sábado, 31 de janeiro de 2015

Perseguição contra os cristãos: qual é o próximo passo?


Quando você ouve falar em "cristãos perseguidos", o que vem à sua mente?

Você pensa em algum lugar do Oriente Médio? Você pensa em igrejas destruídas, mosteiros pilhados, crianças decapitadas, mulheres vendidas como escravas sexuais, sacerdotes e fiéis sendo obrigados a fugir da própria terra para salvar a vida? Você fica aliviado quando lhe dizem que estas atrocidades são cometidas só por pessoas que "mal interpretaram" a "religião da paz"? Talvez sim. Você encontra pelo menos um “frio conforto” ao ouvir dizer que a perseguição contra os cristãos só acontece em terras distantes, em cidades que quase nem encontramos no mapa, com pessoas cujos nomes não sabemos pronunciar e cujas línguas não falamos? Eu espero que não.

E também espero que ninguém ache que os cristãos aqui no Ocidente não têm inimigos civis, sociais, morais e espirituais altamente motivados a destruí-los. Eu espero que nós não sejamos como os judeus alemães em 1935, que vasculhavam os textos das Leis de Nuremberg em busca de algum trecho que lhes garantisse que as leis antissemitas se aplicavam a qualquer outro grupo de judeus, mas não a eles.

Já faz décadas que o dogmatismo anticristão em geral e o fanatismo anticatólico em particular vêm sendo socialmente aceitáveis. Um agressor pode levar uma vida tranquila e agradável numa cultura popular que vê como “normal” insultar católicos e suas crenças. Mais recentemente, o vasto aparato da burocracia civil, aqui nos Estados Unidos, por exemplo, voltou os seus olhos malignos contra os fiéis cristãos, em especial contra os católicos. Armados com um arsenal de leis, regulamentos e ordens, com um exército de burocratas não eleitos e irresponsáveis​​, apoiados por juízes e tribunais e, em última análise, fortificados por homens com distintivos e armas, os poderes políticos têm se alinhado aos poderes culturais contra os católicos e contra os cristãos como um todo. 

Três exemplos atuais, aqui nos EUA:

1. A posição católica pró-vida de um candidato a um cargo público foi vilipendiada em uma recente propaganda política; essa propaganda, fanaticamente grosseira, é inimaginável contra um candidato muçulmano, hindu ou judeu.

2. Em Houston, no Texas, um projeto foi transformado em lei pela primeira prefeita assumidamente lésbica da cidade. A Lei “HERO” [que significa “herói”, em inglês, mas é usada como acrônimo de “Houston Equal Rights Ordinance”, ou Portaria sobre a Igualdade de Direitos em Houston] permitiria, entre outras coisas, que as pessoas usassem os banheiros do sexo oposto. Centenas de igrejas locais reuniram assinaturas pedindo que essa lei fosse submetida a um referendo público. Quando a prefeitura rejeitou a petição, as paróquias entraram com uma ação judicial. Em resposta, a prefeitura resolveu intimidar os párocos exigindo que eles se abstivessem de sermões e correspondências nas quais fizessem referências à homossexualidade, à identidade de gênero, à portaria HERO ou à prefeita. Os padres que descumprissem a lei enfrentariam multas, prisão ou as duas coisas.

3. Em Coeur D'Alene, uma cidade no Estado de Idaho, dois ministros receberam ordens de autoridades da cidade para realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Caso eles se negassem a obedecer, seriam multados e até presos.

Poderíamos dizer a nós mesmos que estes casos são isolados e excepcionais. Mas eu acho que a Liga Católica, que tem publicado relatórios anuais sobre a intolerância anticatólica nos EUA desde 1994, discordaria. Assim como São João Paulo II.

