Ponto alto desta catequese será a afirmação do centurião romano junto da cruz quando proclama: “Realmente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39). E é neste sentido que o Evangelho traz uma pergunta de Jesus dirigida aos seus discípulos que com ele caminhavam.

Jesus começa por questioná-los: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27). O povo considerava Jesus como o “enviado de Deus”, mas ainda não conseguia reconhecê-lo como o Messias, aquele Messias prenunciado e esperado por todos. Após receber deles respostas bem variadas: João Batista, Elias, um profeta… indica que as pessoas reconhecem apenas que Jesus é um homem enviado ao mundo com uma missão, como os profetas do Antigo Testamento, mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é apenas um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes dele (v. 28). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade de Jesus, nem a profundidade do seu mistério.

Em seguida, Jesus volta a pergunta aos seus discípulos: “E que dizem vós que eu sou?” (Mc 8,29).  A resposta adequada só pode dar aquele que aceita seguir o caminho de Cristo e viver em comunhão com Ele, como é o caso de Pedro, que agora responde: “Tu és o Messias” (v. 29).  A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião de Pedro e dos Apóstolos. Dizer que Jesus é o “Messias”, o Cristo, significa dizer que ele é o enviado por Deus para oferecer a salvação definitiva ao Povo de Israel. A resposta de Pedro estava correta. No entanto, podia prestar-se a graves equívocos, pois o título de Messias estava relacionado com esperanças no campo político. Por isso, os discípulos recebem ordens para não falarem disso a ninguém. Era preciso clarificar, depurar e completar a catequese sobre o Messias e a sua missão, para evitar perigosos equívocos.

Podemos ainda sublinhar duas questões, a primeira (vv. 31-33) é a explicação dada pelo próprio Jesus de que o seu messianismo passa pela cruz; a segunda (vv. 34-35) é uma instrução sobre o significado e as exigências de ser seu discípulo. Jesus começa por anunciar que o seu caminho vai passar pelo sofrimento e pela morte (vv. 31-33) e sente a necessidade de explicar aos seus discípulos que terá ele que sofrer, ser condenado à morte e depois ressuscitar. Jesus revela a eles a sua identidade: Um Messias sofredor, um Messias servo; obediente à vontade do Pai até perder a sua vida, como já prescrevia o profeta Isaías na primeira leitura (cf. Is 50,5-9).

Pedro não está de acordo com este final e opõe-se a que Jesus caminhe nesta direção. A oposição de Pedro significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora. Para Pedro a vitória de Cristo não pode estar na cruz. Diante desta incompreensão de Pedro, Jesus certifica que aquele que quiser ser seu discípulo deve aceitar ser servo de todos, tomar a cruz e acompanhá-lo neste itinerário.

Diante da sua oposição, Jesus dirige-se a Pedro com certa dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam o pensamento e passem a olhar o seu messianismo na perspectiva do Plano de Deus a ser realizado por Jesus. Ao mostrar a sua oposição ao sofrimento pelo qual Cristo teria que passar, Pedro faz recordar as tentações no deserto, que Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mc 1,13).

As palavras de Pedro pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos de Deus. Jesus não está disposto a aceitar uma proposta que o impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus e insiste: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga (v. 34). Com isto, somos chamados a carregar a nossa cruz e a perder a própria vida por ele, pelo Evangelho, para no final, chegarmos à glória da ressurreição, para estarmos na vida definitiva com Deus. Quem quiser ser seu discípulo deve “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no caminho do amor.

“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29). Seríamos, nós, capazes de responder com exatidão essa pergunta? Concedo que respondê-la com exatidão não é tão fácil, pois trata-se de ir aprofundando no conhecimento de Cristo a tal ponto de podermos dizer com o Apóstolo: “julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com ele” (Fl 3,8-9).

Num tempo de relativismo como nosso, é preciso que tenhamos critérios verdadeiros na cabeça,  que estejamos bem ancorados na verdade. Guardemo-nos de novidades nocivas: “pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, segundo os seus próprios desejos, como que sentindo comichão nos ouvidos se rodearão de mestres. Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-se para as fábulas” (2 Tim 4,3-4). 

É preciso que sejamos prudentes, para que não sejamos enganados pelos falsos mestres que tanto prometem; geralmente prometem coisas que agradam os nossos sentidos, mas que não preenchem os nossos corações desejosos de Deus e das coisas eternas.

A pergunta feita por Jesus: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, nos esforços que fazemos para segui-lo. Também podemos perguntar: Quem é Cristo para mim?  E imbuídos pela fé, saibamos repetir como Pedro: “Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo”.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

E o aborto em caso de estupro?


Depois de um longo dia de trabalho como médica, eu só queria ir para cama e ter uma boa noite de sono. Claro, antes que eu pudesse fechar a noite, eu tinha que dar um pulo no Facebook e ver os updates de todos.

