sábado, 30 de setembro de 2017

Parlamentares saem em defesa de crianças erotizadas em exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)


Um desrespeito sem precedentes. Onde estão as feministas, os defensores do Estatuto da Criança e do Adolescente? Uma criança do sexo feminino de aparentes cinco anos conduzida por uma adulta a tocar em um homem nu? Quer dizer que isso é normal e ainda desclassificar e ridicularizar quem se chocou com a cena?

Os cidadãos de bem não podem deixar passar em branco aberrações como esta que tendem a se multiplicarem na tentativa de normatizar práticas doentias e que a maioria da população considera como excrescência. Associação de pais, representantes do povo na política, Igreja e demais setores da sociedade não podem se calar diante de horrores como este protagonizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM.

A “performance La Bête” que chocou brasileiros de bem no Museu da Arte Moderna- MAM de São Paulo recebeu o rechaço de alguns parlamentares que saíram em defesa das crianças. Em um vídeo que circula na internet observa-se uma criança de pouco mais de cinco anos sendo conduzida por uma adulta a tocar no corpo nu de um homem, que segundo o museu estaria em uma “performance cultural”.

O deputado Flavinho classificou o ato como “asqueroso e criminoso”. “Mais uma vez estamos chocados com a audácia dos que querem destruir a inocência de nossas crianças. Eles são na verdade animais insanos que estão à solta, disfarçados de ‘artistas’, ‘intelectuais’, ‘cantores’, ‘jornalistas’, ‘médicos globais’ e ‘políticos’”!

Papa Francisco nomeia Cardeal Burke juiz do Tribunal da Assinatura Apostólica


Boletim de Imprensa da Santa Sé deste sábado, dia 30, apresentou a nomeação de cinco novos juízes para o Tribunal da Assinatura Apostólica, entre eles o cardeal Raymond Burke. Completam a lista Cardeal Agostino Vallini, Edoardo Menichelli e os Monsenhores  Frans Daneels e Johannes Willibrordus Maria Hendriks.

Burke fora presidente do Tribunal de 2008 a 2014, donde saiu para assumir a  Ordem Soberana Militar de Malta. Para o Vaticanista Andrea Tornieli, em artigo ao jornal Italiano La Stampa, “a nomeação do cardeal americano atesta a estima do Papa Francisco sobre a sua competência canônica, já demonstrada ao dar-lhe o trabalho incômodo de colecionar os depoimentos sobre a complexa questão das acusações de pedofilia em relação ao arcebispo de Guam Anthony Sabran Apuron”.

Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica (Supremum Tribunal Signaturae Apostolicae), além de exercer a função de Supremo Tribunal, provê à reta administração da justiça na Igreja. 

A mudança da práxis relativa à recepção da Sagrada Comunhão


Até o século XIX, os critérios para comungar eram doutrinalmente tão exigentes que, na prática, poucas pessoas comungavam.

Considerava-se que, para além de uma preparação que eu chamaria de negativa — o fiel não deveria ter consciência de nenhum pecado grave –, era necessária uma cuidadosa preparação positiva: jejum eucarístico desde a meia noite, asseio e modéstia pessoais muito mais salientados que o normal, oração fervorosa com a repetição de inúmeros atos de fé, esperança, ADORAÇÃO, humildade, caridade etc. No dia-a-dia, as pessoas comungavam raramente, somente depois de se confessarem e fora da Santa Missa.

Essa prática era tão consagrada, que Santa Teresa foi considerada suspeita de heresia porque desejava comungar todos os domingos.

A propósito, o Concílio de Trento deixou muito clara a distinção entre o rito da Santa Missa (com a comunhão do sacerdote) e o rito da Santa Comunhão dos fieis, para salvar a Igreja do erro protestante de se considerar a Missa como somente uma Ceia e, portanto, a Comunhão como o momento essencial da ação litúrgica (e não a consagração).

Os santos sempre sofreram com essa dificuldade em receber o Santíssimo Sacramento, a tal ponto que a própria Santa Teresinha do Menino Jesus chegou a dizer que, quando chegasse ao céu, a primeira coisa que pediria a Deus seria a “comunhão diária” para toda a Igreja.

De fato, ela morreu em 1897 e, em 1903, foi eleito o grande São Pio X, que, em 1905, escreveu o Decreto “Sacra Tridentina Synodos”, oferecendo a todos os fieis a possibilidade de comungarem diariamente.

Isso foi uma grande graça! Um tremendo prodígio!

Contudo, a recepção diária não servia para afrouxar as exigências de uma preparação negativa e positiva para comungar. Antes, era instrumento para difusão de maior santidade na Igreja.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Homilética: 28º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "O banquete do Cordeiro"


Jesus ficava encantado quando comia com as pessoas. Por isso não é estranho para nós que Ele compara o Reino a um Rei que preparou um banquete ao que convida todos. Os insistentes convites do rei no evangelho de hoje através dos seus emissários, que não são outros que os profetas, encontram os seus destinatários indiferentes, desprezando a honra que Ele lhes tinha feito, preocupados só pelos assuntos materiais: negócios e mais negócios. Por terem sido cuidadosamente eleitos pelo rei como comensais da festa de bodas, se percebe que eram de um certo grau, que aos olhos do rei tinham um certo privilégio, o que também agrava notavelmente o seu comportamento, que chega ao ultraje e à mesma morte dos porta-vozes reais que levam os convites. Que ofensa e que humilhação infligidas ao rei! Até pegaram e mataram os que levavam os convites do Rei. Assim se explica o motivo de porquê na parábola não se considera exagerada a reação do monarca, o qual ordena que as suas tropas façam justiça aos assassinos e incendeiem a sua cidade, quase como para apagar da face da terra toda a lembrança de tão horrível episódio. 

“Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete (…). Vinde às bodas!” (Mt 22,4). Jesus deixou-nos esse prodígio de amor, que é a eucaristia, para que participemos de suas alegrias eternas. Ele instituiu o sacramento do seu corpo e do seu sangue no contexto de uma ceia e se deu em alimento para que nós, fortalecidos, pudéssemos chegar à glória celestial. Mas a eucaristia não é somente um banquete, nem é um simples banquete. Trata-se de um banquete sacrificial. O Catecismo da Igreja Católica faz essa conexão – eucaristia-ceia – já que o Novo Testamento também o faz: “Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos na “noite em que foi entregue” (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o memorial de sua oferta voluntária ao Pai, pela salvação dos homens: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28)” (Cat. 610).

