quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O rico, o pobre, o sofrimento, a morte...


Caríssimos irmãos e irmãs, a sagrada liturgia vem nos exortar, mais uma vez quanto ao nosso relacionamento com as riquezas terrestres e bens materiais que possuímos. Como estamos lidando com eles? Estamos colocando eles como sendo as coisas mais importantes de nossas vidas? Eles estão nos cegando? A primeira leitura nos mostra que Deus chama a atenção daqueles que vivem despreocupados, dos que só pensam em esbanjar as riquezas e os bens que possuem e curtir a vida sem ligar para nada, com um coração fechado para Deus e para o pobre; com um coração seco, egoísta e avarento que não foi tocado pela graça de Deus pois fechou-se em si mesmo - e nem liga para isso; pois Deus, para uma pessoa com uma alma que se encontra assim, está muito longe do seu pensamento. Uma pessoa assim não quer nem saber de Deus; e quando, por benevolência do Criador, pensa em Deus, não quer desapegar do seu tesouro, pois não tem coragem. Deus se torna algo ameaçador e desconfortável para ela; tal pessoa não quer se por sob autoridade do Pai. Seu coração e sua mente estão em outro lugar. Onde está o teu tesouro, ai estará teu coração.

Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião. Ora, isso é o mesmo que dizer: Ai dos que vivem preocupados demais com as coisas desse mundo passageiro e não com Deus, porque estão ocupados demais em amontoar, com avidez, tesouros corruptíveis; em inflar seu orgulho com suas posses; em colocar sua segurança nesses mesmos bens e mesmo assim não se sentem satisfeitos. Tudo isso é passageiro; a traça e a ferrugem corroem. E é nesse sentido que a voz de Deus se levanta contra esse mundo materialista, descrente e de propostas ilusórias quando nos diz claramente o próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor: “de que adianta ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua alma?” E ainda: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Bem claro fica que Deus não quer que seus filhos sejam escravos do dinheiro. Isso é idolatria. Deus não quer que seus queridos filhos, pelos quais Jesus sofreu a paixão e morreu na cruz, mergulhem numa cegueira demoníaca que é a busca e gozo desenfreado pelo dinheiro. Ora, uma vez dentro, é difícil sair.

Amados, para complementar com mais sentido esta nossa reflexão, e sem excluir o caráter de exortação, o Apóstolo São Paulo, na segunda leitura, nos ensina o dever do cristão de fugir das coisas perversas; fugir daquilo que desagrada a Deus e por isso não convém ao batizado. O pecado mortal que causa o coração duro e torna a alma insensível deixando-a cega pelo amor ao dinheiro e às riquezas terrenas, é uma dessas coisas perversas que o Apóstolo nos adverte a fugir. A avareza e o orgulho são pecados mortais, perversidades que rodeiam os filhos de Deus e atacam como um leão feroz a qualquer das almas visando devorá-las e consumi-las por dentro. Dentro de nós, em nossa alma; eis o campo de batalha no qual somos chamados a lutar o bom combate da fé. Irmãos e irmãs caríssimos, é justamente na alma, na vida interior que se encontra um bem maior, a nossa vida espiritual, que Deus deixou em nós e que o inimigo, o diabo, quer destruir com a suas propostas sedutoras, porém pecaminosas e mortíferas, como é a proposta materialista, como já disse, da busca e gozo insaciáveis por dinheiro, posses e prazeres. É na alma de cada um que pode crescer o bem ou o mal, o fruto bom ou o fruto ruim. Depende de como acolhemos, ou melhor, depende de que tipo de terreno nos dispomos a ser.

Enfim chegamos ao Evangelho, caríssimos filhos do Bom Pai. E a história já a conhecemos por demais: o rico, o pobre, o sofrimento, a morte, o céu, o inferno, a suplica… Mesmo assim ainda vale, e sempre valerá, uma profunda reflexão sobre esse ensinamento de Cristo. Ora, havia um homem rico; mas rico tão somente de bens materiais e corruptíveis e pobre de tesouros espirituais e eternos; ele era rico para o mundo, mas era pobre para com Deus, a tal ponto de ter um semelhante a ele bem próximo de sua casa, bem próximo de sua vida, onde tinha meios abundantes para socorrer o pobre Lázaro. Talvez sequer tenha percebido a existência de Lázaro ao pé de sua porta, gritando os mais altos pedidos de ajuda que a sua necessidade evidenciava. Aquele era um filho de Deus. Mas o que se passava com aquele rico? Como era sua vida? Que fizera ele? Quanto a isso, que pensar senão aquilo sobre o que já foi dito antes? A saber: o coração duro, escravo das riquezas. De fato, são muitas as pessoas que, como o rico da parábola, têm bem próximo de si Lázaros da vida em relação aos quais não prestam a louvável e preciosíssima virtude de caridade. E não estou falando de pessoas ricas apenas; estou falando de todos nós, eu e você. Se nós, ricos ou pobres, não abrirmos nossa alma a Deus, se nós não buscarmos conversão diária, o combate, nosso coração não será diferente do coração rico da parábola e, talvez, o fim seja o mesmo. Àquele rico talvez, fosse dado misericórdia, se ele tivesse feito um gesto concreto de caridade sincera para com aquele pobre diante de Deus, o que teria sido um gesto feito ao próprio Jesus; um ato de bondade é um sinal de que Deus age por meio de nós, é uma esperança de salvação. E como uma alma pode se tornar insensível assim para as coisas eternas nos dias de hoje? É muito simples. Basta, no mínimo, ter uma vida razoável, saúde, dinheiro, não ter sofrimentos e não ter contratempos com o que quer que seja. Basta viver despreocupadamente em seus altares em suas casas confortáveis, gozar de seus bens e prazeres, ir para seus trabalhos dia a dia, o que não parece ser problema algum. Então, qual o problema afinal? O problema, irmãos caríssimos, está em esquecer de Deus e do próximo.

