quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Austrália: Bispos se desculpam por fracasso ante crise de abusos sexuais


Alguns dias antes da Comissão Real de Resposta Oficial dos Abusos Sexuais de Menores na Austrália começar a sua audiência final sobre a resposta da Igreja a esta crise, os bispos do país emitiram várias declarações expressando seu pesar pelas falhas ocorridas e se comprometeram a proteger os menores de idade.

“Profundamente consciente da dor causada pelo abuso, peço mais uma vez desculpas em nome da Igreja Católica”, expressou o Arcebispo de Melbourne e Presidente da Conferência Episcopal da Austrália, Dom Denis Hart, em uma carta dirigida aos fiéis em 5 de fevereiro.

“Sinto o dano causado à vida das vítimas de abuso sexual. Como disse recentemente o Papa Francisco, ‘é um pecado que nos envergonha’”, sublinhou.

De acordo com inúmeros testemunhos recolhidos, 384 sacerdotes diocesanos, 188 sacerdotes religiosos, 579 religiosos e 96 religiosas foram acusados de cometer abusos sexuais contra menores desde 1950.

Também foram realizadas denúncias contra aproximadamente 543 trabalhadores leigos da igreja e outras 72 pessoas cujo status religioso é “desconhecido”.

Entre os institutos religiosos, 40% dos membros dos Irmãos de São João de Deus na Austrália foram acusados de abuso sexual infantil. Assim como mais de 20% dos Irmãos Cristãos, Salesianos e Irmãos Maristas.

O Arcebispo emitiu a declaração enquanto a Comissão Real Oficial dos Abusos Sexuais de Menores começava a revisão final – de três semanas de duração – sobre como a Igreja Católica na Austrália havia respondido às acusações.

A comissão foi estabelecida em 2013 e investiga o controle das denúncias de abuso sexual infantil dos grupos religiosos, escolas, organizações governamentais e associações esportivas. 

Em seu comunicado, o Arcebispo Hart assinalou que durante a próxima audiência muitos bispos do país e líderes católicos darão seus testemunhos, explicando o que a Igreja fez até agora para mudar a “antiga cultura” que permitiu que o abuso continuasse durante tanto tempo, assim como o que está sendo feito atualmente para proteger as crianças. 

Referindo-se novamente a uma declaração realizada pelo Papa Francisco, o Arcebispo exortou toda a Igreja a “encontrar a coragem necessária para tomar todas as medidas a fim de proteger de todas as maneiras a vida dos nossos filhos, para que tais crimes nunca se repitam”.

Em uma mensagem semelhante, o Arcebispo de Sydney, Dom Anthony Fisher, disse que pessoalmente se sente “estremecido e humilhado” pelo que a Comissão Real descobriu.

“A Igreja lamenta e eu lamentos pelos fracassos anteriores que causaram danos a muitas pessoas. Sei que muitos dos nossos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos sentem a mesma coisa: como católicos, abaixamos as nossas cabeças com vergonha”, disse.

Dom Fisher afirmou que até agora os resultados foram “devastadores” e explicou que a comissão ouviu os “casos angustiantes e vergonhosos” de abusos sexuais relatados pelos “valentes sobreviventes” dos anos cinquenta.

Em março de 2015, o Prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé e ex-Arcebispo de Sydney, Cardeal George Pell, testemunhou ante a comissão, pela terceira vez, depois que as acusações ressurgiram em 2014. Eles diziam que o Purpurado havia transferido o pedófilo Pe. Gerald Ridsdale, subornando uma vítima e não agindo ante as reclamações de outra.

Apesar de ter declarado duas vezes ante a comissão pelas mesmas acusações e não ter sido declarado culpado, o Cardeal Pell ofereceu de maneira voluntária depor novamente.

No dia 7 de fevereiro, a Comissão Real retomou a audiência pública sobre as políticas e procedimentos atuais que a Igreja na Austrália providenciou a respeito das regras de proteção e segurança infantil, incluindo como responder a denúncias de abuso sexual.

“Reconhecemos a nossa responsabilidade de garantir que todas as medidas estejam em seu lugar a fim de evitar que isso aconteça novamente. Também reconhecemos que há vítimas de maus-tratos que ainda não se apresentaram e talvez nunca se apresentem”, disse Dom Fisher, assinalando que até então foram apresentadas reclamações contra 7% dos sacerdotes que trabalham nas três dioceses de Sydney desde 1950.

Entretanto, “enfrentando como deve ser, continuo determinado a fazer tudo o que for possível para ajudar aqueles que foram prejudicados pela Igreja e trabalhar para uma cultura mais transparente, responsável e segura para todas as crianças”.

Finalmente, Dom Fisher solicitou que qualquer pessoa que tenha sido abusada entre em contato com a polícia e pediu orações “para que todos os envolvidos nesta audiência tenham sabedoria e compaixão”.

“Acima de tudo, rezem pelos sobreviventes e pelas suas famílias neste momento tão difícil”, concluiu.
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ACI Digital

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