Como se pode considerar diversamente o desprezo dos bens divinos por parte de alguns de nós, a rejeição de um Deus que oferece a sua própria vida ao homem? Por que alguns não participam da missa, por que não se confessam, por que não leem a Bíblia? Veem à minha memória aquelas severas palavras de são Paulo: “Não façais ilusões, com Deus não se brinca” (Gal 6, 7). Não se pode desdenhar impunemente os dons de Deus, e ainda menos pretender que Deus renuncie o seu plano de salvação universal, opondo-lhe um muro de incompreensão e superficialidade. Excluir-se deste plano indica só o fracasso do homem e não de Deus. É isso o que quer dizer a parábola quando mostra o rei que envia os seus servos às ruas para juntar quantos encontrar, “bons e maus”, e assim encher a sala do banquete, substituindo os “indignos”. 

Nesse banquete devemos entrar com traje de gala, isto é, com a graça santificante, que no Apocalipse se descreve como “vestido de linho das obras justas dos santos” (19, 8). É preciso ter a túnica branca da pureza, a coroa de palmeira ou a oliva da caridade, e as sandálias e os pés limpos após a fadiga e a luta. Segundo o protocolo oriental, o rei não participava no banquete, porém num certo momento entrava na sala para receber o obséquio e o agradecimento dos convidados. No Oriente, desde os tempos remotos do rei Hamurabi (s. XVIII a.C.), os reis acostumavam presentear aos seus hóspedes vestidos idôneos para a solenidade das suas audiências ou para o privilégio do comparecimento diante deles. O homem da parábola que não tinha vestido de festa foi porque não quis prover-se do traje –que estava na entrada do palácio-, o que indica uma falta de respeito não menos grave que a daqueles que rejeitaram o convite do Rei. Também foi expulso à geena eterna, o inferno. Nenhuma interpretação poderá negar que Cristo ameaçou com este castigo irreparável quem faz vãos os dons de Deus, rejeitando a sua graça. Porém, não nos esqueçamos de que também esta terrível parábola precede às três parábolas da misericórdia, já que Deus ameaça com a intenção de perdoar e nos corrigir.

Que triste seria se desprezássemos tanto amor de Deus! Como eu participo da santa missa? Desejo, de verdade, que chegue o momento de participar da próxima missa? Procuro ir bem preparado para participar do banquete que o Senhor fez para mim, para a minha salvação e para o fortalecimento do meu apostolado? Encontro na santa missa o centro da minha vida espiritual?

STF libera ensina religioso confessional nas escolas


Em sessão plenária realizada na tarde desta quarta-feira (27), o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439 na qual a Procuradoria-Geral da República (PGR) questionava o modelo de ensino religioso nas escolas da rede pública de ensino do país. Por maioria dos votos (6 x 5), os ministros entenderam que o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, vinculado às diversas religiões.

Na ação, a PGR pedia a interpretação conforme a Constituição Federal ao dispositivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB para assentar que o ensino religioso nas escolas públicas não pode ser vinculado a religião específica e que fosse proibida a admissão de professores na qualidade de representantes das confissões religiosas. Sustentava que tal disciplina, cuja matrícula é facultativa, deve ser voltada para a história e a doutrina das várias religiões, ensinadas sob uma perspectiva laica.

O julgamento foi retomado hoje com o voto do ministro Marco Aurélio que acompanhou o relator, ministro Luís Roberto Barroso, pela procedência do pedido. Para ele, a laicidade estatal “não implica o menosprezo nem a marginalização da religião na vida da comunidade, mas, sim, afasta o dirigismo estatal no tocante à crença de cada qual”.

“O Estado laico não incentiva o ceticismo, tampouco o aniquilamento da religião, limitando-se a viabilizar a convivência pacífica entre as diversas cosmovisões, inclusive aquelas que pressupõem a inexistência de algo além do plano físico”, ressaltou, acrescentando que não cabe ao Estado incentivar o avanço de correntes religiosas específicas, mas, sim, assegurar campo saudável e desimpedido ao desenvolvimento das diversas cosmovisões.

Papa reafirma validade do ensinamento da exortação «Amoris Laetitia»


O Papa Francisco reafirmou a validade do ensinamento da exortação ‘Amoris Laetitia’, em resposta às várias críticas recebidas pelo documento que resultou das duas assembleias do Sínodo dos Bispos sobre a família, em 2014 e 2015.

“Ouço muitos comentários - respeitáveis, porque são ditos por filhos de Deus, mas errados - sobre a exortação apostólica pós-sinodal”, disse, num encontro com jesuítas que decorreu a 10 de setembro, durante a viagem pontifícia à Colômbia e que foi divulgado esta quinta-feira, na mais recente edição da revista ‘La Civiltà Cattolica’.

O Papa defendeu a necessidade de ler a ‘Alegria do Amor’ do início ao fim, desde o “primeiro capítulo” e de “refletir”.

“Alguns sustentam que sob a ‘Amoris laetitia’ não há uma moral segura. Em relação a isto quero repetir, com clareza, que a moral da ‘Amoris laetitia’ é tomista, a do grande Tomás [de Aquino]”, declarou.

Francisco criticou depois os que julgam que a moral é “pura casuística” e convidou todos a aprofundar a “grandíssima riqueza” do trabalho de São Tomás de Aquino (1225-1274), doutor da Igreja.

Avanço do secularismo é apontado como uma das causas do enfraquecimento da Igreja Católica


Transformações culturais vêm sendo, também, decisivas para a "descatolização" do Brasil. O padre e professor Leandro Chiarello localiza em fenômenos como a aceitação do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo o tipo de mudança que o refluxo religioso desencadeia: 

– O secularismo é a construção de uma sociedade sem Deus. Essa é a tendência que estamos observando, a busca de uma sociedade desvinculada de valores religiosos. Não gosto de dizer católicos, porque parece que é só a Igreja Católica que está no barco. Não. É uma ação entre todos os cristãos.

Na Europa, em países como França, Alemanha, Holanda e Inglaterra, o avanço da secularização e o aumento da indiferença religiosa provocaram o fechamento de centenas de igrejas. Velhos templos foram vendidos e hoje abrigam lojas de departamentos, escola para artistas de circo, pistas de skate. A crise é tamanha que até outro ramo periclitante, o das venda de livros físicos, mostra-se em posição de superioridade: alguns templos foram convertidos em livrarias. Na Escócia, uma igreja luterana virou bar temático alusivo a Frankenstein.

