sábado, 31 de dezembro de 2016

E dois mil e dezessete?


Começamos um novo ano, certamente não diferente de 2016. As perspectivas estão muito nebulosas, confusas e com poucas esperanças. O terrorismo, a ganância e o individualismo se alastram de maneira muito assustadora. Perdemos a confiança nas pessoas, principalmente nas lideranças que deveriam sustentar a estabilidade dos cidadãos. Como disse alguém: “Só Deus, só Nele confiar!”.

Mesmo em meio a atos de injustiça, que têm raízes em todos os setores da vida brasileira, o ano deve começar com as bênçãos de Deus. Nas palavras do papa Francisco, para quem faz o processo da reconciliação e da superação das fraquezas, a misericórdia divina supera as misérias humanas. Não há limites no amor de Deus, porque faz parte de seu plano, a salvação de todos.

Todo envolvimento com a maldade causada pela injustiça impede a pessoa de acolher o anúncio da Boa-nova do Evangelho. Ela deixa de participar da alegria e das maravilhas da presença de Deus, que transforma totalmente o ser humano. Tira as pessoas do jugo da escravidão e as faz proclamadoras dessa boa notícia. Em vez de destruir, constrói o bem e a sociedade com responsabilidade. 

O Natal do Senhor é o natal da paz


O estado de infância, que o Filho de Deus assumiu sem a considerar indigna da sua majestade, foi-se desenvolvendo com a idade até chegar ao estado de homem perfeito e, uma vez consumado o triunfo da sua paixão e ressurreição, todas as ações que eram próprias do seu estado de aniquilamento,que o Senhor aceitou por amor de nós, tiveram o seu fim e pertencem ao passado. E contudo, a festa de hoje renova para nós o sagrado início da vida de Jesus, nascido da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento do nosso Salvador, celebramos realmente também o nosso nascimento.

Efetivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão; o Natal da cabeça é também o natal do corpo.

Embora cada um tenha sido chamado num momento determinado,para formar parte do povo do Senhor, e todos os filhos da Igreja sejam diversos na sucessão dos tempos, contudo, a totalidade dos fiéis, nascida na fonte do batismo, assim como foram crucificados com Cristo na sua paixão, ressuscitados na sua ressurreição, colocados à direita do Pai na sua ascensão, assim também nasceram com Ele neste Natal.

Todo o homem que, em qualquer parte do mundo, acredita e é regenerado em Cristo, liberta-se do vínculo da culpa original e, ao renascer, transforma-se num homem novo, já não pertence à descendência de seu pai segundo a carne, mas à nova geração do Salvador, o qual Se fez Filho do homem para que nós pudéssemos ser filhos de Deus.

De fato, se Ele não tivesse descido até nós na humildade da natureza humana, ninguém poderia chegar até Ele por seus próprios méritos.

Por isso, a mesma grandeza do dom recebido exige de nós uma veneração digna da sua magnificência. Assim nos ensina o Apóstolo: Não recebemos o espírito deste mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons que nos foram dados por Deus; o melhor culto que podemos prestar a Deus é oferecer-Lhe o dom que Ele mesmo nos concedeu.

Ora, entre os dons da divina generosidade, que poderemos nós encontrar tão digno para honrar a presente festa, como a paz, aquela paz que os Anjos anunciaram no nascimento do Senhor?

É a paz que gera os filhos de Deus, alimenta o amor e cria a unidade. Ela é o repouso dos santos e a mansão da eternidade. E o fruto próprio desta paz é unir a Deus os que separa do mundo.

Portanto, aqueles que não nasceram do sangue, nem da carne nem da vontade do homem, mas de Deus, ofereçam ao Pai o coração de filhos unidos pelo vínculo da paz, e todos os membros da família adotiva de Deus se encontrem n'Aquele que é o Primogênito da nova criatura, que não veio para fazer a sua vontade, mas a vontade d’Aquele que O enviou. Os que foram adotados pela graça do Pai, para serem seus herdeiros, não são os que vivem separados pela discórdia e incompatibilidade, mas os que se encontram unidos pelos mesmos sentimentos e pelo mesmo amor. Os que foram modelados pela mesma imagem, devem ter um só coração e uma só alma.

O nascimento do Senhor é o nascimento da paz. Assim o proclama o Apóstolo: Ele é a nossa paz; Ele fez de dois povos um só: quer sejamos judeus quer gentios, é por Ele que temos acesso ao Pai num só Espírito.


Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 6 in Nativitate Domini, 2-3, 5: PL 54, 213-216) (Sec. V)

Maledicência


Nesse tempo de internet, em que se pode anonimamente falar mal à vontade de todo o mundo, em que se compartilham notícias sem preocupação com a verdade delas, em que se pode postar boatos que denigrem o bom nome das pessoas, em que se pode dizer meias verdades que impressionam e destroem a fama alheia, vale a pena recordar o que dizem os santos a respeito desse vício, que leva o nome de maledicência. O exagero, a caricatura, a meia-verdade, a reticência, a suspeita lançada ao ar, são tipos de maledicência que se assemelham à mentira, e até piores do que ela, por serem mais sedutoras.  

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Toda pessoa goza de um direito natural à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade” (C.I.C. 2479).

“Não procures fazer figura pondo-te a criticar os outros e aprende a tornar mais perfeita a tua vida antes que denegrir a dos outros. São verdadeiramente poucos os que sabem afastar-se deste defeito, e é bem raro encontrar alguém que queira mostrar-se tão irrepreensível, na sua vida, que não critique com satisfação a vida alheia. Não há outra coisa, de fato, que ponha a alma em tanto barulho e que torne o espírito tão volúvel e leviano quanto o prestar fé com facilidade a tudo, e dar ouvido temerariamente às palavras dos críticos. E daí que surgem discórdias sobre discórdias e sentimentos de ódio que não têm motivo de ser. É justamente este defeito que frequentemente torna inimigas pessoas que, antes, eram amigas do peito. Se este mal está universalmente difuso, se este vício está vivo e forte em muitos, é justamente porque encontra, quase em todos, ouvidos complacentes” (São Jerônimo, Carta IV, 148, 16).  

São Silvestre I


O primeiro papa a ocupar a cátedra de Pedro após a conversão de Constantino foi Silvestre. Ele era romano e foi eleito em 314. Graças a Silvestre, a paz foi mantida na Igreja e o primeiro concílio foi convocado, para acontecer no cidade de Nicéia. 

São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.

Na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos, com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político.

E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.

Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua.

Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros.

Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador.

Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por S. Silvestre.

Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.

Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de S. Silvestre, a Domus Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a S. João Batista e S. João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, S. João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.

Foi sob São Silvestre que começaram a ser estabelecidas, como locais de culto, as grandes basílicas romanas. Ele foi um grande empreendedor, preocupado com o bem estar de seu rebanho. Foi um papa do bem, amado pelo povo e cheio de vontade de transformar as desigualdades em um mundo mais justo.

Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.


Vinde, Senhor, em auxílio do vosso povo, que confia na intercessão do papa São Silvestre, e conduzi-o ao longo desta vida presente, para que chegue um dia à felicidade da vida que não tem fim. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


São Silvestre, rogai por nós!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O Partido Comunista não gosta, mas cada vez mais chineses celebram o Natal!


Faixas de “Feliz Natal!” são abertamente expostas nas ruas comerciais da China comunista. “É um sério desafio“, de acordo com a Academia Chinesa de Ciências Sociais, que vê no crescente interesse dos chineses pelo Natal “um novo avanço da cristianização“.

Nas grandes cidades, muitas lojas e ruas comerciais estão vestidas com as cores natalinas. Há imagens de Papai Noel, árvores de Natal e canções de Natal por toda parte. Alguns acham que tudo é uma abordagem puramente comercial; outros que é o apelo cultural da modernidade, associada com o Ocidente.

“O frenesi de Natal”

Entre as entidades intelectuais mais próximas do poder central, este fascínio pelo Natal é observado com cautela, quando não com hostilidade. O fenômeno é visto como “contrário ao espírito de patriotismo” defendido pelos líderes chineses. Em 2014, a Academia Chinesa de Ciências Sociais chegou a publicar um livro para detalhar os “mais sérios desafios” que estão surgindo no país e citou explicitamente quatro:

– os ideais democráticos exportados pelas nações ocidentais
– a hegemonia cultural ocidental
– a disseminação da informação através da internet
– a infiltração religiosa.

Pouco depois, um grupo de dez estudantes chineses de doutorado publicou um artigo em que analisam o fenômeno denunciado como “frenesi do Natal” e apelam ao povo chinês para rejeitá-lo. Segundo esses estudantes, a “febre do Natal” na China demonstra a “perda da primazia da alma cultural chinesa” e o colapso da “subjetividade cultural chinesa”. Eles convidam os seus compatriotas a terem grande cuidado com o que consideram “um novo avanço da ‘cristianização’” em seu país.

