quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Homilética: 2º Domingo do Tempo do Advento - Ano B: "Trigo ao celeiro, palha ao fogo!"


Advento! Tempo de se preparar para acolher o Senhor que vem! Por mais escuro que esteja o horizonte à nossa frente, precisamos acreditar que dias melhores virão, pois Deus é fiel e não abandona seu povo. Este período do Ano Litúrgico põe em realce as duas figuras que desempenharam um papel saliente na preparação da vinda histórica do Senhor Jesus: a Virgem Maria e São João Batista. Precisamente sobre São João Batista se concentra o texto do Evangelho de hoje ( Mc 1, 1-8). De fato, o texto descreve a personalidade e a missão do Precursor de Cristo. Começando pelo aspecto externo, João é apresentado como uma figura muito ascética: vestido de pele de camelo, alimenta-se de gafanhotos e mel selvagem, que se encontra no deserto da Judeia (Mc 1,6). O próprio Jesus, certa vez, o contrapôs àqueles que se “encontram nos palácios dos reis” e que “usam roupas delicadas” (Mt 11, 8). O estilo de João Batista deveria chamar todos os cristãos a escolher a sobriedade como modelo de vida, especialmente em preparação para a festa do Natal, na qual o Senhor – como diria São Paulo – “sendo rico, Se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer pela pobreza” (2Cor8, 9).

Na linha da pregação de João Batista, acodem-me à mente as palavras do Profeta Isaías: “Uma voz clama: abri no deserto um caminho para o Senhor  […]. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas… Subi a uma alta montanha, para anunciar a boa nova a Sião. Elevai com força a voz…, dizei às cidades de Judá: “Eis o vosso Deus!” (Is 40, 1-5.9-11).

“Preparai o caminho do Senhor” (Is 40,3). Para Isaías, o caminho do Senhor é um caminho de conversão: “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados” (v. 4). Os Padres da Igreja associam esses vales, essas montanhas, essas tortuosidades às nossas paixões, a tudo o que turva a visão de nosso coração, impedindo-a de contemplar as coisas do alto (Cl 3,1).

Marcos e Isaías falam da mesma pessoa, porque “o nosso Deus” é um só e porque em Jesus Cristo é Deus mesmo que “visitou o seu povo” (Lc 7,16).

Está na hora de retomar a boa notícia sobre Jesus Cristo, Filho de Deus, para gritá-la com força (é o sentido do Kerigma!) em Jerusalém e nas cidades de Judéia, isto é, na Igreja e fora da Igreja.

João Batista nos oferece um esplêndido exemplo de proclamação do Evangelho. O que o Batista compreendeu a respeito de Jesus é que se trata de alguém de que ele não é sequer digno de aproximar-se para desatar-lhe as sandálias; que é “o mais forte”, aquele que batizará no Espírito Santo e que desafiará, por assim dizer, o mundo a ferro e fogo!

João Batista teve a capacidade de fazer sentir Cristo “perto”, às portas (Jo 1,26), como alguém que está “no meio” dos homens e não como uma abstração mental; como alguém que já tem na mão a pá (Mt 3,12) e se apresenta para atuar o juízo, por isso não há mais tempo a perder. A força de seu anúncio estava em sua humildade (Jo 3,30): Importa que ele cresça e eu diminua, em sua austeridade e em sua coerência.

No que diz respeito à missão de João, ela foi um apelo extraordinário à conversão: o seu batismo “está ligado a um convite fervoroso para uma nova forma de pensar e de agir, está ligado sobretudo ao anúncio do juízo de Deus” (Bento XVl, Jesus de Nazaré, 2007) e do iminente surgir do Messias, definido como “Aquele que é mais forte do que eu” e que “batizará no Espírito Santo” (Mc 1, 7. 8). O apelo de João vai, portanto, além e mais em profundidade em relação à sobriedade do estilo de vida: exorta a uma mudança interior, a partir do reconhecimento e da confissão do próprio pecado. Enquanto nos preparamos para o Natal é importante que olhemos para nós próprios e façamos um exame sincero da nossa vida. Deixemo-nos iluminar por um raio da luz que provém de Belém, a luz d’Aquele que é “o Maior” e se fez pequeno, “o mais Forte” e se fez frágil.

Hoje precisamos de anúncios inspirados e corajosos, como os de Isaías e de João Batista; diante deles o mundo não poderia ficar insensível, como acontece quando se fala de Jesus Cristo só com sabedoria de palavras, com livros que não acabam mais, mas sem a força e sem a coerência de vida.