Eu vi um post com notícias de uma história de Elwood, Indiana, sobre uma garota de 13 anos, grávida a partir de um estupro e que daria a luz em algumas semanas. Eu li a história e me perguntei como isso aconteceu a apenas 70 milhas de minha casa mas não foi noticiada nos jornais locais em Fort Wayne ou no noticiário nacional. Eu decidi fechar o computador e tentar obter algum sono muito apreciado.

Às 10:30 da mesma noite, eu recebi uma ligação de Rebecca Kiessling, fundadora do Save the 1 (eu também sou um membro), perguntando se eu tinha visto a história. Eu não estava com humor para discutir, mas continuei a conversa. Nós desligamos o telefone e eu deitei minha cabeça de volta. Eu permaneci ali deitada, encarando a escuridão, e por alguma razão me levantei, liguei a luz, e comecei a pesquisar sobre quem era essa garota. Já que se tratava de uma menor, seu nome não estava postado no artigo. Em 20 minutos eu obtive seu nome e estava em seu perfil do Facebook, mirando esta linda garota e uma foto do ultrassom. Pouco imaginava, era Deus trabalhando para que eu me mobilizasse a ajudar essa família!

No dia seguinte, enquanto estava como voluntária no Allen County Right to Life, em Fort Wayne, eu liguei para o número de telefone do pai da garota e deixei uma mensagem. Nesse meio-tempo, eu comecei a angariar informações sobre os programas disponíveis para ela em sua área.


Quatro dias depois, após outro longo dia cumprindo minhas obrigações médicas em uma ambulância, eu estava na cama quando meu telefone tocou às 23h. Eu atendi, e era Kristi, a mãe da jovem. Nós devemos ter falado por cerca de uma hora. Ela me explicou que Ashley foi estuprada pelo amigo de seu irmão, que tinha 17 anos à época e como, mesmo depois de prestar queixa, ele não havia passado um dia sequer na cadeia pelas acusações. Ela também explicou que a cidade de Elwood não estava dando nenhuma ajuda, e que Ashley havia deixado a escola e nunca mais voltado por causa do tratamento que estava tendo por ter denunciado seu violador. Na verdade, até hoje, a escola de Ashley ainda não entregou os itens de seu armário! É um perfeito exemplo de pressionar a vítima, enquanto o estuprador segue em frente com pouco ou nenhum julgamento.

A Planned Parenthood (principal organização abortista americana) decidiu julgar ainda mais a vítima, postando em seu facebook um link para as notícias e esse ridículo comentário: "Como este artigo nota, histórias de partir o coração como essa são muito comuns em Indiana, que figura em segundo lugar no ranking de ataques sexuais a adolescentes. Educação sexual compreensiva pode fazer a diferença na prevenção de ataques sexuais." Eu me lembro até hoje de não entender por que eles disseram alguma coisa. Se eles quisessem ajudar essa garota com "sua escolha", então eles precisam tomar parte na solução, não em parte do problema.

Kristi, Ashle e eu decidimos nos encontrar alguns dias depois para falar sobre como a Save the 1 poderia ajudar. Em 18 de junho, eu encontrei a jovem garota de Elwood e senti uma inexplicável ligação. Ashley é uma jovem e incrível moça que entende que essa criança não merecia morrer simplesmente porque seu pai é um estuprador. Ela me lembra da história de minha própria mãe biológica. Minha mãe biológica, Sandy, tinha 17 anos quando ela foi violentamente estuprada e ficou grávida de mim como resultado. Eu gostaria que houvesse uma organização como a Save the 1 40 anos atrás, quando Sandy estava grávida de mim, para permanecer a seu lado durante os tempos mais difíceis! Minha mãe biológica não teve suporte algum de sua comunidade. Ela estava escondida do mundo lá fora, deu a luz a mim, e nem ao menos me olhou. Ela me doou para adoção, o que veio a se tornar a maior dádiva que já recebi. Minha mãe e meu pai me criaram para permanecer firme no que acredito, a amar incondicionalmente e a sempre tratar as pessoas como eu gostaria de ser tratada por elas. Esses valores me tornaram o que hoje sou.

Depois de conhecer Ashley, eu sabia que essa garota precisava da minha ajuda mais do que eu podia imaginar. Então eu comecei a postar sobre ela e sua jornada em minha página do Facebook. A resposta foi avassaladora. O Allen County Right to Life começou a postar updates também, e as pessoas queria doar para Ashley. Nós decidimos aceitar doações no nosso escritório local e permitir que as pessoas deixassem objetos par ela. Dentro de alguns dias, nós mal podíamos caminhar até o escritório da diretora-executiva do Allen County Right to Life, Cathie Humbarger. Até a presente data, nós recebemos caminhões de doações para Ashley e seu bebê, Aiden, tudo doado por anjos entre nós.

Ashley está vendo como a comunidade pró vida abraçou sua causa e a de seu precioso filho, Aiden. Me contaram que as pessoas mal podem esperar para ver meu próximo post sobe Ashleu e Aiden e como eles se sentem agora que são parte de sua jornada! Um colaborador pró vida disse que Ashley é como uma vizinha e que Deus tem grandes planos para a dupla. Eu sou abençoada em poder caminhar com Ashley nessa jornada e ver em primeira mão milagres acontecendo na minha frente.