Confira alguns destaques desse texto: 

Maria pecou?


Acusação protestante

Maria pecou, porque Romanos 3:23 diz:  “Todos pecaram e carecem da glória de Deus.”  A primeira carta de  João 1:8 acrescenta: “Se alguém diz que não tem pecado é mentiroso e a verdade não está nele”. Estes textos não poderiam ser mais claros para milhões de protestantes, será que os Católicos não percebem isso? Como alguém poderia acreditar que Maria estava livre de todo pecado à luz dessas passagens da Escritura, ainda mais quando a própria Maria disse: “A minha alma se alegra em Deus, meu Salvador em Lucas 1:47. Maria compreendia claramente ser uma pecadora e admite precisar de um salvador!!

A resposta católica

Muitos protestantes ficariam surpresos ao descobrirem que a Igreja Católica, na verdade, afirma que Maria foi “salva”. De fato, Maria precisava de um salvador como qualquer outro mortal! No entanto, Maria foi “salva” do pecado de uma forma mais sublime. A ela foi dada a graça de ser “salva” completamente do pecado, para que nunca cometesse a menor transgressão. Os evangélicos tendem a enfatizar a “salvação” quase que exclusivamente como o perdão dos pecados já cometidos. No entanto, a Sagrada Escritura indica que a salvação também pode se referir ao homem no sentido de protegê-lo do pecado antes do fato:

Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis diante da presença de sua glória, com alegria, ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os tempos e agora e para sempre. (Judas 24-25)

Seiscentos anos atrás, o grande teólogo franciscano Duns Scotus explicou que a queda em pecado poderia ser comparada a um homem se aproximando inadvertidamente à uma vala profunda. Se ele cai na vala, ele precisa de alguém para baixar uma corda e salvá-lo. Mas se alguém avisá-lo do perigo à frente, impedindo-o de cair na vala, ele seria salvo antes de cair. Da mesma forma, Maria foi salva do pecado ao receber a graça de não pecar e assim ser preservada. Mas ainda assim, foi salva.

Todos pecaram, exceto...

Mas o que dizer das passagens “todos pecaram ” ( Rom. 3:23 ), e “se alguém diz que não tem pecado é mentiroso e a verdade não está nele ” (1 João 1:8 ) ? Não seria “todo” e “qualquer homem” incluindo Maria? Em princípio, isso soa razoável e parece lógico. Mas esta maneira de pensar, levada à sua conclusão lógica, significaria incluir TODOS, inclusive um recém-nascido inocente, como parte desse “todos”. Nenhum cristão fiel ousaria dizer isso. No entanto, nenhum cristão pode negar a clareza dos textos da Escritura afirmando a plena humanidade de Cristo. Assim, tomar 1 João 1:8 em um sentido estrito, literal, seria aplicar “qualquer homem” também a Jesus, porque o texto diz TODOS, não diz: TODOS, exceto Jesus.

A verdade é que Jesus Cristo foi uma exceção a Romanos 3,23 e 1 João 1,8. E a Bíblia nos diz isso em Hebreus 4,15 – “Cristo foi tentado em todos os pontos como nós somos e ainda assim ele estava sem pecado”. A questão agora é: Existem outras exceções a esta regra? Sim, provavelmente muitas delas.

Tanto Romanos 3,23 e 1 João 1,8 lidam com pecado pessoal ao invés de pecado original. (Romanos 5 trata de pecado original). E há duas exceções a essa norma bíblica em geral. Mas, por agora, vamos simplesmente lidar com Romanos 3,23 e 1 João 1,8. Primeiro a Carta de João 1,8, obviamente, refere-se ao pecado pessoal porque, no próximo verso, João nos diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados … “Nós não confessamos o pecado original; confessamos os pecados pessoais.

O contexto de Romanos 3,23 deixa também deixa claro que ele se refere a pecado pessoal:

Não há justo, nem sequer um, ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram de errado, ninguém faz o bem, nem um sequer. As suas gargantas são um sepulcro aberto. Eles usam suas línguas para enganar. O veneno está nos seus lábios. Suas bocas estão cheias de maldição e amargura. (Romanos 3,10-14)

O pecado original não é algo que fazemos, é algo que herdamos. Romanos capítulo 3 lida com o pecado pessoal, porque fala de pecados cometidos pelo pecador. Com isso em mente, considere o seguinte: Um bebê no útero ou uma criança de dois anos já cometeu um pecado pessoal? Não. Porque para pecar a pessoa tem que saber que o ato que ele está prestes a realizar é pecaminoso e, ao mesmo tempo, livremente engajar a sua vontade em realizá-lo.  Portanto, sem as faculdades adequadas que lhes permitam o pecado, as crianças antes de alcançarem a idade da responsabilidade e da razão, bem como quem não tem o uso de seu intelecto, não podem pecar. Assim, existem e existiram milhões de exceções a Romanos 3,23 e 1 João 1,8!!!