Toda a essência da vida de João, desde o seio materno, esteve subordinada a essa missão! João se entrega totalmente nessa missão, dedicando-se a ela, não por gosto pessoal, mas por ter sido concebido para isso. E vai realizar a sua missão até o fim, até dar a vida, no cumprimento da sua vocação.

Foram muitos os que conheceram Jesus graças ao trabalho apostólico do Batista. Os primeiros discípulos seguiram Jesus por indicação expressa dele e muitos outros se prepararam interiormente para segui-Lo, graças à sua pregação.

É bela a Vocação de João Batista! A vocação abarca a vida inteira e leva a fazer girar tudo em torno da missão divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas próprias circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus; de que ela se cumpra dependem outras coisas queridas pela vontade divina!

“Eu sou a voz que clama no deserto!” João Batista não é mais do que a voz, a voz que anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo o seu ser está definido em função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida, na vida de qualquer cristão. O importante da nossa vida é Jesus!

À medida que Cristo se vai manifestando, João procura ficar em segundo plano, ir desaparecendo. 

Como precursor, indica-nos o caminho que devemos seguir! Na ação apostólica pessoal- enquanto preparamos os nossos amigos para que encontrem o Senhor-, devemos procurar não ser o centro. O importante é que Cristo seja anunciado, conhecido e amado.

Sem humildade, não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. E então a nossa vida ficaria vazia.

Não somos apenas precursores! Somos também testemunhas de Cristo. Recebemos, com a graça batismal e a Crisma, o honroso dever de confessar a fé em Cristo, com as nossas ações e com a nossa palavra.  Que tipo de testemunhas nós somos? Como é o nosso testemunho cristão entre os nossos colegas, na família?

Temos que dar testemunho e, ao mesmo tempo, apontar aos outros o caminho. “Também conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimento de paz, porque ama” (É Cristo que passa, nº 122).

Nesse tempo do Advento, encontramos muitas pessoas olhando em outra direção, de onde não virá ninguém; ou onde outros estão debruçados sobre os bens materiais, como se fossem o seu último fim; mas eles jamais satisfarão o seu coração!  Cabe a nós apontar-lhes o Caminho. A todos! Diz-nos Santo Agostinho: “Sabeis o que cada um de nós tem que fazer em casa, com o amigo, com o vizinho, com os dependentes, com o superior com o inferior. Não queirais, pois, viver tranquilos até conquistá-los para Cristo, porque vós fostes conquistados por Cristo.”

A nossa família, os amigos, os colegas de trabalho, as pessoas que vemos com frequência, devem ser os primeiros a beneficiar-se do nosso amor por Deus. Com o exemplo e com a oração, devemos chegar até mesmo àqueles com quem não temos ocasião de falar habitualmente, porém, não devemos nos esquecer que é a graça de Deus, não as nossas forças humanas, que consegue levar as almas ao Senhor!

Que o Senhor nos ilumine para descobrirmos, em nossa vida, quais as estradas tortuosas temos que endireitar para chegar até Ele.

Durante o tempo do Advento, preparando-nos para o Natal, busquemos o Sacramento da Penitência (Confissão) como um gesto que manifesta a vontade de conversão e esperança dos tempos novos. O Sacramento da Confissão é um encontro privilegiado com Deus que salva e perdoa! Busquemos, então, o Sacramento da Reconciliação e, na medida do possível, uma vivência regular da Eucaristia, o convívio familiar com a Palavra e, sempre, o amor e o perdão nas relações fraternas. Assim, estaremos preparando o caminho enquanto o Caminho nos prepara.

À intercessão materna de Maria, Mãe de Deus e nossa, confiemos o nosso caminho ao encontro do Senhor que vem, enquanto prosseguimos o nosso percurso de Advento para preparar no nosso coração e na nossa vida a vinda do Emanuel, o Deus conosco. Maria nos ajude a reconhecer no rosto do Menino de Belém, concebido no seu seio virginal, o divino Redentor que veio ao mundo para nos revelar o rosto de Deus.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Textos: Is 40, 1-5.9-11; 2 Pe 3, 8-14; Mc 1, 1-8 

Neste domingo temos diante de nossos olhos a narração do Evangelista São Marcos que traz para a nossa reflexão a pregação de João Batista no deserto. Neste tempo de Advento, de preparação para a celebração do Natal do Senhor, a Igreja nos apresenta uma proposta: preparar a vinda de Jesus exige de nós uma transformação radical da nossa vida, dos nossos valores, da nossa mentalidade. Trata-se de um veemente apelo a cada pessoa: a conversão. Este é o brado feito por João Batista ao longo de toda a sua pregação.

