quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O Papa Francisco quer ordenar diaconisas?


No último dia 12 de maio, quinta-feira, o Papa Francisco teve uma Audiência com superioras religiosas no Vaticano. Na ocasião, o Santo Padre afirmou que o papel das mulheres diaconisas, na Igreja antiga, não é muito claro ainda hoje, daí existir a possibilidade de ser criada uma Comissão para estudar a questão. Ora, como essa afirmação do Pontífice causou grande repercussão, vamos tecer breves comentários sobre o assunto.

Por ora, digamos, essencialmente, que as chamadas diaconisas não recebiam o Sacramento da Ordem, em seu primeiro grau, “pois nunca na Liturgia e no Direito antigos a diaconisa foi equiparada ao diácono; ao contrário sempre lhe foram vedadas as funções do diácono e do presbítero, apesar das investidas para exercê-las”, segundo D. Estêvão Bettencourt († 2008), OSB, teólogo da Arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ), na revista Pergunte e Responderemos n. 500, fevereiro de 2004, p. 78.

Na mesma publicação, o estudioso beneditino cita Santo Epifânio († 403): “Se no Novo Testamento as mulheres fossem chamadas a exercer o sacerdócio ou algum outro ministério canônico, a Maria deveria ter sido confiado, em primeiro lugar, o ministério sacerdotal; Deus, porém, dispôs as coisas diversamente; não lhe conferiu nem mesmo a faculdade de batizar. Quanto à categoria das diaconisas, existente na Igreja, não foi destinada a cumprir funções sacerdotais ou outras similares. As diaconisas são chamadas a salvaguardar a decência que se impõe no tocante ao sexo feminino, seja cooperando na administração do sacramento do Batismo, seja examinando as mulheres afetadas por alguma enfermidade ou vítimas de violência, seja intervindo todas as vezes que se trate de descobrir o corpo de outras mulheres a fim de que o desnudamento não seja exposto aos olhares dos homens que executam as santas cerimônias, mas seja considerado unicamente pelo olhar das diaconisas” (Panarion LXXIX 3).

“Como se vê, S. Epifânio, representando a tradição, vê nas diaconisas auxiliares no trato pastoral das mulheres. Tal ministério fica, portanto, claramente distinto do ministério dos diáconos” (p. 79), complementa Dom Estêvão.

Confirma o dado acima Bernardo Bartmann, renomado teólogo alemão, ao escrever que “as diaconisas da Antiga Igreja ocupavam-se da instrução das mulheres, vigiavam a porta das mulheres, durante a liturgia, e dedicavam-se às obras de caridade (Const. Apost. 8,28)”, enquanto “os graus mais altos eram ocupados pelos homens”, segundo Achelis, autor protestante do século XX, citado por Bartmann (cf. Teologia Dogmática. São Paulo: Paulinas, 1962, p. 377-378, vol. III).

Diante desses dados, pergunta-se: o Papa Francisco tem, hoje, interesse na ordenação feminina? Qual a justificativa da resposta? – O Papa não tem (nem poderia ter) interesse na ordenação feminina, pois este é um assunto fechado na Igreja que, em consonância com a Escritura e a Tradição, definiu não se tratar de querer ou não querer ordenar mulheres, mas de não poder fazê-lo, uma vez que o próprio Cristo, Nosso Senhor, não o fez (cf. João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis, 22/05/1994, n. 4).

O Pe. Federico Lombardi, SJ, por sua vez, assegurou, a propósito da fala do Santo Padre, o seguinte: “o Papa disse que está pensando constituir uma Comissão que retome essas questões [das diaconisas – nota nossa] para vê-las com maior clareza. Mas é preciso ser honestos: o Papa não disse ter intenção de introduzir uma ordenação diaconal das mulheres, e muito menos falou em ordenação sacerdotal das mulheres. Aliás, falando sobre a pregação durante a celebração eucarística fez entender que não pensa absolutamente nisso. Em todo caso, é errôneo reduzir todas as muitas coisas importantes que o Papa disse às religiosas a essa única questão.”

De resto, insiste a Igreja, com razão, que a santidade não está na função ocupada por alguém, mas, sim, na resposta generosa à vontade de Deus em sua vida.



Vanderlei de Lima,
filósofo e escritor.
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CNBB Leste 1

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