quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Homilética: IV Domingo do Tempo Comum - Ano B: "Ninguém é profeta por escolha própria, mas porque Deus o chama."


“Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar” (Mc 1,21). Lemos nas páginas do Evangelho como o Senhor Jesus dá importância à pregação da boa nova: indo de uma cidade a outra para anunciar a sua mensagem e realizando-a com perfeição, com autoridade. As pessoas reconhecem-no: “eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!” (Mc 1,27).

Por nossa parte, deveríamos estar muito interessados no que ele nos diz. A formação que vamos recebendo de Cristo através da Igreja tende a fazer-nos homens ou mulheres responsavelmente livres. A nossa liberdade vai sendo educada paulatinamente para que possamos escolher aquelas coisas que nos fazem mais humanos e mais cristãos. Longe, portanto, da autêntica formação a coação e o controle sobre os outros. Não se trata de asfixiar as pessoas para que façam o bem. O importante é ajudá-las a amar o bem, a desfrutar na prática das coisas boas, a ver que somente na realização do bem verdadeiro encontra-se a felicidade. De fato, a autoridade de Jesus não retira a liberdade do cristão, mas a favorece aperfeiçoando-a.

Desde a chegada de Cristo, o demônio bate em retirada, mas o seu poder é ainda muito grande e “ a sua presença torna-se mais forte à medida que o homem e a sociedade se afastam de Deus” (São João Paulo II); devido ao pecado mortal, não poucos homens ficam sujeitos à escravidão do demônio, afastam-se do Reino de Deus para penetrarem no reino das trevas, do mal; convertem-se, em diferentes graus, em instrumento do mal no mundo e ficam submetidos à pior das escravidões. Jesus sabe que para libertar a humanidade do domínio do pecado, Ele deverá ser sacrificado na Cruz como verdadeiro Cordeiro Pascal. O demônio, por sua vez, procura distraí – lo em vista de o desviar ao contrário para a lógica humana de um Messias poderoso e com sucesso. A Cruz de Cristo será a ruína do demônio, e é por isso que Jesus não cessa de ensinar aos seus discípulos que para entrar na sua Glória deve sofrer muito, ser rejeitado, condenado e crucificado ( cf. Lc 24, 26), dado que o sofrimento faz parte integrante da sua missão.

O pecado mortal é a pior desgraça que nos pode acontecer. Quando um cristão se deixa conduzir pelo amor, tudo lhe serve para a glória de Deus e para o serviço dos seus irmãos, os homens, e as próprias realidades terrenas são santificadas: o lar, a profissão, o esporte, a política… “Pelo contrário, quando se deixa seduzir pelo demônio, o seu pecado introduz no mundo um princípio de desordem radical, que afasta do seu Criador e é a causa de todos os horrores que se aninham no seu íntimo. Nisto está a maldade do pecado: em que os homens tendo conhecido a Deus não o honraram como Deus nem lhe renderam graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato… Trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos” (Rm 1, 21-25).

O pecado – um só pecado – exerce uma misteriosa influência, umas vezes oculta, outras visível e palpável, sobre a família, os amigos, a Igreja e a humanidade inteira. Se um ramo de videira é atacado por uma praga, toda a planta se ressente; se um ramo fica estéril, a videira já não produz o fruto que se esperava dela; além disso, outros ramos podem também secar e morrer.

Renovemos hoje o propósito firme de repelir tudo aquilo que possa ser ocasião, mesmo remota, de ofender a Deus: espetáculos, leituras inconvenientes, ambientes em que destoa a presença de um homem ou uma mulher que segue o Senhor de perto… Amemos muito o Sacramento da Penitência (Confissão). Meditemos com frequência a Paixão de Cristo para entender melhor a maldade do pecado.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Deut 18, 15-20; 1 Cor 7, 32-35; Mc 1, 21-28

