domingo, 19 de junho de 2016

Ser católico é amar o Papa


Quem já me conhece (ainda que pelo blog ou virtualmente), sabe que nem sempre fui católico, que tive meus problemas com a religião, com o Papa e etc. Sabe também que isso mudou a partir de um momento muito especial em minha vida, quando tive uma experiência pessoal com Cristo, e a partir daí busquei cada vez mais me aprofundar sobre a Igreja Católica e como ser um bom católico. Em verdade este aprofundamento é bom, como já defendi várias vezes antes, mas tenho visto várias situações entre os católicos que me assustam.

Este aprofundamento na fé e na Igreja eu defendo e incentivo já faz algum tempo, e realmente acho necessário para evitar que qualquer pessoa assuma a religião católica de forma superficial, mas tenho visto pessoas que decidiram estudar, e estudar, e se aprofundar, e se tornaram pessoas chatas, transmitindo aos outros um Deus de citações filosóficas e teológicas, ou ainda, tornaram-se como animais irados que urram e cospem (impondo) seus pensamentos aos demais.

Devo deixar claro que não sou versado em teologia, filosofia, não li a Suma Teológica de São Tomás de Aquino, não conheço de cor e salteado os pensamentos dos santos, Papas e documentos da Igreja, mas o pouco que aprendi me fez amar a Deus, a Igreja e ao Papa.

Pelo que vejo muitos fazem questão de ler, decorar e usar o que encontraram para fundamentar o que defendem. Não estão tentando um aprofundamento na fé, mas sim fundamento para atacar "seus inimigos", e hoje o principal tem sido o Papa Francisco.

Pois é, por mais estranho que possa parecer para muita gente, existe um número considerável de católicos que atacam diariamente o Papa Francisco, sendo que alguns já disseram que querem que ele morra logo. Vejam, estamos falando de pessoas que batem no peito e gritam toda a sua "catolicidade" ao mundo, colocam-se como piedosas quando falam de experiência litúrgica e mística, mas já na frase seguinte (que pode ser em um post do facebook) fazem duras críticas ao Santo Padre, chamando-o de hegere, apóstata, etc., e desejando a sua morte.

Gosto muito de umas palavras de São Pio X (Alocução aos Padres da Confraria "A União Apostólica" de 18 novembro 1912), acerca de como se amar o Papa:
  
São Pio X
(...) É por isso que, quando se ama ao Papa, não se fica a discutir sobre o que ele manda ou exige, a procurar até onde vai o dever rigoroso da obediência, e a marcar o limite desta obrigação. Quando se ama o Papa, não se objeta que ele não falou muito claramente, como se ele estivesse obrigado a repetir diretamente no ouvido de cada um sua vontade e de exprimi-la não somente de viva voz, mas cada vez por cartas e outros documentos públicos. Não se põe em dúvida suas ordens, sob fácil pretexto, para quem não quer obedecer, de que elas não dimanam diretamente dele, mas dos que o rodeiam! Não se limita o campo onde ele pode e deve exercer sua autoridade; não se opõe à autoridade do Papa a de outras pessoas, por muito doutas que elas sejam, que diferem da opinião com o Papa. Por outro parte, seja qual for sua ciência, falta-lhes santidade, pois não poderia haver santidade onde há dissentimento com o Papa. (...) 

Recentemente um rapaz me disse que estas palavras foram direcionadas apenas aos padres da Confraria "A União Apostólica", e portanto ele não estaria sujeito a este pensamento. Esta ideia, para mim, é extremamente temerosa, pois eu não acredito que a "regra de como amar o Papa" varie de acordo com cada indivíduo. Tenho plena certeza de esta resposta me foi dada na intenção dele dizer que é livre para falar o que quiser do Santo Padre, apenas porque não gosta do Papa Francisco.

Chegamos ao ponto de escolher o que nos interessa dentro do Magistério da Igreja, para "termos autorização" de atacar o Papa. São pessoas que agem da mesma forma como dizem que os advogados agem (eu sou advogado e não concordo com essa ideia, mas a comparação será útil), procurando "lacunas ou interpretações" no Magistério para se dar autorização de fazer ou dizer algo. Isso, em meu conceito, é má-fé religiosa.