Eu gostaria que minha mãe biológica pudesse ver como Deus está me usando para ajudar uma garota no mesmo lugar em que ela esteve 40 anos atrás. Sandy morreu no dia 6 de março desse ano, e que benção para mim foi ter estado lá por ela. Ela estava comigo quando eu respirei pela primeira vez, e eu estava com ela, segurando sua mão, quando ela respirou pela última vez. Eu tenho certeza que ela está olhando para baixo hoje com um sorriso no rosto.

Save the 1 deu início a um fundo colegial para Ashley e Aiden. Ashley quer se tornar uma veterinária, e estamos determinados a fazer todo o possível para ajudá-la a realizar seu objetivo.


Monica Kelsey
_________________________________
Disponível em: Escolástica da Depressão (facebook)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Papa Francisco conversou com jornalistas sobre diversos temas. Confira na íntegra a entrevista


A Igreja não pode julgar os gays por sua opção sexual e nem marginalizá-los. O alerta é do papa Francisco que, quebrando um verdadeiro tabu, deixa claro que estende sua mão a esse segmento da sociedade. “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu pra julgá-lo”, declarou. “O catecismo da Igreja explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser marginalizados por causa disso, mas devem ser integrados na sociedade”, insistiu. 

As declarações foram dadas em uma entrevista concedida pelo papa aos jornalistas que o acompanharam no avião entre o Rio e Roma, entre eles a reportagem do Estado. Na conversa, a garantia do argentino de que o Vaticano tem como papa uma “pessoa normal”, um “pecador” e que vive junto com os demais religiosos porque morar no Palácio Apostólico o geraria problemas psicológicos. Trinta minutos depois de o voo decolar do Rio, o papa deixou sua primeira classe e cumpriu uma promessa que havia feito no voo de ida de Roma ao Brasil: responderia perguntas dos jornalistas. Mas poucos imaginaram que a conversa duraria quase uma hora e meia.

Veja também:

Relembre, dia a dia, como foi a Jornada no Brasil

Para o papa, o problema não é a existência do “lobby gay” dentro da Igreja, mas de qualquer lobby. “O problema não é ter essa tendência. Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessas tendências de pessoas gananciosas, lobby político, mações e tantos outros lobbies. Esse é o principal problema”, disse.

Pela primeira vez, Francisco ainda deixou claro que, para ele, abusos sexuais contra menores por parte de religiosos não são apenas pecados, mas crimes que devem ser julgados.

Mas se a posição sobre os gays e sobre o abuso sexual pode representar uma mudança, Francisco deixou claro que não haverá uma nova opinião do Vaticano sobre a presença das mulheres na Igreja, sobre o aborto ou sobre o casamento homossexual.

O papa aproveitou a conversa para anunciar que vai exigir transparência e honestidade no Vaticano e garantiu que sua reforma vai continuar. “Esses escândalos fazem muito mal”, disse.

Antes de responder às perguntas, ele elogiou o “grande coração dos brasileiros”, disse que a viagem “fez bem para sua espiritualidade” e ainda disse que a organização do evento foi excelente. “Parecia um cronômetro”. Eis os principais trechos da entrevista:


Nestes quatro meses de pontificado, o senhor criou várias comissões. Que tipo de reforma do Vaticano o sr. tem em mente? O sr. quer suprimir o Banco do Vaticano?

Papa Francisco – Os passos que eu fui dando nestes quatro meses e meio vão em duas vertentes. O conteúdo do que quero fazer vem da congregação dos cardeais. Me lembro que os cardeais pediam muitas coisas para o novo papa, antes do conclave. Lembro-me que tinha muita coisa. Por exemplo, a comissão de oito cardeais, a importância de ter uma consulta de alguém de fora, e não uma consulta apenas interna. Isso vai na linha do amadurecimento da sinonalidade e do primado. Os vários episcopados do mundo vão se expressando e muitas propostas foram feitas, como a reforma da secretaria dos sínodos, para que a comissão sinodal tenha característica consultativa, como o consistório cardinalício com temáticas específicas, como a canonização. A vertente dos conteúdos vem dai.

A segunda é a oportunidade. A formação da primeira comissão não me custou mais de um mês. Já A parte econômica, eu pensava em tratar no ano que vem, porque não é a mais importante. Mas a agenda mudou devido a circunstâncias que vocês conhecem que é domínio público. O primeiro é o problema do Ior (Banco do Vaticano), como encaminhá-lo, como reformá-lo, como sanear o que há de ser sanado. E essa foi então a primeira comissão. Depois tivemos a comissão dos 15 cardeais que se ocupam dos assuntos econômicos da Santa Sé. E por isso decidimos fazer uma comissão para toda a economia da Santa Sé, uma única comissão de referência. Se notou que o problema econômico estava fora da agenda. Mas estas coisas acontecem. Quando estamos no governo, vamos por um lado, mas se chutam e fazem um golaço por outro lado, temos que atacar. A vida é assim. Eu não sei como o Ior vai ficar. Alguns acham melhor que seja um banco, outros acham que deveria ser um fundo, uma instituição de ajuda. Eu não sei. Eu confio no trabalho das pessoas que estão trabalhando sobre isso. O presidente do Ior permanece, o tesoureiro também, enquanto o diretor e o vice-diretor pediram demissão. Não sei como vai terminar essa história. E isso é bom. Não somos máquinas. Temos que achar o melhor. Mas o fato é que, seja o que for, tem que ser feita com transparência e honestidade.

