sábado, 8 de dezembro de 2012

Homilética: 2º domingo do Advento - Ano C: "Todos os Homens encontrarão o Deus que salva".


Neste segundo domingo do advento, a liturgia da Palavra nos faz um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os batizados, chamados a dar testemunho da salvação que Jesus Cristo veio trazer.

Lançando inicialmente um olhar para a primeira leitura, retirada do livro do Profeta Baruc, seu conteúdo sugere que o “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta de uma vida nova que Deus nos faz. Somos convidados a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Senhor que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.

O Evangelho apresenta o profeta João Batista, a nos convidar a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro da humanidade é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.

Enquanto prosseguimos o caminho do Advento, enquanto nos preparamos para celebrar o Natal de Cristo, ressoa também em nós esta chamada de João Baptista à conversão: “Arrependei-vos, dizia, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3,1-2). É um convite urgente a abrir o coração e a acolher o Filho de Deus que vem entre nós.  O Pai, escreve o evangelista João, não julga ninguém, mas confiou ao Filho o poder de julgar, porque é Filho do homem (cf. Jo 5, 22.27). E é hoje, no presente, que se decide o nosso destino futuro; é com o comportamento concreto que temos nesta vida que decidimos o nosso destino eterno. No findar dos nossos dias na terra, no momento da morte, seremos avaliados com base na nossa semelhança ou não com o Menino que está para nascer na pobre gruta de Belém, porque é Ele o critério de medida que Deus deu à humanidade. O Pai celeste que no nascimento do seu Filho Unigênito nos manifestou o seu amor misericordioso, nos chama a seguir os seus passos fazendo da nossa existência um dom de amor.

Mediante o Evangelho, João Batista continua a falar através dos séculos, a cada geração. As suas palavras claras e duras ressoam também para os homens e as mulheres do nosso tempo. A “voz” do grande profeta pede que preparemos o caminho ao Senhor que vem, nos desertos de hoje, desertos exteriores e interiores, sequiosos da água viva que é Cristo.

Escutemos o convite de Jesus no Evangelho e nos preparemos para reviver com fé o mistério do nascimento do Redentor, que encheu o universo de alegria; preparemo-nos para acolher o Senhor no seu incessante vir ao nosso encontro nos acontecimentos da vida, na alegria ou no sofrimento, na saúde ou na doença; preparemo-nos para o encontrar na sua vinda última e definitiva.


Continuemos o nosso caminho ao encontro do Senhor que vem, permanecendo prontos para o receber no coração e na vida inteira, o Emanuel, o Deus que vem habitar conosco. Confortados pela sua palavra, invoquemos a proteção materna de Maria, Virgem da esperança, que ela nos guie a uma verdadeira conversão interior, para que possamos sintonizar os nossos pensamentos e ações com a mensagem do Evangelho, para que assim possamos preparar dignamente a vinda do Senhor que está para chegar.  


Comentário dos Textos Bíblicos

Textos: Br 5,1-9; Fl 1,4-6.8-11; Lc 3,1-6

O evangelho deste domingo começa nomeando os líderes políticos e religiosos daquele tempo, em uma data bem definida – o 15º. Ano do imperador Tibério: o poder central, com o imperador Tibério e o seu prefeito Pôncio Pilatos; o poder local, com Herodes, Filipe e Lisânias; o poder religioso, com os sumos sacerdotes Anás e Caifás. Estes personagens pertencem à história, e com eles podemos fazer a cronologia de Jesus, de forma aproximada. O 15º. Ano do Imperador Tibério César coincide com o ano 27/28 de nossa era. Lucas afirma que Jesus começou sua pregação com cerca de 30 anos. Herodes administrou a Galiléia até 39 d.C. Caifás ficou sumo sacerdote entre 18-36 d. C. Pôncio Pilatos foi procurador romano entre 14 e 37 d.C.
  
Portanto, o evangelho nos evidencia que Jesus viveu em um contexto bem determinado, ou seja, Ele é parte de nossa história, ainda que muitos queiram reduzir a uma fábula. Situar a pregação de João (e depois a de Jesus) entre os grandes poderosos da época ainda tem outro significado: o profeta do deserto é mais importante do que os poderosos; mais importante do que todos eles é o Cristo, aquele que veio nos trazer a salvação. O que aconteceu com Tibério, Herodes, Pilatos, Caifás, Anás? Morreram todos eles e os seus reinos. Por outro lado, a mensagem suave de Jesus de Nazaré, sua pessoa, sua vida, a salvação por ele oferecida continua.