Ora, amados, o Inimigo de Deus não parece estar interessado em perder as nossas almas aparecendo diretamente diante de nós e nos arrastando para o inferno, ou causando grandes estragos ou fenômenos sobrenaturais para nos assustar, na maioria dos casos ele não vem literalmente onde nós estamos e nos obriga a pecar e perecer. O diabo não age às vistas. Sua ação é em escondido. É sutil. Para ele pode ser suficiente que os cristãos sejam batizados tenham alguma, ou nenhuma, vida espiritual, e que vivam tranquilos em suas casas e em seus trabalhos, mas sem pensar em Deus. E se pensar em Deus que seja em um deus particular, ajustado aos caprichos do homem e não em um Deus verdadeiro. Para o Inimigo pode ser o bastante que o católico viva sua vida em paz, falsa paz, e deixe Deus de lado, pois ele não quer que o homem se preocupe com as coisas de Deus ou com religião, mas antes, quer as pessoas todas cegas desleixadas e frouxas sem coragem nem força de ir à Missa e sem determinação para abandonar os seus pecados. O inimigo das almas também não quer que essas pensem na morte, antes deseja que todos vivam como se ela não existisse, como se fosse proibido tocar no assunto porque deixa todo mundo triste. Não é politicamente correto falar sobre morte, pois é deprimente saber que essa vida tem um fim, que eu tenho fim. Mais proibido ainda é dizer que, no dia de tal morte, o homem dever prestar conta de seus atos à alguém; é proibido dizer que tem pessoas agindo errado e que suas obras vão ser julgadas por Deus no dia da morte. Isso é impensável, um absurdo. Quem imaginaria uma coisa horrível dessas? Porém, caros irmãos e irmãs, a morte é uma realidade implacável e inevitável para os homens, que cai sobre o pobre e sobre o rico. A morte não faz distinção por carteiras. É uma coisa que inquieta, e até assusta os despreparados. 

O diabo também não gosta que se fale sobre céu e sobre inferno. Ora o ‘céu é aqui e o inferno são os outros que o fazem’, dizem as vozes, mas as vozes dos que não aceitam a verdade de Deus. Tão dura, para muitos desavisados, quanto a realidade da morte é a verdade de uma vida que continua após a morte biológica. É a realidade de uma eternidade que espera pelo homem. Céu ou inferno receberá a alma segundo aquilo que fez dela mesma e da vida que levou; segundo o amor que deu, ou não, a Deus e ao próximo; segundo santificou, ou não, o nome de Deus que está nos céus. Irmãos caríssimos, entre o Céu e o inferno há um abismo intransponível. Mas vejamos bem, caríssimos, se já não é aqui na terra, se já não é aqui nesta vida presente, que buscamos em qual lado queremos estar na eternidade. Onde queremos ‘passar’ nossa eternidade? Ora, todo mundo colhe o que planta, e para colher bem tem que plantar, trabalhar e cuidar bem senão não tem boa colheita. Ninguém tira uma boa safra trabalhando com preguiça e mediocridade; assim também todo aquele que se diz cristão deve, por obrigação, deveras lutar bravamente e com força contra todo o Mal que possa cair sobre sua alma para que esta produza frutos de santidade.

Sim, meus irmãos, este é o combate: lutar contra o pecado. Pois é o pecado que faz pessoas sem fé, indiferentes às necessidades dos mais pobres, como no caso da parábola; é o pecado que torna os homens cegos e ávidos por dinheiro e poder; é o pecado que acanha o cristão na sua própria vida e o faz ficar ali sem se preocupar com Deus ou eternidade; é pecado que faz a alma se apegar cada vez mais à materialidade do mundo; enfim, foi por causa dos pecados da humanidade - do meu e do seu - que Cristo foi crucificado e sofreu morte tão dolorosa. Ainda é o pecado que causa o nosso distanciamento em relação a Deus, e já assim criar um abismo de ser que só pode ser superado com a ajuda do mesmo Deus. Foi assim na queda de Adão e Eva.

Que fazer então? Bom, meus irmãos queridos de Deus, concluo esta reflexão dizendo que assim como havia o pobre Lázaro que estava caído aos pés da porta do homem rico, que tinha bens em abundância, assim também o cristão deve ir às portas da casa de Deus, que tem dons abundantes, e que, ao contrário do rico egoísta, deseja com muito ardor dar esses dons de santidade aos seus filhos queridos, a toda a humanidade. Como Lázaro, o cristão deve reconhecer suas necessidades e correr atrás de ajuda para matar sua fome e curar suas chagas, as chagas da alma. O cristão precisa, urgentemente, de conhecer seus pecados, sair do comodismo, e buscar a salvação que vem de Deus. O cristão precisa ir à Missa e obedecer aos Mandamentos divinos por amor. É a nossa alma que está em jogo. De qual lado da porta está a tua alma? Que Maria Mãe de Deus da Igreja sempre interceda por nós ao Pai clementíssimo; nossa Mãe não se cansa de proteger e orar por seus filhos amados. Lembremos sempre de nossa Mãe e lhe peçamos auxílio. Amém!
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Católicos Online/ Seminário São José

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