sábado, 5 de março de 2016

O pai misericordioso e seus dois filhos


Estimados Diocesanos! No texto do Evangelho narrado por São Lucas, capítulo 15, temos a parábola do pai e seus dois filhos, conhecida também como a história do filho pródigo. Geralmente, nos comovemos pela situação de abandono em que se encontra o filho mais novo, depois de ter desperdiçado a herança recebida do seu pai antes do tempo. Digo antes do tempo, porque era considerado um gesto indelicado por parte de um filho pedir ao pai parte da herança, enquanto ele ainda estava em vida. Mas diante do pedido do filho mais novo, o pai, silenciosamente, acolhe a sua solicitação, lhe dá parte da herança e vê o filho afastar-se da sua casa. Glória, decadência e miséria acompanharão a vida do filho mais novo. Ele percebe que o retorno à casa do pai é condição para recuperar a sua dignidade de vida. Ansiosamente, com evidente apreensão, o pai estava à sua espera. Quando ainda estava longe de casa, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. O coração do pai se alegra, propõe uma festa para celebrar o retorno do filho que tinha recebido a herança e partido sem dar notícias, “estava morto”, porque tinha renunciado à sua dignidade de filho.

A alegria que transbordava do coração do pai não contagiou o coração do filho mais velho. Não só, mas decide não entrar na casa do pai, mesmo quando este sai ao seu encontro e insiste para que entre e participe da festa. O filho mais velho se lamenta do comportamento misericordioso do pai e é indiferente à vida do seu irmão: “Quando chegou esse teu filho...” (Lc 15,30), fala como alguém que não reconhece o seu irmão. 

Queridos irmãos, o tempo da Quaresma nos convida a redescobrirmos a nossa dignidade de filhos recebida no batismo. É um tempo forte para nos aproximarmos do sacramento da reconciliação. É um tempo para percorrermos o caminho do exílio ao retorno para a casa do Pai, como fez o filho mais novo.

A confissão dos próprios pecados é a admissão humilde da própria miséria, acolhida e curada pela misericórdia de Deus. Entre miséria e misericórdia, aquilo que conta é a misericórdia. Deus nos pede para nos alegrarmos pela sua misericórdia oferecida a todos os seus filhos, e de acolher seu amor oferecido a cada um em Jesus Cristo.


Dom José Gislon

Bispo de Erexim (RS)

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