Caros irmãos e irmãs, ser profeta não significa preanunciar fatos futuros. Profeta não é só o que prediz de antemão o que vai acontecer, mas antes de tudo o que fala em lugar de outro. Não o que fala “antes”, mas “no lugar de”. O profeta judeu era propriamente o que falava em nome de Javé ou na sua honra, o que proclamava os seus louvores, o que pregava a sua doutrina e anunciava os seus decretos. Era o arauto, o interprete do Senhor. É certo que normalmente o Senhor governava o povo de Israel através dos seus legisladores. Mas às vezes queria manifestar vontades expressas, e para isso recorria ao profeta, não pedindo para ele um serviço, mas intimidando-o a cumprir uma ordem. Com frequência, como hoje com Moises (primeira leitura), enviava-o para falar diante de uma assembleia, sem que tivesse sido previamente convidado, e o profeta se via obrigado a ir das praças ao templo, e do templo aos palácios dos grandes, como um inoportuno, às vezes, como um estraga prazeres. Também o Senhor se valeu deles para anunciar o futuro. Assim predisseram muitos detalhes sobre o Messias que tinha que vir, e anunciaram que os grandes fatos do Antigo Testamento eram uma imagem do que aconteceria depois em Cristo e na Igreja. Fatos e palavras. Os profetas, com as suas palavras explicavam o sentido dos fatos, e anunciavam que no futuro esses fatos se repetiriam, mas num nível infinitamente superior. E chegou Cristo, o Grande Profeta definitivo. 

O Evangelho deste domingo nos situa geograficamente em Cafarnaum, uma pequena cidade à margem do lago da Galileia, onde moravam Pedro e o seu irmão André.  É neste ambiente que ocorre o primeiro milagre de Jesus, segundo o evangelista São Marcos, quando expulsa o demônio de um homem que estava presente na sinagoga.

O texto evangélico nos trás duas cenas diferentes.  A primeira é a cena do ensinamento de Jesus que causa a admiração dos presentes (vv. 21-22).  A segunda cena é o relato da expulsão do demônio (vv. 23-28). Os dois episódios foram reunidos pelo redator do evangelho em uma unidade literária, cuja finalidade é descrever o primeiro dia da atividade apostólica de Jesus na cidade de Cafarnaum.  O fato ocorre em um dia de sábado, quando Jesus entra na sinagoga de Cafarnaum, para participar da liturgia sabática. A celebração começava, normalmente, com a profissão de fé (cf. Dt 6,4-9), a que se seguiam orações, cânticos e duas leituras, uma da Torá e outra retirada do Livro dos Profetas; depois, vinha o comentário às leituras e as bênçãos finais.

Narra o evangelista Marcos que, sendo aquele dia um sábado,  Jesus foi imediatamente à sinagoga e pôs-se a ensinar (cf. v. 21). Isto faz pensar na primazia da palavra de Deus, Palavra que deve ser ouvida, acolhida e anunciada.  A principal preocupação de Jesus é a de comunicar a Palavra de Deus.

Jesus é o Profeta definitivo que fala e age com autoridade. Não somente falaria em nome de Deus, mas que Ele mesmo seria a Fala de Deus, a Palavra de Deus, o Verbo de Deus. O Verbo feito carne. E veio para falar com todo o poder da majestade divina. Não só o que ensina a verdade, mas o que é a Verdade mesma. Não só o que marca o caminho da vida, mas que Ele mesmo é o Caminho e a Vida. Jesus falava com autoridade. Falar com autoridade é convencer e impulsionar. Para isso, se necessita uma coisa que todos têm; outra que poucos têm e outra que quase ninguém têm, e são: palavras prometedoras, que já saem sobrando; vida consequente com as palavras, que escasseia, e fatos que falem a vida e as palavras, que já faltam. Jesus com a sua palavra, a sua vida e os seus milagres assustava até os demônios e terminou com as suas interferências nas vidas dos homens; eis aqui o caso do possuído do evangelho de hoje. Só o poder de Jesus é capaz de exorcizar os homens, isto é, de tirar do corpo deles os demônios pós-modernos; o conforto materialista da vida, o hedonismo do prazer pelo prazer, o culto ao dinheiro, o culto ao êxito pessoal, o laicismo sem espírito, sem alma e sem Deus, a filosofia do descarto e da indiferença diante da pobreza humana. Estes são os únicos demônios que até agora eu conheço, a única autoridade em que creio e o único exorcismo que pratico, em nome de Jesus. 