Uma fotografia do sr. deu a volta ao mundo, quando o sr. desceu as escadas do helicóptero em Roma para embarcar para o Brasil carregando sua mala preta. Reportagens levantaram hipóteses também sobre o conteúdo da mala. Porque o sr. saiu carregando a maleta preta e não um de seus colaboradores? E o sr. poderia dizer o que tinha dentro?

Papa Francisco - Não tinha a chave da bomba atômica. Eu sempre fiz isso, Quando viajo, levo minhas coisas. E dentro o que tem? Um barbeador, um breviário (livro de liturgia), uma agenda, tinha um livro para ler, sobre Santa Terezinha. Sou devoto de Santa Terezinha. Eu sempre levei eu mesmo minha maleta. É normal. Nós temos que ser normais. É um pouco estranho isso que você me diz que a foto deu a volta ao mundo. Mas temos de nos habituar a sermos normais, à normalidade da vida.

Por que o senhor pede tanto para que rezem pelo senhor? Não é habitual ouvir de um papa que peça que rezem por ele. 

Papa Francisco - Sempre pedi isso. Quanto era padre pedia, mas nem tanto e nem tão frequentemente. Comecei a pedir mais frequentemente quando passei a ser bispo. Porque eu sinto que se o senhor não ajuda nesse trabalho de ajudar aos outros, não se pode realizá-lo. Preciso da ajuda do senhor. Eu de verdade me sinto com tantos limites, tantos problemas, e também pecador. Peço a Nossa Senhora que reze por mim. É um hábito, mas que vem da necessidade. Eu sinto que devo pedir. Não sei…

Na busca de fazer as mudanças no Vaticano, o sr. disse que existem muitos santos que trabalham e outros um pouco menos santos. O sr. enfrenta resistências a essa sua vontade de mudar as coisas no Vaticano? O sr. vive num ambiente muito austero, de Santa Marta. Os seus colaboradores também vivem essa austeridade? Isso é algo apenas do sr. ou da comunidade?

Papa Francisco - As mudanças vem de duas vertentes: do que pediram os cardeais e também o que vem da minha personalidade. Você falou que eu fico na Santa Marta. Eu não poderia viver sozinho do Palácio, que não é luxuoso. O apartamento pontifício é grande, mas não é luxuoso. Mas eu não posso viver sozinho. Preciso de gente, falar com gente, trabalhar com as pessoas. Porque é que quando os meninos da escola jesuíta me perguntaram se eu estava aqui pela austeridade e pobreza, eu respondi: não, não. Psicologicamente, não posso. Cada um deve levar adiante sua vida, seguir seu modo de vida. Os cardeais que trabalham na Cúria não vivem como ricos. Tem apartamentos pequenos. São austeros. Os que eu conheço tem apartamentos pequenos. Cada um tem que viver como o senhor disse que tem que viver. A austeridade é necessária para todos. Trabalhamos à serviço da Igreja. É verdade que há sacerdotes e padres santos, gente que prega, que trabalha tanto, que trabalha e vai aos pobres, se preocupam garantir que os pobres comam. Tem santos na Cúria. Também tem alguns que não são muito santos. E são estes que fazem mais barulho. Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que nasce. Isso me dói. Porque são alguns que causam escândalos. Temos o monsenhor que foi para a cadeia (por lavagem de dinheiro). São escândalos que fazem mal. Uma coisa que nunca disse : a Cúria deveria ter o nível que tinham os velhos padres, pessoas que trabalham. Os velhos membros da Cúria. Precisamos deles. Precisamos do perfil do velho da Cúria. Sobre a resistência, se tem, eu ainda não vi. É verdade que aconteceram muitas coisas. Mas eu preciso dizer: eu encontrei ajuda, encontrei pessoas leais. Por exemplo, eu gosto quando alguém me diz: “eu não estou de acordo”. Esse é um verdadeiro colaborador. Mas quando vejo alguém que diz: “ah, que belo, que belo”, e depois dizem o contrario por trás, isso não ajuda.

O mundo mudou, os jovens mudaram. Temos no Brasil muitos jovens, mas o senhor não falou de aborto, sobre a posição do Vaticano sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil foram aprovadas leis que ampliam os direitos para estes casamentos em relação ao aborto. Por que o senhor não falou sobre isso?

Papa Francisco - A Igreja já se expressou perfeitamente sobre isso. Eu não queria voltar sobre isso. Não era necessário, como também não falei sobre outros assuntos. Eu também não falei sobre o roubo, sobre a mentira. Para isso, a Igreja tem um doutrina clara. Queria falar de coisas positivas, que abrem caminho aos jovens. Além disso, os jovens sabem perfeitamente qual a posição da igreja.

