segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Homilética: 28º Domingo Comum - Ano B: "Rico mas triste!".


Os textos litúrgicos deste Domingo convidam-nos a refletir sobre as escolhas que fazemos. É preciso, por vezes, renunciar a certos valores perecíveis, a fim de adquirir os valores eternos. A riqueza é um valor terreno, caduco; a Sabedoria possui um brilho que não se extingue, permanece eternamente. Comparando riqueza e Sabedoria, o Autor sagrado considera «a riqueza como nada. Todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia e a prata é considerada como lodo». A Sabedoria Divina comunica-se aos homens por meio da Palavra de Deus.

O livro da Sabedoria (1ª leitura) é resultado da reflexão dos judeus que se encontram em Alexandria, no Egito, ao redor do ano 50 antes de Cristo. O tema da sabedoria faz contraponto à ideologia dos governantes do Egito, com suas atitudes de dominação e de perseguição aos judeus. O caminho da sabedoria não segue a proposta idolátrica dos ímpios, que concebem a vida como oportunidade para toda espécie de prazer, desfrutando gananciosamente os bens presentes e perseguindo os justos. Em sua autossuficiência, descartam por completo a existência de Deus e não acreditam na vida após a morte. Os justos, porém, têm a Deus por pai e confessam que ele criou o ser humano para a imortalidade (cap. 2). A vida, portanto, não se resume no gozo do momento presente. Seu sentido verdadeiro somente as pessoas sábias conhecem.

Para dar maior importância e credibilidade à proposta da sabedoria, o escrito é atribuído a Salomão, que, na tradição judaica, é considerado o rei sábio por excelência (mesmo que historicamente ele não tenha sido tão sábio e tão justo como se apregoava). Esse Salomão idealizado pelos autores do livro tem consciência de ser uma pessoa comum como todas as demais, que nasceu e cresceu como todos os humanos e sabe que sua vida na terra é transitória. Sua grande preocupação é viver e governar segundo a justiça. Isso será possível pela aquisição da sabedoria que vem de Deus. Por isso, ele a suplica com persistência, e Deus a concede generosamente.

A sabedoria é contemplada como o maior bem que uma pessoa possa adquirir, acima de todo poder e riqueza, “pois todo o ouro, ao lado dela, é como um punhado de areia”. Deve ser amada “mais que a saúde e a beleza”. Essas coisas passageiras somente adquirem seu valor verdadeiro quando iluminadas pelo brilho da luz sem ocaso, que é o da sabedoria, “a mãe de todas as coisas”. Por ela distingue-se o verdadeiro absoluto em quem devemos depositar toda a confiança.

Quando o livro foi escrito, o povo de Israel tinha conhecimento de que a sabedoria fazia parte dos dons do Espírito de Deus, conforme anunciara o profeta Isaías, referindo-se à descendência de Davi: “Sobre ele repousará o espírito do Senhor, espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11,2). A sabedoria, junto com os demais dons do Espírito Santo, possibilita-nos orientar a nossa vida segundo os desígnios de Deus. É dom de Deus e, por isso, deve ser pedida com confiança. Jesus constatou que a sabedoria divina é revelada de modo especial entre os pobres e pequeninos e é ocultada aos grandes e “inteligentes” deste mundo (Mt 11,25-26). 

O texto convida-nos a adquirir a verdadeira sabedoria e a prescindir dos valores efêmeros que não realizam o homem. O verdadeiro sábio pode afirmar «Com a Sabedoria me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis».
 
Quando Jesus saiu com os seus discípulos, a caminho de Jerusalém, apareceu um jovem que se ajoelhou diante d’Ele e lhe perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” O Senhor indica-lhe os Mandamentos como caminho seguro e necessário para alcançar a salvação. O jovem, com grande simplicidade, respondeu-lhe que os cumpria desde a infância. Então Jesus, que conhecia a pureza daquele coração e o fundo de generosidade e de entrega que existe em cada homem e em cada mulher, “olhou para ele com amor” e convidou-o a segui-Lo, pondo à parte tudo o que possuía.