É bem provável que Jesus tivesse sido convidado, nesse dia, para comentar as leituras feitas; e ao usar de uma forma original, diferente dos comentários que as pessoas estavam habituadas a ouvir dos estudiosos da Sagrada Escritura, conhecidos como “escribas”, todos ficaram maravilhados com as suas palavras, “porque ensinava com autoridade” (v. 22). Os ouvintes de Jesus estavam habituados a receber ensinamentos, mas a diferença que fazem entre o ensino de Jesus e o dos escribas e fariseus é que Ele ensina como um homem que tem autoridade.

Na sequência das palavras ditas por Jesus e que transmitem aos ouvintes um sinal inegável da presença de Deus, aparece em cena “um homem com um espírito impuro” (v. 23). Os judeus estavam convencidos que todas as doenças eram provocadas por “espíritos maus” que se apropriavam dos homens e os tornavam prisioneiros. As pessoas afetadas por esses males deixavam de cumprir a Lei e ficavam numa situação de “impureza”, isto é, afastadas de Deus e da comunidade.

Na perspectiva dos contemporâneos de Jesus, esses “espíritos maus” que afastavam os homens da órbita de Deus tinham um poder absoluto, que os homens não podiam, com as suas frágeis forças, ultrapassar. Acreditava-se que só Deus, com o seu poder e autoridade, era capaz de vencer os “espíritos maus” e devolver aos homens a vida. Rodeado já pelos primeiros discípulos, Jesus começa a revelar-se como o Messias, que está no meio dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.

O Evangelista São Marcos sublinha que o espírito impuro, que domina um homem presente na sinagoga, põe-se a interpelar violentamente Jesus. A ação da cura do homem constitui a comprovação de que Jesus traz uma proposta de que vem de Deus. Pela ação de Jesus, Deus vem ao encontro do homem para o salvar de tudo aquilo que o impede de ter vida em plenitude.  E é exatamente isto que Jesus irá afirmar mais à frente:  “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10,10). Para o Evangelista São Marcos, este primeiro episódio é uma espécie de apresentação de um programa de ação: Jesus veio ao encontro dos homens para os libertarem de tudo aquilo que os faz prisioneiros e lhes rouba a vida.

Após os ensinamentos de Jesus suscitar a admiração das pessoas, segue-se a libertação de “um homem possuído por um espírito impuro” (v. 23). O homem possuído pelo demônio, que de repente se põe a gritar: “Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!” (v. 24). Jesus não lhe responde com um pedido ou com palavras ou gestos mágicos, como costumavam fazer os exorcistas do seu tempo; mas com duas ordens determinantes: “Cala-te!”  e  “Sai!” (v. 25).  O “espírito mau” não aceita passivamente a ordem de Jesus; reage com violência ao ser contrariado, resiste, começa a gritar porque quer perpetuar o seu domínio sobre sua vítima.

Observa-se que o demônio reconhece em Jesus, pela sua santidade eminente, que ele é o “Santo de Deus”, ou seja o Messias. O demônio reage e grita pelo temor de ser destronado e perder seu poder no mundo.  Jesus não discute com ele, mas afasta-o.  O espírito imundo obedece e, imediatamente, sai daquele homem, e todos os presentes, admirados, percebem que entre eles chegou um profeta que anuncia uma “nova doutrina” e que tem, dentro de si, a força de Deus: Sua palavra de fato, tem autoridade, ou seja, realiza aquilo que afirma (v. 26-27).

Essa luta representa a rebelião das forças malignas que podem se encontrar também dentro de nós e não querem ser expulsos.  É o símbolo das dificuldades que o homem enfrenta quando quer despojar-se dos seus maus hábitos, que resistem e dos quais às vezes não é fácil libertar-se.  Jesus anuncia uma palavra nova, uma palavra de “autoridade”. Trata-se de uma palavra que faz crescer, que está ao serviço do crescimento do ser e da vida.  Precisamente a autoridade divina de Cristo tinha suscitado a reação de satanás, escondido naquele homem.  Jesus, por sua vez, reconheceu imediatamente a voz do maligno e disse severamente: “Cala-te e sai deste homem!” (v. 25).