Mas então podemos com isso concluir que a Bíblia mentiu ou errou? Claro que não, o mais provável é que a interpretação protestante, essa sim esteja em erro!! Para negar isso o protestante deve necessariamente afirmar que um bebezinho recém-nascido está incluído na palavra TODOS pecaram!

Mesmo assim, como sabemos que Maria é uma exceção à norma do “todos pecaram”? E mais importante, há apoio bíblico para essa afirmação? Sim, há muito apoio bíblico! 

O Verbo, que Se fez homem, diviniza o homem


Não fundamentamos a nossa fé em palavras sem sentido, nem nos deixamos arrastar por efêmeros impulsos do coração ou seduzir pelo encanto de discursos eloquentes; a nossa fé fundamenta-se nas palavras pronunciadas pelo poder divino.

Deus confiou estas palavras ao Verbo, e o Verbo pronunciou-as para arrancar o homem à desobediência; não o quis obrigar pela força como a um escravo, mas apelou para a sua decisão livre e responsável.

Na plenitude dos tempos, o Pai enviou à terra o Verbo, porque já não queria que Ele falasse por meio dos Profetas nem fosse anunciado por meio de prefigurações obscuras, mas desejava que Se manifestasse de forma visível, a fim de que o mundo, ao vê-l’O, pudesse salvar-se.

Sabemos que o Verbo assumiu um corpo no seio da Virgem e transformou o homem velho numa nova criação. Sabemos que Se fez homem da nossa mesma substância. Se não fosse assim, em vão nos mandaria que o imitássemos como mestre. Se este homem tivesse sido formado de outra substância, como poderia impor-me a mim, débil por nascimento, as mesmas coisas que Ele fez? Como poderíamos, em tal caso, dizer que Ele é bom e justo?

Mas para que ninguém pensasse que era diferente de nós, suportou o trabalho, quis ter fome, não recusou a sede, dormiu para descansar, não rejeitou o sofrimento, submeteu-Se à morte e manifestou a sua ressurreição. Em tudo isto, ofereceu a sua humanidade como primícias, para que tu não desanimes no meio do sofrimento, mas, reconhecendo-te homem, esperes também tu receber o que a Ele foi oferecido.

Quando contemplares a Deus tal qual é, terás um corpo imortal e incorruptível, como a alma, e possuirás o reino dos Céus, tu que, peregrinando na terra, conheceste o Rei dos Céus. Viverás então na intimidade de Deus, serás herdeiro com Cristo e já não estarás sujeito a concupiscências, paixões ou enfermidades, porque foste elevado à condição divina.

Todos os males que suportaste, enquanto homem, Deus os permitia precisamente por seres homem. Mas Deus prometeu também fazer-te participante das suas prerrogativas, quando fores divinizado e revestido de imortalidade. Conhece-te a ti mesmo, reconhecendo a Deus que te criou; pois conhecer a Deus e ser conhecido por Ele é a sorte daquele que foi chamado por Deus.

Não vos envolvais em contendas como inimigos, nem penseis em retroceder. Cristo é o Deus que está acima de todas as coisas, que decidiu libertar os homens do pecado, renovando o homem velho que Ele tinha criado à sua imagem desde o princípio, e manifestando nesta imagem renovada o amor que tem por ti. Se obedeceres aos seus santos mandamentos e imitares com a tua bondade o Bem supremo, serás semelhante a Ele e Ele te glorificará. Tudo possui e tudo pode o Deus que te fez deus para sua glória.


Do Tratado de Santo Hipólito, presbítero: “Refutação de todas as heresias”

(Cap. 10, 33-34: PG 16, 3452-3453) (Sec. III)

Síntese da Mariologia: A Plenitude dos Tempos


“Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). 

Constantemente na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.

Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.

MARIA NO NOVO TESTAMENTO



Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.


Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf. Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3) (BOFF, 2004).

Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).

As lições de Nazaré


Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.

Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.

Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido.

Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo.

Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas.

Mas estamos apenas de passagem. Temos de abandonar este desejo de continuar aqui o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. Não partiremos, porém, antes de colher às pressas e quase furtivamente algumas breves lições de Nazaré.

Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo.

Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social.

Uma lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.


