segunda-feira, 30 de novembro de 2015

“Vem, Senhor!”


Com o primeiro domingo do Advento, a Igreja inicia um novo Ano Litúrgico! Durante as semanas que antecedem o Natal, a comunidade de fé suplica: “Vem, Senhor Jesus”. Ela vive, assim, o anseio da chegada de seu Senhor. 

O Tempo do Advento celebra o “Deus da esperança” (Rm 15,13) e vive a alegre expectativa escatológica de sua segunda vinda. É, pois, um tempo marcado pela esperança!

Somos impulsionados pelas pequenas e grandes esperanças! Elas nos permitem sonhar, planejar, projetar. O ser humano sem expectativas e sem esperanças, vegeta! 

É verdade que a modernidade, com suas inúmeras conquistas e realizações, alimentou - e ainda alimenta - a esperança de muitos. Há uma esperança latente de poder no seio da sociedade, por exemplo, de um dia superar inclusive a morte. Será isso possível? Temos consciência de que o ser humano pode muito, mas não pode tudo! 

Sabemos que quem se orienta pela fé cristã coloca sua esperança maior em Deus. Deus é nossa grande esperança! Somente Ele abraça todo o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. Deus possui rosto humano. Ele nos ama!  Onde Ele é amado, o Seu reino se faz presente. Na correspondência ao Seu amor, o ser humano de todos os tempos vislumbra a verdadeira vida. 

O Tempo do Advento propõe a vigilância, a atenção, o cuidado. Tais atitudes concedem a perspicácia sempre necessária para colher os sinais da presença do Senhor e de seu Reino, já presente no seio da comunidade de fé. 

Lendo o Evangelho, nos damos conta de que Jesus de Nazaré não ensina uma doutrina religiosa. Ele anuncia um acontecimento: “O Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17, 21). É este acontecimento que a liturgia, sempre e de novo, a cada ano, celebra. Portanto, o Tempo do Advento não é simples narração de fatos acontecidos em um passado mais ou menos distante e que merecem ser recordados, mas celebração de um evento já acontecido no tempo, porém ainda não plenamente atuado.  

O Reino já presente em nós, e entre nós, não é de outro mundo! Tem, sim, modo próprio de se expressar. A lógica do Reino de Deus é distinta da lógica que orienta os reinos deste mundo. Estes se sustentam por ambições, competições e combates com as armas da intimidação, do medo, da prepotência e da manipulação das consciências e das massas. Aquele se sustenta pela verdade buscada gratuita e humildemente. Os reinos deste mundo são muitas vezes regidos por prepotências de todo tipo, rivalidades e opressão. O Reino de Deus é um reino de justiça, de amor e de paz. 

Estamos intimamente marcados pelo desejo de harmonia e de paz. O tempo litúrgico do Advento resgata o sempre necessário exercício da atenção e da vigilância, qual condição para atuação de tal desejo. Assim, a esperança se mantém acesa e a expectativa do novo alimenta o empenho em prol de uma realidade marcada pelos valores do Reino. 

Quando, pois, durante o Tempo do Advento, cantamos “Vem, Senhor Jesus”, resgatamos o lugar e a dignidade da vida cristã. O lugar da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo que recorda todas as coisas e as faz novas; sua dignidade consiste em atuar, no hoje da história, os valores do Reino já presente no meio de nós. A consciência do lugar e da dignidade da vida cristã permite esperar contra toda esperança! Permite crer que os desafios podem ser ultrapassados; as fragilidades, sanadas; o mal, vencido; as contradições, superadas. 

O mundo não entende o modo como o Reino de Deus já presente entre nós se manifesta. Por isso, o Tempo de Advento traz consigo o apelo por conversão. Conversão significa alterar o sentido, a direção. De fato, nossa esperança não pode estar direcionada para aquilo que o ser humano, a partir de si mesmo, propõe. O sentido de nossa esperança está orientado pela realidade do Reino de Deus: justiça, direito, harmonia, paz... Por isso, não cessamos de invocar: “Vem, Senhor Jesus”. 


Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)

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