A conversão absoluta consiste em uma mudança radical de mentalidade e atitudes interiores que se traduz numa nova conduta moral, segundo o estado e profissão de cada um (cf. Lc 3,10ss).  O motivo e a finalidade da conversão que João Batista pede, tem como objetivo preparar o caminho para o Senhor que vem; para isso, propõe ele o batismo como sinal dessa conversão e do perdão dos pecados.

A conversão é a grande palavra da pregação de João Batista, continuada depois pela Igreja.  Converter é sair do caminho errado e voltar ao caminho certo.  E era esse o sentido do batismo promovido por João Batista.  Não era ainda o batismo como sacramento da Nova Lei, que Cristo ia marcar como sinal de entrada na sua igreja.  Era um batismo de penitência, isto, é um rito que significava a mudança de vida, mediante as disposições interiores daquele que dele participava.  São João Batista deixou bem claro: “Depois de mim vem um que é mais forte do que eu e que não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das suas sandálias.  Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1,7s). 

O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água. Era, inclusive, um rito usado na integração dos prosélitos, ou seja, os pagãos que aderiam ao judaísmo, na comunidade do Povo de Deus. Na perspectiva de João, provavelmente, este batismo é um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este batismo passava a viver uma vida nova e aceitava integrar a comunidade do Messias.  São João Batista exorta a uma mudança interior a partir do reconhecimento e da confissão do próprio pecado.

A pregação de João é feita no deserto. O deserto é, no contexto da catequese judaica, o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão.  Esta pregação lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao deserto e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido. O deserto de onde João Batista surge e onde Jesus começará sua ministério (cf. Mc 1,4.12), é, antes de tudo, lugar da vocação e do encontro com Deus.  É no Deserto que Davi se prepara para a missão (cf. 1Sm 23,14) e que Elias, desfalecido de desânimo e cansaço é definitivamente robustecido (cf. 1Rs 19,4).  Também através de João Batista surge esta voz a clamar no deserto, a preparar a vinda de Jesus que é o advento do próprio Deus em meio a seu povo.

O estilo de vida de João:  sóbrio, desprendido, austero e simples; é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. É a aplicação prática dessa austeridade de vida e dessa renovação de atitudes, de comportamentos e de mentalidade que João pede aos seus conterrâneos. Seu testemunho corrobora a mensagem que ele apresenta. Além disso, o estilo de vida de João evoca o profeta Elias que também  se vestia de peles e trazia um cinto de couro em volta dos rins (cf. 2Rs 1,8).

O profeta Elias era, no universo da esperança judaica, o profeta elevado para junto de Deus e destinado a aparecer de novo no meio dos homens para anunciar a chegada iminente da era messiânica (cf. Ml 3,22-24). A identificação física de João com Elias significa que a era messiânica chegou e que João é o mensageiro esperado, cuja mensagem prepara a vinda do Messias Salvador. Seu estilo deveria chamar todos os cristãos a escolher a sobriedade como modelo de vida, especialmente neste tempo em que nos preparamos para o Natal do Senhor, pois Ele mesmo, sendo rico, se fez pobre por nós, a fim de nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2Cor 8,9).

João Batista se apresenta no deserto da Judeia e, fazendo eco de um antigo oráculo de Isaías, brada: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Is 40,3). Esta mensagem atravessa os séculos e chega até nós, repleta de extraordinária atualidade. Aquele que saltou de alegria no ventre de sua mãe, diante da voz da jovem de Nazaré, nos rompe, com sua voz, a surdez do coração e nos força a abrir os olhos para ver Aquele que sempre se aproxima.

A mensagem de conversão que João Batista proclamava para preparar o caminho ao Senhor encontra eco na exortação da segunda leitura: Enquanto estão esperando e apressando a chegada do dia do Senhor, devemos ser perfeitos na santidade de vida e na piedade para que Deus os encontre em paz com Ele (cf. 2Pd 3,8-14).  É certo que o “o dia do Senhor” virá, e virá inesperadamente; será para cada homem uma surpresa.  Por isso, o problema da conversão, o problema do encontro e de estar com Deus é questão de cada dia; pois cada dia pode ser para cada um o “dia do Senhor”.

Este empenho de conversão funda-se na certeza de que a fidelidade de Deus nunca enfraquece, não obstante tudo o que podemos encontrar de negativo em nós e em nosso redor. Eis o motivo pelo qual o Advento é tempo de expectativa e de esperança. A Igreja nos faz lembrar neste domingo a promessa confortadora do profeta Isaías: “Todos os homens verão a salvação de Deus” (cf. Is 40, 5).