Das Alocuções do papa Paulo VI

(Alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964) (Séc. XX)

Sagrada Família*


Quando Deus quis, no seu amor, enviar seu Filho para morar entre nós, Ele escolheu uma família para receber Verbo Divino. Com isso Deus marcou com maior dignidade a família humana e mostrou que esta instituição é essencial para o desenvolvimento da pessoa. 

A família de Nazaré tornou-se assim o modelo para as famílias cristãs do mundo. A bondade de Maria e a justiça de José deveriam ser as virtudes procuradas pelos pais e mães de família. Em Nazaré, Jesus aprendeu a andar, correr, brincar, comer, rezar, cresceu, estudou, foi aprendiz e auxiliar de seu pai adotivo José, a quem amava muito e por ele era muito amado também. 

Jesus nasceu numa verdadeira família para receber tudo o que necessitava para crescer e viver, mesmo sendo muito pobre. Teve o amor dos pais unidos pela religião, trabalhadores honrados, solidários com a comunidade, conscientes e responsáveis por sua formação escolar, cívica, religiosa e profissional. 

Essa família é o modelo de todos os tempos. É exemplar para toda a sociedade, especialmente nos dias de hoje, tão atormentada por divórcios e separações de tantos casais, com filhos desajustados e todos infelizes. A família deve ser criada no amor, na compreensão, no diálogo, com consciência que haverá momentos difíceis e crises.

Cada homem e cada mulher que deixam o pai e a mãe para se unirem em matrimônio e constituir uma nova família não o podem fazer levianamente, mas devem fazê-lo somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total até a morte.



Ó Deus de bondade, que nos destes a Sagrada Família como exemplo. Concedei-nos imitar em nossos lares as suas virtudes para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar, um dia, às alegrias da vossa casa. Por Cristo Senhor Nosso. Amém.
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* No Brasil, quando o Natal cai num dia de semana, a Sagrada Família é celebrada no domingo seguinte, porém, se o Natal cair num domingo, a Sagrada Família é festejada no dia 30 de dezembro. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Maria é a vitória de Deus sobre o Mal


Desde os primórdios da humanidade Maria recebeu de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça da serpente maligna. Disse Deus a ela no paraíso: “Porei inimizade entre ti e a mulher entre a tua descendência e a dela. Ela te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15).

Os Santos Padres afirmam que assim como o pecado entrou no mundo por meio da mulher, assim também a salvação haveria de chegar à humanidade pela mulher. E esta mulher, a nova Eva, a nova Virgem, desde toda a eternidade Deus escolheu que fosse Maria.

Quando Jesus se dirige à Sua Mãe e lhe chama de “mulher”, em vez de chamá-la de mãe, em Cana da Galiléia (Jo 2) e aos pés da Cruz (Jo 19,25-27), é para nos indicar qual é a “Mulher” a que Deus se referiu no Gênesis. Esta “Mulher” é Sua Mãe. Assim, nas bodas de Canã, Jesus lhe diz: “Mulher, isso nos compete a nós? Minha hora ainda não chegou (Jo 2,4). E depois, na cruz, momentos antes de morrer, quando Jesus nos dá Sua Mãe para nossa Mãe, Ele diz a ela: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26).

Fica assim, muito claro, que a “mulher” do Gênesis que esmagaria a cabeça da serpente maligna é Maria. Como nos ensina São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja no século V, Deus usou Maria para ludibriar a sagacidade da serpente, como já dissemos. Por sua virgindade e por sua concepção imaculada desconhecidas do tentador, Deus fez com que Maria concebesse Jesus, Deus e homem, por obra do Espírito Santo, livre das garras do pecado e do demônio. Assim Jesus, livre e soberano, homem e Deus, pôde destruir o império do Mal. É o que São João nos garante: “Eis por que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do demônio” (1Jo 3,8).

Mesmo com essa afirmação categórica de São João, ainda há infelizmente muitos que, em total desobediência à Palavra de Deus, ao Magistério da Igreja e à Sagrada Tradição, teimam em afirmar que o demônio não existe, ou, o que é pior ainda, menosprezam sua ação sobre as pessoas.

Na verdade, esta é sua maior cilada, fazer-se desacreditado pelos homens, como se não existisse ou não agisse com sagacidade. Seu intuito é que as pessoas não se defendam contra suas tentações com a ordem expressa de Jesus: “Vigiai e orai”.

São Paulo nos adverte sobre isto: “Não quero que sejamos vencidos por Satanás, pois não ignoramos suas maquinações” (2Cor 2,11).