E qual é a do Papa?

Papa Francisco - É a da Igreja, eu sou filho da Igreja.

Qual o sentido mais profundo de se apresentar como o bispo de Roma?

Papa Francisco - Não se deve andar mais adiante do que o que se fala. O papa é bispo de Roma e por isso é papa, que é o sucessor de Pedro. Pensar que isso quer dizer que é o primeiro, não é o caso. Não é esse o sentido. O primeiro sentido do papa é ser o bispo de Roma.

O sr. teve sua primeira experiência de massas no Rio. Como o sr. se sente como papa? É muito trabalho?

Papa Francisco - Ser bispo é lindo. O problema é quando um pessoa busca ter esse trabalho. Assim não é tão belo. Mas quando um senhor chama para ser bispo, isso é belo. Tem sempre o perigo e pecado de pensar com superioridade, como ser um príncipe. Mas o trabalho é belo. Ajudar o irmão a ir adiante. Tem o filtro da estrada. O bispo tem que indicar o caminho. Eu gosto de ser bispo. Em Buenos Aires, eu era tão feliz. Como padre eu era feliz. Como bispo, eu era feliz e isso me faz bem.

E como papa?

Papa Francisco - Se você faz o que o Senhor quer, é feliz. Isso é meu sentimento.

Vimos o sr. cheio de energia e, agora, enquanto o avião se mexe muito, vemos agora com muita tranquilidade de pé. Fala-se muito das próximas viagens. O sr. já tem um calendário?

Papa Francisco - Definido, definido não há nada. Mas posso dizer algumas coisas que estamos pensando. No dia 22 de setembro, Cagliari. Depois, no 4 de outubro, para Assis. Tenho em mente, dentro da Itália, ir ver minha família. Pegar um avião pela manhã e voltar com outro pela noite. Meus familiares, pobres, me ligam. Temos uma boa relação com eles. Fora da Itália o patriarca Bartolomeu I quer fazer um encontro para comemorar os 50 anos do encontro Atenágoras e Paulo VI em Jerusalém. O governo israelense nos fez um convite especial. O governo da Autoridade Palestina acredito que fez o mesmo. Isso está sendo pensado. Na América Latina, acredito que há possibilidades de voltar, porque o papa latino-americano, que acaba de fazer sua primeira viagem à América Latina….Adeus! Devemos esperar um pouco. Acredito que se possa ir à Ásia, mas está tudo no ar. Tive convites para ir ao Sri Lanka e Filipinas. Para a Ásia precisamos ir. Bento XVI não teve tempo.

E para a Argentina?

Papa Francisco - Isso pode esperar um pouco. As outras viagens tem prioridade.

No encontro com os argentinos, o sr. disse que se sentia enjaulado. Por quê?

Papa Francisco - Vocês sabem que eu tenho vontade de passear pelas ruas de Roma? Adoro andar pelas ruas. E por isso me sinto um pouco enjaulado. Mas tenho que dizer que a Gendarmeria vaticana é boa. Agora me deixam fazer algumas coisas mais. Mas seu dever é garantir minha segurança. Enjaulado nesse sentido, de que gostaria de estar nas ruas. Mas entendo que não é possível. Em Buenos Aires, eu era um sacerdote das ruas.

A igreja no Brasil está perdendo fiéis. A Renovação Carismática é uma possibilidade para evitar que eles sigam para as igrejas pentecostais?

Papa Francisco - É verdade, as estatísticas mostram. Falamos sobre isso ontem com os bispos brasileiros. E isso é um problema que incomoda os bispos brasileiros. Eu vou dizer uma coisa: nos anos 1970, início dos 1980, eu não podia nem vê-los. Uma vez, falando sobre eles, disse a seguinte frase: eles confundem uma celebração musical com uma escola de samba. Eu me arrependi. Vi que os movimentos bem assessorados trilharam um bom caminho. Agora, vejo que esse movimento faz muito bem à igreja em geral. Em Buenos Aires, eu fazia uma missa com eles uma vez por ano, na catedral. Vi o bem que eles faziam. Neste momento da igreja, creio que os movimentos são necessários. Esses movimentos são um graça para a igreja. A Renovação Carismática não serve apenas para evitar que alguns sigam os pentecostais. Eles são importantes para a própria igreja, a igreja que se renova.

O senhor disse que está cansado. Há algum tratamento especial neste voo?

Papa Francisco - Sim, estou cansado. Não há nenhum tratamento especial neste voo. Na frente, tem uma bela poltrona. Escrevi para dizer que não queria tratamento especial.

A igreja sem a mulher perde a fecundidade? Quais as medidas concretas? 

