quinta-feira, 16 de abril de 2015

Declaração conjunta do Papa João Paulo II e do Patriarca Ignacios Zakka I Iwas


DECLARAÇÃO COMUM ENTRE O PAPA JOÃO PAULO II E
MORAN SS. MAR IGNATIUS ZAKKA Ir IWAS


1. O Papa João Paulo II, Bispo de Roma e Papa da Igreja Católica, e o Moran Mar Ignatius Zakka SS 1º Iwas, Patriarca de Antioquia e de todo Oriente Chefe Supremo da Igreja Universal Ortodoxa Síria ajoelhando-se humildemente diante do trono de glória do nosso Senhor Jesus Cristo, dando graças a Deus pela oportunidade maravilhosa que lhes deu em conhecer no seu amor para o aprofundamento das relações entre as duas Igrejas irmãs, a Igreja de Roma e da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, já possuindo excelentes relações com a iniciativa conjunta da Sua Santidade, de abençoada memória, o Papa Paulo VI e o Patriarca Mar Ignatius Moran Jacob III.

2. Papa e o Patriarca deseja afirmar solenemente por tudo o que os une já em profunda comunhão espiritual, eles e os bispos, sacerdotes e fiéis de suas igrejas, para fortalecer ainda mais esses laços de fé, esperança e amor e, gradualmente, retomar a vida comum completa eclesial.

3. Primeiro: a sua Santidade confessa a fé de ambas as igrejas feitas pelo Concílio de Nicéia, em 325, expressas em Credo Niceno-Constantinopolitano. As confusões e cismas que ocorreram nos séculos seguintes entre as duas igrejas - eles reconhecem hoje - não atingem a substância da sua fé, uma vez que estas só surgiram por causa das diferenças na terminologia, diferenças culturais, diversas fórmulas adotadas pelas diferentes escolas teológicas para exprimir a mesma realidade. Assim, não encontramos hoje nenhuma base real para as divisões e tristes cismas que ocorreram posteriormente entre as duas Igrejas sobre a doutrina da Encarnação. Em palavra e ação, eles confessam a verdadeira doutrina acerca de Cristo, nosso Senhor, não obstante as diferenças na interpretação da doutrina, que teve lugar na época do Concílio de Calcedônia. 

4. Queremos reafirmar a nossa solene profissão de fé na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, como já havia declarado em 1971 o Papa Paulo VI e o Patriarca Mar Ignatius Moran Jacob III. Eles negaram que haja uma diferença na fé que professamos no mistério do Verbo de Deus feito carne e tornou-se verdadeiramente humano. No nosso lado, confesso que encarnou por nós, tendo para si um verdadeiro corpo com uma alma racional. Ele partilhou a nossa humanidade em todas as coisas exceto no pecado. Confessamos que nosso Senhor e nosso Deus, nosso Salvador e Rei do universo, Jesus Cristo, Deus é perfeito em termos de sua divindade e perfeito para o que o homem é a sua humanidade. Nele Sua divindade está unida com a sua humanidade. Esta união é real, perfeito, sem se misturar, misturar, sem confusão, sem modificação, sem divisão, sem separação. Ele que é Deus eterno e indivisível se tornou visível na carne e tomou a forma de servo. Nele está unida a humanidade real, perfeita, indivisível e inseparável ​à divindade onde todas as suas propriedades estão presentes e ativas.

5. Tendo a mesma concepção de Cristo, nós confessamos o mesmo projeto que o seu mistério. Encarnado, morto e ressuscitado, nosso Senhor, Deus e Salvador venceu o pecado e a morte. Para ele, durante o período entre Pentecostes e da Segunda Vinda, um período que é também o fim do tempo é dado ao homem que experimentou a nova criação, o reino de Deus, transformando fermento (cf. Mt 13,33), já presente entre nós. Para isso Deus escolheu um novo povo, a Sua santa Igreja como Corpo de Cristo. Através da Palavra e dos sacramentos, o Espírito Santo age nela chamando todos os homens e tornarem-se membros do Corpo de Cristo. Aqueles que creem são batizados no Espírito, em nome da Santíssima Trindade para formar um só corpo, e do sacramento da unção de confirmação, sua fé é aperfeiçoada e reforçada por esse mesmo Espírito Santo.

6. Através da Eucaristia a vida sacramental chega ao seu cume e assegura que, através da Eucaristia que a Igreja realiza e exprime a sua profunda natureza. Através da Eucaristia, o evento da Páscoa da Igreja de Cristo se expande. Através do Batismo e da Confirmação, na verdade, os membros de Cristo são ungidos pelo Espírito, enxertados em Cristo. Através da Eucaristia, a Igreja torna-se o que ela é chamada a ser pelo Batismo e pela Confirmação. Pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, os fiéis crescem onde a deificação misteriosa do Espírito Santo faz com que eles se encontrem no Filho como filhos do Pai.

