terça-feira, 9 de junho de 2015

Homilética: 11º Domingo Comum - Ano B: "O Grão de Mostarda”.


As leituras de hoje tratam do agir soberano de Deus sem a dependência da intervenção humana. Primeiramente, isso é assegurado a Israel no momento da maior crise de fé do povo da aliança: o exílio da Babilônia. Quando o povo pensou que tudo estava perdido, porque não havia nenhuma possibilidade humana de solucionar o problema do retorno à terra prometida, Deus enviou o profeta Ezequiel para reanimar a esperança nas promessas divinas.

Um resto de gente humilde e desprezada permanecerá fiel. A palavra do profeta compara esse resto a um raminho que Deus cortará da copa do grande cedro e o transplantará no alto de um monte elevado. Ele crescerá e ramificará a ponto de aves de toda espécie fazerem ninho em seus ramos (Ez 17,22-23). Trata-se de profecia messiânica: Deus mesmo providenciará a solução, enviando o Salvador.

Olhemos mais uma vez para os nossos irmãos da aurora do cristianismo, agora através da epístola a Diogneto, um dos primeiros escritos cristãos: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio”.

Mesmo quando os homens estão pervertidos, ao ponto de negar a Deus e de O considerar “morto”, vivendo como se não existisse, Ele está sempre presente e atuante na história humana e continua a espalhar a semente do Seu Reino.

A própria Igreja, que colabora nesta sementeira, não vê, a maior parte das vezes, os seus frutos; mas é certo que um dia amadurecerão as espigas. Porém, é preciso esperar com paciência a hora marcada por Deus, como o lavrador, sem inquietação, espera que passe o inverno e que o grão germine. E se isto serve para a Igreja, deve servir também para cada um em particular, porque no coração do homem se desenvolve, ocultamente, o Reino de Deus e a santidade. Por isso, não deve haver lugar para desânimos, se, depois de esmerados esforços, um se encontra fraco e defeituoso. É preciso perseverar no esforço, mas confiando apenas em Deus, porque somente Ele pode tornar eficaz a ação do homem.

Desse modo Deus age no mundo para instaurar seu Reino, deixando de lado os grandes e poderosos e se servindo de humildes, pobres, desprezados e pequeninos, como o raminho cortado da copa ou a semente lançada no campo. Dessa imagem se serviu Jesus para falar sobre o Reino, uma realidade que não se impõe pelo poder, como os grandes impérios mundiais, mas como realidade oculta, semeada nos corações humildes e, entretanto, com força de expansão inimaginável. O Reino se impõe por intermédio dos simples e apesar das forças contrárias, porque é agir soberano de Deus na história.

A falta de estratégia as vezes nos deixa na inatividade: conversas vulgares, sempre as mesmas (além das piadas malsonantes, vocabulário baixo). É preciso saber elevar o nível, fazer-nos amigos de nossos conhecidos, atrai-los através da mansidão. Mãe, um segredo: não se consegue a conversão dos filhos aos gritos. Jovem, você não conseguirá a conversão daquele seu amigo sem rezar e sem se sacrificar por ele. É preciso viver a caridade através dos serviços que prestamos; fazer com que eles, através da nossa amizade, abram o coração; enfim, precisamos fazer um apostolado de amizade, esse dá certo em qualquer ambiente: no trabalho, na escola, na faculdade, nas fábricas, nos laboratórios etc. Como apóstolos dos tempos modernos, o que precisamos é ter uma grande confiança no Senhor. Com fé, esperança e caridade, seguiremos avante, por Cristo e com Cristo.

Que o Senhor nos dê forças para sermos cristãos autênticos vivendo a fé que professamos, em todos os momentos e situações da vida. Serão ocasiões para mostrarmos o nosso amor a Deus, deixando de lado os respeitos humanos, a opinião do ambiente, etc; “pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria. Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor…”(2 Tm 1 ,7-8).

Somos convidados a continuar semeando com fé e confiança. A força vital de Deus age, garantindo o sucesso da colheita, da Missão. Os frutos não dependem de quem semeou, mas da força da semente. O crescimento do Reino depende da ação gratuita de Deus.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Ez 17,22-24; Sl 91; 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34

Na primeira leitura, os descendentes do rei Davi quebraram a aliança com Deus e grande parte de Judá foi levada para o exílio na Babilônia. Mas Deus é sempre fiel e preparou outra descendência de Davi, por meio da qual as promessas divinas seriam levadas ao pleno cumprimento.