Papa Francisco - Uma igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papal da mulher na igreja não é só maternidade, a mãe da família. É muito mais forte. A mulher ajuda a igreja a crescer. E pensar que a Nossa Senhora é mais importante do que os apóstolos! A igreja é feminina, esposa, mãe. O papel da mulher na igreja não deve ser só o de mãe e com um trabalho limitado. Não, tem outra coisa. O papa Paulo XI escreveu uma coisa belíssima sobre as mulheres. Creio que se deva ir adiante com esse papel. Não se pode entender uma igreja sem uma mulher ativa. Um exemplo histórico: para mim, as mulheres paraguaias são as mais gloriosas da América Latina. Sobraram, depois da guerra (1864-1870), oito mulheres para cada homem. E essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil. A escolha de ter filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé, a língua. Na igreja, se deve pensar nas mulheres sob essa perspectiva. Escolhas de risco, mas como mulher. Acredito que, até agora, não fizemos uma profunda teologia sobre a mulher. Somente um pouco aqui, um pouco lá. Tem a que faz a leitura, a presidente da Cáritas, mas há mais o que fazer. É necessário fazer uma profunda teologia da mulher. Isso é o que eu penso.

O que sr. pensa sobre a ordenação das mulheres?

Papa Francisco - Sobre a ordenação, a Igreja já falou e disse que não. João Paulo II disse com uma formulação definitiva. Essa porta está fechada. Nossa senhora, Maria, é mais importante que os apóstolos. A mulher na igreja é mais importante que os bispos e os padres. Acredito que falte uma especificação teológica.

Queremos saber qual a sua relação de trabalho com Bento XVI, não a amistosa, a de colaboração. Não houve antes uma circunstância assim. Os contatos são frequentes?

Papa Francisco - A última vez que houve dois ou três papa, eles não se falavam. Estavam brigando entre si, para ver quem era o verdadeiro. Eu fiquei muito feliz quando se tornou papa. Também, quando renunciou, foi, pra mim, um exemplo muito grande. É um homem de Deus, de reza. Hoje, ele mora no Vaticano. Alguns me perguntam: como dois papas podem viver no Vaticano? Eu achei uma frase para explicar isso. É como ter um avô em casa. Um avô sábio. Na família, um avô é amado, admirado. Ele é um homem com prudência. Eu o convidei para vir comigo em algumas ocasiões. Ele prefere ficar reservado. Se eu tenho alguma dificuldade, não entendo alguma coisa, posso ir até ele. Sobre o problema grave do Vatileaks [vazamento de documentos secretos], ele me disse tudo com simplicidade. Tem uma coisa que não sei se vocês sabem: em 8 de fevereiro, no discurso, ele falou: “Entre vocês está o próximo papa. Eu prometo obediência”. Isso é grande.

Nesta viagem, o sr. falou de misericórdia. Sobre o acesso aos sacramentos dos divorciados, existe a possibilidade de mudar alguma coisa na disciplina da igreja?

Papa Francisco - Essa é uma pergunta que sempre se faz. A misericórdia é maior do que o exemplo que você deu. Essa mudança de época e também tantos problemas na igreja, como alguns testemunhos de alguns padres, problemas de corrupção, do clericalismo… A igreja é mãe. Ela cura os feridos. Ela não se cansa de perdoar. Os divorciados podem fazer a comunhão. Não podem quando estão na segunda união. Esse problema deve ser estudado pela pastoral matrimonial. Há 15 dias, esteve comigo o secretário do sínodo dos bispos, para discutir o tema do próximo sínodo. E posso dizer que estamos a caminho de uma pastoral matrimonial mais profunda. O cardeal Guarantino disse ao meu antecessor que a metade dos matrimônios é nula. Porque as pessoas se casam sem maturidade ou porque socialmente devem se casar. Isso também entra na Pastoral do Matrimônio. A questão da anulação do casamento deve ser revisada. Também é preciso analisar os problemas judiciais de anular um matrimônio. Porque os…eclesiástico não bastam para isso. É complexo o problema da anulação do matrimônio.

Como Papa, o senhor ainda pensa como um jesuíta? 

Papa Francisco - É uma pergunta teológica. Os jesuítas fazem votos de obedecer ao Papa. Mas se o Papa se torna um jesuíta, talvez devem fazer votos gerais dos jesuítas. Eu me sinto jesuíta na minha espiritualidade, a que tenho no coração. Não mudei de espiritualidade. Sou Francisco franciscano. Me sinto jesuíta e penso como jesuíta.

Em quatro meses de Pontificado, pode nos fazer um pequeno balanço e dizer o que foi o pior e o melhor de ser Papa? O que mais o surpreendeu neste período? 

Papa Francisco - Não sei como responder isso, de verdade. Coisas ruins, ruins, não aconteceram. Coisas belas, sim. Por exemplo, o encontro com os bispos italianos, que foi tão bonito. Como bispo da capital da Itália, me senti em casa com eles. Uma coisa dolorosa foi a visita a Lampedusa, me fez chorar. Mas me fez bem. Quando chegam estes barcos (com imigrantes), e que os deixam a algumas milhas de distância da costa e eles têm que chegar (à costa) sozinhos, isso me dói porque penso que estas pessoas são vítimas do sistema sócio-econômico mundial. Mas a coisa pior é um dor ciática, é verdade, tive isso no primeiro mês. É verdade! Para uma entrevista, tive que me acomodar numa poltrona e isso me fez mal, doía muito, não desejo isso a ninguém. O encontro com os seminaristas religiosos foi belíssimo. Também o encontro com os alunos do colégio jesuíta foi belíssimo. As pessoas…conheci tantas pessoas boas no Vaticano. Isso é verdade, eu faço justiça. Tantas pessoas boas, mas boas, boas, boas.