Neste texto podemos situar dois casos: do jovem rico que não vende tudo para seguir Jesus e dos apóstolos que, ao invés abandonam tudo para segui-lo. A tônica deste trecho evangélico não é “vender tudo”, mas “vem e segue-me”; ele não fala em primeiro lugar da pobreza voluntária, mas da suprema riqueza que é possuir Jesus. Pode-se aproximar esta passagem do Evangelho à parábola do homem que descobriu um tesouro no campo e vende tudo para compra-lo, e do homem que cede toda uma coleção de pedras preciosas para adquirir a pérola de grande valor (Mt 13, 44-46).

Como gostaríamos de contemplar esse olhar de Jesus! Umas vezes, imperioso; outras, de pena e de tristeza, por exemplo ao ver a incredulidade dos fariseus (Mc 2,5); outras, de compaixão, como à entrada de Naim, quando passou o enterro do filho da viúva (Lc 7,13). É esse olhar que comunica uma força persuasiva às palavras com que convida Mateus a deixar tudo e segui-Lo (Mt 9,9); ou com que se faz convidar a casa de Zaqueu, levando-o à conversão (Lc 19,5).

Mas o jovem prefere a “segurança” da riqueza e recusa o convite de Jesus!

Ao recusar o convite, diz o Evangelho:” quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10,22). “A tristeza deste jovem deve fazer-nos refletir. Podemos ter a tentação de pensar que possuir muitas coisas, muitos bens neste mundo, pode fazer-nos felizes. E no entanto, vemos no caso deste jovem do Evangelho que as muitas riquezas se converteram em obstáculo para aceitar o chamamento de Jesus. Não estava disposto a dizer Sim a Jesus e não a si próprio, a dizer Sim ao amor e não á fuga!

O amor verdadeiro é exigente. O amor exige esforço e compromisso pessoal para cumprir a vontade de Deus. Significa disciplina e sacrifício, mas significa também alegria e realização humana. Não tenhais medo a um esforço honesto e a um trabalho honesto; não tenhais medo à verdade. 

A reflexão da passagem bíblica sobre o jovem rico leva-nos a entender o uso dos bens materiais. Jesus não os condena por si mesmos; são meios que Deus pôs à disposição do homem para o seu desenvolvimento em sociedade com os outros. O apego indevido a eles é o que faz que se convertam em ocasião pecaminosa. O pecado consiste em “confiar” neles, como solução única da vida, voltando as costas à divina Providência. São Paulo diz que a ganância é uma idolatria (Cl 3,5). Cristo exclui do Reino de Deus a quem cai nesse apego às riquezas, constituindo-as em centro da sua vida, ou melhor disto, ele mesmo se exclui.

Quem é esse jovem do Evangelho?

Posso ser eu. Pode ser você… São muitas pessoas que observam os Mandamentos e até desejariam fazer mais… Mas quando Deus pede algo mais… se retiram tristes, porque estão apegadas a muitas coisas, que prendem o seu coração e impedem de dar esse passo a mais. As vezes são medíocres, querem ficar satisfeitas apenas com o mínimo necessário!…

O célebre texto de Hb 4,12-13 constitui não só um elogio da Palavra de Deus, mas também um veemente apelo à responsabilidade para todos os que a ouviram, a fim de não deixarem "endurecer o coração", sobretudo quando essa Palavra foi proclamada pelo próprio Filho de Deus.

«A Palavra de Deus» é a sua voz (cf. v. 7), que se faz ouvir na Escritura, na pregação da Igreja, no íntimo da alma e que continua viva e atuante: «viva e eficaz…» (cf. Dt 32, 47; Jo 6, 68; Is 55, 10-11). A força penetrante da Palavra é descrita com a linguagem de Filon de Alexandria, para aludir ao seu poder de julgar. Ela penetra até naquele reduto impenetrável da consciência, onde o homem é o senhor exclusivo das suas decisões, onde se situam as próprias intenções mais secretas; ela invade até nas mais recônditas profundidades do ser humano, de tal maneira que este não pode esquivar-se nem dissimular o que se passa no seu interior. «As qualidades da Palavra de Deus são tais que uma pessoa não se pode esquivar à sua imperiosa autoridade, nem à hipótese de iludir a nossa responsabilidade em face dela» (W. Leonard). O seu poder discriminatório para julgar e discernir é expresso em termos de «dividir» aquilo que é impossível de destrinçar («alma e espírito»), ou muito difícil de separar («articulações e medulas»). E é atribuído à Palavra um conhecimento que só Deus possui, identificando-a expressamente com Deus no v. 13 (cf. Salm 139): «tudo está patente e descoberto a seus olhos»; note-se que «descoberto» é um particípio perfeito passivo grego derivado de «trákhlelos» (pescoço), o que faz lembrar a imagem do sacerdote que descobre o pescoço das vítimas a fim de desferir o golpe de misericórdia, sugerindo-se assim a seriedade e o dramatismo daquilo que é o «prestar contas» a Deus.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Sb 7,7-11; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30