No Brasil, não há nada tão extremado acontecendo, mas sacerdotes e fiéis enxergam as igrejas esvaziarem-se ano após ano. Tarcisio Scherer, 84 anos, vigário da Paróquia São Pedro, na Capital, ordenou-se em 1958. Ir à missa, afirma, era considerado uma obrigação, a atividade mais importante do fim de semana: 

– As igrejas enchiam, não só uma vez, mas duas, três, no mesmo dia. Era feio não participar, não expressar publicamente a fé. Era um escândalo. Havia uma pressão social. Agora, temos de ano para ano uma diminuição visível da frequência à missa.

Para Scherer, o Brasil vive com alguns anos de retardo o mesmo processo de secularização ocorrido na Europa. Ele associa a "descatolização" ao triunfo do consumismo e do hedonismo, acompanhado por uma oferta muito maior de atividades:

– Na época em que as igrejas estavam cheias, não havia outras coisas para fazer. Agora tem TV, tem videogame, tem estradas que permitem chegar à praia em uma hora e meia, há shows. É uma sociedade em que quanto mais as pessoas puderem curtir, mais elas curtem. Não têm tempo para a religião. Ainda restam fortes traços católicos, mas dizer que o Brasil ainda é um país católico, não sei.

As semelhanças entre o que ocorre no país e o que sucedeu na Europa precisam ser nuançadas, diz Silvia Fernandes, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ela argumenta que, por aqui, em oposição ao Velho Mundo, pessoas que se declaram ateias ou sem religião são malvistas. 

– Sou contrária à ideia de que há um declínio da religiosidade. Dados de pesquisas qualitativas mostram que as pessoas têm buscado formas alternativas de viver a própria religiosidade – afirma.

O bispo Brustolin cita o espanhol José Casanova, tido como o maior especialista internacional em secularização, para quem os processos da Europa e do Brasil são profundamente distintos. No continente europeu, a secularização avançou carreada por um racionalismo arraigado. Dessa forma, quanto mais instruída a pessoa, menos religiosa ela é. No Brasil, essa relação não seria tão clara. O brasileiro tem um fundo religioso capaz de resistir com alguma firmeza. 

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Ser brasileiro e ser católico não é mais a mesma coisa. Quais serão os impactos desta mudança?


Pedro Álvares Cabral ordenou que se erguesse um altar na praia da Coroa Vermelha, convocou seus capitães a passar das caravelas para batéis e desembarcou na faixa de areia. Era um domingo, dia do Senhor. Sob a bandeira de Cristo, cercado pela exuberante vegetação tropical, o frade franciscano Henrique Soares de Coimbra pregou o Evangelho, falou da cruz e da nova terra na qual ela acabara de chegar e entoou missa – a primeira celebrada nesta parte do mundo. Era 26 de abril de 1500. O Brasil nascia ali, sob a égide da Igreja Católica.

Durante a maior parte dos cinco séculos seguintes, o país e a religião permaneceriam indissociáveis. Como a licença papal concedida aos portugueses para explorar o Novo Mundo estava condicionada à expansão da fé, colonização e evangelização confundiam-se. Com o conquistador, vinha o padre. O amálgama entre Brasil e catolicismo foi tal que, até a proclamação da República, em 1889, Estado e Igreja mantiveram-se fundidos no regime conhecido como padroado. 

O país se fez ao redor de igrejas construídas na praça central de cada cidade ou vilarejo, aprendeu as primeiras letras em escolas geridas por padres e freiras, formou seu imaginário escutando as histórias dos personagens do Antigo e do Novo Testamento, construiu toda uma cultura baseada no alicerce dos valores católicos. Em 1940, meio século após a separação entre Igreja e Estado, 95% dos brasileiros se declaravam seguidores do Papa.

Agora, passados 516 anos do primeiro domingo de missa, esse país não existe mais. A maior nação católica do mundo já não é tão católica assim. Pela primeira vez na história, talvez já nem se possa mais dizer que o Brasil é um país católico.Essa é uma transformação significativa, que vem se anunciando nas estatísticas há mais de 40 anos. Durante esse período, a proporção de membros da Igreja na população despenca cerca de 10 pontos percentuais a cada década. Em 1980, eles ainda eram 89%. Passaram rapidamente a 83,3% (1991), 73,6% (2000) e 64,6% (2010). O próximo Censo ocorre apenas daqui a quatro anos, mas especialistas acreditam que ele vai flagrar a continuidade dessa tendência – a dúvida é apenas quanto ao tamanho do tombo.



Algumas pesquisas recentes sugerem que pode ser robusto e que a maioria católica possa estar ameaçada. O Datafolha, que mede a religiosidade do brasileiro desde 1994, detectou apenas 57% de católicos em 2013 – no levantamento anterior, em 2010, o índice foi de 63%, quase igual ao do Censo. Na avaliação do Pew Research Center, uma instituição norte-americana, o declínio se confirma, mas em ritmo menos alucinante: em 2014, 81% dos brasileiros diziam ter sido criados como católicos, mas só 61% afirmavam ser católicos.As pesquisas que chamam mais atenção e que permitem prever um Brasil não-católico são aquelas centradas nas faixas etárias mais baixas – grupos que serão os brasileiros de amanhã e sob cuja orientação vai ser moldada a religiosidade das próximas gerações. Para a maior parte desses jovens, a igreja apostólica romana dos seus pais e avós significa pouco. Levantamento feito três anos atrás pelo Instituto Data Popular apontou que só 44% dos brasileiros de 16 a 24 anos definiam-se como católicos. Em alguns estratos, há indícios de que os crentes sejam ainda mais minoritários. Em 2015, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) realizou uma pesquisa, em todas as unidades da federação, com pessoas de 18 a 34 anos. A amostra não refletia o perfil exato do brasileiro, privilegiando pessoas de classes B e C e com instrução acima da média. Mesmo com esse reparo, o dado espanta: só 34,3% disseram seguir o catolicismo.

O bispo auxiliar de Porto Alegre Leomar Antônio Brustolin, que coordena a pós-graduação em Teologia da PUCRS, reconhece: o Brasil já não pode mais ser definido como um país católico. Ele avalia o encolhimento do rebanho como parte de algo mais amplo, um enfraquecimento dos valores cristãos.