7. Os outros sacramentos, a Igreja Católica e a Igreja de Antioquia da Síria mantidos juntos na mesma sucessão do ministério apostólico, nomeadamente os do matrimônio, o pedido de reconciliação dos penitentes (penitencia) e da Unção dos Enfermos, estão ordenados à celebração da Eucaristia que é o centro da vida sacramental e da expressão mais visível da comunhão eclesial. Esta comunhão entre os cristãos e as igrejas locais unidas em torno de seus legítimos pastores se concretiza na comunidade reunida que confessa a mesma fé, exprimida na esperança do mundo futuro e na espera da volta do Senhor e, pelo Espírito Santo que habita nele com caridade, que não decepciona.

8. Significativa expressão da unidade cristã entre os crentes e os pastores[1]. Porém a Eucaristia não pode ser concelebrada por nós[2]. Uma tal celebração envolveria uma completa identidade de fé que não existe entre nós. De fato, algumas questões precisam ainda ser resolvidas, que dizem respeito à vontade do Senhor para a sua Igreja, como também as implicações da tradição doutrinal e canônica de nossas comunidades por muito tempo separadas.

9. Esta identidade de fé, embora incompleta, nos permite considerar que trabalhemos em situações pastorais que surgem com frequência, nos dias atuais, tanto devido à dispersão dos nossos fiéis em todo o mundo quanto às condições precárias de pastoreio nesses tempos difíceis. Não é incomum que para o nosso povo, o acesso a um padre de sua Igreja seja física ou moralmente impossível. Preocupados em atender às suas necessidades e para o seu benefício espiritual, nós permitimos que neste caso possam solicitar aos legítimos Pastores da Igreja, os outros sacramentos da penitência, da Eucaristia e da Unção dos enfermos de acordo com suas necessidades.[3] Colaborar na formação de sacerdotes e na educação teológica seria um corolário lógico da colaboração pastoral. Nós incentivamos os bispos a promoverem a partilha dos recursos à sua disposição para a educação teológica, sempre que o considerem conveniente. Ao fazer isso, não devemos esquecer que nós ainda fazemos tudo ao nosso alcance para conseguir a plena comunhão visível entre a Igreja Católica e a Igreja de Antioquia da Síria e imploramos incessantemente ao Senhor para que torne possível esta unidade e para isso vamos dar um testemunho perante o mundo de um Evangelho totalmente unânime.

10. Agradecendo ao Senhor a oportunidade que nos deu para nos encontrar e desfrutar do conforto da nossa fé comum (cf. Rom 1, 12) e proclamar ao mundo o mistério da pessoa do Verbo de Deus encarnado e o Seu Trabalho de Salvação, alicerce inabalável da fé comum, juramos solenemente fazer todo o possível naquilo que depender de nós para remover os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre a Igreja Católica e a Igreja de Antioquia da Síria, de modo que possamos ser uma só voz e um só coração, para nós podermos pregar a Palavra que é a "luz verdadeira que ilumina todo homem" e que "todos os que creem no seu nome possam tornar-se filhos de Deus" (cf. Jo 1, 9-12).


Roma, 23 jun 1984.
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[1] O acordo prevê a colaboração mútua entre os pastores e os fiéis, ou seja, os fiéis sirianos por viverem dispersos e muita das vezes longe de uma Igreja Siriana ficam frequentemente ausentes de sacramentos. Para solucionar esta deficiência, ante a carência de ministros sirianos a Igreja Romana permite que os fieis sirianos possam solicitar aos padres romanos os sacramentos que lhes faltam para as suas vidas. Porém deve existir a consciência de sua própria identidade religiosa respeitando-se que o fiel pertence àquela outra Igreja irmã.

[2] Enquanto fiel, na ausência do ministro da sua própria Igreja, este poderá comungar ou pedir os outros sacramentos na outra igreja irmã, e o padre ou o bispo deverá permiti-lo, porém o que não pode acontecer é que dois padres ou bispos de igrejas diferentes concelebrem a mesma Eucaristia, visto que a Eucaristia é a culminação da comunhão plena que exige que se esteja unido à sua própria comunidade de fé.

[3] Diante da escassez de clero na Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, a Igreja Católica Romana se compromete em assistir os fiéis sirianos no mundo todo onde lhe faltarem os ministros próprios que lhes possa atender, sem que, necessariamente, estes tenham que mudar de Igreja e vice-versa, quando for o caso.

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Texto disponível em Inglês, Francês e Italiano no site da Santa Sé. 

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