Meus caros irmãos, o Evangelho deste domingo nos fala de alguém que veio correndo ao encontro de Jesus e lhe faz uma pergunta: “Bom Mestre, o que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (v.17). Com este questionamento tem início o breve diálogo de Jesus com um jovem, assim identificado no Evangelho de São Mateus (cf. Mt 19,6).  A pergunta do Evangelho contempla o futuro, mas é um compromisso com o presente: o sentido da vida.

Antes de dar sua resposta, Jesus questiona a pergunta: “Por que me chamas de bom?” (v. 18).  Ao contrário dos rabinos e doutores da lei, que amavam títulos honrosos, Jesus dirige tudo a Deus: Somente Deus é bom no sentido pleno do termo.  Mas, aquele jovem, anônimo, percebeu que Jesus é bom e que é mestre. Um mestre que não engana. Quem reconhece o bem é sinal que ama. E quem ama, na feliz expressão de São João, conhece a Deus (cf. 1Jo 4,7). O jovem do Evangelho teve uma percepção de Deus em Jesus Cristo.  Ele se ajoelha diante de Jesus, o que mostra, nesta sua postura, o reconhecimento da divindade de Jesus Cristo.  Trata de uma pessoa bem intencionada, realmente preocupada com a obtenção da vida eterna.  Em um curto diálogo manifesta o seu desejo sincero de alcançar a vida eterna, vivendo a sua existência terrena de maneira honesta e virtuosa.

No Antigo Testamento, a ideia de vida eterna aparece, pela primeira vez em Dn 12,2. Para alguns teólogos da época do judaísmo helenístico, os justos que se mantiverem fiéis a Deus e à Lei não serão condenados ao sheol, local onde os espíritos dos mortos levam uma existência obscura, no reino das sombras, mas ressuscitarão para uma vida nova, de alegria e de paz (cf. 2Mac 7,9.14.36). A vida eterna, segundo os teólogos desta época, parece já incluir a ideia de imortalidade (cf. Sb 3,4; 15,3). Provavelmente é isto que inquieta o jovem e ele deseja saber o que é necessário fazer para ter acesso a essa vida imortal que Deus reserva aos justos. De acordo com a catequese feita pelos mestres de Israel, quem vivesse de acordo com os mandamentos da Lei, receberia de Deus a vida eterna. Reconhecendo a divindade de Jesus, o jovem quer certificar a verdade.

Em sua catequese Jesus mesmo explicita: “Conheces os mandamentos?”  O jovem explica a Jesus que desde sempre a sua vida foi vivida em consonância com os mandamentos da Lei de Deus (v. 20). É uma afirmação segura e serena, que o próprio Jesus não contesta. As questões por ele apresentadas mostram a sua inquietação, a sua procura, a sua busca da definição do verdadeiro caminho para a vida eterna. Jesus reconhece a sinceridade, a honestidade, a verdade da busca deste homem; por isso, olha para ele “com amor” (v. 21).

O Evangelho nos assegura que aquele jovem era muito rico. A própria juventude é uma riqueza singular. É preciso descobri-la e valorizá-la.  Jesus convida o homem rico a passar para uma outra direção: segui-lo, pois para ganhar a vida eterna é preciso estar com Jesus.  Mas antes de fazer o convite a segui-lo, Jesus fixa nele um olhar cheio de amor: o olhar de Deus (cf. v. 21). E compreende qual é o ponto frágil daquele homem: precisamente o seu apego aos muitos bens que possui e, por isso, lhe propõe que dê tudo aos pobres, de modo que o seu tesouro já não esteja na terra, mas no céu. Mas aquele homem, em vez de aceitar com alegria o convite de Jesus, sai entristecido (cf. v. 23), porque não consegue desapegar-se das suas riquezas.

