terça-feira, 7 de junho de 2016

Homilética: 11º Domingo Comum - Ano C: "O perdão dos pecados: vida nova".



Puxa vida! Como essa mulher chorava! “As suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume” (Lc 7,38). Isso sim que é arrependimento. Jesus disse que os “seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor” (Lc 7,47). A esse tipo de arrependimento a Igreja chama contrição porque está movido pelo amor, diferente da atrição, arrependimento movido pelo temor. A contrição limpa totalmente a alma, purifica-a e faz com que fluam os propósitos de uma vida nova.

Geralmente, os convertidos mostram ser pessoas fervorosas. Às vezes são pessoas que conheceram os abismos do pecado e do demônio, que desceram até aos abismos da morte espiritual e, por tanto, ao serem libertadas do diabo e do pecado, sabem valorizar a graça de Deus que lhes alcançou: ser cristão, ser católico; poder confessar-se com freqüência; participar do Sacrifício de Cristo Salvador em cada Santa Missa; conversar com Deus na oração; viver uma vida limpa, honesta, livre das cadeias do mal e do pecado.

A contrição que os conversos manifestam me ajuda a pensar na sinceridade do meu amor para com Deus. Eu acho que nós católicos “de sempre” deveríamos aprender algo do fervor dos conversos. Sem dúvida, quando a vida de fé vai madurando se vê mais e melhor; não obstante, nunca podemos afastar-nos do nosso primeiro amor, dessa visão das coisas que nos foi concedida e que mudou o rumo da nossa vida. Não nos esqueçamos daquelas palavras do Espírito Santo: “trabalhai na vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2,12).

Aquela mulher percebeu algo do amor de Deus para com ela, viu também que tinha ofendido a esse Deus tão bom e amável e, diante dessa evidência, não pode fazer outra coisa que derramar abundantes lágrimas. O ato de contrição nos leva a perceber que “Deus é amor” (1 Jo 4,8.16) e que nós ofendemos a alguém que só quer o nosso bem e a nossa felicidade; em segundo lugar, que não podemos fazer nada a não ser pedir perdão, chorar e implorar misericórdia no sacramento da confissão.

Peçamos a Deus que nos livre da atitude do fariseu que, além de ter sido pouco educado– não ofereceu água a Jesus para lavar os pés, não lhe deu o ósculo, não ungiu a cabeça de Cristo –, começou a julgar aquela pobre mulher. Infelizmente, às vezes, em lugar de alegrarmo-nos por um irmão que se converte, começamos a julgá-lo; essa atitude não é cristã. Precisamos ser mais acolhedores e alegrar-nos mais com os outros, celebrar festivamente o fato de que uma pessoa se aproxima do Senhor. Ele é o nosso Deus e quer sempre o nosso bem.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS


Leituras: 2Sm 12,7-10.13; Gl 2,16.19-21; Lc 7,36 – 8,3


O evangelho do XI Domingo (Lc. 7, 36-8, 3) apresenta Jesus que foi convidado para almoçar na casa de Simão.

Quando estavam à mesa, entra uma mulher e vai diretamente a Cristo. Era uma mulher pecadora que havia na cidade. Tudo indica que ela já conhecia o Senhor, provavelmente ficara impressionada em alguma outra ocasião com as suas palavras ou com algum gesto da sua misericórdia. Hoje, grande dia, decide-se a ter um encontro pessoal com Ele. São visíveis os sinais de arrependimento e contrição: levou um vaso de alabastro de perfume, pôs-se atrás de Jesus, junto aos seus pés, chorando, e começou a banhá-los com lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, e os beijava e os ungia com o perfume. Sabemos o que se passava no seu íntimo pelas palavras que o Senhor disse: Amou muito! Mostrou que professava por Jesus uma veneração sem limites. Esqueceu-se dos outros e de si mesma; só Cristo é que lhe importava.

A fé e a humildade salvaram aquela mulher! Diz São Gregório Magno que “aquela mulher nos representou a todos os que, depois de termos pecado, nos voltamos de todo o coração para o Senhor e a imitamos no pranto da penitência”. A contrição faz com que nos esqueçamos de nós mesmos e nos aproximemos novamente de Deus; e é também demonstração de um amor profundo, que atrai a misericórdia divina sobre as nossas vidas. Os nossos piores defeitos e faltas, ainda que sejam muitos e freqüentes, não nos devem desanimar enquanto formos humildes e quisermos voltar arrependidos.

