sábado, 21 de janeiro de 2017

Newman e a consciência


Caro Amigo, causou-me grande incômodo a inaceitável atitude de um “teólogo” que, em determinada conferência, invocou o grande Cardeal Newman e sua defesa da consciência para instigar padres a se colocarem acima do magistério moral e do direito da Igreja. Trata-se de uma impostura e de uma imoralidade sem tamanho!

Penso que o "teólogo" tenha citado a famosa frase do Cardeal inglês: "Brindo ao Papa, mas brindo antes à minha consciência!" Citou e deturpo-lhe miseravelmente o sentido, ou melhor, o inverteu!

Newman foi o grande campeão da consciência, mas esta para ele, tem uma âncora objetiva: a busca persistente, madura e responsável pela verdade! Consciência, para Newman, nada tem a ver com subjetivismo, indisciplina e falta de responsabilidade! Para Newman, precisamente porque a consciência pode encontrar a verdade, uma vez encontrando-a, tem a obrigação de segui-la: exatamente porque, seguindo sua consciência, tornou-se católico, ele afirmava seu dever de obedecer ao Papa! Este é o sentido da frase - o contrário do que o "teólogo" quis insinuar!

Abaixo apresento-lhe uns trechinhos de uma conferência do Cardeal Ratzinger sobre a consciência em Newman. As palavras entre aspas são do próprio Newman…

Newman, enquanto homem da consciência, tornou-se um convertido. Foi a sua consciência que o conduziu dos antigos laços e das antigas certezas para o interior do mundo para ele difícil e entranho do catolicismo.

Todavia, exatamente este caminho da consciência é algo totalmente diferente de um caminho de subjetividade que se afirma a si própria: é, ao contrário, um caminho de obediência à verdade objetiva.

O segundo passo do caminho de conversão, que durou toda a vida de Newman foi, com efeito, a superação da posição do subjetivismo evangélico (protestante) em favor de uma concepção do cristianismo fundada sobre a objetividade do dogma. 

O verdadeiro cristianismo se demonstra na obediência, e não em um estado de consciência! “Assim, todo o trabalho de um cristão se organiza ao redor destes dois elementos: a fé e a obediência: ele ‘olha Jesus’ (Hb 2,9)… e age segundo a Sua vontade. Parece-me que hoje corremos o risco de não dar importância que deveríamos e nenhum desses dois elementos. Consideramos qualquer verdadeira e cuidadosa reflexão sobre o conteúdo da fé como ortodoxia estéril, como tolice acadêmica. Consequentemente, fazemos consistir o critério da nossa piedade em possuir um assim chamado ânimo espiritual”.

A este respeito, tornaram-se para mim importantes algumas frases do livro “Os Arianos do Século IV” que à primeira vista me pareceram surpreendentes: o princípio posto pela Escritura como fundamento da paz é “reconhecer que a verdade enquanto tal deve guiar tanto a conduta política quanto a privada… e que o zelo, na escala das graças cristãs, tinha prioridade sobre a benevolência”. Para mim, é sempre novamente fascinante perceber e refletir como exatamente assim e somente assim, através da ligação com a verdade, com Deus, que a consciência recebe valor, dignidade e força.


Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares, PE

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