Em outra passagem, mais clara ainda, São Paulo nos alerta para o fato de que ele se transfigura em “anjo de luz”, isto é, lobo disfarçado de cordeiro. É então que ele faz muito estrago na vida das pessoas e no reino de Deus. Falando dos falsos profetas que se disfarçam em apóstolos de Cristo, São Paulo diz: “O que não é de se espantar: pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em ministros da justiça…” (2Cor 11,14-15).

Os Santos Padres ensinavam que no Gênesis o demônio é identificado com a serpente porque age como ela; isto é, às escondidas, esperando a hora certa para dar o bote sobre os desprevenidos e neles injetar todo seu veneno mortífero. Ninguém tem medo de uma cobra num pátio limpo; ela é perigosa quando está escondida no meio do mato.

Também São Pedro, a quem o Senhor confiou o encargo de “confirmar os irmãos na fé” (Lc 22,32), fala muito claro sobre isto: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem possa devorar. Resisti-lhe fortes na fé” (1Pd 5,8-9).

Estas são palavras que não deixam margem à dúbia interpretação. 

Ditador da Coreia do Norte proibiu o Natal e mandou celebrar o nascimento da sua avó


Pyongyang já foi o lar de mais cristãos que qualquer outra cidade coreana. Era até a sede episcopal da nação. Tudo mudou no início da década de 1950, quando as autoridades da então recém-separada Coreia do Norte decidiram suprimir oficialmente qualquer tipo de atividade cristã de culto.

Vários grupos de defesa dos direitos humanos estimam entre 50 mil e 70 mil o número de cristãos confinados à prisão ou a campos de concentração naquele país por simplesmente praticarem a sua fé.

Mesmo assim, não é de todo estranho, nesta época do ano, ver árvores de Natal em algumas lojas de luxo e restaurantes de Pyongyang, ainda que desprovidas de qualquer significado religioso. 

Maria, a Arca da Aliança


Esta é, com certeza, uma das mais belas e populares invocações da Ladainha de Nossa Senhora. A densidade simbólica dessa invocação não cabe em poucas linhas. Sabemos da importância que tinha a Arca da Aliança no Antigo Testamento. Dentro dela, estavam as Tábuas da Lei, recebidas por Moisés no Monte Sinai como sinal da Aliança entre Deus e Seu povo. Essa Arca era a expressão visível de que Javé estava no meio do povo. Não era um Deus distante e solitário, mas próximo e solidário. Durante o tempo em que durou a travessia do deserto, o povo caminhava com o estandarte da presença do Senhor.

Para a Arca havia uma tenda especial. Ali aconteciam as reuniões dos líderes; nessa tenda se tomavam as grandes decisões. Era também um lugar de encontro com o Altíssimo. Quando o povo de Deus atravessou o rio Jordão, sob o comando de Josué, a Arca ia à frente, carregada por sacerdotes. O rei Davi construiu um espaço sagrado especial para ela [Arca]. A Bíblia conta com ricos detalhes a festa que foi feita para levar a Arca em procissão para o seu lugar de destaque (cf. 1Cr 15). Houve, naquele dia, muita música e dança para celebrar a memória da presença de Deus no meio do Seu povo. O grande Templo de Jerusalém, construído por Salomão, foi para conter a Arca da Aliança. 

Na plenitude dos tempos veio também a plenitude da divindade


Apareceu a bondade e a humanidade de Deus nosso Salvador. Demos graças a Deus, que nos enche de consolação neste exílio, nesta peregrinação, nesta vida ainda tão miserável.

Antes de aparecer a sua humanidade, encontrava-se também oculta a sua bondade; e, no entanto, esta já existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como se podia saber que era assim tão grande? Estava prometida, mas ainda não se sentia; e, por isso, muitos não acreditavam nela. Com efeito, muitas vezes e de muitos modos falou o Senhor pelos Profetas. E dizia: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição. Mas que podia responder o homem que sentia a aflição e não conhecia a paz? Até quando continuareis a exclamar: Paz, paz, e não há paz? Também os mensageiros da paz choravam amargamente, dizendo: Senhor, quem acreditou na nossa mensagem? Mas agora os homens podem acreditar, ao menos no que viram os seus olhos, porque os testemunhos de Deus são dignos de toda a fé;e para Se tornar visível, mesmo àqueles que têm a vista enfraquecida, pôs ao sol a sua tenda.