Que Deus nos faça cada vez mais ambiciosos por sermos santos, que nunca desanimemos na luta pela santidade, por alcançar o Amor de Deus. Ensinava São Josemaria Escrivá: “Neste torneio de amor, não nos devem entristecer as nossas quedas, nem mesmo as quedas graves, se recorremos a Deus com dor e bom propósito, mediante o Sacramento da Penitência (Confissão). Jesus Cristo não só se comove com a inocência e a fidelidade de João, como se enternece com o arrependimento de Pedro depois da queda. Jesus compreende a nossa debilidade e atrai-nos a si como que por um plano inclinado, desejando que saibamos insistir no esforço de subir um pouco, dia após dia. Procura-nos como procurou os discípulos de Emaús, indo ao seu encontro; como procurou Tomé e lhe mostrou as chagas abertas nas mãos e no lado, fazendo com que as tocasse com os seus dedos. Jesus Cristo está sempre à espera de que voltemos para Ele, precisamente porque conhece a nossa fraqueza” (É Cristo que passa, nº. 75).

Simão foi deselegante com Jesus! Não foi hospitaleiro. Não lhe ofereceu água para lavar os pés; não lhe deu o ósculo da paz; não lhe ungiu a cabeça com perfume. A mulher, no entanto, fez muito mais: lavou-lhe os pés, enxugou-os com os seus cabelos e não parava de beijá-los.

Simão não se deu conta das suas faltas, como também não é consciente de que, senão cometeu mais pecados e mais graves, foi pela misericórdia divina, que o preservou do mal. Comenta Santo Agostinho: “Ama pouco aquele que é perdoado em pouco. Tu, que dizes não ter cometido muitos pecados, por que não os cometeste? Sem dúvida porque Deus te conduziu pela mão. Não há nenhum pecado cometido por um homem que não possa ser cometido para outro, se Deus, que fez o homem, não o sustenta com a sua mão”.

Não podemos esquecer a realidade das nossas faltas, nem atribuí-las ao ambiente, às circunstâncias que nos rodeiam, ou admiti-las como algo inevitável, desculpando-nos e fugindo da responsabilidade. Se assim comportássemos, fecharíamos as portas ao perdão e ao reencontro verdadeiro com Deus, tal como aconteceu com o fariseu. Diz São João Crisóstomo: “Mais que o próprio pecado, o que irrita e ofende a Deus é que os pecadores não sintam dor alguma dos seus pecados”. E não pode haver dor se nos desculpamos das nossas fraquezas. Pelo contrário, façamos um sincero e profundo exame de consciência, sem nos limitarmos a aceitar genericamente que somos pecadores. “Não podemos ficar na superfície do mal; é preciso chegar à sua raiz, às causas, à verdade mais profunda da consciência” (Cardeal Wojtyla). Jesus conhece bem o nosso coração e deseja limpá-lo e purificá-lo.

Peçamos ao Senhor a graça da virtude da sinceridade! A sinceridade é salvadora! A verdade vos fará livres, disse Jesus. O engano, a simulação e a mentira, pelo contrário, levam à separação do Senhor e à esterilidade nos frutos da caridade.

A raiz da falta de sinceridade é a soberba. Esta impede o homem de submeter-se a Deus, de saber o que Ele lhe pede, e torna-lhe ainda mais difícil reconhecer que atuou mal e retificar. Chega-se à cegueira espiritual. Necessitamos de uma atitude humilde, como a da mulher pecadora, para crescermos no conhecimento próprio com a sinceridade e assim confessarmos os nossos pecados.

A humildade permite-nos ver a grande dívida que temos com o Senhor e sentir a radicalidade da nossa insuficiência pessoal, levando-nos a pedir perdão a Deus muitas vezes ao dia pelas coisas que não vão bem na nossa vida. Se formos sinceros conosco próprios não seremos juízes dos defeitos daqueles com quem convivemos!

A caridade e a humildade ensinam-nos a ver nas faltas e pecados dos outros a nossa própria condição fraca e desvalida, e ajudam-nos a unir-nos de coração à dor de todo o pecador que se arrepende, porque também nós cairíamos em faltas iguais ou piores se a misericórdia de Deus não nos sustentasse.

Peçamos à Virgem Maria que alcance de Deus, para nós, as virtudes da humildade e da sinceridade!

PARA REFLETIR

Convém iniciar a meditação sobre a Palavra do Senhor deste Domingo recordando a primeira e principal das Bem-aventuranças; aquela que resume todas as demais: “Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3).

O Evangelho de hoje afirma que “Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa-nova do Reino de Deus”. Que Boa-nova é esta, que Jesus pregava? Que nele, Deus se revelava como Pai cheio de amor e misericórdia, que se volta para o homem, inclina-se em direção a ele, para acolhê-lo, perdoá-lo, e caminhar com ele. Este anúncio requer uma decisão nossa: a conversão, isto é, um coração aberto à Boa-nova de Jesus; um coração capaz de acolher a presença salvífica de Deus e, cheio do amor do Senhor, abrir-se também para os outros, sobretudo para os pobres sejam de que pobrezas forem. E por que Jesus afirma que é dos pobres o Reino dos Céus? Esta pergunta é a chave para compreender as leituras de hoje. Vejamos.