– Temos feito há anos essa reflexão na Igreja Católica. Constata-se, e essa é inclusive a posição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil), que vivemos numa sociedade pós-cristã. Permanecem, por exemplo, os feriados nas datas do cristianismo, mas eles não têm mais o mesmo significado e a mesma vivência – diz o bispo, que relata ter provocado controvérsia, durante uma celebração de Corpus Christi, por defender a ideia de que certos feriados católicos deveriam ser revistos no Brasil, uma vez que seu sentido se perdeu para grande parte da população. – Quando o nosso pai morre, a gente não continua celebrando o aniversário dele – compara. 

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

História e sentido do Sacrário na Liturgia


Atualmente chamamos de Sacrário ou Tabernáculo o local, o receptáculo, onde se deve conservar a Sagrada Eucaristia na Igreja. Seu desenvolvimento e regulamentação pelas autoridades eclesiásticas resultam de um cuidado e devoção fomentados pela Santa Igreja ao longo dos séculos com o intuito de realçar a adoração devida ao Cristo substancialmente presente nas espécies consagradas. Já nos primeiros séculos da Igreja fazia-se necessário a existência de um receptáculo digno para se guardar a Eucaristia.

De início, utilizavam-se pequenos vasos ou caixas chamados de arca ou arcula para guardar a Eucaristia reservada aos doentes e também para os fiéis levarem a Eucaristia para casa, haja vista as eventuais impossibilidades de participações frequentes na Missa em tempos de perseguição.[1]


Nesse sentido, também alguns fiéis usavam a Eucaristia guardada em lenços costurados de linho (oraria) ou vasinhos ou caixas de marfim, prata, ouro, madeira ou argila (encolpia) que eram presos ao pescoço.[2]

Tal costume foi, contudo, proibido pela Igrej a depois do século IV para evitar-se os abusos, profanações e tratamentos de forma supersticiosa para com o Santíssimo Sacramento (atualmente essa prática também é proibida. Vide a Instrução Redemptionis Sacramentum da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, n. 132).[3]

Com a liberdade de culto promulgada pelo Imperador Constantino I em 313, os cristãos passaram a construir edifícios próprios para o culto litúrgico (basílicas) e juntamente surgiu o costume de conservar a Eucaristia dentro das basílicas. Além dos casos raros em que o vinho consagrado era mantido em um pequeno vaso de ouro (dolium), o pão consagrado era guardado em pequenos receptáculos de ouro ou prata em formato de torre ou pomba. Estes receptáculos eram inicialmente mantidos no pastophorium (também chamado por alguns escritos da época por sacrarium) que se tratava do lugar mais reservado e inacessível da Igreja.[4]

Ou seja, buscava-se custodiar cuidadosamente a Santíssima Eucaristia como a um tesouro. Segundo o Arcebispo Piacenza, “as espécies eucarísticas eram introduzidas na pomba por uma pequena abertura em seu dorso, fechada com cuidado por uma tampa com dobradiça.” Aos poucos, as torres ou pombas passaram a ser colocadas suspensas por correntes no baldaquino (ciborium) que erguia-se por quatro colunas acima do altar.[5]

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Homilética: 27º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Ou uvas saborosas ou uvas azedas".


A palavra “agraciado” soa bem aos nossos ouvidos, não posso afirmar a mesma coisa do seu antônimo. Mas não se erra ao afirmar-se que desgraçado significa sem-graça. Os lavradores da parábola que nós escutamos eram agraciados: eram dignos da estima do seu senhor que lhes confiara a sua vinha. Mas caíram na desgraça: perderam a vinha e morreram por causa da própria ambição. Grande contradição a da vida daqueles homens: querendo a herança, perderam a vida, perderam até mesmo a possibilidade de ambicionar a herança.

Aqueles lavradores tinham uma ambição desleal. Eles eram invejosos. Não estou falando mal deles, simplesmente tento glosar o que eles mesmos disseram: “eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança” (Mt 21,38). É fato que os lavradores não suspeitavam duma coisa: o filho queria fazer deles participantes da sua herança. Mas, pobres coitados! Os lavradores, que poderiam ser uns ricos herdeiros por graça do seu senhor, acabariam sendo homicidas e exterminados sem piedade. Eram uns homens miseráveis porque eram egoístas e invejosos. Temos que ter cuidado: poderíamos ser uns desgraçados, inclusive ambicionando coisas boas.

Mais ainda, provavelmente, se tivessem ficado com a herança teriam se matado entre eles, cada um defendendo os próprios “direitos”. Como a estória daqueles três “amigos” que eram assaltantes. Conta-se que na hora de dividir o produto do roubo resolveram “comemorar”. Sendo assim, um deles foi comprar uma garrafa de whisky para fazer a festa. Este, muito esperto, resolve ficar com tudo só para ele e coloca veneno na garrafa para que os outros morram. Enquanto isso os outros dois “amigos” planejam o seguinte: ficar com tudo para eles. Quando chega o que fora comprar o whisky, os outros dois o matam e, para comemorar tomam o whisky… Péssimo resultado! Morreram todos! É fato: quem não sabe partilhar não serve para ter.

A parábola que o Senhor Jesus nos contou no dia de hoje é um resumo de toda a história da salvação com os seus progressos e os seus regressos. Da parte de Deus, ele sempre a fez progredir. No que diz respeito ao ser humano, havia progresso quando ele correspondia à vontade de Deus; regresso, quando as pessoas se rebelavam contra o querer de Deus. Finalmente, “Deus enviou o seu próprio Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gl 4,4-5). Desta maneira, o homem pôde corresponder perfeitamente à vontade do Pai. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, viveu intensamente a vontade do seu Pai do céu.

“Hão de respeitar o meu filho” (Mt 21,37). Mas não! Mas será que hoje em dia se respeita o Filho de Deus que morreu e ressuscitou pela nossa salvação? A ingratidão é uma coisa penosa, machuca o coração e fere os sentimentos mais profundos. Às vezes, a ingratidão é mais dolorosa que um ato de violência física. O Coração do nosso Pai do céu é alvo de constantes ingratidões. Deus nos oferece a felicidade e nós pensamos que as suas exigências santas são como uma espécie de moral de escravos ou de infelizes. Deus oferece o que é bom, o que constrói o ser humano, mas nós continuamos com a “cabeça dura” e o “nariz empinado” querendo construir a própria felicidade à margem de Deus. Dá a impressão que às vezes o homem quer colocar-se no lugar de Deus. O certo é que há várias tentativas de construir um espaço sem Deus, sem religião, sem valores; enfim, um mundo que se encaminharia à destruição por mãos do próprio homem. A pessoa humana é um ser maravilhoso, mas pode transformar-se num pobre desgraçado.