A metáfora de uma árvore é aqui apresentada para assegurar a plena realização das promessas divinas no Reino do Messias. Do raminho cortado da copa, Deus fará uma grande árvore e a plantará num alto monte.

Naquela época, Nabucodonosor orgulhava-se de ter instaurado o grande império da Babilônia, e os exilados de Judá não viam como Deus poderia manter suas promessas. É exatamente nesse cenário histórico que entra o profeta, para assegurar que o próprio Deus está comprometido com a revitalização e a restauração da descendência de Davi. Os projetos ambiciosos dos poderosos deste mundo fracassarão, mas a ação de Deus na história é eficaz e irreversível. Quem pode arrancar o que Deus vai plantar?

O estabelecimento do Reino do Messias deverá mostrar mais claramente às nações do mundo (todas as árvores do campo) que Deus é o rei de toda a terra. O texto da profecia termina com a chamada inversão escatológica; à semelhança do Magnificat de Maria, Deus rebaixará o alto e exaltará o baixo, eis o julgamento dos poderes do mundo.

A segunda leitura se inicia mencionando a confiança do apóstolo. O termo traduzido por confiança, no idioma original da epístola, significa ter ousadia, ser audaz. O apóstolo está confiante, apesar de estar encarnado neste mundo e ausente da morada definitiva.

O apóstolo nos exorta a não nos apegar a esta vida, a este mundo. Seria preferível morrer para estar com Cristo, mas, seja lá o que aconteça, devemos nos esforçar para ser agradáveis ao Senhor. É necessário produzir frutos. O sentido mais adequado do v. 9 é: “Contudo, quer estejamos na presença do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos interessa é agradar a Deus”. Estar exilado do Senhor é estar vivendo ainda neste mundo.

Todos nós seremos julgados pelo Pai, ou seja, teremos de prestar contas da administração de nossos dons e projetos de vida àquele que é fonte de nossa existência e de toda dádiva. Por isso, estar na vida presente é um risco não porque Deus seja um juiz implacável, mas porque não somos fonte de nossa própria existência: nós a recebemos de Deus, com tudo que ela tem de bom e com todas as ferramentas para transformar a nós mesmos e ao mundo. A vida aqui neste mundo exige que produzamos frutos agradáveis a Deus.

O Evangelho traz para a nossa reflexão duas breves parábolas contadas por Jesus: a da semente que cresce sozinha e a do grão de mostarda (cf. Mc 4, 26–34). Nestas parábolas temos a exposição de como o Reino de Deus se expande com uma força que não depende do ser humano, mas do próprio Deus. Através dessas imagens, tiradas do mundo da agricultura, o Cristo Senhor quer ilustrar as razões da nossa esperança e do nosso compromisso na história.

A primeira parábola ressalta: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou” (v. 27-29).

Jesus mostra que o Reino tem uma força intrínseca, independente da ação humana. Isso já tinha sido entrevisto no Antigo Testamento, após o fracasso da monarquia. Desde então, o Reino de Deus passou a ser entendido como um reino futuro do final dos tempos, como uma ação escatológica própria de Deus e independente da ação humana. O Novo Testamento afirma que esse Reino tem início com Jesus e não se restringe ao aspecto geográfico; ao contrário, é formado por todos os que aceitam Jesus como Senhor, Caminho, Verdade e Vida.

Exceto pelo fato de ter sido semeada pelo agricultor, a semente cresce e se desenvolve sem a intervenção humana: “Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga” (v. 28). Assim é o Reino de Deus na história, que, com base em acontecimentos aparentemente insignificantes aos olhos do mundo, provoca significativas transformações irrevogáveis. 

Esta parábola tem uma estrutura bastante simples e evoca o mistério da criação e da redenção, da obra fecunda de Deus. Ele é o Senhor do Reino, o homem é o seu colaborador humilde que contempla e rejubila com a obra criadora divina e dela espera pacientemente os frutos. O texto mostra que o agricultor semeia com a certeza de que o seu trabalho não será infecundo. Ele confia na força da semente e na fertilidade do terreno.  