Em 1976, o então cardeal Karol Wojtyla se pronunciou durante um Congresso Eucarístico aqui nos Estados Unidos, em que se comemorava o bicentenário da assinatura da Declaração de Independência do país. Ele disse as seguintes palavras proféticas:

“Estamos hoje presenciando o maior confronto histórico que a humanidade jamais experimentou. Eu acho que o grande círculo da sociedade americana, ou o grande círculo da comunidade cristã, ainda não percebe isto plenamente. Estamos presenciando a confrontação final entre a Igreja e a anti-igreja, entre o Evangelho e o anti-evangelho, entre Cristo e o anticristo. Esse confronto está dentro dos planos da Divina Providência. Ele faz parte, portanto, do Plano de Deus, e é um desafio que a Igreja deve assumir e enfrentar com coragem (...) Temos de nos preparar para sofrer grandes provações, que exigirão de nós a disposição de abrir mão até mesmo da vida, bem como uma dedicação total a Cristo e para Cristo (...) Com as orações de vocês e minhas, é possível mitigarmos a tribulação que virá, mas já não é possível evitá-la, pois só com ela a Igreja poderá ser efetivamente renovada. Quantas vezes a renovação da Igreja aconteceu por meio do derramamento de sangue? Desta vez não vai ser diferente. Nós temos que ser fortes, nos preparar e confiar em Cristo e na sua Santa Mãe”.

Em nossos tempos, as linhas de separação entre "a Igreja e a anti-igreja", como disse o cardeal Wojtyla, se tornaram muito evidentes. E um lado, pelo menos, está pronto para a batalha e ansioso pela luta. Um lado, aliás, já está claramente em marcha. E o outro lado?

Eu não acho que possamos evitar esse conflito ou encontrar um lugar tranquilo e confortável para esperar a tempestade passar. Também não podemos ter a certeza de que o assédio de hoje não vai se tornar a ativa perseguição de amanhã. E acho que os fiéis católicos podem contar com muito poucos aliados. Quem estará do nosso lado? O governo Obama, que está processando as Irmãzinhas dos Pobres para obrigá-las a pagar os anticoncepcionais das suas funcionárias? Os católicos do Congresso, que votaram esmagadoramente a favor dessa política de saúde pública do governo Obama? A Suprema Corte, que “descobriu” um direito constitucional à sodomia?

Onde é que podemos encontrar aliados dentro da cultura popular para defender os fiéis católicos? Será que podemos esperar que surjam eloquentes editoriais no New York Times em nossa defesa? Sátiras inteligentes a nosso favor no Saturday Night Live? Podemos imaginar Miley Cyrus derramando a alma em hinos de apoio à nossa fé?

Será que vamos encontrar defensores da fé oriundos do mundo acadêmico? Podemos esperar que os graduados típicos da maioria das escolas públicas (de qualquer nível) sejam versados defensores dos direitos civis dos católicos? Podemos esperar que as universidades católicas que pagam os abortos das suas funcionárias se levantem firmes contra as forças da anti-igreja?

Precisamos fazer um levantamento muito sóbrio e humilde dos nossos opositores, dos nossos aliados, das nossas obrigações e dos nossos recursos. Os nossos opositores têm número e poder assombrosos. Nossos aliados são poucos em quantidade. As nossas obrigações são grandes – temos que garantir que as luzes da fé e da razão sejam repassadas à próxima geração. A nossa fidelidade a Cristo nos exige isso. Devemos, corajosamente, amorosamente, persistentemente, anunciar a Cristo. Se não o anunciarmos agora, enquanto a tempestade está ainda se formando, então pode ser que vivamos para ver o dia em que os nossos filhos terão que sussurrar o seu nome nas catacumbas. Pior ainda: pode ser que vivamos para ver o dia em que os nossos netos murmurarão o seu nome na forca.


Os nossos recursos são a nossa grande esperança. A graça de Deus, as promessas de Cristo, a intercessão de Nossa Senhora e dos santos e o ministério da Igreja estão do nosso lado. Sejamos bons custódios desses recursos!


Pe. Robert Mcteigue
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Aleteia

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