Não estou sendo pessimista se afirmo que se a vinha não está nas mãos de Deus, as uvas apodrecerão os dentes de quem as comer. Isto é, qualquer felicidade que deixa a Deus de fora é uma fantasia. Como poderia ser verdadeiramente feliz alguém que renuncia a algo que lhe é tão próprio como a dimensão religiosa da vida? Como pode alcançar a felicidade alguém que era escravo, foi libertado, mas não quer viver segundo aquilo que é tão próprio do seu ser: a liberdade? Como pode ser feliz alguém que opta por desprezar aquele que quer fazê-lo feliz dando-lhe a herança dos filhos?

Autorizado o pedido de abertura do processo de beatificação do Pe. Léo


O arcebispo de Florianópolis (SC), Dom Wilson Tadeu Jönck, scj, autorizou o pedido feito pela Comunidade Bethânia para a abertura do processo de beatificação do padre Léo. A informação foi divulgada nesta terça-feira, 26, em nota oficial publicada no perfil da Comunidade Bethânia no Facebook e replicada no site da arquidiocese de Florianópolis (SC). Os próximos passos incluem a escolha de um postulador para a causa de beatificação e a abertura formal do processo. 

A Comunidade Bethânia já vinha estudando o pedido de abertura desse processo, tendo em vista o recebimento de tantos testemunhos de curas físicas pela intercessão de Padre Léo.

O sacerdote faleceu no dia 4 de janeiro de 2007, aos 45 anos, vítima de infecção generalizada por causa de um câncer no sistema linfático. Fundador da Comunidade Bethânia, que trabalha com a recuperação de dependentes químicos, padre Léo transformou a vida de muita gente com suas pregações, em especial com seu testemunho de vida.

Confira a seguir a íntegra da nota divulgada hoje: 

Clérigos e acadêmicos enviam “correção filial” ao Papa


Para dispor de um quadro o mais amplo possível da situação na Igreja, o site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira deu a conhecer aos seus leitores uma notícia difundida no dia 24 de setembro último, pelos coordenadores de uma carta dirigida ao Papa Francisco por 62 eclesiásticos e acadêmicos católicos. Seguem-se as principais afirmações de ditos coordenadores:

“Uma carta de vinte e cinco páginas, assinada por 40 clérigos católicos e acadêmicos leigos, foi enviada ao Papa Francisco no dia 11 de agosto último. Como não se recebeu nenhuma resposta do Santo Padre, o documento é tornado público hoje, 24 de setembro de 2017, festa de Nossa Senhora das Mercês e da Virgem de Walsingham. A carta, que ainda está aberta a novos signatários, já foi subscrita por 62 clérigos e acadêmicos de 20 países — representando também outros que carecem da necessária liberdade de expressão —, e tem um título latino: ‘Correctio filialis de haeresibus propagatis’ (literalmente, ‘Uma correção filial concernente à propagação de heresias’)”.

De acordo com os divulgadores da notícia, a carta “afirma que o Papa, através de sua Exortação apostólica Amoris laetitia, bem como de outras palavras, atos e omissões a ela relacionados, sustentou sete posições heréticas referentes ao casamento, à vida moral e à recepção dos sacramentos, e fez com que essas opiniões heréticas se propagassem na Igreja Católica. Essas sete heresias são expressas pelos signatários em latim, a língua oficial da Igreja”.

“Esta carta de correção contém três partes principais. Na primeira parte, os signatários explicam por que, como crentes e praticantes católicos, eles têm o direito e o dever de emitir tal correção ao Sumo Pontífice. A lei da Igreja determina que as pessoas competentes quebrem o silêncio quando os pastores da Igreja estão desviando o rebanho. Isso não implica nenhum conflito com o dogma católico da infalibilidade papal, tendo em mente o ensinamento da Igreja segundo o qual para que as declarações do Papa possam ser consideradas infalíveis, ele deve antes cumprir critérios estritos. O Papa Francisco não cumpriu esses critérios. Ele não declarou que essas posições heréticas são ensinamentos definitivos da Igreja, nem afirmou que os católicos devem acreditar nelas com o consentimento próprio da fé. A Igreja ensina que nenhum Papa pode declarar que Deus lhe revelou alguma nova verdade para ser crida obrigatoriamente pelos católicos.”

Câmara de Fortaleza aprova moção de repúdio à exposição do Santander


A Câmara Municipal de Fortaleza aprovou moção de repúdio movida pelo vereador Jorge Pinheiro “por exposição depreciativa,financiada pelo Banco Santander através da Lei Rouanet, no Santander Cultural, intitulada de Queermuseu: Cartografias da diferença na Arte Brasileira, realizada desde o dia 18 de agosto em Porto Alegre, Rio Grande do SuL”. A moção foi aprovada por vinte e dois votos a favor e apenas um contrário.

O autor da moção expõe os motivos da discordância com a exposição destacando o rechaço à obra “O Eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa’ (1967), da artista brasileira Lygia Clark, que consiste em dois macacões ligados por um tubo, cada um com seis zíperes, estimulando que duas crianças se toquem mutuamente pelas aberturas destes macacões”.

Basta de blasfêmias!


A peça blasfema “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, que apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo como uma “mulher transgênero” (sic!), vem sendo exibida em diversas cidades de nosso País.

A peça é adaptação de um monólogo escrito pela inglesa Jo Clifford e recria a história de Nosso Senhor como uma “mulher transexual” que endossa e incentiva esta condição. Ela tem o claro intuito de quebrar a respeitabilidade devida e praticada para com Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Deus, e utilizar de Sua Sagrada Figura para promover práticas condenadas pela Lei Divina.

Os diretores e promotores desta peça, assim como os idealizadores de tantas outras blasfêmias contra figuras sagradas veneradas pela imensa maioria da população, utilizam o método da deturpação sistemática de conceitos como “liberdade de expressão”, “liberdade artística” e “Estado laico”.

É de grande importância, portanto, esclarecer esses conceitos.

1 – A verdadeira liberdade de expressão jamais pode ser interpretada como a liberdade de investir contra os princípios religiosos, sociais e políticos que os dados mais rudimentares da razão natural, da Moral e da Revelação apontam como indiscutíveis.

