segunda-feira, 6 de julho de 2015

Missa na Sé de São Paulo (SP) homenageia padre que lutou pelos direitos das mulheres e curou idosa com doença degenerativa


Após ser beatificado em Veneza, com celebração que reuniu mais de 5 mil pessoas na praça São Marco, Padre Luiz Caburlotto terá missa em 12 de julho, na Catedral da Sé (SP), a ser presidida por Dom Odilo. Caburlotto foi o primeiro a investir na educação para meninas como forma de tirá-las da extrema pobreza, ao fundar o Instituto Filhas de São José, no século 19.

O milagre

Maria Grazia em 2001,
 antes de receber o milagre.
“Ao amanhecer de 12 de fevereiro de 2008, não sei se em sonho, ou melhor, talvez meio dormindo, tive uma visão em que me parecia a figura do Caburlotto no jardim do prédio onde moro. Instintivamente, sempre no sonho, procurava aproximar-me dele sem sucesso, mas de repente eu senti como um empurrão e ele com uma voz autoritária me disse: ‘Caminha’. Para dizer a verdade, na hora eu fiquei com medo porque praticamente me acordei de sobressalto, mas então cumpri a ordem e, não sentindo as dores de costume nos membros, eu saí da cama sem a ajuda da bengala e comecei a me movimentar pela casa”. Essa foi a forma que Maria Grazia Veltraino, hoje com 84 anos, contou o milagre para os peritos do Vaticano.

Em 1999, Maria Grazia Veltraino, que sofria de dermatomiosite – uma doença crônica nos músculos que leva à paralisia -, foi desenganada pelos médicos. As condições clínicas e físicas da idosa eram de imobilidade quase total. Ela foi piorando progressivamente, ficou em estado caquético por volta de 2001, chegando a pesar 24kg.  Devido à impossibilidade total de caminhar, necessitou do uso constante de uma cadeira de rodas e da ajuda de uma cuidadora.

Maria Grazia em 2015,
dançando ao lado das irmãs
Filhas de São José,
sete anos depois de receber
 o milagre que levou
Caburlotto à beatificação.
Quando o milagre aconteceu, em 2008, o caso foi levado ao Vaticano, que designou peritos médicos para analisar todos os exames feitos com Maria Grazia. Após mais de seis anos de investigação, conversando com todos os envolvidos, o caso foi reconhecido como verdadeiro milagre, ou seja, quando não é encontrado nenhum tipo de indício científico que justifique o que aconteceu. Este primeiro milagre somado à obra do padre pelo direito da mulher à educação e trabalho digno renderam a ele a posição de beato da igreja católica. A cerimônia de beatificação aconteceu no último mês de maio e reuniu mais de 5 mil fieis, na Catedral de San Marco, em Veneza, Itália, terra natal de Luís Caburlotto. No Brasil, a Igreja reconhece a importância de sua obra e celebra no próximo dia 12 de julho, às 11h, uma missa, na Catedral da Sé, a ser presidida por Dom Odilo.

Caburlotto teve um importante papel na vida de jovens de baixa renda do século 19, quando fundou o Instituto Filhas de São José. Antes de morrer, um de seus últimos pedidos foi que a obra fosse levada à América Latina, mais especificamente ao Brasil. Então, em 1927, chegaram da Itália as Irmãs Filhas de São José, ao interior de São Paulo, e deram início ao trabalho educativo junto às crianças e adolescentes, seja na educação, na catequese ou nos grupos paroquiais.

Maria Grazia em 2015, caminhando pelas ruas de Veneza 
durante a semana da beatificação de Luis Caburlotto.

Um verdadeiro missionário

O arcebispo de Veneza, Francesco Moraglia, na missa de beatificação, aplicou a Luís Caburlotto os pensamentos do papa Francisco. “Esse sacerdote foi um verdadeiro missionário, que saiu ao encontro das pessoas nas periferias e se fez próximo delas; foi um verdadeiro bom pastor, com “o cheiro das ovelhas”, que se dedicou a elas com todas as suas energias”.

Padre Luís Carbulloto
Caburlotto mudou o rumo de vida de milhares de crianças e adolescentes que tinham o futuro comprometido pela miséria, pelo abandono e pela falta de oportunidade para ascender profissionalmente. Quando iniciou sua obra, em meados do século 19, na paróquia San Giacomo dell’Orio, na época uma região pobre de Veneza, a primeira preocupação do padre foi dar educação às meninas de baixa renda, vítimas de frequentes abusos. Foi então que, com apoio de três fiéis leigas, criou a primeira escola de caridade exclusiva para meninas de baixa renda, o Instituto das Filhas de São José. Além de introduzirem leitura e escrita, essas mulheres também ensinavam noções de matemática e um pequeno ofício às meninas, a fim de que adquirissem conhecimento e autonomia para uma vida com mais oportunidades. Caburlotto tinha convicção de que se uma menina fosse salva, uma família também seria salva ao mesmo tempo.