Quem é o pobre na Bíblia? De que pobre Jesus está falando? Pobre é todo aquele que se encontra numa situação extrema, situação de fraqueza e impotência; pobre é todo aquele que se encontra numa situação limite na vida. O gravemente doente é um pobre, o que não tem casa e comida é um pobre, o discriminado e perseguido é um pobre, o que se sente só e sem amor é um pobre, o aidético, o que foi derrotado, o que foi incompreendido, o que foi pisado pelo peso da existência… Notemos que a pobreza em si não é um bem. E por que Jesus proclama os pobres bem-aventurados, dizendo ser deles o Reino dos Céus? Porque o pobre, na sua pobreza, toca o que a vida humana é realmente: precária, débil, incerta, dependente de Deus. Normalmente, nossa tendência é esquecer essa realidade, procurando mil muletas, mil apoios, mil ilusões: bens materiais, saúde, prestígio, amigos, ninho afetivo, poder… e julgamo-nos auto-suficientes, senhores de nós mesmos, perdendo a atitude de criança simples e confiante diante de Deus. Assim, auto-suficiente, ricos para nós mesmos, não nos achamos necessitados de um Salvador, fechamo-nos para o Reino que Jesus veio anunciar. Só o pobre pode, com toda verdade, tocar a debilidade da vida com toda crueza e verdade e, assim, os pobres têm muito mais possibilidades de abrir-se para o Reino.

As leituras deste Domingo ilustram-nos esta realidade. Primeiro, a pobreza de Davi que, apesar de forte militarmente e rei de Israel, não hesita em reconhecer seu pecado com toda humildade diante do profeta do Senhor: “Pequei contra o Senhor” – diz o rei. Davi não usa máscara, não procura justificar-se com desculpas esfarrapadas. Reconhece-se pequeno, frágil, limitado… humilha-se ante o Senhor. A resposta do Senhor é imediata: “De sua parte, o Senhor perdoou o teu pecado, de modo que não morrerás”. Depois, as duas figuras contrapostas do Evangelho: de um lado Simão, cheio de si, de sua própria justiça, seguro de si próprio, julgando-se em dia com Deus e com seus preceitos e, por isso mesmo, fechado para a misericórdia e a delicadeza para com os outros. Jesus o desmascara: “Quando entrei na tua casa, tu não me ofereceste água para lavar os pés… Tu não me deste o beijo de saudação… Tu não derramaste óleo na minha cabeça”. Simão, cheio de si, nunca pensou de verdade que precisasse de um Salvador e, por isso, não foi aberto para Jesus e para o Reino. Recebeu Jesus exteriormente, mas não aderiu a ele interiormente, de todo coração! Por outro lado, a mulher pecadora, adúltera pública, derrama as lágrimas e o coração aos pés de Jesus, com toda simplicidade, com toda sinceridade, do fundo de sua miséria… Reconhece-se pecadora, quebrada, infiel; sem máscara nenhuma, mostra-se ao Senhor e suplica sua misericórdia. Por isso, pode ouvir: “Teus pecados estão perdoados. Vai e paz!”

Somente quando experimentamos, de fato, esta pobreza, podemos verdadeiramente acolher Deus que nos vem em Jesus como Salvador. Caso contrário, diremos que cremos nele, mas somente creremos de fato em nós e em nossas mil riquezas econômicas, afetivas, sociais, psicológicas, espirituais… Assim, do alto da nossa auto-suficiência, tornamo-nos incapazes de acolher de verdade o Reino. Não é este o drama do mundo? Com nossa ciência, com nosso divertimento, com nossa liberação total, com nossos bens de consumo… quem precisa de um Salvador? Temos tudo, somos ricos, estamos bem assim e, sozinhos, nos bastamos!

Pois bem: faz parte do núcleo da convicção cristã que não nos bastamos, que somos pobres e, sozinhos, jamais nos realizaremos plenamente. É o que são Paulo exprime na segunda leitura da Missa: aos cristãos de origem judaica, ele recordava que a salvação não vem das obras da Lei de Moisés, de nossa própria bondade, mas unicamente da fé em Jesus, presente de Deus, misericórdia de Deus para nós. É esta, muitas vezes, a nossa dificuldade: compreender que somos todos pobres diante de Deus; precisamos dele, a ele devemos abrir nossa mente, nosso coração, nossa vida. Aí, sim, o Reino de Deus começará a acontecer e Deus em Cristo reinará de verdade na nossa vida e, através de nós, na vida do mundo.

Que nos perguntemos: sou pobre ou sou rico? Reconheço devedor e dependente de Deus, realmente? Tenho-o como meu Salvador e minha riqueza? Aposto nele a minha vida? Tenho consciência que a vida não é minha de modo absoluto, mas é um do qual deverei prestar contas ao doador? O Senhor nos ajude e ilumine nosso coração e nossa mente!

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