Para Deus, a autoridade significa serviço e humildade; significa entrar na lógica de Jesus, que se inclina para lavar os pés dos discípulos (cf. Jo 13,5), que procura o verdadeiro bem do homem, que cura as feridas, que é capaz de um amor tão grande que o leva a dar a sua própria vida. Pelo “cala-te”, Jesus anuncia seu poder sobre o mal, um sinal de que ele veio para “destruir o mal”, que atinge o homem.

A situação do homem possuído pelo demônio representa a condição daquele que ainda não encontrou Cristo; vive subjugado por forças hostis que o destroem e que ele não consegue controlar.  Com a força da sua palavra, Jesus liberta a pessoa do maligno. E mais uma vez os presentes permanecem admirados: “Ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem” (v. 27). A cura milagrosa do possesso era uma confirmação do poder sobrenatural que Cristo possuía, pois só Ele pode nos salvar do mal.

Na oração do Pai nosso, na sua última petição, Jesus nos ensina a pedir ao Senhor que nos livre do mal. Nesta petição, o Mal designa uma pessoa, satanás, o maligno, o anjo que se opõe a Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2851). São Pedro alerta: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda ao redor, como leão que ruge, buscando a quem possa devorar; resisti-lhe firmes na fé” (1Pd 5,8-9).

O próprio Jesus foi tentado três vezes pelo demônio no deserto, e o venceu com o jejum, a oração e a força da Palavra de Deus (cf. Mt 4,3-10). Jesus se referiu a ele como seu adversário e o chamou de “príncipe deste mundo” (cf. Jo 12,31; 14,30; 16,11). São Paulo chamou-o “deus deste mundo” (cf. 2Cor 4,4) e preveniu-nos das lutas ocultas que devemos travar contra sua pluralidade: “Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio” (Ef 6,11).

Finalmente, todo batizado também participa do profetismo de Jesus. Não só os sacerdotes são profetas. Também todo leigo batizado. Devemos oferecer a Deus os nossos lábios de modo que o Senhor possa continuar pregando através de nós durante todo o transcurso da história, expulsando esses demônios que continuam estragando os corpos e as almas de tantos que se deixam levar pelos feitiços prometendo a eterna juventude. Profetas que também saibamos denunciar com respeito todos os desvarios e injustiças de tantos -o pecado-, como fazia Cristo. E isto desde todos os meios lícitos e bons: meios de comunicação, púlpito, cátedras, mesa familiar. E não só com a palavra, mas, sobretudo com o exemplo de vida. Tomemos cuidado com os falsos profetas! Rapidamente se manifestam prometendo a teologia da prosperidade ou uma vida sem normas morais. Cristo já nos alertou.

PARA REFLETIR

Caríssimos, hoje a Palavra a nós proclamada mostra o Senhor ensinando. O Evangelho nos dá conta que seu ensinamento causava admiração. E por quê? Porque Jesus não é um simples mestre, um mero rabi… Vocês escutaram na primeira leitura o que Moisés prometera – ou melhor, o que Deus mesmo prometera pela boca de Moisés: “O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar!” Eis! Moisés, o grande líder e libertador de Israel, aquele através do qual Deus falava ao seu povo e lhe dera a Lei, anuncia que Deus suscitará um profeta como ele. E os judeus esperavam esse profeta. Chegaram mesmo a perguntar a João Batista: “És o Profeta?” (Jo 1,21), isto é, “És o Profeta prometido por Moisés?” Pois bem, caríssimos: esse Profeta, esse que é o Novo Moisés, esse que é a própria Palavra de Deus chegou: é Jesus, nosso Senhor! Como Moisés, ele foi perseguido ainda pequeno por um rei que queria matar as criancinhas; como Moisés, ele teve que fugir do tirano cruel, como Moisés, sobre o Monte – não o Sinai, mas o das Bem-aventuranças – ele deu a Lei da vida ao seu povo; como Moisés, num lugar deserto, deu ao povo de comer, não mais o maná que perece, mas aquele pão que dura para a vida eterna. Jesus é o verdadeiro Moisés; e mais que Moisés, “porque a Lei foi dada por meio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1,17). Jesus é a plenitude da Lei de Moisés, Jesus não é somente um profeta, mas é o próprio Deus, Senhor dos profetas, Senhor de Moisés! Moisés deu testemunho dele no Tabor e cairia de joelhos a seus pés se o encontrasse. Jesus, caríssimos, é a própria Palavra do Pai feita carne, feita gente, habitando entre nós! 

