quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Homilética: Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus: "Maria dá ao mundo Cristo, nossa Paz".



No oitavo dia de Natal, a Igreja celebra a Solenidade de Maria, Mãe de Deus. É o dia 1º de janeiro, abertura do ano civil e celebra-se também o Dia Mundial da Paz.

Foi o Papa Paulo VI quem transladou para o dia 1º de janeiro a festa da Maternidade divina de Maria, que antes caia no dia 11 de outubro. De fato, antes da reforma litúrgica realizada depois do concilio Vaticano II, no primeiro dia do ano se celebrava a memoria da circuncisão de Jesus no oitavo dia depois do seu nascimento- como sinal de submissão à lei, sua inserção oficial no povo eleito- e no domingo seguinte se celebrava a festa do nome de Jesus.

A piedade cristã plasmou de mil formas diferentes a festa da Mãe de Deus que celebramos hoje! Um exemplo disso é que inúmeras são as imagens de Maria com o Menino nos braços. A Maternidade de Maria é o fato central que ilumina toda a vida da Virgem e é o fundamento dos outros privilégios com que Deus quis adorná-la.

Maria é a Senhora, cheia de graça e de virtudes, concebida sem pecado, que é Mãe de Deus e Mãe nossa, e está nos céus em corpo e alma. A Bíblia fala-nos dela como a mais excelsa de todas as criaturas, a bendita, a mais louvada entre as mulheres, a cheia de graça (Lc 1,28), Aquela que todas as gerações chamarão bem-aventurada (Lc 1,48).

A Igreja ensina-nos que Maria ocupa, depois de Cristo, o lugar mais alto e o mais próximo de nós, em função da sua maternidade divina. Diz o Concilio Vaticano II, na Lumen Gentium, 63: “Ela, pela graça de Deus, depois do seu Filho, foi exaltada sobre todos os anjos e todos os homens.”

Ensina S. Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei…” (Gl 4,4). Jesus não apareceu de repente na terra vindo do céu, mas fez-se realmente homem, como nós, tomando a nossa natureza humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. Enquanto Deus, é eternamente gerado, não feito, por Deus Pai. Enquanto homem, nasceu, “foi feito”, de Santa Maria. “Muito me admira –diz por isso São Cirilo- que haja alguém que tenha alguma dúvida de que a Santíssima Virgem deve ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que a Santíssima Virgem, que o deu à luz, não há de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, ainda que não tenham empregado essa expressão. Assim nos ensinaram os Santos Padres”.

“Quando a Virgem respondeu livremente Sim àqueles desígnios que o Criador lhe revelava, o Verbo divino assumiu a natureza humana: a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A natureza divina e a natureza humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; Unigênito eterno do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda pessoa da Santíssima Trindade que uniu a si para sempre –sem confusão- a natureza humana. Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor dos louvores, estas palavras que expressam a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 274).

“Concebendo Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo, padecendo com seu Filho quando morria na Cruz, cooperou da forma inteiramente ímpar com a obra do Salvador mediante a obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, a fim de restaurar a vida sobrenatural das almas. Por isso Ela é nossa Mãe na ordem da graça” (LG,61).

Jesus deu-nos Maria como Mãe nossa no momento em que, pregado na Cruz, dirigiu à sua Mãe estas palavras: “Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe” (Jo 19,26-27). Desde aquele dia, toda a Igreja a tem por Mãe; e todos os homens a têm por Mãe. Todos entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na Cruz.

Quando Cristo dá a sua Mãe por Mãe nossa, manifesta o amor aos seus até o fim. Quando a Virgem Maria aceita o Apóstolo João como seu filho, mostra o seu amor de Mãe para com todos os homens.

Hoje também é o dia Mundial da Paz. Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental.

Hoje, primeiro dia do ano, rezemos com o  salmista: Deus nos dê a sua graça e nos abençoes! Sim fomos abençoados. E se abençoados, somos chamados a ser fonte de benção para nosso próximo. Que a saudação Feliz Ano Novo desperte em nós o propósito de comunicar a paz e a alegria a todos! 

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Nm 6, 22-27; Gal 4, 4-7: Lc 2, 16-21

Meus caros irmãos e irmãs, iniciamos um novo ano e a Igreja nos convida a confiá-lo à celeste proteção de Nossa Senhora, que hoje a liturgia nos faz invocar com o seu título mais antigo e importante, o de Mãe de Deus.  Ainda envolvidos pelo clima espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do nascimento de Cristo, celebramos, com estes mesmos sentimentos, a Virgem Maria.