Há, em matéria moral, social e política verdades tão evidentes quanto as mais certas verdades conquistadas em outros campos da ciência.

Bento XVI, em sua viagem a Chipre em junho de 2010, afirmou que é necessário “promover a verdade moral na vida pública, o que exige um esforço constante para estabelecer leis positivas sobre princípios éticos da lei natural. Indivíduos, comunidade e Estados, sem a orientação de verdades morais objetivas, tornar-se-iam egoístas e sem escrúpulos, e o mundo seria um lugar perigoso para se viver”¹.

2 – Em uma sociedade sadia, o único discurso que pode pretender um “direito” à plena liberdade é o discurso verdadeiro e bom. A mentira, o erro e o engano não podem ter direito absoluto, permitindo sua livre-proliferação em público.

Nessa mesma ordem de ideias, o líder católico Plinio Corrêa de Oliveira sustentava, em artigo para o “Legionário” que, “assim como a verdadeira liberdade de expressão e pensamento jamais justificaria que um bando de malfeitores fundasse escolas, abrisse universidades, lançasse jornais, e publicasse livros para sustentar que a água não se compõe de hidrogênio e oxigênio, mas é mero produto dos raios lunares, assim também a verdadeira liberdade de expressão e pensamento não consiste, não pode consistir em negar os princípios do direito natural, nem a admirável perfeição que lhes deu, elevando-os e completando-os a Revelação cristã. Para católicos, este conceito restritivo da liberdade é indiscutível e consta dos ensinamentos dos Pontífices de que ninguém pode licitamente discordar”².

Itália: Frei Defendente Rivadossi falece na cidade de Bérgamo


Na manhã de segunda, 25 de setembro, chegou até nós a notícia do falecimento do missionário Frei Defendente (Rivadossi Fermo Bortolo) aos 79 anos de idade. Ele há dias estava em estado grave em um hospital na cidade de Bérgamo, Itália.

Frei Defendente foi por tantos anos na Província exemplo de dedicação e amor a missão, morando em várias residências e em todas elas deixando inúmeros amigos e várias construções. Será sepultado no dia 28 de setembro, no cemitério de Bérgamo.

Decreto 'Magnum principium' sobre as traduções de textos litúrgicos estabelece mudança no Código Canônico


CARTA APOSTÓLICA EM FORMA DE «MOTU PROPRIO»

DO SUMO PONTÍFICE 
FRANCISCO

“MAGNUM PRINCIPIUM”

COM  A QUAL MODIFICOU O CÂN. 838
DO CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO


O importante princípio, confirmado pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, segundo o qual a oração litúrgica, adaptada à compreensão do povo, possa ser assimilada, exigiu uma importante tarefa, confiada aos Bispos, de introduzir a língua vulgar na liturgia e de preparar e aprovar as versões dos livros litúrgicos.

A Igreja Latina estava ciente do enorme sacrifício da perda parcial da própria língua, usada em todo o mundo ao longo dos séculos, mas contudo abriu de bom grado a porta para que as versões, como partes dos próprios ritos, se tornassem voz da Igreja que celebra os mistérios divinos, juntamente com a língua latina.

Ao mesmo tempo, especialmente depois das várias opiniões expressas de modo claro pelos Padres Conciliares relativamente ao uso da língua vulgar na liturgia, a Igreja estava ciente das dificuldades que se poderiam apresentar em relação a esta matéria. Por um lado, era preciso unir o bem dos fiéis de qualquer idade e cultura e o seu direito a uma participação consciente e ativa nas celebrações litúrgicas com a unidade substancial do Rito Romano; por outro, as mesmas línguas vulgares muitas vezes só de maneira progressiva teriam podido tornar-se línguas litúrgicas, esplendorosas não diversamente do latim litúrgico por elegância de estilo e pela gravidade dos conceitos a fim de alimentar a fé.

Era isto que visavam algumas Leis litúrgicas, Instruções, Cartas circulares, indicações e confirmações dos livros nas línguas vernáculas emanadas pela Sé Apostólica já na época do Concílio, e isto tanto antes como depois das leis estabelecidas no Código de Direito Canónico. Os critérios indicados foram e permanecem em linha geral úteis e, na medida do possível, deverão ser seguidos pelas Comissões litúrgicas como instrumentos adequados a fim de que, na grande variedade de línguas, a comunidade litúrgica possa alcançar um estilo expressivo adequado e congruente com cada uma das partes, mantendo a integridade e a fidelidade cuidadosa, sobretudo na tradução de alguns textos de maior importância em cada livro litúrgico.

O texto litúrgico, enquanto sinal ritual, é meio de comunicação oral. Mas para os crentes que celebram os ritos sagrados, também a palavra é um mistério: com efeito, quando são proferidas as palavras, em particular quando se lê a Sagrada Escritura, Deus fala aos homens, o próprio Cristo no Evangelho fala ao seu povo que, por si ou através do celebrante, com a oração responde ao Senhor no Espírito Santo.

A finalidade das traduções dos textos legislativos e dos textos bíblicos, para a liturgia da palavra, é anunciar aos fiéis a palavra de salvação em obediência à fé e exprimir a oração da Igreja ao Senhor. Com este objetivo é preciso comunicar fielmente a um determinado povo, através da sua língua, o que a Igreja pretendeu comunicar a outro por meio da língua latina. Mesmo se a fidelidade nem sempre pode ser julgada por simples palavras mas no contexto de toda a ação da comunicação e segundo o próprio género literário, contudo alguns termos peculiares devem ser considerados também no contexto da íntegra fé católica, dado que cada tradução dos textos litúrgicos deve ser congruente com a sã doutrina.

Não nos devemos admirar que, durante este longo percurso de trabalho, tenham surgido dificuldades entre as Conferências Episcopais e a Sé Apostólica. Para que as decisões do Concílio acerca do uso das línguas vulgares na liturgia possam ser válidas também no futuro, é extremamente necessária uma constante colaboração cheia de confiança recíproca, vigilante e criativa, entre as Conferências Episcopais e o Dicastério da Sé Apostólica que exerce a tarefa de promover a sagrada Liturgia, ou seja, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Por isso, a fim de que a renovação de toda a vida litúrgica continue, pareceu oportuno que alguns princípios transmitidos desde o tempo do Concílio sejam reafirmados e postos em prática de maneira mais clara.

