segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Ataques extremistas: o temor de um "11 de setembro europeu"


Mais do que ataques isolados, como o que teve por alvo uma delegacia de Paris nesta quinta-feira, o que serviços antiterroristas da Europa temem em 2016 são atentados extremistas múltiplos e coordenados em vários países do continente.

O episódio do 13 de novembro em Paris (130 mortos) demonstrou que várias equipes de homens-bomba decididos, equipados com kalachnikovs e explosivos artesanais, podem causar danos terríveis e traumatizar um país antes de serem neutralizados. Multiplicados em escala continental, o efeito seria ainda mais devastador.

“Acho que, lamentavelmente, em 2015 ainda não vimos o pior”, afirma à AFP, pedindo anonimato, um oficial da luta antiterrorista.

“Chegaremos a um tipo de 11 de setembro europeu: ataques simultâneos em vários países, vários lugares. Algo muito bem coordenado. Sabemos que os terroristas trabalham para isso”, afirma.

“Assistimos atualmente nas regiões controladas pelo Daesh (acrônimo árabe do grupo Estado Islâmico) ao recrutamento de grupos, de jovens europeus, e a seu treinamento, com o objetivo de enviá-los para atacar seus países de origem”, acrescenta.

“Eles têm os documentos falsos necessários, o domínio da língua, dos lugares, armas. Detivemos muitos, mas é preciso reconhecer que estamos acuados pelo número. Alguns passarão, alguns já passaram”, disse.

Os extremistas recém-detidos de volta das “terras da jihad” fazem aumentar a preocupação.

“Os perfis mudam. Vemos que regressam ultrarradicais, bem treinados. Alguns são impulsionados pelos bombardeios russos que, ante a menor suspeita de presença extremista em um povo, atacam todo o setor. Mas outros voltam para realizar missões na Europa”, afirma o oficial.

“Antes, voltavam principalmente pessoas que haviam se equivocado, que não haviam se dado conta do que é a guerra”. Agora são outros, com outros objetivos”. 

‘2015, validação operacional’

O projeto de execução de uma série de ataques coordenados na Europa não é novo. Já fracassou inúmeras vezes, uma delas ao final do mês de agosto de 2010, afirma Yves Trotignon, ex-analista dos serviços de inteligência franceses.

“Na época, ainda era a Al-Qaeda, mas a ideia foi retomada pelo EI”, estima.

“As equipes deveriam chegar da Europa Oriental, recuperar o material que haviam guardado antes, pistolas e fuzis de assalto. O plano foi desbaratado pelos americanos, que haviam realizado uma série de bombardeios preventivos com drones no Afeganistão e no Paquistão contra as pessoas que deviam montar a operação”, conta Trotignon.

“Esse tipo de ataques múltiplos constitui os piores cenários para 2016”, prossegue, afirmando que “nas capitais europeias, Londres em particular, os serviços especializados trabalham com essa hipótese”.

Policiais, militares, analistas e legisladores tentam permanentemente se adaptarem aos modos de operação dos extremistas, mas eles fazem o mesmo, e muitas vezes de maneira mais rápida e eficaz, consideraram os dois especialistas.

“Nós não somos os únicos a aprender com a experiência, o Estado Islâmico também o faz. Por exemplo, entenderam que não devem realizar chamadas, porque tudo é escutado. Cada ataque, inclusive fracassado, é aproveitado”, disse o oficial.

Yves Trotignon também pensa assim. Os extremistas “aproveitam as investigações da imprensa, leem tudo o que é escrito sobre o tema. Viram que foram necessárias duas horas e meia para o atentado ao Bataclan”, a casa de espetáculos em Paris. “Viram que seus explosivos não são bons, que é preciso mudá-los, que seu pessoal deixou muitas pistas. Aprendem rápido”, explica.

“O dia 13 de novembro mostrou o que podem fazer homem que não têm um alto nível operacional. E, se o nível dos agressores aumenta, temos um problema. Há um pessimismo horrível em todos os profissionais sobre 2016. Talvez dentro de um ano 2015 será visto somente como um ensaio, uma espécie de validação operacional”, conclui.
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Aleteia

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