sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O Papa Francisco e as críticas.


No saco de mendicante que eu trago a tiracolo e que, no caminho, muitas vezes me bate no coração, eu reúno coisas preciosas que guardo amorosamente, também para tirá-las para fora no tempo oportuno, mas também há outras que, depois de um atento discernimento, eu deixo cair no chão: não são dignas de serem conservadas.

Entre esses objetos, às vezes há pedras que alguns atiram para me atingir: algumas me alcançam e me ferem, outras passam ao lado. Mas todas caem no chão, e eu não as pego de volta para não ter a tentação de jogá-las novamente ao remetente. Nisso também me ajuda a velhice e o seu fato de conhecer o acúmulo de ações que não deixam vestígios.

Para ser sincero, eu não sou tentado nem mesmo a me defender: só se fossem calúnias pertinentes à fé ou à moral eu reagiria, para me interrogar e avaliar uma eventual defesa.

Pensando nisso, surge diante de mim a imagem do Papa Francisco, esse bispo de Roma que, inesperado pela maioria, fez com que se reacendesse novamente o fogo do Evangelho que não estava apagado, mas chocava debaixo das cinzas acumuladas nas últimas décadas, depois do arder da hora do Concílio. 

O Papa Francisco tem muitos inimigos ou, melhor, sabe que muitos se opõem a ele, não conseguem ter simpatia por ele, não estão dispostos a ouvi-lo: são estes que se sentem como seus inimigos, mesmo que ele, justamente em nome do Evangelho que ele quer viver a cada dia com radicalidade, se recuse a considerá-los como tais e a agir em consequência, segundo a estratégia humana exigida pela contraposição.

A única defesa que ele realiza é a denúncia das "fofocas" – eu as definiria como "murmurações" – que ele faz frequentemente, comentando o Evangelho na missa matinal em Santa Marta. Fofocas que não são críticas de rosto aberto, exercício de parrésia e franqueza, mas palavras lançadas como flechas no escuro, repetidas em conciliábulos, acusações em meia voz que até sugerem uma infidelidade sua à tradição da Igreja e à doutrina católica. 

Devemos reconhecer: também havia críticas contra João Paulo II e Bento XVI, mas para Francisco há também um sutil desprezo. Ele é julgado como "não teólogo", ele é lido com desconfiança. Acima de tudo, sente-se desconforto em relação aos seus gestos simples e espontâneos, humanos e tão pouco hieráticos para parecer populistas.

No entanto, Francisco vive como sempre viveu – ele mesmo confessa que se propôs a não mudar de vida ao se tornar papa – na simplicidade, deixando que a paixão do Evangelho o mova, sem prestar muita atenção a estilos consolidadas de poder e de corte.

Certamente, é um papa diferente no estilo daqueles que o precederam, mas essa é uma riqueza para a Igreja que é universal e não pode continuar se expressando apenas em atitudes muito ligadas à cultura europeia.

A operação de discernimento autêntico com a ajuda do Espírito Santo que deveria ser feita é, em vez disso, aquela sobre o elemento que mais propriamente lhe compete: confirmar os irmãos na fé, estar no meio deles como aquele que serve, pastorear os seus irmãos e as suas irmãs amando o Senhor mais do que todas as suas próprias coisas.

Eu sou um pouco mais jovem do que Francisco, e o que me impressiona nele todas as vezes que eu o encontro é a sua fé sólida como a rocha, a sua convicção apaixonada de crente a quem Deus renova a força e a juventude, a sua crença de que Jesus Cristo é o Evangelho e o Evangelho é Jesus Cristo.

E então, por que, a cada dia que passa, aumentam os seus opositores, que parecem ter a mesma perfil daqueles homens religiosos que Jesus repreendia: obcecados pela lei, sem misericórdia, homens da letra intencionados apenas a se defender, pessoas autorreferenciais que espiam o pecado nos outros e nunca o confessam como próprio?

Alguns destes, sempre na penumbra eclesial, chegam até a indicá-lo como culpado de heresia bondosa; outros dizem que ele está destruindo a Igreja e a imagem do papado; alguns chegam até a considerá-lo como papa ilegítimo...

Mas Francisco sabe que pode contar com a oração constante que sobe por ele da Igreja que precisa dele ser o rebanho do Senhor.



Enzo Bianchi,
prior e fundador da Comunidade de Bose
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Fonte: Revista Jesus - jan 2015.

Tradução: Moisés Sbardelotto.
Disponível em: IHU Unisinos / CEFEP

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