Sem dúvida, deve-se prestar atenção à utilidade e ao bem dos fiéis, e não se deve esquecer o direito e o encargo das Conferências Episcopais que, juntamente com as Conferências Episcopais de regiões que têm a mesma língua e com a Sé Apostólica, devem garantir e estabelecer que, salvaguardada a índole de cada língua, seja dado plena e fielmente o sentido do texto original e que os livros traduzidos, até depois das adaptações, resplandeçam sempre pela unidade ao Rito Romano.

Para tornar mais fácil e frutuosa a colaboração entre a Sé Apostólica e as Conferências Episcopais neste serviço que deve ser prestado aos fiéis, disponho, com a autoridade a mim confiada, que a disciplina canónica atualmente vigente no cân. 838 do C.I.C. seja tornada mais clara, para que, segundo quanto expresso na Constituição Sacrosanctum concilium, em particular nos artigos 36 §§ 3.4, 40 e 63, e na Carta Apostólica Motu Proprio Sacram Liturgiam, n. IX, seja mais clara a competência da Sé Apostólica acerca das traduções dos livros litúrgicos e das adaptações mais profundas, entre as quais se podem incluir também eventuais novos textos a serem inseridos neles, estabelecidos e aprovados pelas Conferências Episcopais.

Neste sentido, no futuro o cân. 838 será lido como segue:

Cân. 838 — § 1. Regular a sagrada liturgia depende unicamente da autoridade da Igreja: isto compete propriamente à Sé Apostólica e, por norma de direito, ao Bispo diocesano.

§ 2. É da competência da Sé Apostólica ordenar a sagrada liturgia da Igreja universal, publicar os livros litúrgicos, rever [1] as adaptações aprovadas segundo a norma do direito da Conferência Episcopal, assim como vigiar para que as normas litúrgicas sejam fielmente observadas em toda a parte.

§ 3. Compete às Conferências Episcopais preparar fielmente as versões dos livros litúrgicos nas línguas correntes, convenientemente adaptadas dentro dos limites definidos, aprová-las e publicar os livros litúrgicos, para as regiões de sua pertinência, depois da confirmação da Sé Apostólica.

§ 4. Ao Bispo diocesano na Igreja a ele confiada compete, dentro dos limites da sua competência, estabelecer normas em matéria litúrgica, as quais todos devem respeitar.

Por consequência devem ser interpretados quer o art. 64 § 3 da Constituição Apostólica Pastor bonus quer as outras leis, em particular as que estão contidas nos livros litúrgicos, acerca das suas versões. De igual modo disponho que a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos modifique o próprio “Regulamento” com base na nova disciplina e ajude as Conferências Episcopais a desempenhar a sua tarefa e se comprometa a promover cada vez mais a vida litúrgica da Igreja Latina.

Quanto deliberado com esta Carta apostólica em forma de “motu proprio”, ordeno que tenha vigor firme e estável, não obstante qualquer coisa contrária mesmo se digna de especial menção, e que seja promulgado através da publicação em L’Osservatore Romano, entrando em vigor a 1 de outubro de 2017, e publicado nas Acta Apostolicae Sedis.


Dado em Roma, junto de São Pedro a 3 de setembro de 2017 quinto do meu Pontificado.


Francisco
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[1] Na versão italiana do C.I.C., comummente em uso, o verbo “recognoscere” é traduzido por “autorizar”, mas a Nota explicativa do Pontifício Conselho para a interpretação dos Textos Legislativos esclareceu que a recognitio «não é uma aprovação genérica e breve e muito menos uma simples “autorização”. Trata-se, ao contrário, de um exame ou revisão atenta e pormenorizada...» (28 de abril de 2006).

Perda de Fiéis


Disse o Papa Francisco: “Perda de fiéis da  Igreja no Brasil é uma verdade. As estatísticas mostram. E isso é um problema que incomoda os bispos brasileiros” (O Globo-Rio, 30/07/2013, p. 8).

Tenho estudado esse assunto há mais de duas décadas. Em nossa pós-modernidade o problema é prolixo, complexo e de tamanho descomunal. Os movimentos religiosos, pentecostalismo, neopentecostalismo, os sem igrejas (desigrejados), sem religião (mas crentes) e indiferentes ideológicos (agnósticos e ateus). Sociedades secretas e seus esquemas maquiavélicos. Os membros de tais sociedades têm crenças duvidosas. Tenho me ocupado e preocupado com o sectarismo e seus congêneres devido a sua ação oculta e revelada de modo enlouquecedor e mortal. Sociedades secretas e seitas não só dizem respeito ao campo da teologia, da filosofia, da psicologia e da sociologia da religião, mas também do Poder Jurídico. O Estado de Direito deveria investigar esses movimentos com rigor.

O movimento pentecostal é gigantesco devido a suas crias constantes: avivamentos, renovação, “carismáticos” e o famigerado neopentecostalismo. Este tem como fundamento a teologia da prosperidade e a espetacularização do show gospel. É na onda das seitas neopentecostais que se encontram o G12 (igrejas em células, os ditos apóstolos, pastores milionários, políticos com suas catedrais e empresas religiosas). Os desigrejados continuam – que na maioria são dos dois movimentos – pentecostais sem filiação denominacional. Os sem religião são descontentes com as religiões tradicionais, no entanto têm uma crença livre e holística. Agnósticos e ateus são militantes organizados contra os portadores de fé e apologistas crentes. O movimento New Age (Nova Era) de filosofia hinduísta e com práticas ocultistas tem arrebanhado fiéis no mundo inteiro. Principalmente ricos e famosos.

É de suma importância ressaltar que esses movimentos propagam suas crenças em línguas estranhas, dons espirituais, profecias, visões, revelações, curas divinas, milagres, exorcismos (libertação), arrebatamento espiritual (repouso no espírito, viagem astral e regressão), autoajuda, prosperidade, meditação transcendental, yoga, ADORAÇÃO aos anjos, astrologia e espiritualismo eclético. A psicologia desses movimentos alcança as necessidades profundas da carência humana. O objetivo é vender a felicidade a qualquer custo.

Em todas as eras, quando a teologia paraclitólogica tem sua primazia, a Igreja torna-se crescente e poderosa em sua missão de ganhadora de almas salvas e evangelizadoras. Belo exemplo é a grande obra realizada por São Basílio Magno, autor do primeiro tratado sobre o Espírito Santo. São Basílio, Doutor da Igreja, Bispo místico e com visão no social. Escreve São João Apóstolo: “Quando vier o Espírito Santo, ele vos conduzirá à verdade plena”(Jo 16, 13). Se essa verdade plena fosse por mais propagada eliminaria muito o espaço para as mentiras religiosas e as heresias no cristianismo. Cismas, heresias e seitas provêm do relaxamento e da infidelidade ao Espírito Santo (cf. Atos 5,32; Ef 5,18; 1 Ts 5,19-23). Para proclamar a Boa Nova e ser ser fiel à vontade de Deus é fundamental o cristão viver sempre cheio do poder do Espírito Santo (ler Atos 1,8; 2, 1-4).