Nós também devemos preparar o nosso coração, o nosso interior para a chegada do Senhor.  O tempo do Advento é composto por quatro semanas que a Igreja nos concede como preparação para a chegada do Natal. O texto evangélico nos exorta: “Preparai o caminho do Senhor” (Mc 1,2). Mais uma vez ressoa com vigor este convite. Acolhamos este apelo. Um brado profético que continua a repercutir-se nos séculos. Também o sentimos hoje, enquanto a humanidade prossegue o seu caminho na história.  A todos nós João Batista continua a indicar o caminho que é preciso percorrer.

A aproximação do Natal nos estimula a uma atitude mais vigilante de espera do Senhor que vem, enquanto a liturgia de hoje nos apresenta João Batista como um exemplo a imitar. Precisamos limpar o caminho.  E um modo concreto para a concretização desta conversão que o texto evangélico prescreve, pode ser também o Sacramento da Reconciliação, para que o pecado seja eliminado e devidamente expiado.  Só assim estaremos dando espaço para o Senhor em nossa vida e permitir que Ele possa nascer no íntimo da nossa vida. 

Neste tempo de advento, lembremos também da Virgem Maria, aquela que é bem-aventurada porque acreditou na mensagem do Senhor. Em Maria, preservada de qualquer pecado e repleta de graça, Deus encontrou a terra fértil, na qual depositou a semente da nova humanidade. A ela, preservada da culpa e repleta da graça divina, colocamos a nossa esperança.  Peçamos a sua intercessão por cada um de nós, para que possamos preparar com dignidade os caminhos do Senhor e a endireitar as suas veredas a fim de que, um dia, possamos contemplar a salvação que vem de Deus. Assim seja.

PARA REFLETIR

O tempo do Advento coloca-nos diante da miséria da humanidade, da pobreza e aperto da Igreja, da nossa própria miséria. Pobre humanidade: por mais que se julgue auto-suficiente, é tão insuficiente, por mais que deseje ser seu próprio deus, não passa de pó que o vento leva. Pobre Igreja, tão santa pela santidade de Cristo, o Santo de Deus, mas tão envergonhada pelos pecados de seus filhos e até de seus pastores, que deveriam ser exemplo e orgulho do rebanho; tão difamada, tão vilipendiada, tão humilhada nos dias atuais. Pobres de nós, que vivemos uma vida tão cheia de percalços e angústias, de lutas e lágrimas, de desafios que, às vezes, pararem mais fortes que nós! Eis a humanidade! Como no passado, ainda hoje precisamos de um Salvador; como Israel que esperou, nós, Igreja de Cristo, suplicamos: Vem, Senhor! Manifesta o teu poder! Que passe logo este mundo de tanta ambiguidade e provação; que venha a plenitude do teu Reino, que venha o teu Dia, que venha logo a plenitude da tua graça! É este o horizonte para contemplarmos a Palavra de Deus deste II Domingo do Advento. No Missal romano, as palavras de entrada da Missa, tiradas do Profeta Isaías, já nos são de tanto consolo: “Povo de Sião – somos nós, meus irmãos, somos nós! – o Senhor vem para salvar as nações! E, na alegria do vosso coração, soará majestosa a sua voz!” (Is 30,19.30). Sim! O Senhor vem! Aquele que nunca nos deixou e vem sempre nas pequenas coisas e ocasiões da vida, ele mesmo virá, um Dia, no fulgor da sua glória: ele, nossa justiça, ele, nosso esperança, ele, nosso Salvador!

Escutemos o Profeta, falando em nome de Deus! Escutemos as palavras que ele manda dizer à sua Igreja sofredora e humilhada, tentada pelo desânimo: “Consolai, consolai o meu povo! Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que a sua servidão acabou!” O Senhor vem, cheio de mansidão e misericórdia, de bondade e compaixão! No Natal nós veremos que Deus é amor, veremos do que ele é capaz por nós: capaz de fazer-se pequeno, capaz de fazer-se criança, capaz de fazer-se pobre entre os pobres do mundo! “Sobe a um alto monte, tu que trazes a boa-nova a Sião, levanta com força a tua voz; dize às cidades de Judá: ‘Eis o vosso Deus! Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne com a força dos braços os cordeiros e carrega-os ao colo; ele mesmo tange as ovelhas que amamentam’”.