Mas, essa Palavra não é somente voz, sopro saído da boca. Essa Palavra que é Jesus é tão potente (lembrem-se que tudo foi criado através dela!), que não somente fala, mas faz a salvação acontecer. Por isso os milagres de Jesus, suas obras portentosas: para mostrar que ele é a Palavra eficaz e poderosa do nosso Deus. Ao curar um homem atormentado na sinagoga de Cafarnaum, Jesus nosso Senhor mostra toda a sua autoridade, seu poder e também o sentido de sua vinda entre nós: ele veio trazer-nos o Reino de Deus, do Pai, expulsando o reino de Satanás, isto é, tudo aquilo que demoniza a nossa vida e nos escraviza! – Obrigado, Senhor, Jesus, pela tua vinda! Obrigado pela tua obra de libertação! Muito obrigado porque, em ti, tudo é Palavra potente: tua voz, tuas ações salvadoras, teu modo de viver, teus exemplos, tuas atitudes! Tu não somente tens palavras de vida eterna; tu mesmo és a Palavra de Vida! Obrigado! Dá-nos a capacidade de escutar-te sempre!

Meus caros, se Jesus é essa Palavra potente, Palavra de vida, então viver sua Palavra é encontrar verdadeiramente a vida e a liberdade. Na leitura do Deuteronômio que escutamos, Deus dizia, falando do Profeta que haveria de vir: “Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar. Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em meu nome”. Ora, caríssimos, se Jesus é a Palavra de Deus, então é nele que encontramos a luz para os nossos passos e o rumo da nossa existência. Num mundo como o nosso, que prega uma autonomia louca do homem em relação a Deus, uma autonomia contra Deus, nós que cremos em Jesus, devemos cuidar de nos converter sempre a ele, escutando sua palavra. Ele nos fala, caríssimos: fala-nos nas Escrituras, fala-nos na voz da sua Igreja, fala-nos íntimo do coração, fala-nos na vida e nos acontecimentos… Certamente, ouvi-lo não é fácil, pois muitas vezes sua palavra é convite a sairmos de nós mesmos, de nossos pensamentos egoístas, de nossas visões estreitas, de nossa sensibilidade quebrada e ferida pelo pecado. Sairmos de nós para irmos em direção ao Senhor, iluminados pela sua santa palavra – eis o que Cristo nos propõe hoje!

É tão grande a bênção de encontrar o Senhor, de viver nele e para ele, que São Paulo chega mesmo a aconselhar o celibato, para estarmos mais disponíveis para o Senhor. Vocês escutaram a segunda leitura da Missa deste hoje. O Apóstolo recomenda o ficar solteiro, não por egoísmo ou ódio ao matrimônio, mas para ter mais condições de ser solícitos para com as coisas do Senhor e melhor permanecer junto ao senhor. É este o sentido do celibato dos religiosos e dos padres diocesanos: recordar ao mundo que Cristo é o Senhor absoluto de nossa vida e que por ele vale a pena deixar tudo, para com ele estar, para, como Maria irmã de Marta, estar a seus pés, escutando-o e para ele dando o melhor de nós. O celibato, que num mundo descrente e sedento de prazer sensual, é um escândalo, para os cristãos é um sinal do primado de Cristo e do seu Reino.

Rezemos para que aqueles que prometeram livremente viver celibatariamente cumpram seus compromissos com amor ao Senhor e à Igreja. Rezemos também para que os cristãos saibam ver no celibato não uma armadilha ou uma frustração, mas um belíssimo sinal profético, um verdadeiro grito de que Deus deve ser amado por tudo e em tudo, acima de todas as coisas. Se os casados mostram a nós, celibatários, a beleza do amor conjugal e do mistério de amor esponsal entre Cristo e a Igreja, nós, solteiros pelo Reino dos Céus, mostramos aos casados e ao mundo que tudo passa e tudo é relativo diante da beleza, da grandeza e do absoluto dAquele que Deus nos enviou: o seu Filho bendito, sua Palavra eterna, Verdade que ilumina, liberta e dá vida. A ele a glória para sempre. Amém.

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