Após ser semeada, a semente nasce e cresce independente da ação do agricultor. Deste modo, podemos lembrar da afirmação de São Paulo: “Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento” (cf. 1Cor 3, 6-7). No contexto da parábola, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. O objetivo da parábola é também o de chamar a atenção dos ouvintes para o Reino de Deus e é um recurso retórico que faz parte do método utilizado por Jesus na evangelização. A semente que germina e cresce por si mesma exprime a ação de Deus que comunica amor e vida a todos.

O Reino de Deus é comparado não apenas ao trabalho do camponês ou à semente que é lançada à terra, mas deve chamar a nossa atenção verifica-se que chama a atenção todo o processo de crescimento da planta. Jesus quer mostrar que o Reino de Deus é tão misterioso como o processo de desenvolvimento de uma semente que brota e se torna uma planta grandiosa.  Para o homem antigo este processo constituía um milagre de Deus. Depois de lançada a semente, o homem não podia fazer mais nada, senão esperar com paciência o tempo da colheita.

Na linguagem evangélica, a semente é também símbolo da Palavra de Deus, cuja fecundidade é recordada por esta parábola. Do mesmo modo como a semente humilde se desenvolve na terra, também a Palavra age com o poder de Deus no coração de quem a ouve. Deus confiou a sua Palavra à nossa terra, ou seja, a cada um de nós, com a nossa humanidade concreta. Podemos ser confiantes, porque a Palavra de Deus é palavra criadora (cf. Gn 1,1ss). Esta Palavra, sendo acolhida em nosso coração, certamente dará os seus frutos, porque o próprio Deus a faz germinar e crescer.  A Palavra de Deus, ao ser anunciada, penetra nas mentes e nos corações, e quem a escuta nunca mais consegue permanecer o mesmo. É inevitável que aconteça uma transformação interior.

Na segunda parábola Jesus conta: “O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (v. 32-33).  São palavras que fazem referência ao Livro de Ezequiel, do qual é tirada a primeira leitura (cf. Ez 17,22-24). Os dois textos fazem referência ao desenvolvimento do Reino de Deus na história do mundo. Jesus usa a imagem do grão de mostarda para acentuar o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena e de aparência irrelevante.

Nesta segunda parábola o texto menciona uma semente específica, o grão de mostarda, considerada a menor de todas as sementes. Porém, embora seja pequena, está cheia de vida, e dela nasce um rebento capaz de romper o terreno, de sair à luz do sol e de crescer até se tornar “a maior que todas as hortaliças” (cf. Mc 4,32): a debilidade é a força da semente, o romper-se é o seu poder. E assim é o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena, formada por quem não confia na própria força, mas na força da misericórdia de Deus.  A semente germina e cresce, porque é a bondade de Deus que a faz crescer.

A mostarda é uma planta da família da couve, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes. Existem duas espécies principais de mostarda: a branca e a preta. A branca chega a ultrapassar 1 metro de altura e a preta pode chegar de 3 a 4 metros, sendo esta uma espécie de mostarda comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso, os árabes têm o costume de falar em árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do lago de Tiberíades e nas margens do Jordão.

As sementes de mostarda, na época, eram vistas como modelo de algo insignificante. Mas ao utilizar este exemplo, Jesus põe em destaque a simplicidade de qualquer realidade que começa em comparação com a grandeza dos resultados. A inexpressiva semente que se transforma em uma árvore acolhedora dos pássaros exprime que a fé dos discípulos, desprezível para muitos, pode gerar o mundo novo de fraternidade e paz.

O acento destas duas parábolas está justamente na força do contraste.  Nelas, o Reino de Deus representa um “crescimento” e um “contraste”: o crescimento que se verifica graças a um dinamismo da própria semente e o contraste que existe entre a pequenez da semente e a grandeza daquilo que ela produz. A mensagem é clara: para que ocorra o seu crescimento faz-se necessário a nossa colaboração, o Reino de Deus é antes de tudo dom do próprio Senhor para nós.