Caríssimos, não desanimemos, não temamos, não percamos o rumo da nossa vida, não esfriemos na nossa fé e na nossa esperança: tudo caminha para esse encontro com Aquele que vem! Deus não se esqueceu de nós, não virou as costas para o mundo, não abandonou a sua Igreja! Recobremos o ânimo, renovemos as nossas forças, colocando no nosso Deus a nossa esperança e a nossa certeza! Se olharmos para nós, quanto desânimo e incapacidade; se olharmos para o nosso Deus, quanta esperança e certeza de salvação!

Mas, a Vinda do Senhor, Vinda salvadora, será também uma Vinda de julgamento: na sua luz, bem e mal, santidade e pecado, retidão e maldade, fidelidade e infidelidade aparecerão. Na sua Vinda, tudo será queimado, purificado no fogo devorador do seu Espírito Santo, aquele que arguirá o mundo quanto à justiça, quanto ao julgamento e quanto ao pecado (cf. Jo 16,8-11). A Palavra de Deus hoje nos adverte severa e insistentemente sobre isso: “Eis o vosso Deus, eis que o Senhor Deus vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com ele, sua conquista, eis à sua frente a vitória! O Dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez. O que nós esperamos são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça!” O Senhor, portanto, julgará tudo: na luz, do seu Espírito Santo, tudo será colocado às claras; no fogo do seu Espírito Santo, tudo será purificado, e aquilo que não foi de acordo com o seu Evangelho, com a sua Verdade, com a sua Cruz, será consumido no nada, no pó, no choro e ranger de dentes. Na luz e no fogo do Espírito de Cristo, tudo será passado a limpo: a história da humanidade e a nossa história pessoal…

Por isso mesmo, a insistente exortação que a Palavra nos faz hoje à vigilância. São Pedro, na segunda leitura, recorda-nos que este tempo de nossa vida é tempo da paciência de Deus, tempo de aproveitar para trabalhar para a nossa conversão: “O Senhor está usando de paciência para convosco. Pois não deseja que alguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se!” Bispos e padres, convertei-vos! Mudai vossa vida, abri vosso coração! Não vos iludais, pensando que podeis vos acostumar com o Senhor: pregais a Palavra dele e sereis julgados pela Palavra que pregais! Religiosos e religiosas, convertei-vos ou morrereis eternamente no fogo que não acaba! Não podeis fingir, não podeis enganar o Senhor! Povo todo de Deus: jovens e adultos, idosos e crianças, solteiros e pais e mães de família, convertei-vos, mudai vosso procedimento! Vivei de acordo com o que sois: sois a Igreja santa, sois o povo santo de Deus, sois a herança de Cristo! Convertei-vos todos, pois o Senhor a todos examinará! Com a vossa vida e o vosso procedimento, preparai no deserto de vossa vida o caminho do Senhor. Nivelem-se todos os vales de nossas baixezas e pecados, rebaixem-se todos os montes e colinas do nosso orgulho, soberba e prepotência; endireite-se o que é torto no nosso pensamento e no nosso procedimento e alisem-se as asperezas de nosso modo de tratar os irmãos. Então, a glória do Senhor se manifestará na nossa vida e nós seremos luz para a humanidade em trevas! Irmãos, não somos da noite, não somos das trevas! Somos filhos da Luz de Cristo, somos filhos do Dia do Senhor!

A figura de João Batista, com toda a sua austeridade e com suas palavras de advertência são um sério convite a que revisemos nosso modo de viver. Hoje, caríssimos, o mundo é todo paganizado; nosso País está se tornando cada vez mais pagão. Mas, isso não é o mais triste. O mais triste, o que nos corta o coração, é ver os cristãos vivendo como os pagãos, pensando como os pagãos, falando como os pagãos, agindo como os pagãos, gostando das coisas que agradam aos pagãos! Nós, que vimos a Luz; nós, que temos a consolação de Cristo; nós que temos o seu Espírito; nós, que nos alimentamos com o pão da sua Palavra e do seu Corpo e Sangue! Não fugiremos à Ira, caríssimos! Não escaparemos do tremendo tribunal de Cristo! João Batista é claro: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo!” Não se brinca com Cristo: se João – austero, piedoso e coerente – não se sentia digno de desamarrar suas sandálias, que será de nós? Ele nos batizará, nos mergulhará no fogo do seu Espírito… e, então, ai do infiel, ai do que fez pouco caso da sua Palavra, das suas exigências, do seu amor, ai do cristão e nome e pagão de vida!

Caríssimos, o Senhor está próximo: convertamo-nos! Amém.


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