Neste quadro histórico se encontra João Batista. Trata-se de um profeta que surge depois de 300 anos sem profetismo em Israel. Ele rompe o silêncio para preparar o maior acontecimento da história. Asceta do deserto, ele prega um caminho de conversão. Seu estilo nos lembra personagens históricos como Antônio Conselheiro: de barbas longas e roupas pobres, que prega a conversão com severidade. Certamente, Jesus foi mais suave, mas não menos radical.

A voz de João Batista é a grande mensagem deste 2º. Domingo do advento: “Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado, os montes e as colinas serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados!” (Lc 3,4-5). É como arrumar um armário. Por vezes, é preciso tirar toda a bagunça, para depois colocar tudo em seu lugar. Se alguma coisa está desarrumada na nossa vida, quando chega a um nível crítico, agente resolve colocar no lugar. João resgata a palavra de Isaías, um convite para se aplainar o caminho, para se nivelar as montanhas. O que está precisando ser arrumado na sua vida? O que precisa ser convertido? Será que existe um armário tão desarrumado, do qual caem todas as coisas? Se existe, que tal dar uma arrumada no armário? Que tal dar uma aparada nos montes da vida? O advento é uma oportunidade preciosa que não podemos desperdiçar.

O advento nos convida para um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da liberdade. Deixar as cadeias que nos prendem e voltar para a bondade de Deus que nos ama, na alegria da certeza de que Deus se lembra de nós, de que não se esquece, como nos diz o profeta Baruc.

Na segunda leitura, depois de saudar a comunidade e render graças por tudo o que Deus fez em Filipos, Paulo faz uma prece: “que o vosso amor cresça sempre mais, em todo conhecimento e experiência, para discernirdes o que é melhor” (Fl 1,9-10). Para crescer é preciso saber discernir, ou seja, olhar para a vida com sabedoria, para fazer as melhores escolhas. Note-se que a exortação não é para discernir entre o bem e o mal, mas para escolher o que é tem mais valor (diria outra tradução). A melhor escolha certamente é amor. Para que haja conversão neste advento, o amor deve ser o critério. O que é melhor para a nossa vida? É preciso responder com sinceridade, sem mascarar a verdade. E onde não há amor? Lá certamente poderá haver o que realmente prepara os caminhos para se receber o Salvador. Preparai o caminho do Senhor!

Para Refletir

Na segunda leitura da Liturgia da Palavra deste Domingo II do Advento, por duas vezes São Paulo refere-se ao Dia de Cristo: “Aquele que começou em vós uma boa obra, há de levá-la à perfeição até ao Dia de Cristo”; “que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernirdes o que é melhor. Assim ficareis puros e sem defeito para o Dia de Cristo”. Para este Dia de Cristo, meus caros, estamos nos preparando no santo Tempo do Advento. Dia de Cristo é o Natal; Dia de Cristo é o “todo-dia”, quando sabemos reconhecer suas visitas; Dia de Cristo será a sua Vinda gloriosa no final dos tempos. Quem celebra piedosamente o Dia de Cristo no Natal e é atento pela vigilância ao Dia de Cristo de “todo-dia”, estará pronto na perfeição do amor, estará puro e sem defeito para o Dia de Cristo no final dos tempos!

É certo que não poderemos fugir do Cristo Jesus: diante dele todos nós estaremos um dia porque através dele e para ele fomos criados e somente nele nossa existência chegará à sua plenitude. A primeira leitura de hoje ilustra de modo comovente a situação da humanidade e também a situação da Igreja, pequeno resto peregrino e acabrunhado sobre esta terra: trata-se de uma humanidade sofrida, de uma Igreja em exílio, mas que será consolada pelo Senhor. Recordemos a palavra de Baruc profeta “Despe, ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição, e reveste, para sempre, os adornos da glória vinda de Deus!” Que belo convite, que sonho, que felicidade, meus caros! Pensemos na nossa vida, pensemos nas ânsias da Mãe Igreja, e alegremo-nos com o consolo que Deus nos promete! “Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e põe na cabeça o diadema da glória do Eterno. Deus mostrará teu esplendor, ó Jerusalém, a todos os que estão debaixo do céu!” Vede, caríssimos, o nosso Deus como é: um Deus que promete, um Deus que abre a estrada da esperança, um Deus que consola, um Deus que nos prepara um futuro de bênção, de paz e de vida! Mas, quando será esta paz, de onde virá? Escutai, caríssimos: “Levanta-te, Jerusalém – levanta-te, irmão; levanta-te, irmã! Levanta-te, Mãe católica! – põe-te no alto e olha para o Oriente!” O Oriente, meus caros é o lugar da luz, o lado no qual o sol nasce e o dia começa; o Oriente é o próprio Cristo Jesus! Olhar para o Oriente é esperar o Dia de Cristo, o Dia sem fim, a Luz que não tem ocaso! Quem caminha sem olhar o Oriente, caminha sem saber para onde vai; quem avança noutra direção, não caminha para a luz, mas vai ao encontro das trevas: “des-orienta-se”! “Levanta-te, põe-te no alto e olha para o Oriente!” Olha para o Cristo, vai ao seu encontro! Então, tu verás a salvação de Deus; tu experimentarás que o Senhor não é Deus de longe, mas de perto; tu experimentarás o quanto o Senhor é capaz de consolar o que chorava, de acalmar o que estava aflito, de reconduzir o transviado: “Vê teus filhos reunidos pela voz do Santo, desde o poente até o levante, jubilosos por Deus ter-se lembrado deles. Deus ordenou que se abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas, e se enchessem os vales, para aplainar a terra, a fim de que Israel sua Igreja santa, seu povo eleito, caminhe com segurança sob a glória de Deus!”

