sábado, 7 de setembro de 2013

Mensagem do Papa aos carmelitas



MENSAGEM
Mensagem do Papa Francisco ao Prior geral da Ordem dos Irmãos da Beata Virgem Maria do Monte Carmelo em ocasião do Capítulo Geral
Quinta-feira, 5 de setembro de 2013


Ao reverendíssimo padre
Fernando Millán Romeral
Prior Geral da Ordem dos Irmãos da Beata Virgem Maria do Monte Carmelo

Dirijo-me a vocês, queridos Irmãos da Ordem da Beata Virgem Maria do Monte Carmelo, que celebram neste mês de setembro o Capítulo Geral. Em um momento de graça e renovação, que vos chama a discernir a missão da gloriosa Ordem carmelita, desejo oferecer a vocês uma palavra de encorajamento e de esperança. O antigo carisma do Carmelo foi por oito séculos um dom para toda a Igreja e ainda hoje continua a oferecer a sua peculiar contribuição para a edificação do Corpo de Cristo e para mostrar ao mundo a face luminosa e santa. As vossas origens contemplativas decorrem da terra da epifania do amor eterno de Deus em Jesus Cristo, Verbo feito carne. Enquanto refletem sobre a vossa missão de Carmelitas de hoje, sugiro-vos considerar três elementos que podem guiar-vos na realização plena da vossa vocação que é a subida ao monte da perfeição: a lealdade a Cristo, a oração e a missão.


Lealdade

A Igreja tem a missão de levar Cristo ao mundo e por isto, como Mãe e Mestra, convida cada um a aproximar-se Dele.

Na liturgia carmelita para a festa de Maria do Monte Carmelo contemplamos a Virgem que está “junto à Cruz de Cristo”. Aquele é também o lugar da Igreja: próximo a Cristo. E é também o lugar de cada filho fiel da Ordem carmelita. A vossa Regra começa com a exortação aos irmãos de “viver uma vida de lealdade a Jesus Cristo”, para segui-Lo e servi-Lo com coração puro e indivisível. A estreita relação com Cristo se realiza na solidão, na assembleia fraterna e na missão. “A opção fundamental de uma vida concretamente e radicalmente dedicada a seguir Cristo” (Ratio Institutionis Vitae Carmelitanae, 8) faz da vossa existência uma peregrinação de transformação no amor. O Concílio Ecumênico Vaticano II recorda o papel da contemplação no caminho da vida: a Igreja tem “de fato a característica de ser ao mesmo tempo humana e divina, visível, mas dotada de realidade invisível, zelosa na ação e dedicada à contemplação, presente no mundo e todavia peregrina” (Sacrosanctum Concilium, 2). Os antigos eremitas do Monte Carmelo conservaram a memória daquele lugar santo e, mesmo exilados ou distantes, mantiveram o olhar e o coração constantemente fixos na glória de Deus. Refletindo sobre as vossas origens e sobre a vossa história e contemplando o imenso grupo de pessoas que viveram nos séculos o carisma carmelita, descobrirão também a vossa vocação atual de ser profetas de esperança. E é justamente nesta esperança que serão regenerados. Muitas vezes aquilo que parece novo é algo muito antigo iluminado por nova luz.

Na vossa Regra há o coração da missão carmelita de então e também de hoje. Enquanto vocês se preparam para celebrar o oitavo centenário da morte de Alberto, Patriarca de Jerusalém, em 1214, recordem que ele formulou um “percurso de vida”, um espaço que torna capaz de viver uma espiritualidade totalmente orientada a Cristo. Ele delineou elementos externos e interiores, uma ecologia física do espaço e armadura espiritual necessária para responder adequadamente à vocação e cumprir eficazmente a própria missão.

Em um mondo que muitas vezes desconhece Cristo e, de fato, rejeita-O, vocês são convidados a aproximarem-se e a aderirem sempre mais profundamente a Ele. É um chamado contínuo a seguir Cristo e a ser conforme Ele. Isto é de vital importância no nosso mundo tão desorientado, “porque quando a sua chama se apaga também todas as outras luzes acabam perdendo o seu vigor” (Lumen fidei, 4). Cristo está presente na vossa fraternidade, na liturgia comunitária e no ministério confiado a vocês: renovem a lealdade de toda a vossa vida!

Oração

O Santo Padre Bento XVI, antes do vosso Capítulo Geral de 2007, recordou a vocês que “a peregrinação interior de fé rumo a Deus começa na oração”; e em Castel Gandolfo, em agosto de 2010, disse-vos: “Vocês são aqueles que nos ensinam a rezar”. Vocês se definem contemplativos em meio ao povo. De fato, se é verdade que vocês são chamados a viver nas alturas do Carmelo, é também verdade que vocês são chamados a dar testemunho em meio ao povo. A oração é aquela “estrada real” que abre à profundidade do mistério de Deus Uno e Trino, mas é também o sentido obrigatório que perpassa em meio ao povo de Deus peregrino no mundo rumo à Terra Prometida.

