quarta-feira, 29 de abril de 2015

“A minha Diocese não existe mais. O Estado Islâmico levou-a embora”, diz Arcebispo de Mossul


Depois de mais de 2 mil anos de presença em Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, os cristãos receberam um ultimato e foram obrigados a abandonar a região nestes últimos dias, deixando todos os seus bens para trás. O Estado Islâmico lhes deu as opções: morrer; se converter ao islamismo; pagar o imposto dos infiéis (a jizya) e viver sob a lei da sharia; ou deixar a cidade imediatamente.

A agência de notícias local informou que os integrantes do ISIS estupraram a esposa e a filha de um cristão na frente dele, pois o homem era pobre e não podia pagar a jizya, no valor de 450 dólares mensais. Tal soma é impossível de ser paga pela grande maioria das famílias da região. Um professor da Universidade de Mossul, o muçulmano Mahmoud Al ‘Asali, saiu em defesa dos cristãos, dizendo discordar da forma como estavam sendo maltratados, e por isso foi morto no dia 20.

Dom Saad Syroub, bispo auxiliar caldeu de Bagdá, contou que os militantes sunitas escreveram na fachada da casa dos cristãos a frase “Imóvel de propriedade do ISIS” (sigla em inglês de “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”). Junto com o escrito, circulada em vermelho, a letra árabe “nun” (que aparece em vermelho na foto abaixo), equivalente ao nosso “n”, que é a inicial da palavra “nazarenos”. Agora, essas casas já foram todas saqueadas.

Antes desse ultimato, milhares de famílias cristãs e xiitas já haviam deixado Mossul, e ao menos conseguiram levar algumas malas e automóveis. Mas nos últimos dias, os refugiados cruzaram a fronteira só com a roupa do corpo: nos postos de controle do ISIS, os jihadistas roubaram seu dinheiro, seus carros, jóias, tudo! Muitas mulheres tiveram seus crucifixos arrancados do pescoço, e alguns refugiados foram abatidos a tiros durante a fuga (veja o vídeo).

Grande parte dos refugiadas foi para o Curdistão; muitos também fugiram para aldeias próximas de Nínive. Nem todas as famílias optam por fugir; alguns aceitaram fazer a profissão de fé islâmica para preservar seus bens e suas vidas. Mas infelizmente, talvez não consigam preservar sua dignidade: os órgãos internacionais ainda não puderam confirmar a informação, mas no dia 21 o califa do ISIS ordenou que todas as mulheres tenham seu clitóris e lábios superiores da vagina costurados (Fonte: JB).

Para aumentar a desgraça, o edifício do episcopado da Igreja Católica Siría em Mossul foi completamente incendiado pelos jihadistas no dia 19 (foto abaixo). A dez minutos da cidade de Qaraqosh, os muçulmanos tomaram o mosteiro de Mar Behnam e expulsaram de lá os monges católicos sírios, que foram impedidos até mesmo de levar qualquer relíquia. O mosteiro, construído no século IV, é um dos lugares de culto mais antigos e venerados pelo cristianismo. Também foram ocupados o Mosteiro de São Jorge, a Casa das Irmãs do Sagrado Coração e o Mosteiro dos dominicanos.



Os militantes sunitas não pouparam nem mesmo o túmulo do profeta Jonas, que foi destruído a golpes de marreta. Jonas é reverenciado por cristãos e muçulmanos, mas o ISIS afirma que a veneração de túmulos contraria os ensinamentos do Islã.


O sofrimento se espalha nas aldeias da Planície de Nínive: o abastecimento de água e de energia elétrica foi suspenso para as famílias cristãs, por ordem do Estado Islâmico. Tal situação se torna crítica em função das altas temperaturas no local. A fundação AIS – Ajuda à Igreja que Sofre – já disponibilizou uma ajuda de emergência de 100 mil euros para acudir os refugiados. Dom Emil Shimoun Nona, arcebispo da agora extinta Arquidiocese de Mossul, está agora em Tall Kayf, povoado que fica três quilômetros ao norte de Mossul. Lá, a Igreja acolheu a todos que fugiram por causa do avanço dos islâmicos, não só os cristãos, mas também os muçulmanos xiitas.

No último domingo, o Papa Francisco telefonou para o patriarca da Igreja Católica Síria, Ignace Joseph III Younan. O pontífice disse que está muito preocupado com o drama dos cristãos expulsos de Mossul, e que está orando pela paz no Oriente. As lideranças das igrejas do Oriente estão se articulando junto com o Vaticano para realizar um esforço diplomático junto às instâncias islâmicas moderadas (será que isso existe?!). Também pretendem pressionar a comunidade internacional a quebrar o vergonhoso silêncio e passividade diante desses fatos.

Os jihadistas avançam com plano de dominação mundial, e a comunidade cristã em TODO o Iraque está correndo o risco de desaparecer. Coloquemos o nosso coração junto do coração desses irmãos iraquianos refugiados e humilhados. Que, em meio a suas dores, eles possam se alegrar e exultar, pois grande será sua recompensa. Rezemos e façamos penitência por eles!

Uma das refugiadas iraquianas que conseguiram chegar ao Curdistão.


#somostodosNazarenos
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FONTES:
Radio Vaticano
The Daily Beast
Tim Stanley (The Telegraph)
Vatican Insider
Disponível em: O Catequista

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