Vede, caríssimos, que é de paz que o Senhor nos fala, é a salvação que nos promete! Se agora lançarmos as sementes da vida entre lágrimas, haveremos de colher com alegria; se agora muitas vezes na tristeza formos espalhando as sementes, um dia, no Dia de Cristo, nosso Oriente bendito, com alegria voltaremos carregados com os frutos em feixes! As promessas do Senhor, meus caros, fazem-nos compreender que nossa vida tem sentido, que tudo quanto nos acontece pode e deve ser vivido à luz de Deus! Uma das grandes misérias do nosso tempo é a solidão humana. Não se trata de uma solidão qualquer, mas de uma sensação mortal de viver a vida diante de ninguém, de caminhar a lugar nenhum, de gastar energia e sonho para produzir vazio… Mas, quando voltamos o rosto para o Oriente, quando nos deixamos banhar por sua luz que, como uma aurora bendita já começa a difundir seus raios, então tudo se enche de paz e de alegria, porque tudo ganha um novo sentido!


Caríssimos no Senhor, pensai na vossa vida concreta, nas vossas semanas e dias feitos de experiências bem reais e miúdas… Pois bem, Deus, em Cristo, visita a nossa vida! No Evangelho de hoje, quando São Lucas narra o aparecimento de João Batista, o precursor do Messias, ele começa mostrando como a palavra do Senhor, como a sua salvação nos atinge e nos encontra bem no concreto de nossa vida, no nosso aqui e no nosso agora. A salvação não é um mito, a vinda do Senhor até nós não é uma estória de trancoso… Escutai como é concreta a sua vinda, como tem uma história e uma geografia: “No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes administrava a Galiléia, seu irmão Filipe, as regiões da Ituréia e Traconítide, e Lisânias, a Abilene; quando Anás e Caifás eram sumo sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto.” Vede, irmãos, e compreendei: a Palavra de Deus vem nós num “quando” e num “onde”. O “quando” é hoje, agora, neste período da nossa vida; o “onde” é aí onde você vive: na sua casa, no seu trabalho, nas suas relações, nos seus conflitos! É neste agora e neste aqui, neste “quando” e neste “onde” que Deus vem ao nosso encontro em Cristo Jesus! E o que devemos fazer para acolhê-lo? Como devemos proceder para que não venha na os em vão? Como agir para que a sua luz nos possa iluminar? Escutai ainda o Evangelho: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E toda carne verá a salvação de Deus”. Vê, meu irmão; presta atenção, minha irmã! É de ti que o Senhor fala; é à tua vida que ele se refere: queres ver a luz do Oriente? Queres dirigir-te para o Dia eterno? Queres realmente estar pronto para o Dia de Cristo no Natal, no “todo-dia” e no Último Dia? Então, endireita agora teus caminhos, abaixa as montanhas da soberba e do orgulho, aterá os vales do medo, da covardia e do vão temor, e endireita as tortuosas estradas de teus vícios e de teus pecados! Aí sim, tu e toda carne verão a salvação de Deus: na celebração do Natal vamos vê-la reclinada num pobre presépio, no “todo-dia” vamos experimentá-la de tantos modos e em tantos momentos e, no Último Dia, Dia de Cristo, iremos vê-la face a face como eterna delícia, alegria sem fim e vida imperecível! Vamos, irmãos, caminhemos com fé ao encontro do Senhor! E para que o nosso caminho não seja sem rumo e em vão, endireitemos desde agora as estradas de nossa vida! Levantemo-nos, ponhamo-nos no alto da virtude e vejamos: vem a nós a alegria do nosso Deus! A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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