É este olhar de amor que tudo transforma.  Jesus quer fazer compreender ao jovem rico que lhe falta o essencial: deixar-se amar em primeiro lugar, descobrir que todos os seus bens materiais nunca poderão preencher esta necessidade vital para todo o homem de ser amado.  As riquezas podem ser um obstáculo ao amor. As riquezas do jovem o impediram de identificar o olhar de Jesus. Fechou-se sobre sua riqueza. Ele partiu, saiu de perto de Jesus, mas Jesus não lhe retirou o seu amor, acompanhou-o sempre com o seu olhar de amor.

Com esta passagem, Jesus mostra aos seus discípulos a incompatibilidade entre o Reino e o apego às riquezas. Na perspectiva dos teólogos de Israel, as riquezas são uma bênção de Deus (cf. Dt 28,3-8); mas a catequese tradicional também está consciente de que colocar a confiança e a esperança nos bens materiais envenena o coração do homem, torna-o orgulhoso e auto-suficiente e o afasta de Deus e das suas propostas (cf. Sl 49,7-8; 62,11).

Jesus nos ensina a não centralizar a própria vida nos bens passageiros deste mundo, mas assumir a partilha e a solidariedade para com os irmãos mais necessitados, seguir o próprio Jesus no seu caminho de amor e de entrega (v. 21). Apesar de toda a sua boa vontade, o jovem não está preparado para a exigência deste caminho e afasta-se triste. São Marcos explica que ele estava demasiado preso às suas riquezas e não estava disposto a renunciar a elas (v. 22).

Frente a reação alarmada e desorientada dos discípulos face a esta exigência de radicalidade, temos a pergunta: “Quem pode, então, salvar-se?” (v. 26). Neste momento Jesus pronuncia palavras de conforto, apresentando o poder de Deus como incomparavelmente maior do que a debilidade humana: “Aos homens é impossível, mas não a Deus; porque a Deus tudo é possível” (v. 27). A ação de Deus, gratuita e misericordiosa, pode mudar o coração do homem.

Com esta passagem do Evangelho, Jesus ressalta que para um rico é muito difícil entrar no Reino de Deus, mas não impossível; de fato, Deus pode conquistar o coração de uma pessoa que possui muitos bens e levá-la à solidariedade. Somos chamados a estar no caminho de Jesus Cristo, o qual “sendo rico, fez-se pobre por vós, para que nos tornássemos ricos por meio da sua pobreza” (2Cor 8, 9).

O convite dirigido ao jovem “Vem e segue-me”, é hoje estendido também a cada um de nós.  Eis a vocação crista que brota de uma proposta de amor do Senhor, e que só se pode se concretizar graças à nossa resposta de amor.  Muitos santos acolheram este convite exigente e se colocaram, com docilidade humilde, no seguimento de Cristo.

A história da Igreja nos apresenta relevantes exemplos de pessoas ricas, que usaram os próprios bens de modo evangélico, alcançando também a santidade. Pensemos em São Francisco de Assis, em Santa Isabel da Hungria, em São Francisco Xavier e em muitos outros, que deixaram seus bens e seguiram o Cristo, que a todo momento nos chama à santidade.  Ao contrário do jovem rico do Evangelho, saibamos aceitar o convite de Jesus, para segui-lo com o coração desapegado dos bens terrenos, que não nos garantem a vida eterna.

PARA REFLETIR

Caríssimos, antes de mais nada, fixemos nosso olhar em Jesus nosso Senhor: ele é a Sabedoria de Deus, como diz São Paulo (cf. 1Cor 1,24.30). Ele é aquela de que fala a primeira leitura de hoje. Sim, caríssimos no Senhor: encontrar Jesus vale mais que os cetros e tronos; em comparação com essa bendita Sabedoria, saída do Pai no ventre da Virgem, as riquezas são sem valor porque ela é a grande riqueza de nossa existência.

