segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Deus amou­-nos primeiro


Vós sois verdadeiramente o único Senhor; o domínio que exerceis sobre nós constitui a nossa salvação; e o serviço que Vos prestamos outra coisa não é que ser salvos por Vós.

De Vós, Senhor, vem a salvação e a bênção sobre o vosso povo; mas que é a vossa salvação senão a graça que nos concedeis, de Vos amarmos e de sermos amados por Vós?

Por isso quisestes que o Filho que está à vossa direita, o homem que confirmastes para Vós, fosse chamado Jesus, isto é, Salvador, porque Ele salvará o povo dos seus pecados, e em nenhum outro podemos ser salvos. Ele nos ensinou a amá-l’O, amando-nos primeiro até à morte de cruz; suscitou em nós o amor para com Ele, amando-nos primeiro até ao fim.

Assim é, com efeito. Amastes-nos primeiro para que nós Vos pudéssemos amar, não por precisardes do nosso amor, mas porque não poderíamos alcançar o fim para que fomos criados, se não Vos amássemos.

Por isso, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos Profetas, nestes últimos dias falas­ tes­nos por meio do Filho, o vosso Verbo, que criou os céus e com o sopro da sua boca os adornou.

Para Vós, falar por meio de vosso Filho outra coisa não foi que pôr à luz do sol, isto é, manifestar claramente quanto e como nos amastes, Vós que não poupastes o próprio Filho, mas O entregastes por todos nós; e Ele também nos amou e Se entregou por nós.

Esta é a Palavra que nos enviastes, Senhor, o Verbo todo-poderoso, que no meio do silêncio profundo que envolvia todaa terra, quer dizer, quando estava submersa no abismo do erro, desceu do seu trono real, para combater energicamente todos os erros e fazer triunfar suavemente o amor.

E tudo o que fez, tudo o que disse sobre a terra, tudo o que sofreu — os opróbrios, as cuspidelas e as bofetadas, a cruz e o sepulcro — foi o modo de nos falardes por meio do vosso Filho, para suscitar o nosso amor por Vós, atraindo-nos com o vosso amor.

Deus, Criador dos homens, Vós sabíeis que este amor não pode ser imposto, mas que é necessário estimulá-lo no coração humano. Porque onde há coacção não há liberdade, e onde não há liberdade não há justiça.

Por isso quisestes que Vos amássemos, já que não podíamos ser salvos pela justiça, mas apenas pelo amor que Vos consagrássemos; nem Vos poderíamos amar sem que o nosso amor procedesse de Vós. E assim, como diz o discípulo amado e nós também já recordámos, Vós nos amastes primeiro e Vos ante- cipais no amor a todos os que Vos amam.

Também nós Vos amamos com os sentimentos do amor que derramastes em nossos corações. Mas o vosso amor é a vossa própria bondade, ó sumo bem e bem sumo; é o Espírito Santo que procede do Pai e do Filho e que no princípio da criação pairava sobre as águas, quer dizer, sobre as mentes flutuantes dos homens, oferecendo-Se a todos e atraindo tudo a Si, inspirando e promovendo, afastando o pernicioso e favorecendo o benéfico, unindo Deus a nós e nós a Deus.


Do Tratado de Guilherme, abade do mosteiro de Saint-Thierry, 
sobre a contemplação de Deus (Nn. 9-11: SC 61, 90-96) (sec. XII)

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