Uma outra mensagem que podemos tirar dessas parábolas está no fato de sabermos esperar o tempo de Deus, ter paciência, manter a calma e acompanhar o desenvolvimento da semente que, sozinha, germina, cresce e produz frutos abundantes.  Para sermos discípulos de Cristo é preciso ter a paciência de uma semente que dia e noite cresce, brota, desabrocha, amadurece em um processo longo, silencioso e quase anônimo.

Obtemos ainda destas duas parábolas um ensinamento importante: O Reino de Deus requer a nossa colaboração, mas é sobretudo iniciativa e dom do Senhor. A nossa obra frágil, aparentemente muito pequena face à complexidade dos problemas do mundo, se for inserida em Deus, terá êxitos. Possamos semear este grão de mostarda no campo do nosso coração, pois se assim fizermos, será ele um jardim bem irrigado, um manancial de águas que nunca param de correr (cf. Is 58,11).

Há, na parábola, um contraste entre a insignificância aparente do ministério de Jesus e o desenvolvimento do Reino de Deus a partir desse ministério. O mesmo se pode concluir da atuação dos cristãos na história. Essa parábola ilustra a presença do Reino na história e a expectativa que devemos ter da plena revelação do Reino no futuro.

Jesus Cristo é também este grão de mostarda que cai na terra e se multiplica para nós. Saibamos ser a terra boa, capaz de acolher e sermos anunciadores da sua mensagem salvadora e que ela possa produzir bons e saborosos frutos de santidade, unidade e paz. 

PARA REFLETIR

Tão simples o evangelho de hoje; tão doce, tão cheio de sabedoria! Estejamos atentos, porque o Senhor nos falado Reino de Deus, Reino que começa aqui, experimentado quando nos abrimos para o anúncio de Jesus; Reino que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua história, entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade santa.

O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino de Deus não é daquelas coisas vistosas, midiáticas, de sucesso humano. O Reino vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas… Pequenas como um grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho frágil e sem aparente valor… Quantas vezes buscamos os sinais da força de Deus na força humana, nos grandes eventos, nas realidades grandiloqüentes. Não, na é aí que se encontra o Reino. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho, retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi… aquele brotinho pobre, da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir… Ah, irmãos! Os modos de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas expectativas!

Outra lição de hoje: o Reino vem aos poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo pelo nosso Jesus, ele irá crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos da gente! Atentos, irmãos, porque somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos tempos de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas pressas… Assim vai o Reino, brotando humildemente na história e no coração do mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber…

Ainda uma outra lição do Senhor: Nós, filhos de um mundo tão pragmático e auto-suficiente, temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus. Coitados que somos! Pensamos que nós é que fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Presunçosa ilusão! É Deus quem, humilde, forte e fielmente, faz o Reino desenvolver-se na potência do Espírito. Que diz o Senhor? “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece!” Que imagem doce, bela, delicada… Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como plantamo-lo? Plantamos quando nos abrimos à graça, plantamos com nosso exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação… Mas, cuidado! É o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra dele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que rega, mas é Deus quem faz crescer… É assim, caríssimos, que, num mundo aparentemente esquecido por Deus, Deus vai agindo, tomando nossas pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e suavidade…

Um dia, diz Jesus, chegará o momento da colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos e, então,“todos deveremos comparecer às claras ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida corporal”. Não adiante querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos de passagem, aqui, vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar a história somente será pleno e definitivo na glória. Quanta é grande a tentação, hoje em dia, de nos ocuparmos com tantas futilidades, esquecendo que aqui estamos de passagem e somente lá é que permaneceremos para sempre! Como seríamos mais livres, equilibrados, seremos, se recordássemos essa realidade. Como teríamos o cuidado de viver de tal modo, que não perdêssemos o Reino. Sim, caros, porque é possível ficar fora do Reino! Não entrará no Reino quem não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós quem entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino, é abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para ele e ele nos abrirá o sue Reino!

Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai, na qual há muitas moradas! É por isso que, na primeira leitura, pousarão todos os pássaros à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e se torna arvora frondosa. Eis, caríssimos, o Senhor nos ama a todos, nos deseja a todos, nos chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração, experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia, haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre mais presente no mundo. Amém.

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