Por isso, vale a pena amar nosso Jesus, Sabedoria de Deus, mais que a saúde e a beleza; vale a pena possuí-lo mais que a luz, pois o esplendor que ele irradia não se apaga. – Sim, Senhor bendito, os que te amam brilham como o sol, como o sol ao amanhecer! Tu és a luz do mundo, o esplendor do Pai, a luz de nossos olhos, a Sabedoria que dá sentido à nossa vida! Contigo todos os bens desta vida nos são dados; sem ti nada é verdadeiramente bom, nada durável, nada encherá verdadeiramente o nosso coração! Bendito seja tu, Senhor Jesus, Sabedoria eterna, saída da boca do Pai para dar luz e sentido ao universo!

Jesus é também a Palavra do Pai, Palavra viva, definitiva, eterna. A Palavra de Deus, caríssimos, não é primeiramente a Bíblia. A Palavra de Deus por excelência é Jesus: “No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada foi feito de tudo quanto existe. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós!” (Jo 1,1-2.14) Eis, portanto: a Bíblia somente é a Palavra de Deusporque dá testemunho de Jesus – e não de qualquer Jesus, mas do Jesus crido, adorado, testemunhado e enunciado pela Igreja católica, fundada pelo próprio Cristo e por ele sustentada na sua Palavra pela força do Espírito Santo da Verdade, que conduz sempre a Igreja à verdade plena! Fora disso, a Bíblia já não é Palavra de Deus, mas confusão e caminho para o erro! Eis! Voltemos o olhar para Cristo: Ele é “a Palavra de Deus, viva e eficaz e mais cortante que qualquer espada de dois gumes. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração”. Isso nós sabemos, irmãos; isso experimentamos, quando tantas vezes somos questionados pelo Senhor Jesus, que penetra até o íntimo de nós, com sua verdade, com sua exigência, com os projetos que tem a nosso respeito. Cristo é esta Palavra viva e definitiva de Deus: “E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é a ela que devemos prestar contas”. Por isso mesmo, o Senhor é o critério de nossa existência: quem nele crê tem a vida; quem não crê não conhecerá nunca o verdadeiro e pleno sentido da vida! – Bendito sejas tu, Senhor Jesus, Palavra e Verdade do Pai! Dá-nos a graça de vivermos em ti, de compreendermos que tu és a nossa vida e que somente em ti nossa existência será realmente plena de sentido e atingirá o fim para que fomos criados. A ti a glória, ó Cristo, Sabedoria e Palavra do Pai! A ti nosso amor, nossa adoração, nossa ilimitada entrega e confiança, a ti a nossa vida toda inteira, ó Cristo nosso Deus!

Agora, amados em Cristo, podemos compreender o Evangelho deste hoje. Pensemos bem: A pergunta que este alguém faz a Jesus, não é aquela mesma que nós tantas vezes fazemos? Não é a pergunta definitiva da nossa existência? “Bom Mestre, que devo fazer de bom para ganhar a vida eterna?” – Eis Senhor, qual dos caminhos da vida seguir? Qual me levará para mais longe ou para mais perto de ti? Dize-me, Mestre Bom!

