quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O propósito da abstinência e do jejum quaresmal


Há um propósito na mortificação, nas espirituais (orações impostas pelo confessor, esmolas, atos de piedade etc) e nas diversas modalidades corporais (entre as quais, além do cilício e das disciplinas, estão o jejum, a abstinência de carne e outras). Quem as pratica (e todos os católicos são obrigados a determinadas penitências, mínimas, como a abstinência de carne e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa) deseja alcançar certos fins: submeter o corpo à alma e a vontade à inteligência; abster-se de coisas lícitas (carne, por exemplo, ou, no caso do cilício, a ausência da dor) para melhor renunciar às ilícitas, i.e., pecaminosas; unir seus próprios sacrifícios pessoais ao Sacrifício de Cristo na Cruz; reparar as consequências dos pecados já perdoados (notem: não é para pagar o pecado, pois ele já foi limpo por Jesus na Cruz e tal perdão se torna presente quando o fiel recebe os sacramentos, sobretudo o Batismo e a Confissão); procurar a santificação não só da alma como do corpo, numa visão integral do ser humano; adquirir disciplina e constância, adestrando a vontade. A aceitação resignada das penas da vida, o cumprimento das penas dadas pelo confessor e a procura de penas livremente (jejuns, abstinências, cilícios, disciplinas) pelo fiel católico não têm absolutamente nada a ver com masoquismo ou desprezo pela matéria. Muito superficial seria tal leitura. 

Os mais custosos sacrifícios, aliás, são empreendidos pelos que querem a beleza exterior e a saúde do corpo. Quantas dietas radicais, quantas máquinas de musculação cujas dores, muitas vezes, são bem maiores do que a ocasionada pelo cilício (usado sempre com moderação e sob orientação de um diretor espiritual que pode proibir a mortificação, inclusive), e tudo em nome de coisas que passam. Não se pode almejar, por sacrifícios da mesma ordem e com semelhantes (ou menores) dores, a beleza interior e a saúde da alma?


Rafael Vitola Brodbeck
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Salvem a Liturgia!

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