Agora, portanto, não se trata de uma paz prometida, mas enviada; não adiada, mas concedida; não profetizada, mas presente. Deus Pai enviou à terra, por assim dizer, um saco cheio com a sua misericórdia; um saco, que havia de romper-se durante a paixão, para derramar o preço do nosso resgate que nele se continha; um saco pequeno, mas cheio. Na verdade, um Menino nos foi dado, mas neste Menino habita toda a plenitude da divindade. Deste modo, quando chegou a plenitude dos tempos, veio também a plenitude da divindade.

Veio em carne para Se revelar aos que eram de carne e para que, ao manifestar-se a sua humanidade, fosse reconhecida a sua bondade. De fato, se Deus dá a conhecer a sua humanidade, já não pode ficar oculta a sua bondade. Como podia o Senhor manifestar melhor a sua bondade, senão assumindo a minha carne? Foi precisamente a minha carne que Ele assumiu, e não a de Adão, tal como era antes do pecado.

Poderá haver prova mais eloquente de misericórdia do que assumir a própria miséria? Poderá haver maior prova de amor, do que tornar-se o Verbo de Deus tão humilde como a erva do campo? Senhor, que é o homem para que Vos lembreis dele, para que Vos preocupeis com ele? Compreenda assim o homem até que ponto Deus tem cuidado dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó homem, porque tens de sofrer tu; pergunta antes porque sofreu Ele. Por aquilo que Ele fez por ti, reconhece quanto vales para Ele e compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto mais pequeno Se fez na sua humanidade, tanto maior Se revelou na sua bondade; quanto mais Se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo: Apareceu a bondade e humanidade de Deus nosso Salvador. Oh como é grande e manifesta a bondade de Deus e a sua humanidade! Como é admirável a prova de bondade que Ele nos quis dar, associando à humanidade o nome de Deus! 


Dos Sermões de São Bernardo, abade

(Sermo 1 in Epiphania Domini 1-2: PL 133, 141-143) (Sec. XII)

Desfazendo o Mito da Inquisição


Os governantes e povos, antes da Igreja, criaram tribunais para julgar casos relacionados à fé, pois eram vistos como distúrbios sociais. A Igreja criou a Santa Inquisição para coibir os abusos e excessos destes tribunais laicos.

O clero, na verdade, sofreu bastante pressão do meio secular para ser mais enérgico contra os hereges, como mostra a carta de Luís VII de França ao Papa Alexandre III, em 1162:

“V. Sabedoria preste atenção toda particular a esta peste (albigenses em Flandres) e a suprima antes que se possa agravar. Eu vos suplico pela honra da Fé cristã, dai nesta causa toda a liberdade ao Arcebispo (de Reims), ele destruirá aqueles que assim se levantarem contra Deus, sua severidade justa será louvada por todos os que, neste país, estão animados de genuína piedade.”. Vê-se que a Santa Sé titubeava em usar de energia.

Quanto à tortura, em um mundo herdeiro do direito romano que, como nos atestam as Sagradas Escrituras, condenava à miserável pena de morte por crucifixão meros ladrões, onde as pessoas passavam por extrações de dentes sem anestesia ou um pai via sua pobre e inocente filha ter a perna amputada sem anestesia por conta de um acidente; causar dor a quem era culpado não lhes parecia abominável, quando o inocente passava naturalmente por isso.

A Santa Sé advertia, entretanto, contra o uso de tortura para julgamentos da Sagrada Inquisição, fazendo jus ao princípio “Ecclesia abhorret sanguine” – à Igreja repugna verter sangue – como se vê na carta do Papa Nicolau I a Bóris, príncipe da Bulgária, no ano 866:

“Eu sei que, após haver capturado o ladrão, vós o exasperais com torturas, até que ele confesse, mas nenhuma lei divina ou humana poderia permiti-lo. […] Se o paciente se confessa culpado sem o ser, sobre quem recairá o pecado?”.
 

São Tomás Becket


Tomás Becket nasceu no dia 21 de dezembro de 1118, em Londres. Era amigo do futuro rei, Henrique e como ele era um jovem ambicioso, audacioso, gostava das diversões com belas mulheres, das caçadas e das disputas perigosas, compartilharam os belos anos da adolescência e da juventude. 

Mas Tomás começou a interessar-se pela vida religiosa e afastou-se da corte. Passou a se dedicar ao estudo da doutrina cristã e acabou se tornando amigo do Arcebispo Teobaldo. Através de sua orientação foi se entregando à fé de tal modo que foi nomeado Arcediácono do religioso. Quando o Arcebispo Teobaldo morreu e o Papa concedeu o privilégio ao rei escolher e nomear o sucessor. Henrique II não vacilou em colocar no cargo o amigo. 