Um dos caminhos mais belos para entrar na oração passa através da Palavra de Deus. A lectio divina introduz à conversação direta com o Senhor e abre os tesouros da sabedoria. A íntima amizade com Aquele que nos ama nos torna capazes de ver com os olhos de Deus, de falar com a sua Palavra no coração, de conservar a beleza desta experiência e de partilhá-la com aqueles que têm fome de eternidade.

O retorno à simplicidade de uma vida centrada no Evangelho é o desafio para a renovação da Igreja, comunidade de fé que encontra sempre caminhos novos para evangelizar o mundo em contínua transformação. Os santos carmelitas foram grandes percussores e mestres de oração. Isto é o que uma vez mais se pede ao Carmelo do século XXI. Ao longo de toda a vossa história, os grandes Carmelitas foram um forte lembrete às raízes da contemplação, raízes sempre fecundas de oração. Aqui está o coração do vosso testemunho: a dimensão de “contemplatividade” da Ordem, de viver, de cultivar e de transmitir. Gostaria que cada um se perguntasse: como é a minha vida de contemplação? Quanto tempo dedico durante o meu dia à oração e à contemplação? Um carmelita sem esta vida de contemplação é um corpo morto! Hoje, talvez mais que no passado, é fácil deixar-se distrair pelas preocupações e pelos problemas deste mundo e fazer-se aproximar de falsos ídolos. O nosso mundo está dividido de muitas formas; o contemplativo, em vez disso, leva à unidade e constitui um forte apelo à unidade. Agora, mais do que nunca, é o momento de redescobrir o sentido interior do amor através da oração e oferecer ao povo de hoje no testemunho da contemplação, bem como na pregação e na missão, não atalhos desnecessários, mas aquela sabedoria que emerge do meditar “dia e noite na Lei do Senhor”, Palavra que sempre conduz junto à Cruz gloriosa de Cristo.  E, unida à contemplação, a austeridade de vida, que não é um aspecto secundário da vossa vida e do vosso testemunho. É uma tentação muito forte mesmo para vocês aquela de cair na mundanidade espiritual. O espírito do mundo é inimigo da vida de oração: não se esqueçam nunca disso! Exorto-vos a uma vida mais austera e penitente, segundo a vossa mais autêntica tradição, uma vida distante de toda mundanidade, distante dos critérios do mundo.

Missão

Queridos Irmãos Carmelitas, a vossa missão é a mesma de Jesus. Todo planejamento, toda comparação seria inútil se o Capítulo não realizasse antes de tudo um caminho de verdadeira renovação. A Família Carmelita conheceu uma maravilhosa “primavera”, em todo o mundo, aquele fruto, doado por Deus, do empenho missionário do passado. Toda missão coloca muitas vezes árduos desafios, porque a mensagem evangélica não é sempre acolhida e às vezes é rejeitada com violência. Não devemos nunca esquecer que, mesmo se somos jogados em águas turvas e desconhecidas, Aquele que nos chama à missão nos dá também a coragem e a força de fazê-la. Por isso, celebrem o Capítulo animados pela esperança que não morre nunca, com um forte espírito de generosidade no recuperar a vida contemplativa e a simplicidade e austeridade evangélica.

Dirigindo-me aos peregrinos na Praça São Pedro tive oportunidade de dizer: “Cada cristão e cada comunidade é missionária à medida que leva e vive o Evangelho e testemunha o amor de Deus para todos, especialmente para quem se encontra em dificuldade. Sejam missionários do amor e da ternura de Deus! Sejam missionários da misericórdia de Deus, que sempre nos perdoa, sempre nos espera, nos ama tanto!” (Homilia, 5 de maio de 2013). O testemunho do Carmelo no passado pertence à profunda tradição espiritual crescida em uma das grandes escolas de oração. Essa suscitou também a coragem de homens e mulheres que enfrentaram o perigo e até mesmo a morte. Recordemos somente os dois grandes mártires contemporâneos: Santa Teresa Benedita da Cruz e o Beato Titus Brandsma. Pergunto-me então: hoje entre vós, vive-se com a têmpera, com a coragem destes santos?

Queridos irmãos do Carmelo, o testemunho do vosso amor e da vossa esperança, enraizados na profunda amizade com o Deus vivo, pode vir a ser uma “leve brisa” que renova e revigora a vossa missão eclesial no mundo de hoje. A isso vocês foram chamados. O Rito da Profissão coloca em seus lábios estas palavras: “Com esta profissão confio-me à família carmelita para viver a serviço de Deus e na Igreja e aspirar à caridade perfeita com a graça do Espírito Santo e a ajuda da Beata Virgem Maria” (Rito da Profissão Ord. Carm.).

A Beata Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, acompanhe os vossos passos e torne fecundo de frutos o cotidiano caminho rumo ao Monte de Deus. Invoco sobre toda a Família Carmelita, e particularmente sobre os Padres Capitulares, abundantes dons do Divino Espírito e a todos concedo de coração a Benção Apostólica.


Do Vaticano, 22 de agosto de 2013


Francisco


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Fonte: Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

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