A resposta de Jesus surpreende: “Por que me chamas de bom? Só Deus é o Bom!” É verdade: só o Pai é o Bom, é a fonte eterna de toda bondade, como só o Pai é o Santo, e a fonte de toda Santidade. E, no entanto, o próprio Senhor afirma: “Tudo que o Pai tem é meu. Eu e o Pai somos um. Quem me vê, vê o Pai!” Por isso mesmo, sem medo, podemos dizer todos os domingos: “Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo na glória de Deus Pai!” Sim, meus caros, Jesus é Bom porque vem do Pai, porque tudo recebeu do Pai e participa plenamente da plenitude de plena bondade que é o Pai! Mas, “tu conheces os mandamentos!” – Jesus é prático, meus caros: indica ao alguém que vem a ele os mandamentos; e notem bem: os mandamentos da segunda tábua, aqueles que falam do amor e do respeito pelo próximo! Vede, amados no Senhor, como o seguimento a Jesus exige atitudes muito concretas na nossa vida! Aquele lá, que buscava a vida respondeu feliz: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude!” Meus irmãos, nessa resposta há uma coisa boa e outra ruim. A coisa boa é que este homem é realmente observante da Lei de Deus; a coisa ruim é que ele parece satisfeito consigo mesmo; prece que, para ele, a religião consiste em fazer, em observar normas. Pronto. Fazendo isso, tudo bem! Notai, caríssimos, que também aquele fariseu que rezava no Templo estava satisfeito porque cumpria todos os preceitos; e os cumpria mais da conta! Ah, meus irmãos, que para o Senhor isso não basta! O Senhor é exigente, o Senhor olha o coração, o Senhor, Palavra “tão penetrante como espada de dois gumes”, quer saber de nossas intenções e não se contenta com nada menos que nosso coração e nossa vida! “Jesus olhou para ele com amor, e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” Meus irmãos, como Jesus é bonito, como é sábio, como é exigente, como vai direto ao ponto! Primeiro, vede como olha aquele lá: com amor, com aquele amor eterno com que nos amou e reservou para nós o seu amor! Nunca esqueçamos: suas exigências são exigências de amor! Na verdade, o Senhor deseja fazer aquele homem passar de uma religião de simples fazer coisas e cumprir preceitos para uma religião de amar de verdade: “Vai, vende tudo que és, moço! Vai, deixa-te a ti mesmo; larga essa preocupação contigo! Deixa-te vendendo tudo; abre-te para os outros, repartindo teus bens e teu amor e, depois, estarás pronto de verdade para experimentar o quanto eu sou o Bom: “Vem e segue-me!” Tu me chamaste de Bom sem saber o que isso queria dizer… Vem comigo, deixa tudo por mim e verás de verdade que eu sou o Bom, o teu Bem, todo Bem, o sumo Bem! Será livre, mocinho; encontrarás a vida em abundância! Deixa-te por mim e tu me encontrarás e, encontrando-me, encontrarás a própria vida!

Mas, não! Esse risco aquele lá não queria correr. Queria uma religião arrumadinha, que lhe oferecesse garantias; uma religiãozinha burguesa, na qual se sirva a Deus para servir-se de Deus… Arriscar tudo por esse Mestre de Nazaré? Deixar e deixar-se? Era demais! “Quando ele ouviu isso, ficou abatido, foi embora cheio de tristeza porque era muito rico”. Vede, meus irmãos, como nós somos! Vede qual a nossa tentação! Esse homem era rico de bens materiais, rico de apego a si próprio, rico de se buscar a si mesmo, mas pobre de amor a Deus e pobre de generosidade para com os outros; pobre de sonhos, pobre de ideal, pobre de generosidade, pobre de grandeza interior… Ele queria ser aquilo que Cristo abomina: um cristão burguês, acomodado na vidinha medíocre, de fácil moral e fáceis compromissos… cristãos que rastejam como vermes quando deveriam voar alto como as águias…

Daí a dura constatação de Jesus: “Como é difícil para os riscos entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!’ A palavra é clara: é mais fácil um camelo passar pela agulha fininha, que um rico entrar no Reino. E por quê? Porque a riqueza – seja qual for ela – tende a nos apegar, a nos fechar, a nos fazer pensar que nos bastamos! Somente quem for pobre de coração pode entrar no Reino, pois só quem é pobre deixa que Deus reine de verdade na sua vida! E como é difícil para nós, tão fáceis de sermos iludidos, compreender isso! Desapeguemo-nos, caríssimos, de nós mesmos; deixemo-nos para poder encontrar a vida verdadeira. Nunca será digno de Jesus quem não tiver a coragem de tudo deixar por Jesus: “Quem tiver deixado tudo por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida, com perseguições e, no futuro, a vida eterna”. = se deixar para receber, não deixou nada; se deixar para receber nunca amou, não compreendeu a Palavra!

Os apóstolos não compreenderam isso – como também muitas vezes nós não compreendemos e não compreendem de modo algum aqueles que falam em seguir Jesus só para ter lucro. Basta ver na televisão, os falsos pregadores, de falsos evangelhos, que não passam da velhice pecaminosa disfarçada. Basta pensar na maldita teologia da prosperidade: “serve a Deus e ficarás rico!” Caros, quem deixa para receber, nada deixou; quem deixa esperando recompensas, nunca amou; quem segue o Senhor pensando em pagamentos, nunca compreendeu a Palavra! – Senhor, Sabedoria e Palavra do Pai, nosso tudo e nossa vida, só tu és nosso caminho, só tu, nosso destino, só tu nossa eterna recompensa. Nada nos falta se temos a ti! A ti a glória. Amém.

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