O senhor se assustou quando viu o informe sobre o Vatileaks? 

Papa Francisco - Não. Vou contar uma anedota sobre o informe do Vatileaks. Quando fui ver o Papa Bento, ele disse: aqui está uma caixa com tudo o que disseram as testemunhas. Havia ainda um envelope com o resumo. E ele sabia tudo de memória. Mas não, não me assustei. São problemas grandes, mas não me assustei.

O sr. tem a esperança de que esta viagem ao Brasil contribua para trazer de volta os fiéis? 

Papa Francisco - Uma viagem Papa sempre faz bem. E creio que a viagem ao Brasil fará bem, não apenas a presença do Papa. Esta Jornada da Juventude, eles (os brasileiros) se mobilizaram e vão ajudar muito a Igreja. Tantos fiéis que foram se sentem felizes (por terem ido). Acho que vai ser positivo não só pela viagem, mas pela Jornada, que foi um evento maravilhoso.

Os argentinos se perguntam: o sr. não sente falta de estar em Buenos Aires, pegar um ônibus? 

Papa Francisco - Buenos Aires, sim, sinto falta. Mas é uma saudade serena.

Hoje os ortodoxos festejam mil anos do cristianismo. Seu comentário. 

Papa Francisco - As igrejas ortodoxas conservaram a liturgia tão bem, no sentido da adoração. Eles louvam Deus, adoram Deus, cantam Deus. O tempo não conta. O centro é Deus e isso é uma riqueza. Luz é oriente. E o ocidente, luxo. O consumismo nos faz tão mal. Quando se lê Dostoievski, que acho que todos nós devemos ler, precisamos deste ar fresco do oriente, desta luz do oriente.

O que o senhor pretende fazer em relação ao monsenhor Ricca (acusado de ter amantes) e como o sr. pretende enfrentar toda esta questão do lobby gay? 

Papa Francisco - Sobre monsenhor Ricca, fiz o que o direito canônico manda fazer, que é a investigação prévia. E nesta investigação, não tem nada do que o acusam. Não achamos nada. É a minha resposta. Mas eu gostaria de dizer outra coisa sobre isso. Vejo que muitas vezes na Igreja se busca os pecados de juventude, por exemplo. Abuso de menores é diferente. Mas, se uma pessoa, seja laica ou padre ou freira, pecou e esconde, o Senhor perdoa. Quando o senhor perdoa, o senhor esquece. E isso é importante para a nossa vida. Quando vamos confessar e nós dizemos que pecamos, o senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer. Isso é um perigo. O que é importante é uma teologia do pecado. Tantas vezes penso em São Pedro, que cometeu tantos pecados e venerava Cristo. E este pecador foi transformado em Papa. Neste caso, nós tivemos uma rápida investigação e não encontramos nada.


Vocês vêm muita coisa escrita sobre o gay lobby. Eu ainda não vi ninguém no Vaticano com uma carteira de identidade do Vaticano dizendo que é gay. Dizem que há alguns. Acho que quando alguém se vê com uma pessoa assim deve distinguir entre o fato de que uma pessoa é gay e fazer um lobby gay, porque todos os lobbys não são bons. Isso é o que é ruim. Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, pra julgá-la? O catecismo da Igreja católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas devem ser integrados na sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser como irmãos. O problema é fazer lobby, o lobby dos avaros, o lobby dos políticos, tantos lobbys. Esse é o pior problema.

____________________________
Fonte: CNBB

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Isto é o que diz o Papa Francisco sobre os homossexuais em novo livro


Chegou ontem às livrarias do mundo inteiro o livro-entrevista do Papa Francisco com o título “O nome de Deus é Misericórdia”. Este é o resultado de uma série de diálogos do Santo Padre com o vaticanista italiano Andrea Tornielli.

Entre os diferentes temas mencionados pelo Pontífice neste libro, ressalta a importância do Ano Santo da Misericórdia, iniciado no dia 8 de dezembro de 2015.

Diversos meios de comunicação falaram deste texto e se centraram na pergunta que Tornielli fez a respeito dos homossexuais. A seguir a pergunta do vaticanista e a resposta completa do Papa:

Tornielli: Posso lhe perguntar sobre sua experiência como confessor de homossexuais? Na coletiva de imprensa no voo de retorno do Rio de Janeiro à Roma, você disse a famosa frase: ‘Quem sou eu para julgar?’.