O desejo de ir contra o Papa Francisco é tão grande, que qualquer coisa que ele diga ou faça será alvo de ataques. Dou um exemplo prático. No facebook eu fiz o seguinte comentário:


Vejam a resposta que me deram:


Ou seja, o Papa Francisco estava sendo criticado por uma EVENTUAL (ainda que improvável) possibilidade, e a pessoa se achava em pleno direito de ficar reclamando disso. Se eu pudesse criar um nome para isso, eu diria que é "Síndrome de Peru Eventual", pois além de morrer na véspera (assim como se matam os perus na véspera do Natal para ser assado), sofre por algo que não existe nenhum indício de que aconteça. Tudo isso apenas porque o Papa fez alguma coisa.

Este tipo de coisa está cada vez mais constante, e quem faz isso são pessoas que se acham os mais inteligentes e justos no catolicismo, são aqueles que não erram nunca, estão sempre certos em suas interpretações do Magistério, ainda que muitos destes não passem de papagaios de pirata, que ficam apenas repetindo o que outros lhe disseram.

Há pouco tempo tive a "experiência" de ser chamado de herege modernista e de ter preguiça intelectual, apenas porque disse que cansei de gente se dizendo fiel à Igreja e que fica metendo o pau no Papa e defendendo que o Concílio Vaticano II é a praga na Igreja. Sinceramente, prefiro ficar na minha preguiça intelectual do que ficar aguentando gente chata que se acha a última coca-cola gelada católica super teológica e filosófica da face da Terra.


Destes que se acham os santos de Deus, que se dizem católicos seguidores da Igreja e do Papa, se espera uma postura como a de Cristo, que acolheu e ensinou, e no máximo lamentou por aqueles que decidiram não o seguir. Mas preferem criar o cisma dentro da Igreja e agem como aquele que prefere a divisão, o demônio.

Concordo que o Papa Francisco não pode ser comparado ao Papa Bento XVI em termos de teologia (se bem que para mim qualquer comparação entre os papas é completamente errada), mas ele não é bobo, ele sabe o que fala e diz de uma forma diferente e muito direta, sem florear. Isso causa espanto, é claro, mas antes de saírem apedrejando deveriam parar e ler com calma. Infelizmente muitos de nós estamos acostumados e gostamos da parte legal, e ela é importante, mas ao nos grudarmos nela, esquecemos muitas vezes o essencial.

E o amor de Deus? Sua misericórdia? Seu poder transformador? Eu sou um caso que estou na Igreja por causa disso, porque foi isso que me fez mudar de vida. Sim, o resto é importante e necessário, mas não é o essencial. A luta contra o aborto, a defesa da família, tudo isso (e muito mais) deve ser fruto de nossa batalha, do bom combate, mas antes disso tem este Deus maravilhoso, suas graças, seu amor, sua misericórdia, seu poder. Não me esqueço do Deus que é juiz, mas antes Ele é amor.

Também me assusto com o que o Papa Francisco diz, mas toda vez penso: mais Jean Valjean e menos Javert. Mais misericórdia e menos legalismo. Tento antes entender as palavras, digerir, e a partir daí me posicionar. O problema é que muitos ainda não aceitaram esse Papa e vão ser contra qualquer coisa que ele diga.

Sei que tem gente que logo vai dizer que isso é relativizar a fé, isso é ser "cheerleader" do Papa, etc., mas isso é ser fiel à Igreja e ao Papa. No Catecismo de São Pio X encontramos que:

(...) o Papa é infalível só quando, na sua qualidade de Pastor e Mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina relativa à fé e aos costumes, que deve ser seguida por toda a Igreja (...) (n. 198). Porém, mesmo quando não emite um parecer definitivo sobre as coisas da fé: (...) todo o católico deve reconhecer o Papa como Pai, Pastor e Mestre universal, e estar unido a ele de espírito e coração (...) (n. 203)

Estes amargurados podem dizer o que quiser, mas eu vou me manter com a Igreja e o Papa, seja ele Francisco, Bento XVI, Pio X, João Paulo II, João XXIII ou Paulo VI. Quem fica a escolher qual Papa vai amar, obedecer e seguir, não passa de um católico de ocasião que escolhe na Igreja o que mais lhe for interessante, assim como faz no mercado.

Não vou ter faniquitos a cada entrevista dada pelo Papa, não vou sair urrando contra o Santo Padre baseado em notícias ou manchetes dadas pela mídia (que de forma geral distorce as palavras do Papa ao que lhe interessa), não vou arrancar os cabelos a cada homilia feita. Vou antes silenciar, ouvir, ler e digerir, e depois posso até me manifestar. Isso é postura de quem ama o Papa.


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BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Ser católico e amar o Papa, publicado em 09/10/13 no blog “André Brandalise”.

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