Como Arcebispo, Tomás passou a questionar as posturas autoritárias do amigo, agora rei da Inglaterra. A situação ficou perigosa e Tomás teve que fugir para a França para escapar de sua ira. 

Quando conseguiu voltar para sua diocese foi aclamado pelos fiéis que o respeitavam e amavam sua integridade de homem e pastor do Senhor. Mas ele sabia o que lhe esperava e disse a todos: "Voltei para morrer no meio de vós". O rei, diante do retorno de Tomás, resolveu mandar assassiná-lo. Assim aconteceu no dia 29 de dezembro de 1170. 


"O medo da morte não deve fazer-nos perder de vista a justiça". Com este testemunho de fé Tomás entrou para a lista dso homens que fizeram do Cristo a razão fundamental da vida. Aprendamos dele que nunca é tarde para dedicarmos ao serviço do próximo mais abandonado.
  


Deus, nosso Pai, São Tomás descobriu que a verdadeira realeza é servir, ser fiel ao Senhor dos senhores, aquele que tem a chave e o domínio da história. A seu exemplo, dai-nos a santa ousadia de não nos deixarmos intimidar e explorar pelos poderosos. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Papa fala do exemplo de fé de Abraão


CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

São Paulo, na Carta aos Romanos, nos recorda a grande figura de Abraão, para nos indicar o caminho da fé e da esperança. Dele, o apóstolo escreve: “Esperando, contra toda a esperança, Abraão teve fé e se tornou pai de muitas nações” (Rm 4, 18); “esperando contra toda esperança”. Este conceito é forte: mesmo quando não há esperança, eu espero. É assim o nosso pai Abraão. São Paulo está se referindo à fé com que Abraão acreditou na palavra de Deus que lhe prometia um filho. Mas era um verdadeiro confiar-se esperando “contra toda esperança”, tanto era inacreditável aquilo que o Senhor lhe estava anunciando, porque ele era idoso – tinha quase cem anos – e sua esposa era estéril. Não conseguia! Mas Deus lhe disse e ele acreditou. Não havia esperança humana porque ele era idoso e a esposa estéril: e ele acreditou.

Confiando nessa promessa, Abraão se colocou em caminho, aceitou deixar sua terra e se tornar estrangeiro, esperando esse “impossível” filho que Deus deveria dar-lhe apesar do ventre de Sara ser como morto. Abraão crê, a sua fé se abre a uma esperança aparentemente irracional; essa é a capacidade de ir além das razões humanas, da sabedoria e da prudência do mundo, além daquilo que é normalmente tido como bom senso, para acreditar no impossível. A esperança abre novos horizontes, torna capaz de sonhar aquilo que não é nem mesmo imaginável. A esperança faz entrar na escuridão de um futuro incerto para caminhar na luz. É bela a virtude da esperança; nos dá tanta força para caminhar na vida.

Mas é um caminho difícil. E vem o momento, também para Abraão, da crise do desespero. Confiou, deixou sua casa, sua terra, seus amigos….Tudo. Partiu, chegou ao país que Deus lhe havia indicado, o tempo passou. Naquele tempo, fazer uma viagem não era como hoje, com os aviões – em poucas horas se faz – era preciso meses, anos! O tempo passou, mas o filho não vinha, o ventre de Sara permanecia fechado em sua esterilidade.

E Abraão, não digo que perdeu a paciência, mas se lamentou com o Senhor. Também isso aprendemos com o nosso pai Abraão: lamentar-se com o Senhor é um modo de rezar. Às vezes eu ouço, quando confesso alguém: “Me lamentei com o Senhor…”, e eu respondo: “Mas, não! Lamente-se, Ele é pai!”. E este é um modo de rezar: lamenta-se com o Senhor, isso é bom. Abraão se lamenta com o Senhor dizendo: “Senhor Deus, […] em continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer de Damasco (Eliézer era aquele que regia todas as coisas). Acrescenta Abraão: “Bem, a mim não deu descendência e meu servo será meu herdeiro”. E então lhe foi dirigida esta palavra do Senhor: “Não será este um o seu herdeiro, mas um nascido de ti será teu herdeiro”. Depois o faz ir para fora, o conduz e lhe diz: “Olha para o céu e conta as estrelas, se conseguir contá-las”; e acrescenta: “Tal será a tua descendência”. E Abraão outra vez acredita no Senhor, que lho imputou como justiça. (Gen 15, 2-6).