O que está faltando? Uma emergente tomada de posse para viver ardentemente o patrimônio do Divino Espírito Santo. Dentro desse contexto tudo que é palha, sujeira, liturgia congelada, contendas, fraqueza, falta de temor a Deus, descaso com a Igreja e a triste perda de fiéis será fulminado pelo fogo do Espírito Santo. Sem ardor, sem motivação, sem poder para testemunhar e sem amor pela salvação das almas não existe cristão verdadeiro e nem futuro para a Igreja, a família e a sociedade. 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Santo Alberto de Jerusalém


Santo Alberto, dos patriarcas de Jerusalém um dos mais eminentes, era natural da Itália, descendente de uma nobre família do ducado de Parma. Jovem ainda e com a preocupação de salvar a inocência, fez-se religioso e entrou para o convento dos cônegos de Santo Agostinho, em Mortara, os quais, depois de alguns anos, o elegeram prior da comunidade religiosa. Passados três anos, foi indicado para Bispo de Bóbbio. A modéstia e humildade, porém, não lhe permitiram aceitar esta dignidade. Poucos anos se passaram e a vontade do Papa Lúcio III prevaleceu, nomeando-o Bispo de Verceli, e durante o espaço de vinte anos Alberto administrou aquela diocese. Rigoroso contra si próprio, era condescendente para os súditos; incansável no cumprimento dos deveres, era dedicado às obras de penitência, oração e caridade. Espírito muito conciliador, era Alberto o indicado para servir de árbitro em questões de litígio. Assim o imperador Frederico Barbaroxa se valeu dos seus bons serviços junto à Sé Apostólica em Roma, Devido a sua intervenção, cessou uma antiga inimizade entre as cidades de Parma e Piacenza.

A fama de sua santidade tinha chegado até a Síria. Quando vagou a Sé patriarcal de Jerusalém  o clero daquela cidade concentrou os votos em Alberto para sucessor do  Patriarca falecido. O Papa Inocêncio III, não só aprovou a eleição, mas ainda insistiu com o eleito para que a aceitasse, fazendo-lhe ver que as condições em que se achava a Terra Santa, requeriam um braço forte; se não se  preferisse o desaparecimento do cristianismo, diante da pressão fortíssima dos maometanos Alberto, obediente à voz do Sumo Pontífice, entregou a administração da Diocese a um sucessor, apresentou-se ao Papa e de Roma foi para a Palestina. Estando sob o domínio dos Sarracenos, o Bispo de metrópole fixou residência em Acra. Antes de mais nada procurou conhecer bem a situação da Igreja naquele país. Com  orações e jejum pediu a luz de cima, para acertar com os meios de socorrer a cristandade nas suas necessidades. Deus iluminou-o e abençoou-lhe os trabalhos, de um modo palpável. — Grande número daqueles que tinham abandonado a fé voltaram ao seio da Igreja, e outros, transviados no caminho do pecado e do vício, contritos se converteram. A palavra, mas antes de tudo a santidade do Bispo, fizeram com que gozasse do maior prestígio, não só entre os cristãos, mas ainda entre os inimigos da cruz os sarracenos, o que muito concorreu para a situação da Igreja tornasse bem mais tolerável.

Além dos trabalhos pastorais, incumbiu-se Alberto da redação de uma regra da Ordem do Carmo. Os Carmelitas eram eremitas, que moravam no monte Carmelo. Tinham por padroeiro o profeta Elias, que com seus discípulos habitara no mesmo lugar. A regra que Alberto, é um documento de sabedoria e prudência. Desde aquele tempo, começou a Ordem a tomar grande incremento.

Oito anos durou o patriarcado de Alberto na Palestina. Estimado por todos, surgiu-lhe um inimigo, na pessoa de um malfeitor, natural de Caluso, em Piemonte. Alberto, vendo o mau procedimento daquele homem, tinha por diversas vezes, por meios persuasivos, procurado afastá-lo da senda do crime. Mas, em vez de se emendar, a vida tornou-se-lhe cada vez mais escandalosa, chegando afinal ao ponto de merecer a pena de excomunhão, com que o patriarca o ameaçou. Exasperado com a justa energia do Prelado, jurou tirar desforra. Na festa da Exaltação da Santa Cruz, quando o Patriarca, rodeado de muitos representantes do clero, exercia as altas funções de oficiante do culto religioso, o criminoso penetrou no recinto sagrado e apunhalou-o. Alberto morreu quase instantaneamente, pranteado pelos fiéis, que o veneravam como Santo.

O exemplo de Santo Alberto ensina-nos como devemos santificar os primeiros momentos do dia. Com a oração nos lábios, saudava a luz do novo dia, convencido de que nada de bom este podia trazer-lhe, sem que Deus o houvesse abençoado. ‘Ao acordares, aconselha São Boaventura — oferece ao Senhor as primícias dos teus pensamentos e afetos’. Muita coisa depende desta oferta matutina. O demônio disputa para si estes momentos preciosos, sabendo muito bem, que deles, e o modo de passá-los, depende o dia todo. A oração da manhã é coisa que ninguém deve dispensar. Ninguém venha a dizer que lhe falta tempo para rezar. Tendo tempo para as refeições, para as conversações e para os divertimentos, não se deve dizer que para rezar, tempo nenhum sobra. Quanto maior for o trabalho, quanto mais pesada a responsabilidade, tanto mais precisamos da graça divina. Fiquemos certos de uma cousa: sem a graça de Deus, nada faremos; sem sua bênção, o nosso trabalho nada vale. Em tudo e para tudo, precisamos da assistência divina. ‘Antes do sol nascer, vos agradecerei, Senhor; ao amanhecer dou-vos louvor’ (Sb 16, 28).



Deus eterno e todo-poderoso, que destes a Santo Alberto a graça de lutar pela justiça até a morte, concedei-nos, por sua intercessão, suportar por vosso amor as adversidades, e correr ao encontro de vós que sois a nossa vida. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.