Papa Francisco: Naquela ocasião disse isto: Se uma pessoa for gay e busca o Senhor e está disposto a isso, quem sou eu para julgá-la? Estava parafraseando com o Catecismo da Igreja Católica, o qual afirma que estas pessoas devem ser tratadas com delicadeza e não devem ser marginalizadas. Alegra-me que falemos sobre as pessoas homossexuais, porque antes de mais nada existe a pessoa individual em sua totalidade e dignidade. E as pessoas não devem ser definidas somente pelas suas tendências sexuais: não esqueçamos que Deus ama todas suas criaturas e que estamos destinados a receber seu amor infinito. Prefiro que os homossexuais busquem a confissão, que estejam perto do Senhor e que rezemos todos juntos. Podemos pedir-lhes que rezem, mostrar-lhes boa vontade, mostrar-lhes o caminho e acompanhá-los a partir da sua condição. 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Mandela, seus erros e as nossas pretensões


Oi Povo Católicoooooooo!!!!

Desde que Nelson Mandela morreu, vi trilhares de posts no Facebook, e em vários outros lugares, detonando a memória do cara e xingando ele de tudo o que é possível.  Alguns foram mais longe e detonaram nosso Papa Francisco, por ter lamentado publicamente a morte do líder sul-africano.  Falei tudo isso, mas este post não é sobre o Nelson Mandela.  Resolvi escrever um post sobre nós mesmos, nossa pretensão e nossa capacidade de julgamento.

Não, povo católico.  Não vou defender Nelson Mandela.  Na verdade, sei pouco de sua história pessoal.  O que vi em todo este episódio foram acusações de que ele teria matado centenas de pessoas em vários atentados dos braços armados revolucionários na África do Sul.  E isso é mesmo verdade… mas só começou depois que as forças armadas sul-africanas mataram quase 70 negros durante atos de resistência pacífica ao apartheid.  Isso talvez explique alguma coisa, mas concordo que não justifica.  Matar pessoas nunca é justificável.



Mas podemos apontar o dedo e avacalhar uma pessoa que estava lutando contra o fim de um dos mais duros regimes racistas da história?  Será que dava pra fazer de outro jeito?  Aliás… você consegue imaginar quão duro era o apartheid?  Confesso que eu não.  Eu, como muitos dos que xingavam muito no twitter e no Facebook, não tenho sofrimentos suficientes na vida pra entender como era a vida em um lugar em que pessoas que viviam com dignidade eram arrancadas de suas casas e jogadas em lugares sem um mínimo de dignidade para viver.  E não foram poucas.  Foram mais de 3,5 milhões.  E só por causa da cor.

Mas mesmo não tendo sentido nada parecido na pele, consigo imaginar o quanto estas pessoas deviam estar revoltadas.  O quanto deve doer na dignidade de um ser humano, ser proibido de viver em 90% de seu próprio país, por ser uma “raça” indesejada.  Tão indesejada, que qualquer tipo de relação sexual entre negros e brancos era considerado crime! Formar família, nem pensar!

Nós, católicos, vivemos reclamando de como somos execrados publicamente.  Mas eu garanto que, por pior que sejam as perseguições que sofremos hoje em dia, na frente do apartheid, vivemos no paraíso.

Diante disso, só posso valorizar quem lutou contra isso e desejar que a luta pela igualdade e pelo fim de qualquer discriminação seja levado adiante.  Por isso, entendo muito bem quando Papa Francisco diz:

“Louvo o firme compromisso demonstrado por Nelson Mandela ao promover a dignidade humana de todos os cidadãos da nação e forjar uma nova África do Sul, construída sobre os alicerces firmes da não-violência, da reconciliação e da verdade.”
Mensagem de Papa Francisco ao Presidente de África do Sul

E aí, eu não entendo é quem resolve apontar o dedo para o sucessor de Pedro e acusá-lo de estar “cometendo um grave erro”.  Qual “grave erro”?  O de louvar a promoção da dignidade humana?  O de louvar os acertos de um homem que levaram à paz e ao fim do sofrimento a milhares de pessoas?

O que queríamos?  Que Papa Francisco enumerasse uma lista de erros do passado de Nelson Mandela e dissesse “vai tarde”?  E o que faria com as boas obras?  Ignoraria?  Um mundo de miséria e violência só pode gerar homens de coração duro.  Mandela foi definitivamente um deles.  Mas lutou pelo que era justo e tirou milhares de pessoas da desgraça.

Ok.  Eu sei que ele, durante seu governo, foi a favor do aborto e pesam sobre ele, diversas acusações.  Mas o que esperar de um homem forjado em meio a tanto sofrimento? O que esperar de alguém que via a religião como meio de dominação?  Que não teve o privilégio que tivemos, de conhecer e experimentar o verdadeiro Cristianismo?

Tenho certeza de que ele errou.  Tenho certeza de que ele acertou.  O que tem mais peso, só Deus vai poder julgar.  Quem sou eu para achar que sei a resposta? Quem sou eu pra me achar melhor?


Povo católico, vamos passar adiante a mensagem de que todos temos dignidade infinita porque somos filhos do Senhor.  Deixemos Mandela descansar em paz, rezemos por sua alma e confiemos na justiça de Deus.


____________________________________
Fonte: O Catequista