A mulher constrói ou destrói a casa, esta era a minha convicção.  Precisava tirar as meninas da triste condição de “instrumentos úteis” e abrir para elas caminhos, para  percorrerem estradas que as levassem a tornarem-se mulheres conscientes da própria dignidade e força”,  Pe. Caburlotto.

Maria Grazia como personificação da obra de Caburlotto

Entre tantas, Maria Grazia Veltraino foi escolhida para receber tamanha graça vinda de Luís Caburlotto. Para quem conhece a obra do padre e a compara com a história de Maria Grazia, tudo fica mais claro – a vida dela é a personificação da história de vida de milhares de meninas que foram abraçadas pela causa de Caburlotto. Quando questionada sobre o porquê do milagre ter acontecido justamente com ela, a resposta é sempre a mesma, “O milagre não foi para mim, foi para o Instituto Filhas de São José”, diz Maria Grazia Veltraino.

Órfã aos 6 anos, Maria Grazia viveu em um abrigo, de onde teve de sair ao completar 18 anos. Ao ir para a rua, vivia de bicos, tentando sobreviver, mas estava vivendo em uma situação de extrema pobreza. Nessa época, em uma escadaria nas ruas de Roma, Madre Girolama Paladin, do Instituto Filhas de São José encontrou Maria Grazia e a convidou para conhecer uma das casas de apoio. Mesmo relutante, Grazia aceitou. Com o tempo, se tornou parte daquela comunidade. No Instituto, recebeu estudos, formou-se como enfermeira e começou a trabalhar na área. Com ajuda daquela comunidade, também conseguiu comprar seu apartamento em Roma, onde vive até hoje.

Assim como as meninas abandonadas na região do porto de Veneza, a história de Maria Grazia, que começou pelo abandono ainda na infância e falta de oportunidades durante a vida, foi transformada pela obra de Luis Caburlotto. Muito antes de ficar enferma, um verdadeiro milagre já havia acontecido com ela desde o momento em que foi encontrada por uma das Filhas de São José. Maria Grazia criou uma intimidade espiritual muito forte com o padre e, apesar de serem de épocas diferentes, o trabalho que ele desenvolveu no século 19 foi capaz de salvar a sua vida e esta, por sua vez, nunca deixou de rezar pelo padre, sempre conversando com ele, pedindo pela sua interseção durante as orações.

Canonização x Beatificação

Muitos confundem a canonização e a beatificação. O que acontecerá no dia 16 de maio, em Veneza, será a Beatificação do Padre Luís Caburlotto, que é o reconhecimento feito pela Igreja de que a pessoa a quem é atribuída pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração. Para se tornar beato, é necessária a comprovação de um milagre por sua intercessão, além da obra que desenvolveu durante a vida. Uma vez atingida essa condição, procede-se o processo de canonização. Aqui no Brasil, quem passa por esse processo é a Irmã Dulce, beata nascida na Bahia, que está com três milagres sendo analisados por peritos do Vaticano. Se comprovados, Irmã Dulce será a segunda santidade brasileira - a primeira foi Frei Galvão, santificado por Bento 16, em 2007. Segundo o Código Canônico, alguém só pode ser canonizado, ou seja, se tornar santo, graças a um milagre ocorrido após a santificação. É esse o processo pelo qual Caburlotto passará daqui para frente.

Sobre o Instituto das Filhas de São José


Em 30 de abril de 1850, foi fundado o Instituto das Filhas de São José pelo Pe. Luís Caburlotto. Desde então, a educação proporcionada pelo Instituto é uma via de acesso para que o educando aprenda a ocupar o seu lugar no mundo, presente e futuro, sendo protagonista em seu aprendizado e na sua história pessoal a fim de engajar-se construtivamente na sociedade. No Brasil desde 1927, o Instituto já conta 37 irmãs presentes em seis comunidades religiosas, atuando na administração de escolas, obras sociais e nas paróquias, colaborando com a catequese, a liturgia, o grupo de jovens, dentre outras ações.

________________________________
Contato para imprensa:

Virta Comunicação Corporativa
Lucila Lopes – lucila.lopes@virta.inf.br
Mariana Dente – mariana.dente@virta.inf.br
(11) 3083-1242

Nenhum comentário:

Postar um comentário