O dogma que declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o nome de “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”.

Para este dia a Liturgia da Palavra nos apresenta como primeira leitura a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas, marcada precisamente pelo nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a força que deriva desta invocação: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).

Este texto da bênção litúrgica, de fato, evoca a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem. Trata-se de uma bênção dada por Deus através de Moisés, a Aarão e aos seus filhos, ou seja, aos sacerdotes do povo de Israel. É um tríplice voto cheio de luz que brota da repetição do nome de Deus e da imagem de seu rosto. Cada repetição do santo nome de Deus está inserido dois verbos que indicam uma ação do Senhor em favor de cada ser humano. A paz é, portanto, o ponto culminante dessas seis ações em prol do homem, a quem Deus dirige o esplendor da sua face. Esta bênção evoca a riqueza de graça e de paz que o Criador concede a cada um de nós, sinal da Sua benevolência para conosco.

A palavra bíblica “shalom”, que normalmente traduzimos por “paz”, indica um conjunto de bens que Cristo Salvador, o Messias anunciado pelos profetas, trouxe para cada um de nós. Por isso, reconhecemos Nele o Príncipe da paz. Ele se fez homem e nasceu numa gruta em Belém para trazer a sua paz aos homens de boa vontade, aos que o acolhem com fé e amor.

Neste primeiro dia do ano pedimos ao Senhor que nos abençoe e nos conceda a paz. Todos nós desejamos viver em paz, mas a paz verdadeira, a que é anunciada pelos anjos na noite de Natal, é antes de tudo, dom divino que se deve implorar constantemente e, ao mesmo tempo, compromisso que se deve levar em frente com paciência e perseverança.

O texto evangélico narra o nascimento de Jesus e as circunstâncias que o acompanhara.  Neste contexto está o anúncio do anjo aos pastores daquela região e, ao mesmo tempo, indica a eles os sinais para que possam reconhecer a criança.  Enfim, os pastores constatam a realidade do anúncio evangélico. Eles fazem a experiência do encontro com Deus na pessoa um “recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2.16). É justamente desse menino que se irradia uma nova luz que brilha na escuridão da noite. Agora, é Dele que nos vem a bênção.

E os pastores passam a ser os anunciadores da boa nova anunciada pelo anjo (v. 17), e esta novidade da mensagem dos pastores enche os ouvintes de admiração (v. 18).  Esses pastores, considerados impuros e de reputação duvidosa, são os primeiros a propagar o nascimento do Salvador.

A passagem do Evangelho termina com uma menção à circuncisão de Jesus. Como de fato, Maria, como qualquer mãe judia, leva seu filho até o templo para que se cumpra a lei da circuncisão.  Conforme a Lei de Moisés, oito dias após o nascimento, o menino devia ser circuncidado, e nesse momento lhe era dado o nome. O próprio Deus, através de seu Anjo, dissera a Maria e também a José, que o nome a ser dado para a criança era “Jesus” (cf. Mt 1,21; Lc 1,31). Aquele nome que Deus já tinha estabelecido antes mesmo que o menino fosse concebido, lhe é dado oficialmente no momento da circuncisão. E isto marca definitivamente a identidade de Maria: ela é a mãe de Jesus, ou seja, a mãe do Salvador.

O nome Jesus, no hebraico, significa “Deus salva”. Jesus é o Verbo de Deus, o Filho de Deus, por isso a Igreja deu a Maria o título de “Theotokos”, ou seja, Mãe de Deus, porque Jesus Cristo é Deus. Certa vez, disse Filipe a Jesus: “Mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8). Ao que Jesus lhe respondeu: “Há tanto tempo estou convosco Filipe e não me conheces?”. E o Senhor logo acrescentou: “Quem me vê, vê o Pai”  (Jo 14,9).

E o Evangelho acrescenta também que Maria “conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19). Como Ela, também a Igreja conserva e medita a Palavra de Deus, confrontando-a com as diversas e mutáveis situações que encontra ao longo do seu caminho.  O título de “Mãe de Deus”, a que hoje a liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe reserva.

Maria deu a vida terrena ao Filho de Deus, continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus. Por esta razão, Maria é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao mesmo tempo é invocada como a Mãe da Igreja.  Nas bodas de Caná, Maria pronuncia uma frase que pode ser considerada a solene ordem do seu coração para os seus filhos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,1-11).  Este mandato de Maria aos serventes em Caná da Galileia vale para todos os momentos da nossa vida cristã.

