quinta-feira, 30 de junho de 2016

Deus castiga?


Muitos dizem que o Deus do Antigo Testamento foi sanguinário e irado. Atribuem a Deus uma espécie de esquizofrenia ao tentarem contrapor o Deus do Novo Testamento com o do Antigo. Como se houvesse uma alteração em Sua personalidade, de repente, o Deus sanguinário se tornou o Deus misericordioso. Não! Deus não muda. Ele é perfeito desde toda eternidade. É o mesmo Deus que se apresenta, ora com sua face irada e ciumenta, ora com sua face misericordiosa e salvífica. O que inicialmente pode parecer contraditório está em perfeita sintonia com toda a história da salvação. A verdade é que SIM, Deus castiga. E o faz, não porque seja um Deus mau, pelo contrário, é justamente por ser um Deus de amor que corrige os seus filhos. A questão a ser entendida é em que consiste a correção divina.

O grande doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, em sua famosa obra Suma Teológica, ao falar sobre a vingança explica o que significa o castigo divino. Para ele, a vingança tem uma conotação diversa daquela que é compreendida atualmente, enquanto, na linguagem moderna vingança representa um ato de fúria contra alguém que nos faça o mal, para Santo Tomás, adaptando para a nossa linguagem, trata-se de um castigo infligido para a conversão de um pecador.

Sabemos que Deus ama o homem e quer salvá-lo (conf. Jo 3,16), assim, como um pai amoroso, permite o sofrimento para que o filho se volte para Ele, pois nisto consiste a salvação. São inúmeros os casos de conversão ocorridas após um grande sofrimento, perda ou doença. É verdade também que Deus procura atrair o homem com vínculos humanos de amor, mas nem sempre funciona, nem sempre a linguagem do carinho é entendida e, nesses casos, é preciso que o reto caminho seja ensinado por meio da disciplina.

Santo Tomás afirma que Deus administra a questão do sofrimento da humanidade quase da mesma forma que o homem administra um sistema penal, ou seja, penalizando as pessoas primeiro para que se convertam e segundo para evitar dificuldades na sociedade. Para ele, o que justifica o castigo é a intenção.

"A vingança se consuma quando se inflige ao pecador um mal de pena. Por conseguinte, na vingança deve-se levar em conta o ânimo daquele que a exerce. Porque se a intenção dele recai principalmente sobre o mal daquele de quem se está vingando, e nisto se compraz, então isto é absolutamente ilícito, porque o fato de se comprazer com o mal de outrem é da ordem do ódio, que repugna à caridade, pela qual devemos amar todos os homens. E ninguém se desculpa alegando querer o mal daquele que injustamente lhe fez mal; da mesma forma que ninguém se desculpa de odiar aqueles que o odeiam." (Suma Teológica II-II, q. 108, a. 1). 

Portanto, é lícito castigar desde que a intenção seja para salvar o transgressor, para corrigir o transviado e converter o pecador, mas  nunca motivado pelo ódio irracional que deseja a destruição e a morte.

No caso das correções divinas, porque Deus é Sumo Bem, sabemos que tudo o que Ele faz concorre para o bem de seus filhos. É necessário enxergar nas desventuras da própria vida o cuidado e o amor de Deus, enxergar que a Sua misericórdia muitas vezes se manifesta em forma de correção. Isso ocorre por motivos simples, mas contundentes: Ele ama seus filhos e quer o bem e a salvação de todos.
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Cristo Nihil Praeponere

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