É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens, que desde o dia 1º de Janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial da Paz.  Ao olharmos Cristo, vindo sobre a terra para nos dar a sua paz, nós celebramos no primeiro dia do ano o “Dia Mundial da Paz”.

Que a Virgem de Nazaré, que hoje veneramos com o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz (cf. Is 9,5). Que ela nos acompanhe e nos proteja ao longo deste ano.  E, com a sua poderosa intercessão, possamos progredir no caminho do bem, da paz e da concórdia. Assim seja.

PARA REFLETIR

Caríssimos em Cristo, certamente o pensamento mais presente neste hoje é o do início de mais um ano, que é sempre, para nós, cristãos, Ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo; mais um ano entre a primeira e a segunda Vinda do Senhor nosso Salvador.

Precisamente por este motivo, a primeira leitura da Missa invocou a bênção e a paz sobre nós: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a Sua Face e Se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o Seu Rosto e te dê a paz!” Três vezes foi pronunciado o Nome do Senhor! Começamos bem o ano este Novo Ano!

Mas, nunca esqueçamos quem é este Senhor: é o Menino que nos nasceu, o Filho que nos foi dado e que, precisamente, hoje, oito dias após o Seu admirável nascimento, recebeu o nome de Jesus, que significa Deus salva! Eis: em Jesus, Deus nos salva com a verdadeira paz, paz que brota da comunhão com o Senhor! Que Ele inunde com Sua doce paz os dias deste Novo Ano, criança como o Menino de Belém!

Mas, hoje, é também a Oitava do Santo Natal, dia no qual a Igreja volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o verdadeiro Deus feito homem. Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando o “Recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e, contemplando o seu filhinho, reconhecemos Nele o Deus perfeito e a proclamamos verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o Rei que governa o Céu e a terra pelos séculos eternos!’ – assim canta a Igreja hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria. Como exclamava São Gregório Nazianzeno, grande Bispo e doutor da Igreja no século IV: “Nós proclamamos, em sentido absoluto, que a santa Virgem é própria e verdadeiramente Mãe de Deus”.

Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no Natal, cantam assim: “Ó Cristo, que podemos oferecer-vos como dom por vos terdes manifestado sobre a terra na nossa humanidade? Com efeito, cada uma das Vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a Vós traz: os Anjos, o seu cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração; a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe!” Eis, pois, caríssimos irmãos, nosso presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa raça, a mais bendita entre as mulheres, o mais belo membro da Igreja, a Virgem Maria!

Comprometamo-nos, então, a viver os dias do Novo Ano com as mesmas atitudes de Nossa Senhora!

Primeiro, uma atitude de fé: ela escutou a Palavra, ela creu de todo o coração. Foi mulher totalmente aberta ao seu Senhor. Que neste tempo novo que hoje inicia, saibamos, também nós, viver de fé; mesmo quando tudo parecer escuro, mesmo nos dias difíceis, mesmos nos momentos de pranto e nossa inteligência não conseguir compreender nem nossa vista conseguir enxergar os passos do Senhor.

Em segundo lugar, uma atitude de disponibilidade à missão. Nossa Senhora não se furtou ao convite do Senhor, não se acomodou numa vida centrada nos seus próprios interesses: fez-se serva, fez-se disponível, fez-se ministra do plano salvífico do Senhor em nosso favor. Do mesmo modo, saibamos nós discernir o que o Senhor nos vai pedir e, sem medo, sem mesquinho fechamento, digamos-Lhe “sim”, mesmo quando tal resposta for difícil e sofrida!

Mas, tudo isso será impossível sem uma terceira atitude que devemos aprender da Mãe de Deus: aquela de escuta silenciosa e contemplativa. O Evangelho nos dá conta de que Maria “guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração!” Eis! A Virgem rezava, a Virgem pensava nos acontecimentos à luz de Deus, na presença silenciosa do Senhor, procurando entender o sentido profundo do que acontecia ao seu redor. Somente quem faz assim pode ver sempre Deus em todas as coisas e em todas as circunstâncias...

Caríssimos, certamente, haveremos de sorrir e chorar nestes dias do Novo Ano. Que lágrimas e sorrisos, vitórias e derrotas, abraços e separações, sejam vividos na luz do Senhor, do Menino que brilhou como Luz nas nossas trevas e que, Nele, encontremos sempre a paz. Para tanto, em cada dia deste Novo pedaço de tempo a que chamamos ano, valha-nos as preces da Toda Santa Mãe de Deus! Amém.

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